Supostamente marcando a despedida de Daniel Day-Lewis da tela grande, “Trama Fantasma” (Phantom Thread – 2018) entra em cartaz nas salas brasileiras nesta quinta-feira, dia 22, prometendo dividir a opinião do público e da crítica especializada. Com produção, direção, direção de fotografia e roteiro de Paul Thomas Anderson, o longa conta a história de […]
POR Ana Carolina Garcia21/02/2018|4 min de leitura
Supostamente marcando a despedida de Daniel Day-Lewis da tela grande, “Trama Fantasma” (Phantom Thread – 2018) entra em cartaz nas salas brasileiras nesta quinta-feira, dia 22, prometendo dividir a opinião do público e da crítica especializada.
Com produção, direção, direção de fotografia e roteiro de Paul Thomas Anderson, o longa conta a história de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), solteiro convicto que é um dos estilistas mais renomados do Reino Unido. Vivendo numa enorme propriedade que também é o seu local de trabalho, Reynolds tem como inspiração para suas criações as diversas mulheres que já passaram por sua vida, que é virada de cabeça para baixo após iniciar o romance com Alma (Vicky Krieps). Mas tudo sempre sob a proteção de sua irmã, Cyril (Lesley Manville).
O romance entre Reynolds e Alma é o fio condutor de uma trama complexa que aborda relações de poder, dependência emocional, sentimentos reprimidos e hipocrisia, mostrando a Casa Woodcock como um ambiente claustrofóbico e perturbador capaz de transformar amor em amargura. Se é que em algum momento o amor teve vez no luxuoso imóvel que está sempre de portas abertas para a nata da elite britânica, incluindo a realeza.
Neste cenário, o poder encontra-se nas mãos de Cyril, o porto seguro de Reynolds, homem de meia-idade que depende emocionalmente da irmã e da memória da falecida mãe, que lhe ensinou o seu ofício ainda na adolescência. E tanto o poder quanto a dependência são calcados na manutenção de uma rígida rotina que implica no silêncio absoluto em determinados períodos do dia para que a veia criativa do estilista seja acionada, principalmente durante o café da manhã, que deixa evidente sua misofonia. Contudo, o modus operandi da Casa Woodcock é ameaçado após a chegada de Alma, que tenta conquistar seu espaço a cada dia, insistindo em tentativas de retirar a soberania e influência de Cyril.
Desta forma, a ação se desenrola centrada no trio principal, colocando os personagens secundários (no caso, as funcionárias e clientes de Reynolds) como fantasmas vagando pela mansão, quando, na verdade, os verdadeiros fantasmas que assombram o local são as perturbações da mente humana. Isto funciona principalmente pela escalação do elenco, completamente integrado ao ambiente criado por Anderson, tendo como destaques os veteranos Daniel Day-Lewis e Lesley Manville, ambos indicados ao Oscar deste ano.
Enquanto Daniel Day-Lewis brilha como o estilista de gestos contidos e sentimentos reprimidos, trabalhando sua excentricidade com maestria, Manville surge em cena com uma aura protetora quase maternal, assumindo o controle de tudo e todos ao seu redor. Sua Cyril é o típico exemplar de força e poder, avessa a emoções de quaisquer tipos, tendo a razão como regra imutável de seu estilo de vida. No entanto, apesar da dupla formada por Day-Lewis e Manville dar shows de interpretação a cada cena, Vicky Krieps merece uma menção honrosa pela composição de Alma, jovem de origem humilde que se transforma devido à convivência com os irmãos Woodcock.
Contando com uma estética suntuosa, alicerçada nos trabalhos impecáveis de direção de arte, figurino e fotografia em 35mm, algo cada vez mais raro na Hollywood contemporânea, “Trama Fantasma” chama a atenção pela edição de som, que insere com precisão cirúrgica ruídos provenientes de tecidos e mastigação, por exemplo, transformando-os em algo essencial para cada sequência.
Bebendo da fonte de Alfred Hitchcock sempre que possível, “Trama Fantasma” resgata o requinte de produções clássicas e foge de clichês para contar uma história de difícil digestão que causará certa estranheza em parte da plateia. Isto se deve ao fato de Anderson explorar os elementos da trama de maneira a subverter alguns conceitos, sobretudo em relação ao amor e ao final feliz.
*Indicado a seis estatuetas do Oscar: melhor filme; direção para Anderson; ator para Daniel Day-Lewis; atriz coadjuvante para Lesley Manville; trilha sonora para Jonny Greenwood; e figurino para Mark Bridges.
Supostamente marcando a despedida de Daniel Day-Lewis da tela grande, “Trama Fantasma” (Phantom Thread – 2018) entra em cartaz nas salas brasileiras nesta quinta-feira, dia 22, prometendo dividir a opinião do público e da crítica especializada.
Com produção, direção, direção de fotografia e roteiro de Paul Thomas Anderson, o longa conta a história de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), solteiro convicto que é um dos estilistas mais renomados do Reino Unido. Vivendo numa enorme propriedade que também é o seu local de trabalho, Reynolds tem como inspiração para suas criações as diversas mulheres que já passaram por sua vida, que é virada de cabeça para baixo após iniciar o romance com Alma (Vicky Krieps). Mas tudo sempre sob a proteção de sua irmã, Cyril (Lesley Manville).
O romance entre Reynolds e Alma é o fio condutor de uma trama complexa que aborda relações de poder, dependência emocional, sentimentos reprimidos e hipocrisia, mostrando a Casa Woodcock como um ambiente claustrofóbico e perturbador capaz de transformar amor em amargura. Se é que em algum momento o amor teve vez no luxuoso imóvel que está sempre de portas abertas para a nata da elite britânica, incluindo a realeza.
Neste cenário, o poder encontra-se nas mãos de Cyril, o porto seguro de Reynolds, homem de meia-idade que depende emocionalmente da irmã e da memória da falecida mãe, que lhe ensinou o seu ofício ainda na adolescência. E tanto o poder quanto a dependência são calcados na manutenção de uma rígida rotina que implica no silêncio absoluto em determinados períodos do dia para que a veia criativa do estilista seja acionada, principalmente durante o café da manhã, que deixa evidente sua misofonia. Contudo, o modus operandi da Casa Woodcock é ameaçado após a chegada de Alma, que tenta conquistar seu espaço a cada dia, insistindo em tentativas de retirar a soberania e influência de Cyril.
Desta forma, a ação se desenrola centrada no trio principal, colocando os personagens secundários (no caso, as funcionárias e clientes de Reynolds) como fantasmas vagando pela mansão, quando, na verdade, os verdadeiros fantasmas que assombram o local são as perturbações da mente humana. Isto funciona principalmente pela escalação do elenco, completamente integrado ao ambiente criado por Anderson, tendo como destaques os veteranos Daniel Day-Lewis e Lesley Manville, ambos indicados ao Oscar deste ano.
Enquanto Daniel Day-Lewis brilha como o estilista de gestos contidos e sentimentos reprimidos, trabalhando sua excentricidade com maestria, Manville surge em cena com uma aura protetora quase maternal, assumindo o controle de tudo e todos ao seu redor. Sua Cyril é o típico exemplar de força e poder, avessa a emoções de quaisquer tipos, tendo a razão como regra imutável de seu estilo de vida. No entanto, apesar da dupla formada por Day-Lewis e Manville dar shows de interpretação a cada cena, Vicky Krieps merece uma menção honrosa pela composição de Alma, jovem de origem humilde que se transforma devido à convivência com os irmãos Woodcock.
Contando com uma estética suntuosa, alicerçada nos trabalhos impecáveis de direção de arte, figurino e fotografia em 35mm, algo cada vez mais raro na Hollywood contemporânea, “Trama Fantasma” chama a atenção pela edição de som, que insere com precisão cirúrgica ruídos provenientes de tecidos e mastigação, por exemplo, transformando-os em algo essencial para cada sequência.
Bebendo da fonte de Alfred Hitchcock sempre que possível, “Trama Fantasma” resgata o requinte de produções clássicas e foge de clichês para contar uma história de difícil digestão que causará certa estranheza em parte da plateia. Isto se deve ao fato de Anderson explorar os elementos da trama de maneira a subverter alguns conceitos, sobretudo em relação ao amor e ao final feliz.
*Indicado a seis estatuetas do Oscar: melhor filme; direção para Anderson; ator para Daniel Day-Lewis; atriz coadjuvante para Lesley Manville; trilha sonora para Jonny Greenwood; e figurino para Mark Bridges.