8 de março: Uma luta que vem de longe

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Em março é celebrado em todo o mundo o “Dia Internacional da Mulher”. O 8 de março é uma data que tem suas raízes na exploração do operariado feminino, uma vez que está relacionada ao incêndio na Triangle Shirtwaist Company que vitimou 125 mulheres. Em todo o mundo a data faz memória a luta feminina […]

POR Redação SRzd08/03/2021|4 min de leitura

8 de março: Uma luta que vem de longe

Mãos de mulheres. Foto: Reprodução/Twitter

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Em março é celebrado em todo o mundo o “Dia Internacional da Mulher”. O 8 de março é uma data que tem suas raízes na exploração do operariado feminino, uma vez que está relacionada ao incêndio na Triangle Shirtwaist Company que vitimou 125 mulheres.

Em todo o mundo a data faz memória a luta feminina e se converteu em um mês de reivindicações e busca por garantia de direitos para as mulheres. No caso do Brasil, o mês de março marca a atividade “21 dias de ativismo contra o racismo”, e isto nos leva a refletir sobre a interseccionalidade entre raça, gênero e classe e a importância do feminismo negro.

Algumas vezes encontramos na literatura que a inserção feminina no mercado de trabalho ocorre a partir da revolução industrial. Não. A inserção das mulheres no mercado de trabalho no Brasil ocorre desde que mulheres negras que foram sequestradas em sua terra natal, vieram em navios sendo açoitadas, estupradas e chegaram ao Brasil para serem escravizadas, a estas mulheres a exploração de seus corpos e sua força de trabalho. Se as mulheres brancas puderam ir às ruas reivindicar igualdade de tratamento é porque muitas das vezes, as mulheres negras estavam dentro de suas casas, cozinhando à lenha, usando ferro à carvão e cuidando dos filhos das mulheres brancas. Diante disto, nos parece fundamental ao abordar as lutas e as conquistas do movimento feminista nos perguntar: de que mulheres estamos falando?

O Atlas da Violência no Brasil (IPEA- 2020) aponta que, quando se analisa o período 2008-2018, o risco de uma mulher negra ser assassinada é de 64%. Observando somente o ano de 2018, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país. Destas, 58% são mulheres negras. Quando se examina a taxa de homicídios de mulheres entre 2008-2018, verifica-se que, que de fato, houve uma redução no percentual: 11,7% para as não negras. Já entre as negras, o aumento foi de 12,4%. Ou seja. As negras brasileiras continuam tem suas vidas interrompidas pela violência.

Ao nos debruçarmos sobre a escolarização dados do IBGE (2018) mostram que o percentual de mulheres brancas que possuem o ensino superior completo é de 23,5%. Entre as mulheres negras este percentual é de 10,4%. O Boletim do DIEESE intitulado Desigualdade entre negros e brancos se aprofunda durante a pandemia (2020) ao analisar a taxa de desocupação no 2º trimestre de 2020, aponta que 9,5% dos homens brancos e 11,3% das mulheres brancas encontravam-se desocupados. Já entre os negros o percentual é de 14,0% para os homens e 18,2% para as mulheres.

Pode-se perceber que as mulheres negras brasileiras estão subrrepresentadas em todos os indicadores sociais. Ganham menos, têm os piores empregos, sofrem maior violência. Pensar em uma agenda feminista passa, em grande medida por pensar em uma agenda antirracista No Brasil o racismo é estrutural e estrutura as relações sociais, e isto inclui as relações de gênero. É impossível pensar na igualdade de direitos entre homens e mulheres, se que se pense de modo diferenciado nas mulheres que descendes dos povos escravizados. E que, como apontam os dados, carregam ainda hoje a marca da subalternidade a que pessoas negras são submetidas. Neste mês de março, em que se busca a equidade entre os gêneros e que se luta por uma práxis antirracista, vale lembrar as palavras de Lelia Gonzalez (1935-1994): “Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual”.

* Artigo de autoria de Cristiane Lourenço; Assistente Social e Doutoranda em Política Social da Universidade Federal Fluminense.










Em março é celebrado em todo o mundo o “Dia Internacional da Mulher”. O 8 de março é uma data que tem suas raízes na exploração do operariado feminino, uma vez que está relacionada ao incêndio na Triangle Shirtwaist Company que vitimou 125 mulheres.

Em todo o mundo a data faz memória a luta feminina e se converteu em um mês de reivindicações e busca por garantia de direitos para as mulheres. No caso do Brasil, o mês de março marca a atividade “21 dias de ativismo contra o racismo”, e isto nos leva a refletir sobre a interseccionalidade entre raça, gênero e classe e a importância do feminismo negro.

Algumas vezes encontramos na literatura que a inserção feminina no mercado de trabalho ocorre a partir da revolução industrial. Não. A inserção das mulheres no mercado de trabalho no Brasil ocorre desde que mulheres negras que foram sequestradas em sua terra natal, vieram em navios sendo açoitadas, estupradas e chegaram ao Brasil para serem escravizadas, a estas mulheres a exploração de seus corpos e sua força de trabalho. Se as mulheres brancas puderam ir às ruas reivindicar igualdade de tratamento é porque muitas das vezes, as mulheres negras estavam dentro de suas casas, cozinhando à lenha, usando ferro à carvão e cuidando dos filhos das mulheres brancas. Diante disto, nos parece fundamental ao abordar as lutas e as conquistas do movimento feminista nos perguntar: de que mulheres estamos falando?

O Atlas da Violência no Brasil (IPEA- 2020) aponta que, quando se analisa o período 2008-2018, o risco de uma mulher negra ser assassinada é de 64%. Observando somente o ano de 2018, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país. Destas, 58% são mulheres negras. Quando se examina a taxa de homicídios de mulheres entre 2008-2018, verifica-se que, que de fato, houve uma redução no percentual: 11,7% para as não negras. Já entre as negras, o aumento foi de 12,4%. Ou seja. As negras brasileiras continuam tem suas vidas interrompidas pela violência.

Ao nos debruçarmos sobre a escolarização dados do IBGE (2018) mostram que o percentual de mulheres brancas que possuem o ensino superior completo é de 23,5%. Entre as mulheres negras este percentual é de 10,4%. O Boletim do DIEESE intitulado Desigualdade entre negros e brancos se aprofunda durante a pandemia (2020) ao analisar a taxa de desocupação no 2º trimestre de 2020, aponta que 9,5% dos homens brancos e 11,3% das mulheres brancas encontravam-se desocupados. Já entre os negros o percentual é de 14,0% para os homens e 18,2% para as mulheres.

Pode-se perceber que as mulheres negras brasileiras estão subrrepresentadas em todos os indicadores sociais. Ganham menos, têm os piores empregos, sofrem maior violência. Pensar em uma agenda feminista passa, em grande medida por pensar em uma agenda antirracista No Brasil o racismo é estrutural e estrutura as relações sociais, e isto inclui as relações de gênero. É impossível pensar na igualdade de direitos entre homens e mulheres, se que se pense de modo diferenciado nas mulheres que descendes dos povos escravizados. E que, como apontam os dados, carregam ainda hoje a marca da subalternidade a que pessoas negras são submetidas. Neste mês de março, em que se busca a equidade entre os gêneros e que se luta por uma práxis antirracista, vale lembrar as palavras de Lelia Gonzalez (1935-1994): “Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual”.

* Artigo de autoria de Cristiane Lourenço; Assistente Social e Doutoranda em Política Social da Universidade Federal Fluminense.










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