Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd Pouco mais de uma década após deixar o Santos rumo ao Barcelona (na época, a maior transação da história do futebol brasileiro), Neymar retornou ao Brasil e ao Peixe no primeiro semestre de 2025, para a disputa do Campeonato Paulista (título que conquistou de forma […]
PORCarlos Frederico Pereira da Silva Gama20/3/2025|
6 min de leitura
Neymar. Foto: Raul Baretta/Santos/Flickr
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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd
Pouco mais de uma década após deixar o Santos rumo ao Barcelona (na época, a maior transação da história do futebol brasileiro), Neymar retornou ao Brasil e ao Peixe no primeiro semestre de 2025, para a disputa do Campeonato Paulista (título que conquistou de forma consecutiva de 2010 a 2012). O craque não levou o clube praiano às finais, mas sacudiu o ambiente do futebol brasileiro, carente de notícias animadoras.
Em sua década na Europa, o atacante venceu quase todos os títulos possíveis, incluindo troféus nacionais, múltiplas edições da Champions League e do Mundial de Clubes da FIFA. Pela seleção brasileira (da qual é recordista de partidas e gols marcados em jogos oficiais), Neymar conquistou a Olímpiada de 2016 no Rio de Janeiro e uma Copa América. Esse curriculo credenciou o jogador a disputar o posto de melhor do mundo, em competição direta com o colega de Catalunha Lionel Messi e o rival madridista Cristiano Ronaldo. Esse objetivo frustrado faria Neymar percorrer o planeta novamente.
Além de muitos títulos e gols (dos mais belos desse século), Neymar movimentou mais dinheiro do que qualquer outro jogador brasileiro. A polemica transferência ao Barcelona em 2013 gerou acusações de sonegação de divisas e quebra do Fair Play financeiro, envolvendo quase 100 milhões de euros. O atacante se tornou, anos depois, o jogador mais caro de todos os tempos ao se transferir para o Paris Saint Germain em 2017 por 222 milhões de euros. Em 2023, fez parte da maior transferência da história feita por um clube asiático, ao se mudar para o Al-Hilal da Arábia Saudita por 90 milhões de euros.
À medida que seu nome girava divisas milionárias ao redor de um esporte cada vez mais global, Neymar perdeu de vista seus melhores dias em campo. Frequentes contusões se tornaram mais comuns que o desfile de dribles, assistências, gols e títulos. Entre a Copa do Mundo de 2022 e o Campeonato Paulista de 2025, jogou apenas 7 vezes e fez 1 gol. Seus espetáculos ao longo do século caíram em segundo plano, diante da nova geração de craques, incluindo o compatriota Vini Jr., eleito Melhor do Mundo com o Real Madrid.
Essa decadência anunciada foi além da competição entre gerações, ou o desnível entre sua ascensão e a consolidação da dupla Ronaldo-Messi. À medida que outros jogadores se mostravam mais decisivos a seu lado (caso de Luisito Suarez) ou do outro lado (Luca Modric, Robert Lewandoski), o potencial de Neymar permaneceu suspenso no ar.
À medida que sua performance em campo desaparecia – qual o retrato de Dorian Gray imortalizado por Oscar Wilde – a imagem pública de Neymar se multiplicava nas redes sociais. Seu nome mobilizou dezenas de milhões de seguidores a acompanhar em múltiplas plataformas um desfile de escândalos e relacionamentos, mesclado com gestos de amor ao pôquer e hedonismo militante ao lado de muitos inseparáveis parças.
O contraste entre o milionário influenciador multimidia e o ex-jogador em atividade (ainda detentor de um dos maiores salários do esporte) inspirou ríspidas reações no microcosmo do futebol. A despeito das faltas sofridas e contusões, as reclamações de Neymar em campo viraram piada na Europa, associadas com simulações. A despeito de seus números notáveis, Neymar deixou de ser lembrado pelos treinadores da Amarelinha desde 2023. Mesmo de volta ao Santos e tendo feito um Campeonato Paulista regular (7 jogos e 3 gols), ele acaba de ser cortado da última convocação da seleção brasileira, por problemas físicos. E Neymar, novamente, se viu nas manchetes graças a polêmicas extracampo, como o status dos influencers em sua última festança.
Esse loop de notoriedade indesejada e insatisfação pública com a performance em campo marcou a trajetória de Neymar – bem como do futebol brasileiro
desde o fatídico 7 X 1 sofrido para a Alemanha no Mineirão, em 2014. O jogador foi poupado dessa humilhação histórica, abatido pela virulência dos marcadores colombianos. Em meio a contusões e confusões, desde então, Neymar passou a ser a solitária esperança de redimir as glorias da camisa amarela. Make it Great Again…A vitória na Olímpiada em casa aumentou o desejo de retomar a trajetória da Amarelinha com o hexacampeonato.
O fracasso com a camisa verde e amarela em Copas do Mundo aumentou a percepção de que Neymar poderia ter feito muito mais do que 440 gols em 731 partidas. Números que rivalizam com os de Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho – craques da geração anterior, vencedores da Copa e que foram múltiplas vezes eleitos Melhores do Mundo.
Aos 33 anos, Neymar é um jovem milionário que venceu no mundo cão do futebol global. Já pode falar em legados, seja em Santos, Barcelona, Paris ou Teresópolis. Sua longa e implacável jornada rumo ao ocaso lembra a queda precoce de outro grande atacante brasileiro – Adriano, o “Imperador”. Sombra, água fresca, notoriedade nas redes sociais e o rumo da próxima festa parecem mais relevantes do que os poucos triunfos que lhe faltam na prateleira. O craque será lembrado como jogador de excepcional potencial que queimou depressa, deixando um rastro de milhões de euros, seguidores e ansiedades.
Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.
Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.
Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).
*As opiniões emitidas neste artigo não refletem necessariamente a do portal SRzd
Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd
Pouco mais de uma década após deixar o Santos rumo ao Barcelona (na época, a maior transação da história do futebol brasileiro), Neymar retornou ao Brasil e ao Peixe no primeiro semestre de 2025, para a disputa do Campeonato Paulista (título que conquistou de forma consecutiva de 2010 a 2012). O craque não levou o clube praiano às finais, mas sacudiu o ambiente do futebol brasileiro, carente de notícias animadoras.
Em sua década na Europa, o atacante venceu quase todos os títulos possíveis, incluindo troféus nacionais, múltiplas edições da Champions League e do Mundial de Clubes da FIFA. Pela seleção brasileira (da qual é recordista de partidas e gols marcados em jogos oficiais), Neymar conquistou a Olímpiada de 2016 no Rio de Janeiro e uma Copa América. Esse curriculo credenciou o jogador a disputar o posto de melhor do mundo, em competição direta com o colega de Catalunha Lionel Messi e o rival madridista Cristiano Ronaldo. Esse objetivo frustrado faria Neymar percorrer o planeta novamente.
Além de muitos títulos e gols (dos mais belos desse século), Neymar movimentou mais dinheiro do que qualquer outro jogador brasileiro. A polemica transferência ao Barcelona em 2013 gerou acusações de sonegação de divisas e quebra do Fair Play financeiro, envolvendo quase 100 milhões de euros. O atacante se tornou, anos depois, o jogador mais caro de todos os tempos ao se transferir para o Paris Saint Germain em 2017 por 222 milhões de euros. Em 2023, fez parte da maior transferência da história feita por um clube asiático, ao se mudar para o Al-Hilal da Arábia Saudita por 90 milhões de euros.
À medida que seu nome girava divisas milionárias ao redor de um esporte cada vez mais global, Neymar perdeu de vista seus melhores dias em campo. Frequentes contusões se tornaram mais comuns que o desfile de dribles, assistências, gols e títulos. Entre a Copa do Mundo de 2022 e o Campeonato Paulista de 2025, jogou apenas 7 vezes e fez 1 gol. Seus espetáculos ao longo do século caíram em segundo plano, diante da nova geração de craques, incluindo o compatriota Vini Jr., eleito Melhor do Mundo com o Real Madrid.
Essa decadência anunciada foi além da competição entre gerações, ou o desnível entre sua ascensão e a consolidação da dupla Ronaldo-Messi. À medida que outros jogadores se mostravam mais decisivos a seu lado (caso de Luisito Suarez) ou do outro lado (Luca Modric, Robert Lewandoski), o potencial de Neymar permaneceu suspenso no ar.
À medida que sua performance em campo desaparecia – qual o retrato de Dorian Gray imortalizado por Oscar Wilde – a imagem pública de Neymar se multiplicava nas redes sociais. Seu nome mobilizou dezenas de milhões de seguidores a acompanhar em múltiplas plataformas um desfile de escândalos e relacionamentos, mesclado com gestos de amor ao pôquer e hedonismo militante ao lado de muitos inseparáveis parças.
O contraste entre o milionário influenciador multimidia e o ex-jogador em atividade (ainda detentor de um dos maiores salários do esporte) inspirou ríspidas reações no microcosmo do futebol. A despeito das faltas sofridas e contusões, as reclamações de Neymar em campo viraram piada na Europa, associadas com simulações. A despeito de seus números notáveis, Neymar deixou de ser lembrado pelos treinadores da Amarelinha desde 2023. Mesmo de volta ao Santos e tendo feito um Campeonato Paulista regular (7 jogos e 3 gols), ele acaba de ser cortado da última convocação da seleção brasileira, por problemas físicos. E Neymar, novamente, se viu nas manchetes graças a polêmicas extracampo, como o status dos influencers em sua última festança.
Esse loop de notoriedade indesejada e insatisfação pública com a performance em campo marcou a trajetória de Neymar – bem como do futebol brasileiro
desde o fatídico 7 X 1 sofrido para a Alemanha no Mineirão, em 2014. O jogador foi poupado dessa humilhação histórica, abatido pela virulência dos marcadores colombianos. Em meio a contusões e confusões, desde então, Neymar passou a ser a solitária esperança de redimir as glorias da camisa amarela. Make it Great Again…A vitória na Olímpiada em casa aumentou o desejo de retomar a trajetória da Amarelinha com o hexacampeonato.
O fracasso com a camisa verde e amarela em Copas do Mundo aumentou a percepção de que Neymar poderia ter feito muito mais do que 440 gols em 731 partidas. Números que rivalizam com os de Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho – craques da geração anterior, vencedores da Copa e que foram múltiplas vezes eleitos Melhores do Mundo.
Aos 33 anos, Neymar é um jovem milionário que venceu no mundo cão do futebol global. Já pode falar em legados, seja em Santos, Barcelona, Paris ou Teresópolis. Sua longa e implacável jornada rumo ao ocaso lembra a queda precoce de outro grande atacante brasileiro – Adriano, o “Imperador”. Sombra, água fresca, notoriedade nas redes sociais e o rumo da próxima festa parecem mais relevantes do que os poucos triunfos que lhe faltam na prateleira. O craque será lembrado como jogador de excepcional potencial que queimou depressa, deixando um rastro de milhões de euros, seguidores e ansiedades.
Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.
Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.
Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).
*As opiniões emitidas neste artigo não refletem necessariamente a do portal SRzd