‘Apertada vitória da sociedade civil’, por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

  • Icon instagram_blue
  • Icon youtube_blue
  • Icon x_blue
  • Icon facebook_blue
  • Icon google_blue

Em 30 de Outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o primeiro presidente do Brasil reeleito em mais de uma ocasião. Uma votação recorde – superior a 60 milhões de votos – garantiu seu terceiro mandato presidencial. O retorno do PT ao Palácio do Planalto foi acompanhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) – ex-governador […]

POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama01/11/2022|5 min de leitura

‘Apertada vitória da sociedade civil’, por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

Lula. Foto: Ricardo Stuckert

| Siga-nos Google News

Em 30 de Outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o primeiro presidente do Brasil reeleito em mais de uma ocasião. Uma votação recorde – superior a 60 milhões de votos – garantiu seu terceiro mandato presidencial. O retorno do PT ao Palácio do Planalto foi acompanhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) – ex-governador paulista derrotado por Lula nas eleições de 2006.

Na comparação com sua reeleição anterior, Lula obteve 2 milhões de votos a mais. Em contraste com 2006 – quando 67 milhões de eleitores não o escolheram no segundo turno das eleições – em 2022 97 milhões de eleitores não se manifestaram favoravelmente, entre abstenções, votos em branco, nulos e eleitores do derrotado presidente Jair Bolsonaro (PL), o primeiro a não se reeleger.

O significado desses números se amplia, diante da pequena diferença que definiu a eleição de 2022. Pouco mais de 2 milhões de votos fizeram a balança pender para Lula, vencedor em 13 estados. Vencedor em 14 estados, Bolsonaro repetiu seus números de 2018, obtendo 58 milhões de votos. Menos de 1% do eleitorado foi suficiente para derrotar o projeto de reeleição presidencial em curso.

O cenário brasileiro é similar ao ocorrido nos Estados Unidos em 2020. Em outra eleição polarizada realizada durante a pandemia do Covid-19, o democrata Joe Biden obteve votação recorde, mas venceu por margem apertada o presidente republicano em busca da reeleição Donald Trump.

Trump não reconheceu imediatamente a derrota e posteriormente incitou eleitores à rebelião. A reunião do Colégio Eleitoral que referendaria a vitória de Biden, em 6 de Janeiro de 2021, foi tumultuada por uma inédita invasão ao Capitólio por apoiadores de Trump, que terminou com o saldo de 5 mortos e a abertura de uma investigação política e criminal sobre ações do ex-presidente.

No caso brasileiro, a promulgação dos resultados da eleição pelo Tribunal Superior Eleitoral ocorreu na noite de domingo, poucas horas após o fechamento das urnas eletrônicas. Desde então, Jair Bolsonaro se fechou em copas no Planalto. Enquanto persistia seu silêncio sobre a derrota, seus apoiadores fechavam estradas na maioria dos estados da federação. O não- reconhecimento da vitória de Lula espelha a ansiedade política que marcou outras democracias ao longo do século.

Nas democracias contemporâneas o cenário de polarização política antecede em muito as eleições. Além de crises econômicas e pandemias que não respeitam fronteiras num mundo globalizado, questões específicas adquirem caráter definidor de uma geração – caso do Brexit, no Reino Unido. A situação do Brasil é singular, visto que o país não se posicionou decisivamente em nenhuma das grandes questões contemporâneas, nem viveu agruras inéditas em escala global. A crise política brasileira compartilha ansiedades globalizadas e limitações do estado nacional territorial e soberano com amplo descontentamento popular para com as instituições políticas e arranjos “tradicionais”.

A ascensão de populismos marcou as últimas duas décadas – e seu desgaste é cada vez mais nítido. Em todas as eleições majoritárias e competitivas realizadas após a chegada do novo Coronavírus, forças políticas progressistas eventualmente triunfaram. A vitória de Lula se une a um padrão global.

A singularidade da terceira eleição de Lula se deve ao contexto brasileiro. Dentre as forças políticas que governaram a República, os militares são novamente convidados a retornar às casernas, pacificamente. Lideranças regionais, caso dos governadores de estado – representados por Alckmin – assumem papel secundário. A construção da trajetória política de Lula se confunde com a ascensão da sociedade civil como protagonista da política brasileira. Entre idas e vindas – como os idos de 2013, em que Dilma Rousseff (PT) viu escorrer por entre os dedos a legitimidade das urnas nas ruas e, a posteriori, nas cortes – a sociedade civil esteve no centro dos acontecimentos políticos do país no século 21, desde a primeira eleição de Lula e do PT em 2002. A vitória apertada sobre Bolsonaro se deveu a uma concertação entre segmentos da sociedade civil e seleto grupo de partidos políticos.

A aliança vitoriosa nas eleições presidenciais terá diante de si um Legislativo hostil, com a Câmara e (especialmente) o Senado sob controle de forças oposicionistas. O capital político construído apressadamente no segundo semestre de 2022 terá em breve tarefa difícil no diálogo entre Poderes. A pulverização de governos estaduais e municipais entre mais de uma dezena de partidos abre oportunidades para uma acomodação pragmática. A pacificação da pólis brasileira depende disso.

Diante de tantos dilemas compartilhados mundo afora, a jovem democracia brasileira deu mostras de maturidade. Os dois turnos da eleição decorreram em relativa tranquilidade, com alto índice de comparecimento e baixa contestação do processo eleitoral nos diferentes pleitos simultâneos. Cabe à sociedade brasileira, doravante, celebrar a democracia para além das urnas. No fim das contas, respeitar os resultados das eleições e representantes eleitos são formas de cumprir a Constituição.

Em 30 de Outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o primeiro presidente do Brasil reeleito em mais de uma ocasião. Uma votação recorde – superior a 60 milhões de votos – garantiu seu terceiro mandato presidencial. O retorno do PT ao Palácio do Planalto foi acompanhado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) – ex-governador paulista derrotado por Lula nas eleições de 2006.

Na comparação com sua reeleição anterior, Lula obteve 2 milhões de votos a mais. Em contraste com 2006 – quando 67 milhões de eleitores não o escolheram no segundo turno das eleições – em 2022 97 milhões de eleitores não se manifestaram favoravelmente, entre abstenções, votos em branco, nulos e eleitores do derrotado presidente Jair Bolsonaro (PL), o primeiro a não se reeleger.

O significado desses números se amplia, diante da pequena diferença que definiu a eleição de 2022. Pouco mais de 2 milhões de votos fizeram a balança pender para Lula, vencedor em 13 estados. Vencedor em 14 estados, Bolsonaro repetiu seus números de 2018, obtendo 58 milhões de votos. Menos de 1% do eleitorado foi suficiente para derrotar o projeto de reeleição presidencial em curso.

O cenário brasileiro é similar ao ocorrido nos Estados Unidos em 2020. Em outra eleição polarizada realizada durante a pandemia do Covid-19, o democrata Joe Biden obteve votação recorde, mas venceu por margem apertada o presidente republicano em busca da reeleição Donald Trump.

Trump não reconheceu imediatamente a derrota e posteriormente incitou eleitores à rebelião. A reunião do Colégio Eleitoral que referendaria a vitória de Biden, em 6 de Janeiro de 2021, foi tumultuada por uma inédita invasão ao Capitólio por apoiadores de Trump, que terminou com o saldo de 5 mortos e a abertura de uma investigação política e criminal sobre ações do ex-presidente.

No caso brasileiro, a promulgação dos resultados da eleição pelo Tribunal Superior Eleitoral ocorreu na noite de domingo, poucas horas após o fechamento das urnas eletrônicas. Desde então, Jair Bolsonaro se fechou em copas no Planalto. Enquanto persistia seu silêncio sobre a derrota, seus apoiadores fechavam estradas na maioria dos estados da federação. O não- reconhecimento da vitória de Lula espelha a ansiedade política que marcou outras democracias ao longo do século.

Nas democracias contemporâneas o cenário de polarização política antecede em muito as eleições. Além de crises econômicas e pandemias que não respeitam fronteiras num mundo globalizado, questões específicas adquirem caráter definidor de uma geração – caso do Brexit, no Reino Unido. A situação do Brasil é singular, visto que o país não se posicionou decisivamente em nenhuma das grandes questões contemporâneas, nem viveu agruras inéditas em escala global. A crise política brasileira compartilha ansiedades globalizadas e limitações do estado nacional territorial e soberano com amplo descontentamento popular para com as instituições políticas e arranjos “tradicionais”.

A ascensão de populismos marcou as últimas duas décadas – e seu desgaste é cada vez mais nítido. Em todas as eleições majoritárias e competitivas realizadas após a chegada do novo Coronavírus, forças políticas progressistas eventualmente triunfaram. A vitória de Lula se une a um padrão global.

A singularidade da terceira eleição de Lula se deve ao contexto brasileiro. Dentre as forças políticas que governaram a República, os militares são novamente convidados a retornar às casernas, pacificamente. Lideranças regionais, caso dos governadores de estado – representados por Alckmin – assumem papel secundário. A construção da trajetória política de Lula se confunde com a ascensão da sociedade civil como protagonista da política brasileira. Entre idas e vindas – como os idos de 2013, em que Dilma Rousseff (PT) viu escorrer por entre os dedos a legitimidade das urnas nas ruas e, a posteriori, nas cortes – a sociedade civil esteve no centro dos acontecimentos políticos do país no século 21, desde a primeira eleição de Lula e do PT em 2002. A vitória apertada sobre Bolsonaro se deveu a uma concertação entre segmentos da sociedade civil e seleto grupo de partidos políticos.

A aliança vitoriosa nas eleições presidenciais terá diante de si um Legislativo hostil, com a Câmara e (especialmente) o Senado sob controle de forças oposicionistas. O capital político construído apressadamente no segundo semestre de 2022 terá em breve tarefa difícil no diálogo entre Poderes. A pulverização de governos estaduais e municipais entre mais de uma dezena de partidos abre oportunidades para uma acomodação pragmática. A pacificação da pólis brasileira depende disso.

Diante de tantos dilemas compartilhados mundo afora, a jovem democracia brasileira deu mostras de maturidade. Os dois turnos da eleição decorreram em relativa tranquilidade, com alto índice de comparecimento e baixa contestação do processo eleitoral nos diferentes pleitos simultâneos. Cabe à sociedade brasileira, doravante, celebrar a democracia para além das urnas. No fim das contas, respeitar os resultados das eleições e representantes eleitos são formas de cumprir a Constituição.

Notícias Relacionadas

Ver tudo