Veja o novo artigo da economista Renata Lins.
POR Redação SRzd22/08/2006|4 min de leitura
Veja o novo artigo da economista Renata Lins.
POR Redação SRzd22/08/2006|4 min de leitura
A inspiração de hoje foi fornecida por Fausto Wolff, velho lutador de esquerda, eleitor declarado de Heloísa Helena e jornalista do Caderno B do JB. Em ótimo artigo, ele comenta sobre a falácia da renda per capita ‘ a soma das rendas contratuais do país (como declarada ao IBGE pelas famílias) dividida pelo número de cabeças (em latim, capitae). Renda per capita seria então a renda “por cabeça”. Mas, como é sabido, uma pessoa com a cabeça no forno e os pés na geladeira vai ter uma temperatura média ótima. Assim é nessa terra de desigualdades em que vivemos, sem ver luz no fim do túnel: evidentemente, quanto mais desigual a renda no país, menos a sua média (dada pela renda per capita) vai dizer algo relevante sobre o bem-estar da população envolvida. Ora, o Brasil tem um dos mais altos níveis de desigualdade do mundo, perdendo apenas, da última vez que verifiquei, para Serra Leoa (país em tudo diferente do nosso, inclusive no nível alto de pobreza absoluta). Ou seja, a renda per capita aqui não mede nada. Ou quase nada.
E o que, pensarão vocês, isso tem a ver com os outros dois assuntos do título? Bom, os dois outros assuntos têm em comum o fato de fazerem parte do arsenal de receitas dos organismos multilaterais (BID, FMI, Banco Mundial) ‘ e de seu capataz local, o BNDES em sua forma “privatizada” de hoje (e uma das lutas fundamentais da sociedade brasileira é fazer com que o BNDES reassuma seu papel de banco de desenvolvimento do Brasil, para que foi pensado, agora na democracia). Então vejamos: o superávit primário (ou seja, a primazia da aplicação dos recursos públicos para o pagamento da dívida interna e externa, em detrimento de seu uso para promover políticas de bem-estar e de criação de infra-estrutura) impede que se promovam políticas universais. Saúde para todos? Educação de qualidade para todos? Nem pensar, o dragão da dívida engole todos os recursos e um pouco mais. E a classe média (não falo nem da classe alta, que está a essa altura se tratando em Miami), em vez de lutar pelos direitos de todos, puxa o cobertor das seguradoras sanguessugas privadas para se cobrir, deixando os pés dos mais pobres à mercê das intempéries. A mesma coisa com a escola. Como bem mostra o professor Cláudio Salm (diretor de pesquisa do recém-criado Centro Celso Furtado), a debandada da classe média da escola pública a transformou, de uma escola de qualidade (para poucos) que era, em uma escola “de pobres, para pobres”.
Nada como políticas universais para reduzir a desigualdade, explica a professora do Instituto de Economia da UFRJ Lena Lavinas (ver em www.ie.ufrj.br , grupo Aparte). Sem políticas universais, sobe a desigualdade. Ah, dizem os organismos multilaterais, é tão triste ver os pobrezinhos, tão pobrezinhos…. mas nós temos a solução: políticas focadas, feitas para eles, especificamente. Não é tão bom? Uma politicazinha própria, do seu tamanhozinho, cortada em pano simplezinho, chita de flores, algodão… seda? Veludo? Nem pensar, não se dá pérolas aos porcos. Vocês nem iam saber usar, iam desperdiçar. Deixem isso para os abastados. Dá trabalho cuidar de seda. Precisa às vezes lavar a seco, estraga…não, não. Chita tá mais que bom. Escola de pobres, saúde de pobres… isso tudo financiado com dólares, já que reais a gente não pode usar porque tem que pagar a dívida.
E as cotas? Aí entram lindamente: uma política focada, uns negros escolhidos, alçados a porta-vozes da categoria, pra botar na televisão e nas estatísticas. Porque que os negros estão na base da pirâmide (e aí remeto aos estudos do professor Marcelo Paixão, que não concorda comigo mas entende muito disso), ninguém discorda. A questão aqui é: qual a solução adequada? Como de fato melhorar a vida de todos, e não somente as estatísticas? Ou, em outros termos: quem está fazendo o jogo deles?
Renata Lins é Doutoranda em economia pelo IE/UFRJ
A inspiração de hoje foi fornecida por Fausto Wolff, velho lutador de esquerda, eleitor declarado de Heloísa Helena e jornalista do Caderno B do JB. Em ótimo artigo, ele comenta sobre a falácia da renda per capita ‘ a soma das rendas contratuais do país (como declarada ao IBGE pelas famílias) dividida pelo número de cabeças (em latim, capitae). Renda per capita seria então a renda “por cabeça”. Mas, como é sabido, uma pessoa com a cabeça no forno e os pés na geladeira vai ter uma temperatura média ótima. Assim é nessa terra de desigualdades em que vivemos, sem ver luz no fim do túnel: evidentemente, quanto mais desigual a renda no país, menos a sua média (dada pela renda per capita) vai dizer algo relevante sobre o bem-estar da população envolvida. Ora, o Brasil tem um dos mais altos níveis de desigualdade do mundo, perdendo apenas, da última vez que verifiquei, para Serra Leoa (país em tudo diferente do nosso, inclusive no nível alto de pobreza absoluta). Ou seja, a renda per capita aqui não mede nada. Ou quase nada.
E o que, pensarão vocês, isso tem a ver com os outros dois assuntos do título? Bom, os dois outros assuntos têm em comum o fato de fazerem parte do arsenal de receitas dos organismos multilaterais (BID, FMI, Banco Mundial) ‘ e de seu capataz local, o BNDES em sua forma “privatizada” de hoje (e uma das lutas fundamentais da sociedade brasileira é fazer com que o BNDES reassuma seu papel de banco de desenvolvimento do Brasil, para que foi pensado, agora na democracia). Então vejamos: o superávit primário (ou seja, a primazia da aplicação dos recursos públicos para o pagamento da dívida interna e externa, em detrimento de seu uso para promover políticas de bem-estar e de criação de infra-estrutura) impede que se promovam políticas universais. Saúde para todos? Educação de qualidade para todos? Nem pensar, o dragão da dívida engole todos os recursos e um pouco mais. E a classe média (não falo nem da classe alta, que está a essa altura se tratando em Miami), em vez de lutar pelos direitos de todos, puxa o cobertor das seguradoras sanguessugas privadas para se cobrir, deixando os pés dos mais pobres à mercê das intempéries. A mesma coisa com a escola. Como bem mostra o professor Cláudio Salm (diretor de pesquisa do recém-criado Centro Celso Furtado), a debandada da classe média da escola pública a transformou, de uma escola de qualidade (para poucos) que era, em uma escola “de pobres, para pobres”.
Nada como políticas universais para reduzir a desigualdade, explica a professora do Instituto de Economia da UFRJ Lena Lavinas (ver em www.ie.ufrj.br , grupo Aparte). Sem políticas universais, sobe a desigualdade. Ah, dizem os organismos multilaterais, é tão triste ver os pobrezinhos, tão pobrezinhos…. mas nós temos a solução: políticas focadas, feitas para eles, especificamente. Não é tão bom? Uma politicazinha própria, do seu tamanhozinho, cortada em pano simplezinho, chita de flores, algodão… seda? Veludo? Nem pensar, não se dá pérolas aos porcos. Vocês nem iam saber usar, iam desperdiçar. Deixem isso para os abastados. Dá trabalho cuidar de seda. Precisa às vezes lavar a seco, estraga…não, não. Chita tá mais que bom. Escola de pobres, saúde de pobres… isso tudo financiado com dólares, já que reais a gente não pode usar porque tem que pagar a dívida.
E as cotas? Aí entram lindamente: uma política focada, uns negros escolhidos, alçados a porta-vozes da categoria, pra botar na televisão e nas estatísticas. Porque que os negros estão na base da pirâmide (e aí remeto aos estudos do professor Marcelo Paixão, que não concorda comigo mas entende muito disso), ninguém discorda. A questão aqui é: qual a solução adequada? Como de fato melhorar a vida de todos, e não somente as estatísticas? Ou, em outros termos: quem está fazendo o jogo deles?
Renata Lins é Doutoranda em economia pelo IE/UFRJ
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