Roubalheira: Onde Sérgio Cabral estava com a cabeça?

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Sérgio Cabral, Anthony Garotinho e eu somos contemporâneos. Cabral, com 54 anos, Garotinho, com 56, e eu, com 58. Estou me permitindo o abuso de me dar importância para justificar meu ofício de repórter, já que eu os acompanho desde o início de suas carreiras. Os dois primeiros estão na história e, por isso, vale […]

POR Sidney Rezende15/02/2017|6 min de leitura

Roubalheira: Onde Sérgio Cabral estava com a cabeça?
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Sérgio Cabral, Anthony Garotinho e eu somos contemporâneos. Cabral, com 54 anos, Garotinho, com 56, e eu, com 58. Estou me permitindo o abuso de me dar importância para justificar meu ofício de repórter, já que eu os acompanho desde o início de suas carreiras.

Os dois primeiros estão na história e, por isso, vale falar um pouco sobre suas trajetórias.

O extinto “Jornal do Brasil” foi o primeiro veículo importante do país a identificar no jovem radialista Anthony Garotinho um fenômeno eleitoral em Campos. O segundo foi a “Rádio JB”, que me mandou ir até o norte fluminense conhecer melhor quem era aquele rapaz que estava balançando as estruturas.

O mesmo que eu havia feito com Fernando Collor, antes da capa da “Veja” que o retratava como “Caçador de Marajás”. A reportagem sobre Garotinho, no linguajar de hoje, “bombou”.

Dali em diante, eu o coloquei no meu radar de repórter.

Garotinho fazia sucesso porque desafiou o coronel da época, o prefeito Zezé Barbosa, usineiro e de cabeça antiga, ultrapassada. O novo esfarelou o velho. Igualzinho aos romances sobre os patriarcas do cacau nas histórias de Jorge Amado.

Garotinho foi um vendaval. Renovador. Assim como José Sarney, no Maranhão, no seu primeiro governo estadual. Sim, Sarney já foi progressista.

Garotinho sempre possuiu uma oratória fabulosa. O ex-governador Marcello Alencar, com quem eu tinha bastante intimidade, me disse o que pensava do seu então desafeto, em conversa que tivemos no seu gabinete no Palácio Guanabara:

“O Garotinho é abusado… ousado… destemido!”

Era um fato, e até seu adversário, que o derrotou nas urnas, reconhecia.

Uma vez, Garotinho me propôs, no início dos anos 90, que ele e eu fôssemos sócios, e arrendássemos a “Tupi FM”, rádio que não existe mais, e que só tocava músicas clássicas. Ele pensava grande e queria ser empresário. E, além de político, a vida lhe ofertou ser quase um pastor.

A “nossa sociedade” não andou pela simples razão que eu era, e ainda sou, um “durango kid”, sem dinheiro para arroubos desta envergadura. Tudo o que ganho, invisto no que acredito e não sobra nada para contar a história.

Mas, para o Garotinho, não tem tempo ruim. Ele desenvolveu uma carreira meteórica e chegou até a ser candidato à presidência da República com expressiva votação. Um fenômeno.

Com Sérgio Cabral, nosso primeiro contato foi na “Rádio Nacional”, na década de 80, onde ele tinha participações ao microfone e se dedicava a falar para os idosos e os aposentados. Graças aos nossos velhinhos, Cabral se elegeu sucessivas vezes, constituiu coluna no jornal “O Dia”, de Ari de Carvalho, e, como Garotinho, decolou com “brilho” e parecia que alcançaria o sonho do pai, Sérgio Cabral, do velho “Pasquim”, dos livros clássicos de música brasileira, das biografias fabulosas, a quem conheço muito bem. Até mais que o filho.

O sonho do Cabral pai era ver o filho no Planalto:

“Sidney, Serginho ainda vai ser presidente.”

Cabral e Garotinho foram parceiros políticos e depois romperam de vez. Após o governo do segundo, foi eleito o primeiro. Em linhas gerais, Sérgio Cabral parecia um modelo de gestor.

Certo dia, no Palácio Guanabara, fui recebido pelo vice de Cabral, Luiz Fernando Pezão, sempre muito gentil. Pessoa que tenho apreço até hoje. Terminada a nossa conversa, que sinceramente não me recordo a pauta – a minha memória é terrível, reconheço -, ele me diz:

“Sidney, venha aqui falar com o governador, me acompanhe.”

Sem graça, por índole interiorana que não perco, fico desconcertado com algo não combinado antes. Pezão me leva a uma sala imensa em que sobressai uma mesa de madeira boa, mas que parece pequena, muito parecida com a usada por Getúlio Vargas, no Palácio do Catete. Uma luz incidental vinda de abajur pequeno, um laptop de última geração, e, diante dele,  Sérgio Cabral teclando um texto. Com os óculos na ponta do nariz, ele levanta os olhos e me cumprimenta com educação.

Nunca esqueci um detalhe que não me agradou. Achei estranho aquilo e até comentei em casa. Cabral estava com um charuto (não posso arriscar se “cubano”, mas deveria ser! Que era coisa boa, era!) e a cena me pareceu desproporcional. Sabe uma coisa fora de lugar?

O governador popular me passou a imagem de ricaço. Sabe aquela pessoa que sobe no pódio e, de repente, só se desloca de helicóptero, usa relógio de grife, empunha mala Louis Vuitton, gosta de descansar com a família na sua mansão em Angra e… fuma charuto? Passou. A roda da vida seguiu sua sina.

Com Garotinho, não mantenho mais nenhum tipo de relacionamento. A bem da verdade, nunca frequentamos a casa um do outro e jamais fomos amigos. Apesar da cordialidade de sempre de sua mulher Rosinha e da sua filha, a deputada e secretária Clarissa, com quem tenho excelente relacionamento profissional, as pontes com o ex-governador foram rompidas por causa de uma entrevista que ele me concedeu, eu ainda na “CBN”, em 2003. Relembre:

Parte 1:

Parte 2:

O bate-boca que você ouviu nas gravações acima abriram uma ferida, aparentemente, nunca cicatrizada.

Com Sérgio Cabral, nosso último contato foi na inauguração da reforma da Rodoviária Novo Rio. Na ocasião, ele deixou a todos esperando 2 horas. Esse defeito, ninguém lhe tira, o de jamais ser pontual.

Antes do discurso, o então governador me fez uma alongada menção carinhosa, que aproveito agora para agradecê-lo. Eu me senti lisonjeado.

Deixemos de saudosismos e vamos dar um salto e vermos o quadro hoje. Garotinho parece que ainda encontrará turbulência pela frente a julgar pelos movimentos do Ministério Público, Polícia Federal e Justiça. A ver.

Cabral, nesta terça 14, voltou a ser queimado no inferno. A denúncia mais atualizada dá conta que o ex-governador é acusado de 184 crimes de lavagem de dinheiro, como resultado da Operação Eficiência, segunda fase da Calicute, desdobramento fluminense das investigações da Força-Tarefa da Lava-Jato.

Ao leigo, não resta outra máxima do que aquela antiga: “Ele nunca mais sairá da cadeia”. Como vivemos no Brasil, nada aqui é ciência exata. Neste país, só o entende profissionais e não amadores. E tudo pode acontecer. Não arrisco afirmar o destino do ex-governador.

Eu me pergunto: Onde Cabral estava com a cabeça para se tornar quem se tornou?

Amigos, desculpe-me fazê-los ler até aqui:

“Eu não sei!”

Sérgio Cabral, Anthony Garotinho e eu somos contemporâneos. Cabral, com 54 anos, Garotinho, com 56, e eu, com 58. Estou me permitindo o abuso de me dar importância para justificar meu ofício de repórter, já que eu os acompanho desde o início de suas carreiras.

Os dois primeiros estão na história e, por isso, vale falar um pouco sobre suas trajetórias.

O extinto “Jornal do Brasil” foi o primeiro veículo importante do país a identificar no jovem radialista Anthony Garotinho um fenômeno eleitoral em Campos. O segundo foi a “Rádio JB”, que me mandou ir até o norte fluminense conhecer melhor quem era aquele rapaz que estava balançando as estruturas.

O mesmo que eu havia feito com Fernando Collor, antes da capa da “Veja” que o retratava como “Caçador de Marajás”. A reportagem sobre Garotinho, no linguajar de hoje, “bombou”.

Dali em diante, eu o coloquei no meu radar de repórter.

Garotinho fazia sucesso porque desafiou o coronel da época, o prefeito Zezé Barbosa, usineiro e de cabeça antiga, ultrapassada. O novo esfarelou o velho. Igualzinho aos romances sobre os patriarcas do cacau nas histórias de Jorge Amado.

Garotinho foi um vendaval. Renovador. Assim como José Sarney, no Maranhão, no seu primeiro governo estadual. Sim, Sarney já foi progressista.

Garotinho sempre possuiu uma oratória fabulosa. O ex-governador Marcello Alencar, com quem eu tinha bastante intimidade, me disse o que pensava do seu então desafeto, em conversa que tivemos no seu gabinete no Palácio Guanabara:

“O Garotinho é abusado… ousado… destemido!”

Era um fato, e até seu adversário, que o derrotou nas urnas, reconhecia.

Uma vez, Garotinho me propôs, no início dos anos 90, que ele e eu fôssemos sócios, e arrendássemos a “Tupi FM”, rádio que não existe mais, e que só tocava músicas clássicas. Ele pensava grande e queria ser empresário. E, além de político, a vida lhe ofertou ser quase um pastor.

A “nossa sociedade” não andou pela simples razão que eu era, e ainda sou, um “durango kid”, sem dinheiro para arroubos desta envergadura. Tudo o que ganho, invisto no que acredito e não sobra nada para contar a história.

Mas, para o Garotinho, não tem tempo ruim. Ele desenvolveu uma carreira meteórica e chegou até a ser candidato à presidência da República com expressiva votação. Um fenômeno.

Com Sérgio Cabral, nosso primeiro contato foi na “Rádio Nacional”, na década de 80, onde ele tinha participações ao microfone e se dedicava a falar para os idosos e os aposentados. Graças aos nossos velhinhos, Cabral se elegeu sucessivas vezes, constituiu coluna no jornal “O Dia”, de Ari de Carvalho, e, como Garotinho, decolou com “brilho” e parecia que alcançaria o sonho do pai, Sérgio Cabral, do velho “Pasquim”, dos livros clássicos de música brasileira, das biografias fabulosas, a quem conheço muito bem. Até mais que o filho.

O sonho do Cabral pai era ver o filho no Planalto:

“Sidney, Serginho ainda vai ser presidente.”

Cabral e Garotinho foram parceiros políticos e depois romperam de vez. Após o governo do segundo, foi eleito o primeiro. Em linhas gerais, Sérgio Cabral parecia um modelo de gestor.

Certo dia, no Palácio Guanabara, fui recebido pelo vice de Cabral, Luiz Fernando Pezão, sempre muito gentil. Pessoa que tenho apreço até hoje. Terminada a nossa conversa, que sinceramente não me recordo a pauta – a minha memória é terrível, reconheço -, ele me diz:

“Sidney, venha aqui falar com o governador, me acompanhe.”

Sem graça, por índole interiorana que não perco, fico desconcertado com algo não combinado antes. Pezão me leva a uma sala imensa em que sobressai uma mesa de madeira boa, mas que parece pequena, muito parecida com a usada por Getúlio Vargas, no Palácio do Catete. Uma luz incidental vinda de abajur pequeno, um laptop de última geração, e, diante dele,  Sérgio Cabral teclando um texto. Com os óculos na ponta do nariz, ele levanta os olhos e me cumprimenta com educação.

Nunca esqueci um detalhe que não me agradou. Achei estranho aquilo e até comentei em casa. Cabral estava com um charuto (não posso arriscar se “cubano”, mas deveria ser! Que era coisa boa, era!) e a cena me pareceu desproporcional. Sabe uma coisa fora de lugar?

O governador popular me passou a imagem de ricaço. Sabe aquela pessoa que sobe no pódio e, de repente, só se desloca de helicóptero, usa relógio de grife, empunha mala Louis Vuitton, gosta de descansar com a família na sua mansão em Angra e… fuma charuto? Passou. A roda da vida seguiu sua sina.

Com Garotinho, não mantenho mais nenhum tipo de relacionamento. A bem da verdade, nunca frequentamos a casa um do outro e jamais fomos amigos. Apesar da cordialidade de sempre de sua mulher Rosinha e da sua filha, a deputada e secretária Clarissa, com quem tenho excelente relacionamento profissional, as pontes com o ex-governador foram rompidas por causa de uma entrevista que ele me concedeu, eu ainda na “CBN”, em 2003. Relembre:

Parte 1:

Parte 2:

O bate-boca que você ouviu nas gravações acima abriram uma ferida, aparentemente, nunca cicatrizada.

Com Sérgio Cabral, nosso último contato foi na inauguração da reforma da Rodoviária Novo Rio. Na ocasião, ele deixou a todos esperando 2 horas. Esse defeito, ninguém lhe tira, o de jamais ser pontual.

Antes do discurso, o então governador me fez uma alongada menção carinhosa, que aproveito agora para agradecê-lo. Eu me senti lisonjeado.

Deixemos de saudosismos e vamos dar um salto e vermos o quadro hoje. Garotinho parece que ainda encontrará turbulência pela frente a julgar pelos movimentos do Ministério Público, Polícia Federal e Justiça. A ver.

Cabral, nesta terça 14, voltou a ser queimado no inferno. A denúncia mais atualizada dá conta que o ex-governador é acusado de 184 crimes de lavagem de dinheiro, como resultado da Operação Eficiência, segunda fase da Calicute, desdobramento fluminense das investigações da Força-Tarefa da Lava-Jato.

Ao leigo, não resta outra máxima do que aquela antiga: “Ele nunca mais sairá da cadeia”. Como vivemos no Brasil, nada aqui é ciência exata. Neste país, só o entende profissionais e não amadores. E tudo pode acontecer. Não arrisco afirmar o destino do ex-governador.

Eu me pergunto: Onde Cabral estava com a cabeça para se tornar quem se tornou?

Amigos, desculpe-me fazê-los ler até aqui:

“Eu não sei!”

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