Ciência. Há mais de três décadas, a OMS, Organização Mundial da Saúde, retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).
Porém, profissionais da psicologia, medicina e de outras áreas ainda atuam junto de seus pacientes prometendo cura. De acordo com a pesquisa Crenças e Atitudes Corretivas de Profissionais de Psicologia sobre a Homossexualidade, de 2018, orientada pelo professor doutor e coordenador do grupo de pesquisa sobre preconceito, vulnerabilidade e processos psicossociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Angelo Brandelli Costa, um em cada três psicoterapeutas ainda se propõe a mudar a orientação sexual de homo/bissexual para heterossexual quando solicitado pelo paciente, e um em cada nove possui atitudes de conversão sem o pedido do paciente.
O estudo, conduzido pelo mestre em psicologia Jean Ícaro Pujol Vezzosi, ouviu 692 profissionais e concluiu que a utilização das “atitudes corretivas” faz parte, sobretudo, de um contexto social maior de preconceito.
“Essas terapias vendem uma ideia que o problema está na pessoa que é LGBT. Ou seja, desvia daquilo que realmente é o problema, que é o preconceito que gera discriminação”, afirma Jean.
Para o pesquisador e também autor do livro Cura gay: não há cura para o que não é doença e o enfrentamento precisa ocorrer no sentido de combater a discriminação e mostrar que a homossexualidade é uma parte da vivência humana. “Não há nada para ser tratado ali. Não tem nada para ser modificado, não é um desvio, não é uma coisa anormal”, explica.
As terapias conversivas são consideradas por parte da classe médica como uma espécie de “charlatanismo moderno”. Os danos causados aos pacientes dependem do nível de intensidade aplicado nas tentativas de conversão. Jean sustenta que os problemas desenvolvidos vão desde disfunções sexuais graves até piora ou desenvolvimento de transtorno de ansiedade, transtorno de humor – principalmente depressão – e, em casos extremos, o paciente pode chegar a tentar o suicídio.
O Ministério Público também é outra porta para esse tipo de violação da ética profissional. Com as provas em mãos, o paciente entra em contato com a entidade, que servirá de mediadora e seguirá com a denúncia.
Um relatório elaborado pelas ONU, a Organização das Nações Unidas, alerta que “terapias de conversão” de gays e transgêneros criam um risco de tortura e pede que governos pelo mundo adotem uma proibição à prática. Tais terapias, segundo a ONU, são baseadas “na noção incorreta e prejudicial de que a diversidade sexual e de gênero são
distúrbios a serem corrigidos”.
* O Centro de Valorização da Vida (CVV) promove apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimentos gratuitos a qualquer pessoa. O centro garante sigilo total e atende por telefone, e-mail e chat 24 horas por dia, nos sete dias da semana, pelo telefone 188.