Do bebê reborn ao filho real: um chamado à adoção consciente

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Por Marcelo Santoro Almeida, professor de Direito de Família da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio No mês de maio, quando celebramos o Dia Nacional da Adoção (25), uma notícia curiosa chamou atenção: uma mulher entrou na Justiça para pedir a guarda compartilhada de um bebê reborn — aquelas bonecas ultrarrealistas que imitam bebês de verdade. O […]

POR Redação SRzd 20/5/2025| 3 min de leitura

bebês reborn. Foto: Reprodução de vídeo

Bebês reborn. Foto: Reprodução de vídeo

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Por Marcelo Santoro Almeida, professor de Direito de Família da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

No mês de maio, quando celebramos o Dia Nacional da Adoção (25), uma notícia curiosa chamou atenção: uma mulher entrou na Justiça para pedir a guarda compartilhada de um bebê reborn — aquelas bonecas ultrarrealistas que imitam bebês de verdade. O caso gerou repercussão e dividiu opiniões nas redes sociais. Afinal, seria possível dividir a guarda de uma boneca? A resposta jurídica é clara: não. Por mais realista que pareça, o bebê reborn é uma “coisa”, um objeto, e o Direito não atribui guarda a objetos, mas sim a pessoas.

Esse fenômeno de “humanizar” objetos não é novo. Na clássica história de Pinóquio, escrita por Carlo Collodi em 1883, o velho Gepeto, solitário e carente, cria um boneco de madeira e sonha que ele se torne um menino de verdade. A ficção revela, de forma poética, algo muito humano: a necessidade de dar e receber afeto. Hoje, muitas pessoas — por solidão, traumas ou frustrações — projetam sentimentos profundos em animais de estimação, mas o curioso é que também acontece de ser manifestado em robôs e até em bonecas! Não é difícil compreender, mas é importante refletir sobre o quanto esse afeto poderia ser transformador se direcionado a crianças reais, que estão nos abrigos, esperando uma família.

Atualmente, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil tem cerca de 4.800 crianças e adolescentes aptos à adoção. Ao mesmo tempo, há mais de 36 mil pretendentes habilitados — ou seja, famílias dispostas, no papel, a adotar. O que impede esse encontro? Um dos principais obstáculos está nas preferências dos adotantes: a maioria quer bebês com até 2 ou 3 anos de idade, do sexo feminino, brancos ou de pele clara. No entanto, o perfil predominante das crianças disponíveis é outro: são, em sua maioria, meninos, com mais de 7 anos, e de etnia parda ou negra.

Esse descompasso gera uma fila que, na prática, anda muito devagar. Enquanto algumas famílias esperam anos por uma criança que se encaixe no “perfil ideal”, milhares de meninos e meninas crescem em abrigos, vendo o tempo passar e a esperança diminuir. A adoção tardia ainda é cercada de mitos e receios — o medo de lidar com traumas, de não ser aceito, de não dar conta. Mas é importante lembrar que todas as crianças, de qualquer idade, precisam de afeto, cuidado e oportunidade.

Adotar não é um ato de caridade, mas de amor e responsabilidade. Não é “salvar” uma criança, mas construir juntos uma nova história. E isso exige coragem para acolher, paciência para aprender e disposição para amar de verdade. Em vez de buscarmos a criança “perfeita”, talvez devêssemos nos perguntar: que tipo de pais e mães queremos ser?

Neste mês da adoção, que tal olhar menos para os ideais e mais para a realidade? Bonecos podem servir de consolo, mas não substituem o calor de um abraço verdadeiro. Se você tem amor para dar, há uma criança de verdade esperando por isso.

*As opiniões contidas neste texto não expressam, necessariamente, as do portal SRzd

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Por Marcelo Santoro Almeida, professor de Direito de Família da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

No mês de maio, quando celebramos o Dia Nacional da Adoção (25), uma notícia curiosa chamou atenção: uma mulher entrou na Justiça para pedir a guarda compartilhada de um bebê reborn — aquelas bonecas ultrarrealistas que imitam bebês de verdade. O caso gerou repercussão e dividiu opiniões nas redes sociais. Afinal, seria possível dividir a guarda de uma boneca? A resposta jurídica é clara: não. Por mais realista que pareça, o bebê reborn é uma “coisa”, um objeto, e o Direito não atribui guarda a objetos, mas sim a pessoas.

Esse fenômeno de “humanizar” objetos não é novo. Na clássica história de Pinóquio, escrita por Carlo Collodi em 1883, o velho Gepeto, solitário e carente, cria um boneco de madeira e sonha que ele se torne um menino de verdade. A ficção revela, de forma poética, algo muito humano: a necessidade de dar e receber afeto. Hoje, muitas pessoas — por solidão, traumas ou frustrações — projetam sentimentos profundos em animais de estimação, mas o curioso é que também acontece de ser manifestado em robôs e até em bonecas! Não é difícil compreender, mas é importante refletir sobre o quanto esse afeto poderia ser transformador se direcionado a crianças reais, que estão nos abrigos, esperando uma família.

Atualmente, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil tem cerca de 4.800 crianças e adolescentes aptos à adoção. Ao mesmo tempo, há mais de 36 mil pretendentes habilitados — ou seja, famílias dispostas, no papel, a adotar. O que impede esse encontro? Um dos principais obstáculos está nas preferências dos adotantes: a maioria quer bebês com até 2 ou 3 anos de idade, do sexo feminino, brancos ou de pele clara. No entanto, o perfil predominante das crianças disponíveis é outro: são, em sua maioria, meninos, com mais de 7 anos, e de etnia parda ou negra.

Esse descompasso gera uma fila que, na prática, anda muito devagar. Enquanto algumas famílias esperam anos por uma criança que se encaixe no “perfil ideal”, milhares de meninos e meninas crescem em abrigos, vendo o tempo passar e a esperança diminuir. A adoção tardia ainda é cercada de mitos e receios — o medo de lidar com traumas, de não ser aceito, de não dar conta. Mas é importante lembrar que todas as crianças, de qualquer idade, precisam de afeto, cuidado e oportunidade.

Adotar não é um ato de caridade, mas de amor e responsabilidade. Não é “salvar” uma criança, mas construir juntos uma nova história. E isso exige coragem para acolher, paciência para aprender e disposição para amar de verdade. Em vez de buscarmos a criança “perfeita”, talvez devêssemos nos perguntar: que tipo de pais e mães queremos ser?

Neste mês da adoção, que tal olhar menos para os ideais e mais para a realidade? Bonecos podem servir de consolo, mas não substituem o calor de um abraço verdadeiro. Se você tem amor para dar, há uma criança de verdade esperando por isso.

*As opiniões contidas neste texto não expressam, necessariamente, as do portal SRzd

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