O governador de São Paulo, João Doria do PSDB, considerou como “inaceitável” e “infeliz” a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre o pai do presidente da Ordem do Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar.
Nesta segunda-feira (29), Bolsonaro reclamou da atuação da OAB na investigação sobre Adélio Bispo, autor da facada no então candidato do PSL, em setembro de 2018. Em sua fala, o presidente disse que poderia explicar ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, como o pai dele sumiu em fevereiro de 1974, durante a ditadura militar.
Em coletiva de imprensa, também nesta segunda, Doria disse que não poderia se calar sobre a fala e disparou: “Sou filho de um deputado cassado pelo golpe de 64 e eu vivi o exílio com o meu pai que perdeu quase tudo na vida em dez anos de exílio pela ditadura militar. Inaceitável que o presidente da república se manifeste da forma como se manifestou em relação ao pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Foi uma declaração infeliz do presidente Jair Bolsonaro”.
Em nota de repúdio às declarações de Bolsonaro, a OAB afirmou que todas as autoridades do país devem “obediência à Constituição Federal”, que tem entre seus fundamentos “a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos.”
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que irá ingressar com uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente Jair Bolsonaro preste explicações sobre o paradeiro de seu pai.
Bolsonaro diz que ‘grupo terrorista’ matou pai do presidente da OAB
Através das redes sociais, Bolsonaro afirmou que o opositor do regime militar Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi morto pelo “grupo terrorista” Ação Popular do Rio de Janeiro, e não pelos militares. A Comissão da Verdade diz que Santa Cruz foi morto por agentes da ditadura.
“Tinha o Santa Cruz, que era jovem, veio para o Rio de Janeiro. De onde eu obtive as informações? Com quem eu conversei na época, ora bolas. Conversava com muita gente. […]. E o pessoal da AP do Rio de Janeiro ficou, primeiro, ficaram estupefatos, ‘como é que pode esse cara vir do Recife se encontrar conosco aqui?’. O contato não seria com ele, seria com a cúpula da Ação Popular de Recife. E eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Essa é a informação que eu tive na época sobre esse episódio”, declarou Bolsonaro nesta segunda-feira.
“Qual é a tendência, se ele sabe, ‘nós não podemos ser descobertos’. E existia essa guerra naquele momento. Isso que aconteceu, não foram os militares que mataram ele, não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece. Isso mudou. Mudou através do livro ‘A Verdade Sufocada’, o depoimento do Brilhante Ustra, entre outras pessoas, mostrou que uma guerra naquele momento era realmente um lado contra o outro”, acrescentou o presidente.