Por que o prefeito de São Paulo, João Doria, fez aquilo com a Soninha?
O vídeo do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), postado na sua conta no Facebook, na última segunda-feira, (17), em que ele aparece ao lado da secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Soninha Francine (PPS), demitida minutos antes, é uma das peças de comunicação mais vexatórias da história da política brasileira. Lamentável por ela […]
POR Sidney Rezende19/04/2017|5 min de leitura
O vídeo do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), postado na sua conta no Facebook, na última segunda-feira, (17), em que ele aparece ao lado da secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Soninha Francine (PPS), demitida minutos antes, é uma das peças de comunicação mais vexatórias da história da política brasileira. Lamentável por ela e deplorável por ele.
O prefeito explica que a retirou do cargo por uma “decisão tomada em conjunto com a vereadora”, que foi duas vezes candidata à Prefeitura de São Paulo. Ela nega. “É uma pena que ele tenha dito isso, porque eu não quero que as pessoas pensem que eu quis sair. Eu não correspondi às expectativas do prefeito, porque as expectativas dele não se cumpririam em três meses. Não eram realizáveis em três meses”, disse a ex-secretária 48 horas depois do episódio.
Doria chegou ao cargo por mérito após uma vitória histórica, eleito no primeiro turno, e recebido nos seus primeiros 100 dias como o exemplo de uma nova geração que pode sonhar em também conquistar o Palácio do Planalto em 2018. O seu discurso de que “não sou político, e sim gestor”, pegou. O eleitor acreditou nele.
João Doria não é uma impossibilidade. Ao contrário, ele tem chances de disputar a presidência enquanto durar sua história de amor com o cidadão paulista, maior base eleitoral do país.
A vitória eleitoral acachapante, o estilo “anchorman” de governar onde o povo se sente feliz em vê-lo em programas na internet ao lado de José Luiz Datena e Adriane Galisteu e a mensagem de que ele administra a cidade com o dinheiro do empresariado e não do contribuinte, “deu liga” com o paulistano. João Doria é um sucesso.
O impacto dos primeiros meses não lhe dá direito de fazer o que ele fez com Soninha. E, o que é ainda mais humilhante, é uma pessoa pública como ela, que tem uma biografia contemporânea, aceitar isso. As mulheres que lutam pelo “empoderamento da mulher” devem estar se rasgando de ódio.
Soninha apareceu com o rosto deprimido, olhos entristecidos, sua cabeça levemente tombada mais parecia uma filha sem saber o que dizer diante do pai que não só ralhou com ela, mas a colocou (aos olhos da educação paterna) no lugar que ela deveria estar e que a menina sabia que tinha feito algo errado que não pode mais ser repetido. Foi triste.
Por que o prefeito fez aquilo com Soninha? E por que ela aceitou?
A explicação da ex-secretária foi patética. Soninha considerou sua “reação natural de uma pessoa demitida”.
Não é que eu fiz uma cara, é que eu não desfiz a cara que eu estava. Eu tinha sido demitida, estava mal. E eu não sou mentirosa.
Não foi, não, Soninha. Mesmo demitida a pessoa precisa ser ela mesma, ter atitude, ainda que educada e compreendendo que o cargo é de confiança, ela é representante dos seus eleitores que – sabem Deus por qual razão – a colocaram ali diante no topo da pirâmide do poder municipal.
“Não é que eu fiz uma cara, é que eu não desfiz a cara que eu estava. Eu tinha sido demitida, estava mal. E eu não sou mentirosa.”
Nestas condições, por qual razão ela aceitou fazer um “vídeo show”?
De novo, por que o prefeito João Doria fez aquilo com a Soninha?
Surgem agora mil especulações. Uma delas é que sobrou para a secretária porque existiria um fogo amigo de Doria contra José Serra, já que a agora vereadora é próxima do senador. E se foi isso? Não muda nada.
O vídeo é constrangedor. Espera-se que a forma de demissão não vire modelo de destituição de mais ninguém. O gestor que não está satisfeito com a performance do seu auxiliar deve chamá-lo e, pessoalmente, explicitar suas razões e afastá-lo. Simples assim. Humilhá-lo, jamais. Fazer um vídeo tirando proveito do infortúnio, nunca.
Se eu fosse eleitor da Soninha, nunca mais votaria nela.
E tem mais, João Doria foi claro no vídeo que a secretária é despreparada para gestão. Pelo menos para o modelo que ele considera exemplo de competência gerencial. Em entrevista a “Veja” ela reagiu. “Gestão é um forte meu, sim, mas porra, eu precisava de tempo.”
Soninha, por que você não disse isso ao próprio prefeito, exatamente assim como disse aos jornalistas, no dia e na hora da gravação?
A reportagem de “Veja” fez uma pergunta definitiva para Soninha e sua resposta foi infantil:
O vídeo que o prefeito divulgou está repercutindo porque muitas pessoas estão vendo ele como constrangedor. O que você achou? Precisava desse vídeo?
Eu não estava feliz. Eu falei: “A gente vai gravar um vídeo? Eu vou aparecer com essa cara?”. Eu até brinquei com ele: ‘E se eu chorar?’. Me falaram que tudo bem, que seria do meu coração. Várias pessoas me disseram que eu fiz ‘uma cara’, não é que eu fiz uma cara, é que eu não desfiz a cara que eu estava. Eu tinha sido demitida, estava mal. E eu não sou mentirosa.
O prefeito perdeu pontos desnecessários com a gravação do seu vídeo. E a vereadora Soninha nos deixou uma lição de que nós somos os guardiões de nossa própria honra. Sempre.
O vídeo do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), postado na sua conta no Facebook, na última segunda-feira, (17), em que ele aparece ao lado da secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Soninha Francine (PPS), demitida minutos antes, é uma das peças de comunicação mais vexatórias da história da política brasileira. Lamentável por ela e deplorável por ele.
O prefeito explica que a retirou do cargo por uma “decisão tomada em conjunto com a vereadora”, que foi duas vezes candidata à Prefeitura de São Paulo. Ela nega. “É uma pena que ele tenha dito isso, porque eu não quero que as pessoas pensem que eu quis sair. Eu não correspondi às expectativas do prefeito, porque as expectativas dele não se cumpririam em três meses. Não eram realizáveis em três meses”, disse a ex-secretária 48 horas depois do episódio.
Doria chegou ao cargo por mérito após uma vitória histórica, eleito no primeiro turno, e recebido nos seus primeiros 100 dias como o exemplo de uma nova geração que pode sonhar em também conquistar o Palácio do Planalto em 2018. O seu discurso de que “não sou político, e sim gestor”, pegou. O eleitor acreditou nele.
João Doria não é uma impossibilidade. Ao contrário, ele tem chances de disputar a presidência enquanto durar sua história de amor com o cidadão paulista, maior base eleitoral do país.
A vitória eleitoral acachapante, o estilo “anchorman” de governar onde o povo se sente feliz em vê-lo em programas na internet ao lado de José Luiz Datena e Adriane Galisteu e a mensagem de que ele administra a cidade com o dinheiro do empresariado e não do contribuinte, “deu liga” com o paulistano. João Doria é um sucesso.
O impacto dos primeiros meses não lhe dá direito de fazer o que ele fez com Soninha. E, o que é ainda mais humilhante, é uma pessoa pública como ela, que tem uma biografia contemporânea, aceitar isso. As mulheres que lutam pelo “empoderamento da mulher” devem estar se rasgando de ódio.
Soninha apareceu com o rosto deprimido, olhos entristecidos, sua cabeça levemente tombada mais parecia uma filha sem saber o que dizer diante do pai que não só ralhou com ela, mas a colocou (aos olhos da educação paterna) no lugar que ela deveria estar e que a menina sabia que tinha feito algo errado que não pode mais ser repetido. Foi triste.
Por que o prefeito fez aquilo com Soninha? E por que ela aceitou?
A explicação da ex-secretária foi patética. Soninha considerou sua “reação natural de uma pessoa demitida”.
Não é que eu fiz uma cara, é que eu não desfiz a cara que eu estava. Eu tinha sido demitida, estava mal. E eu não sou mentirosa.
Não foi, não, Soninha. Mesmo demitida a pessoa precisa ser ela mesma, ter atitude, ainda que educada e compreendendo que o cargo é de confiança, ela é representante dos seus eleitores que – sabem Deus por qual razão – a colocaram ali diante no topo da pirâmide do poder municipal.
“Não é que eu fiz uma cara, é que eu não desfiz a cara que eu estava. Eu tinha sido demitida, estava mal. E eu não sou mentirosa.”
Nestas condições, por qual razão ela aceitou fazer um “vídeo show”?
De novo, por que o prefeito João Doria fez aquilo com a Soninha?
Surgem agora mil especulações. Uma delas é que sobrou para a secretária porque existiria um fogo amigo de Doria contra José Serra, já que a agora vereadora é próxima do senador. E se foi isso? Não muda nada.
O vídeo é constrangedor. Espera-se que a forma de demissão não vire modelo de destituição de mais ninguém. O gestor que não está satisfeito com a performance do seu auxiliar deve chamá-lo e, pessoalmente, explicitar suas razões e afastá-lo. Simples assim. Humilhá-lo, jamais. Fazer um vídeo tirando proveito do infortúnio, nunca.
Se eu fosse eleitor da Soninha, nunca mais votaria nela.
E tem mais, João Doria foi claro no vídeo que a secretária é despreparada para gestão. Pelo menos para o modelo que ele considera exemplo de competência gerencial. Em entrevista a “Veja” ela reagiu. “Gestão é um forte meu, sim, mas porra, eu precisava de tempo.”
Soninha, por que você não disse isso ao próprio prefeito, exatamente assim como disse aos jornalistas, no dia e na hora da gravação?
A reportagem de “Veja” fez uma pergunta definitiva para Soninha e sua resposta foi infantil:
O vídeo que o prefeito divulgou está repercutindo porque muitas pessoas estão vendo ele como constrangedor. O que você achou? Precisava desse vídeo?
Eu não estava feliz. Eu falei: “A gente vai gravar um vídeo? Eu vou aparecer com essa cara?”. Eu até brinquei com ele: ‘E se eu chorar?’. Me falaram que tudo bem, que seria do meu coração. Várias pessoas me disseram que eu fiz ‘uma cara’, não é que eu fiz uma cara, é que eu não desfiz a cara que eu estava. Eu tinha sido demitida, estava mal. E eu não sou mentirosa.
O prefeito perdeu pontos desnecessários com a gravação do seu vídeo. E a vereadora Soninha nos deixou uma lição de que nós somos os guardiões de nossa própria honra. Sempre.