ECONOMIA: A decisão do FED

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O Banco Central americano aumentou mais uma vez a taxa de juros; isso trará tranquilidade ao mercado financeiro mundial? Leia o artigo de estréia do economista Alexandre Espírito Santo e saiba a resposta.

POR Redação SRzd30/06/2006|4 min de leitura

ECONOMIA: A decisão do FED
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A esperada decisão do FED (Banco Central dos EUA) de elevar em 0,25% suas taxas de juros, na última quinta-feira, combinada com um discurso menos grave no tocante à inflação de lá, contribuiu fortemente para uma melhora dos mercados financeiros em todas as praças. A pergunta é: chegamos ao fim das turbulências dos últimos dois meses?

Sem dúvida alguma, o comunicado que se seguiu à decisão de elevar pela décima sétima vez as taxas dos fed funds para 5,25% aa foi um grande alívio para todos. Havia um temor de que os sinais a serem emitidos pelo Federal Open Market Committee (Fomc) sobre a tendência do processo inflacionário americano indicassem um quadro maligno.

Muitos analistas trabalhavam com a hipótese de que os juros pudessem continuar nessa escalada gradual (até 5,5% ou um pouco mais), o que certamente deixaria os mercados em polvorosa.

Nos últimos anos, a economia internacional vivia um quadro muito favorável, de crescimento expressivo e inflação cadente, aquilo que muitos economistas chamam de ‘cadeado de ouroâ?. Boa parte dessa onda favorável devia-se à ótima saúde da economia ianque, derivada da época do governo Clinton. Contudo, desde que assumiu o poder, o governo W. Bush promoveu um corte nos impostos com o objetivo de incentivar a economia após os ataques terroristas de 2001, além de usar os superávits do governo anterior.

A economia americana realmente decolou, grande parte ajudada pelo aumento com gastos decorrentes das guerras contra os terroristas e no Iraque. Todavia, essa postura gastadora acabou por gerar um enorme déficit público.

Aliada a essa política fiscal de caráter fortemente expansionista, o FED, que já vinha praticando taxas de juros baixas por conta do ‘bug do milênioâ?, intensificou essa política monetária mais acomodada, com receio de uma enorme recessão por causa dos atentados de 11 de setembro, levando suas taxas para o incrível patamar de 1% ao ano.

Com efeito, os juros baixos passaram a estimular os capitais ao redor do mundo a procurarem retornos maiores, o que beneficiou países emergentes, que oferecem um prêmio mais elevado, por conta de seus maiores riscos. Além disso, com a China e alguns países asiáticos mostrando pujança econômica, os preços das commodities subiram fortemente no mercado internacional, o que foi favorável para os países exportadores das mesmas.

Esses drivers (abundante liquidez e comércio vigoroso) acabaram por financiar os déficits de países como o Brasil, e propiciando superávit nos seus balanços de pagamentos, além de colaborar para a deflação mundial.

Em função das taxas de juros muito baixas, os americanos entraram num ciclo de consumo frenético. Hoje, seus índices de poupança estão negativos. Com juros extremamente baixos, os preços dos ativos inflaram-se, daí as elevadas cotações das ações e, mais fortemente, dos imóveis. As famílias americanas passaram a endividar-se de forma audaz e, aproveitando-se das ‘promoçõesâ? dos bancos e agências de financiamento imobiliário, refizeram suas hipotecas, já que as condições eram muito favoráveis. O refinanciamento contribuiu ainda mais para a onda consumista e o endividamento. A conseqüência foi o surgimento de uma ‘inflação em ativos reaisâ?.

O problema é que, aliado ao consumismo desmedido, o dinamismo da economia chinesa, com suas quinquilharias de baixíssimo custo, impôs aos americanos um enorme déficit em transações correntes, em torno de 7% do PIB, surgindo aquilo que os economistas chamam de twin deficits (déficits interno e externo). Em outras palavras, o que vem ocorrendo nesse momento é que os agentes econômicos, em todo o mundo, começam a notar que os desequilíbrios da economia americana são insustentáveis e a inflação está de volta. Isso sempre pareceu consenso; o ponto de discórdia era o timing.

Com a decisão de quinta-feira, pode ser que tenhamos alguma melhora no curto prazo, uma vez que as perdas nos ativos foram substanciais, em especial nas ações e commodities. A meu ver, entretanto, ainda deverá haver muita volatilidade, até que tenhamos mais convicção de que o FED está correto em sua percepção.

Alexandre Espírito Santo
Economista-Chefe da AVANTI Gestão de Recursos e
Chefe do Departamento de Economia e Finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing-RJ

A esperada decisão do FED (Banco Central dos EUA) de elevar em 0,25% suas taxas de juros, na última quinta-feira, combinada com um discurso menos grave no tocante à inflação de lá, contribuiu fortemente para uma melhora dos mercados financeiros em todas as praças. A pergunta é: chegamos ao fim das turbulências dos últimos dois meses?

Sem dúvida alguma, o comunicado que se seguiu à decisão de elevar pela décima sétima vez as taxas dos fed funds para 5,25% aa foi um grande alívio para todos. Havia um temor de que os sinais a serem emitidos pelo Federal Open Market Committee (Fomc) sobre a tendência do processo inflacionário americano indicassem um quadro maligno.

Muitos analistas trabalhavam com a hipótese de que os juros pudessem continuar nessa escalada gradual (até 5,5% ou um pouco mais), o que certamente deixaria os mercados em polvorosa.

Nos últimos anos, a economia internacional vivia um quadro muito favorável, de crescimento expressivo e inflação cadente, aquilo que muitos economistas chamam de ‘cadeado de ouroâ?. Boa parte dessa onda favorável devia-se à ótima saúde da economia ianque, derivada da época do governo Clinton. Contudo, desde que assumiu o poder, o governo W. Bush promoveu um corte nos impostos com o objetivo de incentivar a economia após os ataques terroristas de 2001, além de usar os superávits do governo anterior.

A economia americana realmente decolou, grande parte ajudada pelo aumento com gastos decorrentes das guerras contra os terroristas e no Iraque. Todavia, essa postura gastadora acabou por gerar um enorme déficit público.

Aliada a essa política fiscal de caráter fortemente expansionista, o FED, que já vinha praticando taxas de juros baixas por conta do ‘bug do milênioâ?, intensificou essa política monetária mais acomodada, com receio de uma enorme recessão por causa dos atentados de 11 de setembro, levando suas taxas para o incrível patamar de 1% ao ano.

Com efeito, os juros baixos passaram a estimular os capitais ao redor do mundo a procurarem retornos maiores, o que beneficiou países emergentes, que oferecem um prêmio mais elevado, por conta de seus maiores riscos. Além disso, com a China e alguns países asiáticos mostrando pujança econômica, os preços das commodities subiram fortemente no mercado internacional, o que foi favorável para os países exportadores das mesmas.

Esses drivers (abundante liquidez e comércio vigoroso) acabaram por financiar os déficits de países como o Brasil, e propiciando superávit nos seus balanços de pagamentos, além de colaborar para a deflação mundial.

Em função das taxas de juros muito baixas, os americanos entraram num ciclo de consumo frenético. Hoje, seus índices de poupança estão negativos. Com juros extremamente baixos, os preços dos ativos inflaram-se, daí as elevadas cotações das ações e, mais fortemente, dos imóveis. As famílias americanas passaram a endividar-se de forma audaz e, aproveitando-se das ‘promoçõesâ? dos bancos e agências de financiamento imobiliário, refizeram suas hipotecas, já que as condições eram muito favoráveis. O refinanciamento contribuiu ainda mais para a onda consumista e o endividamento. A conseqüência foi o surgimento de uma ‘inflação em ativos reaisâ?.

O problema é que, aliado ao consumismo desmedido, o dinamismo da economia chinesa, com suas quinquilharias de baixíssimo custo, impôs aos americanos um enorme déficit em transações correntes, em torno de 7% do PIB, surgindo aquilo que os economistas chamam de twin deficits (déficits interno e externo). Em outras palavras, o que vem ocorrendo nesse momento é que os agentes econômicos, em todo o mundo, começam a notar que os desequilíbrios da economia americana são insustentáveis e a inflação está de volta. Isso sempre pareceu consenso; o ponto de discórdia era o timing.

Com a decisão de quinta-feira, pode ser que tenhamos alguma melhora no curto prazo, uma vez que as perdas nos ativos foram substanciais, em especial nas ações e commodities. A meu ver, entretanto, ainda deverá haver muita volatilidade, até que tenhamos mais convicção de que o FED está correto em sua percepção.

Alexandre Espírito Santo
Economista-Chefe da AVANTI Gestão de Recursos e
Chefe do Departamento de Economia e Finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing-RJ

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