O presidente Jair Bolsonaro continua indeciso sobre qual partido irá se filiar para poder concorrer à reeleição em 2022. Pela Constituição, a definição de uma legenda deve ser feita até seis meses antes das eleições, que serão em outubro do ano que vem. Em live realizada esta semana, Bolsonaro disse que está dividido entre três partidos: Republicanos, PP e PL. Segundo cientistas políticos ouvidos pelo SRzd, a decisão realmente não é fácil.
Para Mayra Goulart, “o Republicanos, entre os três partidos, é o que oferece menos vantagens para o Bolsonaro e menor autonomia, porque ele é o partido da Igreja Universal. Já tem os seus caciques, sua estrutura bem consolidada e bem organizada. Além disso, a Universal segmenta a base evangélica, que é um elemento importante da base eleitoral de Bolsonaro. Se aproximar do Republicanos não atrai nenhum voto novo, nem estrutura nova, nem autonomia, nem recursos. Então oferece muito pouco ao presidente. E ainda causa um risco de minar seu apoio dentro da sua base evangélica, porque a igreja evangélica segmenta a causa de censo dentro do mundo evangélico”. O cientista político Pedro Villas Boas também não acredita numa ida ao Republicanos. “Este seria o partido que mais perderia; ele tem histórico de alinhamento com o PT por conta de José Alencar ter sido vice de Lula. O PL e o PP têm mais chance e teriam mais vantagens. Mas, no meu entender, independentemente do partido que Bolsonaro entrar, ele elimina as forças internas do partido em virtude de seu populismo centralizador, de modo que as desvantagens seriam maiores do que as vantagens”, diz.
Já para o cientista político Paulo Baía, o Republicanos tem mais chances de ter Bolsonaro. “Creio que no PL e no PP, Bolsonaro não ajudará tanto assim com sua candidatura a presidente da República, por isso aposto que a escolha seja no Republicanos, porque teria um perfil mais afinado com o eleitor que está fidelizado a Jair Bolsonaro. Já o PL e o PP são partidos muito amplos, com interesses diversificados. Veja o caso do PL no estado do Rio de Janeiro com Claudio Castro concorrendo à reeleição, que vai fazer uma campanha muito eclética. Vai declarar voto a Bolsonaro, independentemente de ele estar filiado ou não, mas terá núcleos com Lula, com Ciro Gomes, com Rodrigo Pacheco e com Simone Tebet, se vier. Então, vendo os interesses do PP e do PL nos 26 estados e no Distrito Federal, eu percebo que o Republicanos é o partido que leva mais vantagem tendo Jair Bolsonaro como candidato. O PL e o PP terão desvantagens em função de suas composições estaduais”, opina.
Em sua análise, a cientista Mayra Goulart também falou da influência nos estados dos dois partidos. “O PP e o PL oferecem autonomia e estrutura análogas. Eles têm uma participação parecida no fundo partidário, no fundo eleitoral, e a grande controvérsia é que esses dois partidos nos estados podem ter ligação com o PT. O Bolsonaro sabe que optando por um, o outro pode abrir os seus filiados nos estados para fazer composições com o PT. Esse é o dilema dele: se declarar que vai para um, pode desguarnecer o outro. Dos dois, a diferença é que no PP, ele já tem uma aliança consolidada. O PP é tipo um sócio do Bolsonaro. Ele está no centro do poder. Ele tem a presidência da Câmara, com Arthur Lira, e a Casa Civil, com Ciro Nogueira. O partido já está muito consolidado dentro do governo. O PL teria a Flávia Arruda dentro da Secretaria de Governo, mas ela manda pouco, ela tem pouca autonomia e está muito ligada ao Lira. Então, entre essas duas legendas, Bolsonaro teria um grau análogo de autonomia. Sabendo que a indecisão dele tem muito mais da ideia que, optando por um, o outro pode fazer alianças com o PT nos estados”, finaliza.