“Estamos preparados para ver caminhões do Exército transportando corpos?”. O impacto avassalador da pergunta do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ao presidente Jair Bolsonaro é de gosto amargo como fel. Mas acordou quem não entendeu o que está acontecendo.
Precisamos voltar um pouquinho para contextualizar o atual momento.
O coronavírus colocou o ministro na condição de autoridade máxima do país. Nossas carências, e desprezo pela pesquisa, conduziram o ministro a condição de general escolhido para definir a melhor forma de vencer o inimigo no front de batalha.
No vácuo deixado pela incapacidade do presidente perceber que os coelhos da sua cartola não são mais suficientes para evitar a tragédia coletiva, Mandetta assumiu a condição de líder. E isto é tão forte que nem milícias digitais o retiram desta condição midiática.
A equipe do ministro é organizada e está sempre um passo na frente. Muitas vezes engalfinhada em estatísticas, nem sempre precisas, mas ela tem trazido orientação.
Mandetta assumiu a condição de líder. E agora?
Muito diferente, só para não perder a viagem, do que ocorre com a equipe econômica. Basta comparar. O ministro Paulo Guedes está desorientado. Mais parece aquele tiozinho que fala repetidas vezes do que ele “teria feito se fosse jovem novamente”. Ministro, ou salvamos vidas ou nos preocupamos com a pauta econômica de Chicago. Não há espaço para as duas coisas. Guedes ficou pequeno.
O mesmo acontece com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que, acovardado, sumiu do radar. O temor dele é o mesmo do personagem Joselino Barbacena, da escolinha do Professor Raimundo, lembra? Aquele que resumia-se ao bordão: “Ai meu Jesus Cristinho, já me descobriram eu aqui de novo”.
Voltando: Mandetta virou termômetro quando nos perguntamos a quantas anda a intensidade do avanço do coronavírus, que está se multiplicando, indubitavelmente. Mas ele também é político quando ache como um pêndulo. Basta surgir a pergunta: É melhor isolamento vertical ou horizontal? Depende do humor de Bolsonaro no dia.
O ministro da saúde agora também virou ombudsman e está à vontade para julgar o trabalho da imprensa como fez neste fim de semana: ” às vezes meios de comunicação são sórdidos”. Pegou pesado.
O ministro da Saúde tem mais acertado que errado. Sua popularidade e a aceitação da sua liderança advém justamente desta sensação de que temos um técnico capaz como um general que confiamos. Mas vale o alerta, somente para não nos iludirmos, não é o termômetro que derrota a doença. É o tratamento!
O número de leitos ainda é insuficiente para o que se avizinha. O treinamento do pessoal da saúde precisa ser intensificado. No Rio, o cônsul honorário do Panamá, Jorge José González Seba, morreu de forma cruel e, segundo o relato do próprio em áudio, pouco antes de morrer, ele ficou na UTI por 48 horas submetido a nenhuma assistência, aparentemente, por incapacidade da equipe médica saber lidar com a nova doença.
E, por fim, o ministro Mandetta pode ser “general”, “termômetro”, “líder”, “técnico graduado”, mas não é Deus. O presidente já sinalizou várias vezes que pode até demiti-lo. Se este sentimento for verdadeiro, está explicado porque o Chefe da Nação tem sempre ao seu lado o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres.
Barra é aquele que estava com Bolsonaro quando o presidente ignorando orientações médicas, rompeu diversos protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde para prevenir a disseminação do novo coronavírus, e foi cumprimentar os seus apoiadores em frente ao Alvorada.
É melhor ficar com o Mandetta.