O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que irá ingressar com uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente Jair Bolsonaro preste explicações sobre o paradeiro de seu pai, Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, que desapareceu em 1974, após ser preso por agentes da ditadura militar no Rio de Janeiro.
“Vou ao STF interpelar para que ele esclareça”, destacou Santa Cruz. O advogado da ação será o ex-presidente da OAB, Cezar Britto.
Nesta segunda-feira (29), Bolsonaro disse que “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto para ele”.
Santa Cruz já constituiu o advogado Cesar Brito para entrar com uma ação na STF “para que o presidente diga o que sabe” sobre a morte de Fernando Santa Cruz, ocorrida em março de 1974.
“O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão”, disse Santa Cruz em nota.
“Se o presidente sabe, por ‘vivência’, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber”, destaca o texto.
Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira foi preso junto com seu amigo Eduardo Collier Filho por agentes do DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Ele era estudante de direito e funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo e integrante da Ação Popular Marxista-Leninista.
Segundo relatório da Comissão da Verdade, Fernando tinha, na época, “emprego e endereço fixos e, portanto, não estava clandestino ou foragido dos órgãos de segurança”. A família de Fernando e do amigo tentaram, sem sucesso, descobrir o paradeiro dos dois.
Bolsonaro diz que ‘grupo terrorista’ matou pai do presidente da OAB
Através das redes sociais, Bolsonaro afirmou que o opositor do regime militar Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi morto pelo “grupo terrorista” Ação Popular do Rio de Janeiro, e não pelos militares. A Comissão da Verdade diz que Santa Cruz foi morto por agentes da ditadura.
“Tinha o Santa Cruz, que era jovem, veio para o Rio de Janeiro. De onde eu obtive as informações? Com quem eu conversei na época, ora bolas. Conversava com muita gente. […]. E o pessoal da AP do Rio de Janeiro ficou, primeiro, ficaram estupefatos, ‘como é que pode esse cara vir do Recife se encontrar conosco aqui?’. O contato não seria com ele, seria com a cúpula da Ação Popular de Recife. E eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Essa é a informação que eu tive na época sobre esse episódio”, declarou Bolsonaro nesta segunda-feira.
“Qual é a tendência, se ele sabe, ‘nós não podemos ser descobertos’. E existia essa guerra naquele momento. Isso que aconteceu, não foram os militares que mataram ele, não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece. Isso mudou. Mudou através do livro ‘A Verdade Sufocada’, o depoimento do Brilhante Ustra, entre outras pessoas, mostrou que uma guerra naquele momento era realmente um lado contra o outro”, acrescentou o presidente.