As metamorfoses de Gabigol, maior ídolo rubro-negro do século
Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd A Copa do Mundo de 2022 trouxe uma nova frustração para a torcida brasileira. O sonho do hexacampeonato mundial foi adiado novamente, após a seleção do técnico Tite ser eliminada nos pênaltis pela Croácia de Luka Modric (vice-campeã na Copa de 2018). Duas ausências na […]
POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama26/07/2024|5 min de leitura
Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd
A Copa do Mundo de 2022 trouxe uma nova frustração para a torcida brasileira. O sonho do hexacampeonato mundial foi adiado novamente, após a seleção do técnico Tite ser eliminada nos pênaltis pela Croácia de Luka Modric (vice-campeã na Copa de 2018).
Duas ausências na fatídica disputa de pênaltis seriam lembradas desde então. Além de Neymar – autor do gol brasileiro contra os croatas – ter sido esnobado, o especialista do país nesse fundamento estava ausente dos gramados do Catar: o atacante Gabigol.
Semanas antes, o craque do Flamengo havia comemorado o tricampeonato da Copa Libertadores da América no topo de um carro de som, dirigindo impropérios a Tite.
Naquele momento, o ataque fazia sentido. O parco futebol da seleção brasileira ficava evidente, diante da performance de Gabigol na Gávea. O craque estufou as redes mais de 150 vezes, com destaque para seus gols decisivos em finais nacionais e continentais.
Outrora uma promessa do Santos que fracassou em sua breve passagem pela Europa jogando pela italiana Internazionale, Gabriel Barbosa galgou o posto de maior ídolo da maior torcida do país, vago desde a despedida de Zico em 1990. Na pandemia, sua média de gols superava com folga a de Neymar no francês Paris Saint-Germain. Para desgosto do desafeto Tite, sua presença com a camisa amarelinha se tornou inevitável.
Uma carreira marcada por mudanças levou Gabigol ao posto de jogador mais popular do país. Enquanto seu contrato multimilionário era renovado de forma antecipada pelo Flamengo, o jogador se lançava como cantor de Trap nas plataformas de streaming. Lil Gabi mostrou outra faceta do craque rubro-negro: a celebridade multimídia. Na mesma época, o jogador ocupou as manchetes ao namorar a irmã de Neymar, Rafaella Santos.
A seguir, o enredo mudou. O carisma de Gabigol decaiu rapidamente desde 2022. Assim como o Brasil e o mundo, a vida do craque rubro-negro sofreu muitas reviravoltas desde então. Suas incursões pelo Trap tiveram fôlego curto (assim como o affair com Rafaella).
Outrora intocável, o atacante teve que dividir o protagonismo no Flamengo com o atacante Pedro (convocado por Tite para a Copa no Catar). Com a exceção de Dorival Junior (atual técnico da seleção brasileira), nenhum treinador conseguiu colocar os dois artilheiros na mesma escalação na Gávea. Contusões levaram Gabigol ao banco de reservas, onde permanece desde então – mesmo com 20 ou mais gols por temporada.
A saída de Tite, após duas copas perdidas, não abriu espaço para Gabigol na seleção. Mesmo na época de Fernando Diniz, quando os jogadores que atuam no Brasil tiveram oportunidades, o atacante não foi convocado. Suas declarações no trio elétrico, ao invés de serem entendidas como um protesto legitimo, tiveram repercussão negativa.
Após burlar o exame antidoping em agosto de 2023, Gabigol foi suspenso por dois anos pela Corte Arbitral do Esporte. Enquanto o atacante lutava nos tribunais para retornar aos gramados, a perda de seu valor de mercado fez com que o Flamengo relutasse em renovar seu vínculo novamente. Gabigol passou a ser cortejado por clubes concorrentes – como Palmeiras e Corinthians. Seu cartaz com a nação rubro-negra diminuiu, após ser flagrado num dia de folga com a camisa corinthiana. Uma troca com o ídolo palmeirense Dudu foi aventada pelo clube de Leila Pereira, sem sucesso. Gabigol foi reintegrado ao elenco rubro-negro, já sem titularidade. Pode sair em 2025 sem o pagamento de multa.
Em dois anos, vimos sair de cena o craque e entrar em campo a celebridade multimídia.
As súbitas metamorfoses de Gabigol – sua ascensão e queda através de múltiplas transformações – nos proporcionam um microcosmo do mundo atual. Os julgamentos na sociedade contemporânea, que opera em ritmo acelerado em tempos de informação instantânea, são tão efêmeros quanto os humores das torcidas de futebol. Da adoração incondicional ao repúdio, um pequeno passo tomado em tempo acelerado.
Aguardemos, pois, os próximos capítulos da saga do maior ídolo rubro-negro no século.
Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.
Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.
Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).
Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd
A Copa do Mundo de 2022 trouxe uma nova frustração para a torcida brasileira. O sonho do hexacampeonato mundial foi adiado novamente, após a seleção do técnico Tite ser eliminada nos pênaltis pela Croácia de Luka Modric (vice-campeã na Copa de 2018).
Duas ausências na fatídica disputa de pênaltis seriam lembradas desde então. Além de Neymar – autor do gol brasileiro contra os croatas – ter sido esnobado, o especialista do país nesse fundamento estava ausente dos gramados do Catar: o atacante Gabigol.
Semanas antes, o craque do Flamengo havia comemorado o tricampeonato da Copa Libertadores da América no topo de um carro de som, dirigindo impropérios a Tite.
Naquele momento, o ataque fazia sentido. O parco futebol da seleção brasileira ficava evidente, diante da performance de Gabigol na Gávea. O craque estufou as redes mais de 150 vezes, com destaque para seus gols decisivos em finais nacionais e continentais.
Outrora uma promessa do Santos que fracassou em sua breve passagem pela Europa jogando pela italiana Internazionale, Gabriel Barbosa galgou o posto de maior ídolo da maior torcida do país, vago desde a despedida de Zico em 1990. Na pandemia, sua média de gols superava com folga a de Neymar no francês Paris Saint-Germain. Para desgosto do desafeto Tite, sua presença com a camisa amarelinha se tornou inevitável.
Uma carreira marcada por mudanças levou Gabigol ao posto de jogador mais popular do país. Enquanto seu contrato multimilionário era renovado de forma antecipada pelo Flamengo, o jogador se lançava como cantor de Trap nas plataformas de streaming. Lil Gabi mostrou outra faceta do craque rubro-negro: a celebridade multimídia. Na mesma época, o jogador ocupou as manchetes ao namorar a irmã de Neymar, Rafaella Santos.
A seguir, o enredo mudou. O carisma de Gabigol decaiu rapidamente desde 2022. Assim como o Brasil e o mundo, a vida do craque rubro-negro sofreu muitas reviravoltas desde então. Suas incursões pelo Trap tiveram fôlego curto (assim como o affair com Rafaella).
Outrora intocável, o atacante teve que dividir o protagonismo no Flamengo com o atacante Pedro (convocado por Tite para a Copa no Catar). Com a exceção de Dorival Junior (atual técnico da seleção brasileira), nenhum treinador conseguiu colocar os dois artilheiros na mesma escalação na Gávea. Contusões levaram Gabigol ao banco de reservas, onde permanece desde então – mesmo com 20 ou mais gols por temporada.
A saída de Tite, após duas copas perdidas, não abriu espaço para Gabigol na seleção. Mesmo na época de Fernando Diniz, quando os jogadores que atuam no Brasil tiveram oportunidades, o atacante não foi convocado. Suas declarações no trio elétrico, ao invés de serem entendidas como um protesto legitimo, tiveram repercussão negativa.
Após burlar o exame antidoping em agosto de 2023, Gabigol foi suspenso por dois anos pela Corte Arbitral do Esporte. Enquanto o atacante lutava nos tribunais para retornar aos gramados, a perda de seu valor de mercado fez com que o Flamengo relutasse em renovar seu vínculo novamente. Gabigol passou a ser cortejado por clubes concorrentes – como Palmeiras e Corinthians. Seu cartaz com a nação rubro-negra diminuiu, após ser flagrado num dia de folga com a camisa corinthiana. Uma troca com o ídolo palmeirense Dudu foi aventada pelo clube de Leila Pereira, sem sucesso. Gabigol foi reintegrado ao elenco rubro-negro, já sem titularidade. Pode sair em 2025 sem o pagamento de multa.
Em dois anos, vimos sair de cena o craque e entrar em campo a celebridade multimídia.
As súbitas metamorfoses de Gabigol – sua ascensão e queda através de múltiplas transformações – nos proporcionam um microcosmo do mundo atual. Os julgamentos na sociedade contemporânea, que opera em ritmo acelerado em tempos de informação instantânea, são tão efêmeros quanto os humores das torcidas de futebol. Da adoração incondicional ao repúdio, um pequeno passo tomado em tempo acelerado.
Aguardemos, pois, os próximos capítulos da saga do maior ídolo rubro-negro no século.
Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.
Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.
Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).