O cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz pediu desligamento da Portela. Ele fazia parte do Conselho Deliberativo da escola. A decisão do sambista foi formalizada em carta aberta, nesta segunda-feira (30), após ter seu samba concorrente cortado do concurso da agremiação.
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Segundo o cantor, o que motivou sua saída da azul e branca foram os critérios usados pela escola na disputa de samba. Para Marquinhos, a Portela está desvalorizando obras tradicionais.
“Eu queria saber o critério que diz que um samba é melhor que o outro e se presta mais ao desfile do que o outro. Não é gosto, porque isso não vai ser discutido na Avenida. Não tem divergência em relação à questão ética da diretoria. Só acho que, para uma escola que vai fazer cem anos, essa opção pela tradição era a que deveria ter sido feita. Eu sou um compositor à antiga, que escreve só para uma escola. Só queria que os critérios fossem claros”, afirmou o compositor ao Extra.
Marquinhos de Oswaldo Cruz disputa samba-enredo na Portela desde 2006. Ele também é organizador do Trem do Samba e idealizador da Feira das Yabás, dois eventos culturais marcantes na história do Rio.
“Hoje existe um olhar competitivo que transforma a escola que teria que ser de samba e vida para a escola do desfile. Posso eu estar errado e por sonhar demais tentar impor minhas convicções. Aqui vou além da afirmação dos poetas e digo Tradição não é apenas moderna, ela é vanguarda na luta contra a construção de um Brasil da barbárie”, disse Marquinhos, em carta aberta, a Serginho Procópio, presidente do conselho portelense.
O cantor teve sua obra eliminada nas quartas de final. O samba de Marquinhos Diniz também caiu. A Portela segue com cinco parcerias para a semifinal, que será realizada nesta sexta (3). Em 2022, a agremiação defende o enredo “Igí Osé Baoba”, dos carnavalesco Renato e Márcia Lage.
Confira a íntegra da carta de Marquinhos de Oswaldo Cruz:
“Ao presidente do conselho deliberativo da Portela Sérgio Procópio
Presidente, faço agora em outubro 60 anos. Em minhas reflexões, a certeza de que não viverei mais o que já vivi. Sou um homem que busco meus sonhos e transformei alguns em realidades coletivas. Enxergo cultura como memória e sou cria, de fato, de uma das regiões mais ricas em bens culturais imateriais do país, a região da grande Madureira, mais especificamente o Bairro de Oswaldo Cruz. Das manifestações tradicionais de samba desse bairro nasceu a mais tradicional das escolas de samba, a Portela . Eu Marcos Sampaio de Alcântara nasci com as cores azul e branca pulsando em meu coração. Frequento a quadra desde a inauguração do Portelão, que ano que vem completará 50 anos e comecei a desfilar em 1980, na ala Aquarius do saudoso Adilino. Na vida sempre tive o meu discurso andando junto com minha prática, abrindo mão de várias oportunidades, inclusive em minha carreira artística. Como disse, vejo Cultura como memória e existe um campo de luta constante do que vai ficar nessa memória coletiva e não pense que quando falo em tradição falo de algo mórbido:
“O pai me disse que a tradição é lanterna
Vem do ancestral, é moderna
Bem mais que o modernoso”
Hoje existe um olhar competitivo que transforma a escola que teria que ser de samba e vida para a escola do desfile. Posso eu estar errado e por sonhar demais tentar impor minhas convicções. Aqui vou além da afirmação dos poetas e digo Tradição não é apenas moderna, ela é vanguarda na luta contra a construção de um Brasil da barbárie. Por fim, reconheço inúmeros valores nesse conselho e na direção da escola mas quando o amor e a paixão se tornam um vício em que temo virar um tirano na relação que é do mais profundo amor à Portela, única e pra sempre imaculada no meu coração, peço a você meu amigo Sérgio Procópio o meu afastamento do conselho deliberativo do GRES Portela. Isso é parte de um “tratamento “ na cura de um amor eterno no meu coração. Agora fico de longe e de longe de fato, torcendo de coração por todos vocês, continuo na minha luta.
Rio de Janeiro 30 de agosto de 2021
Marcos Sampaio de Alcântara
Nas artes: Marquinhos de Oswaldo Cruz cantor compositor e com muito orgulho sambista, eternamente portelense.”
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