Rio. Continuou, na noite deste domingo (2), a temporada de ensaios técnicos gerais para as escolas de samba do Grupo de Acesso carioca.
As apresentações simulam os desfiles oficiais na Marquês de Sapucaí e se tornaram um dos momentos mais importantes do universo das agremiações e dos apaixonados pela festa maior da cultura popular no país.
Neste domingo, Tradição, voltando à Sapucaí, Unidos da Ponte, Unidos de Bangu e Porto da Pedra, estiveram na pista. Destaque para quem abriu e quem fechou a noite.
A Tradição, retornando ao sambódromo, foi uma grata surpresa. Já o Tigre, confirmou que o Acesso é pequeno demais para o seu tamanho.

SRzd e Arpoador juntos
A equipe de comentaristas do portal SRzd esteve na Sapucaí, nas instalações do camarote Arpoador, o maior do sambódromo, e conferiu de perto tudo o que rolou. Veja o que eles disseram sobre cada uma das apresentações!
Alex Rangel (comissão de frente e passistas): A Tradição de volta ao Sambódromo da Marquês de Sapucaí e iniciou seu desfile com uma Comissão coreografada por Tony Tara, trajada de bruxas e um Exu abrindo o desfile da Escola.
Já no início de sua apresentação tiveram um problema com um componente que disparou o efeito pirotécnico, provavelmente acidental, e no momento de acionar esse efeito algumas vassouras falharam. Coreograficamente faltou definição nos desenhos coreográficos e em alguns momentos integrantes visivelmente perdidos nos posicionamentos chegaram atrasados, faltando sincronismo na execução. Temos um mês para o Carnaval e acredito que dê para acertar todos esses detalhes.
Já na ala de passistas da Tradição senti falta de empolgação e garra, uma vez que estão de volta à Sapucaí. Acho que poderiam dar mais. Simplesmente passaram.
A comissão da Unidos da Ponte coreografada por Gabriel Castro abriu o desfile da escola de São João de Meriti trazendo em vários momentos movimentos primatas, será um spoiler do que eles vão representar?
Com variações de desenhos e sequências bem dinâmicas o elenco mostrou sintonia em toda apresentação com uma coreografia bem elaborada. Veremos o que a Ponte no reserva para o desfile!
A Ala de passistas da Ponte, apesar de não estar numerosa como as de outras agremiações, compensou na animação e no samba no pé, interagindo o tempo todo com as bossas da bateria e riscando o chão nas retomadas do ritmo.
A Unidos de Bangu trás mais um enredo que fala de resistência e ancestralidade.
O coreógrafo Fábio Costa trouxe na sua comissão de frente a representatividade dos povos originários com uma coreografia muito firme e com movimentos característicos.
Foi perceptível a ausência de um componente do elenco em alguns desenhos coreográficos, mas nada que tirasse o brilho da coreografia, que estava totalmente de acordo com o enredo.
A ala de passistas da Bangu veio na animação da bateria e dizendo no pé com muita empolgação, fizeram um bom trabalho!
O Porto da Pedra veio na abertura do seu desfile com sua Comissão coreografada por Júnior Scapin trazendo a energia marcante que é característica de seus trabalhos. Com certeza teremos algo a mais no desfile oficial para tornar maior ainda a apresentação da Comissão de São Gonçalo.
O que falar da Ala de passistas da Porto da Pedra? Gosto muito da interação dos passistas masculinos com as meninas e eles vieram do jeito que a gente gosta, nervosos e fazendo uma evolução que parecia incendiar ainda mais o que já estava bom! Maravilhosos!
Eliane Souza (MSPB): A Tradição fez um desfile harmonioso, com os componentes cantando e demonstrando alegria! Afinal, um esperado retorno a Passarela do Samba! Beleza na Ala de Baianas, bateria trazendo o batuque ancestral e canto bem direcionado. Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira – Jorge Vinícius e Verônica Lima, experientes e seguros – deslizou pela avenida! Gabriel Galvão e Thaissa Soares, o segundo casal cumpriram o ritual, desfraldando e apresentando com gentileza o pavilhão e, Ramon Lima e Vívian Colombo, graciosos e felizes, trazendo o terceiro pavilhão da escola, dançaram para mim!!! Emocionei!
Fechando o cortejo, precedido por uma ala feminina, um adereço em forma de barco, conduzido por homens, levava oferendas a Yemanjá, conforme reza o enredo, salve o dois de fevereiro! Um bonito e fervoroso momento. Muito feliz por ver esta escola novamente neste espaço principal de desfiles das escolas de samba, deixo minha saudação a essa “Rainha” Rafaela Nascimento, mulher determinada, pela administração que está realizando! Axé!
“A flor ainda resiste ao espinho…”. Sim, ela resiste! Sendo a porta-bandeira uma rosa que dança ao sabor do vento, como afirmou Vilma Nascimento, seu nome no Unidos da Ponte é Verônica Moura. E a rosa veio confirmando o discurso de Manoel dos Anjos Dionísio, quando nos falou que se o mestre-sala não comparecer ao evento, a porta-bandeira pode dançar para apresentar o pavilhão! Ela não necessita dele, ela é a dona do espaço, uma rainha entronada pelos ancestrais que habitam o sagrado pavilhão que conduz! Axé, Rainha Moura, dona do segundo pavilhão da Unidos da Ponte, veio poderosa, dominou a cena e espalhou felicidade! Apaixonei!!! Foi divino, infinitamente maravilhoso apreciar a performance plena de vigor, da querida dama. Lindos e seguros, em dupla jornada, (formam o segundo casal da Portela!) deslizaram na avenida o belo e experiente casal – Emmanuel Lima e Thainara Matias- apresentando sua dança, bastante teatralizada, a luz do samba enredo. Coreografia bem dominada! E a escola, com uma bateria vibrante convidava o povo aos requebros!
A Unidos de Bangu realizou com muito empenho o ensaio técnico, trouxe uma alegoria que soltava serpentina, alegrando a procissão do samba. A ala de passistas respondendo ao chamado do ritmo da bateria com a destreza em seus passos! Baianas abençoando os trabalhos! Axé, para eles que trouxeram o enredo sobre a resistência de um povo originário: os tupinambá! Destaque para o segundo casal – Leandrinho Silva e Cris Soares – que apresentou os movimentos característicos de cada um, com destreza e habilidade! O mestre-sala exibiu com segurança movimentos como o voleio, com falsa queda, em perfeita execução, assim como o meio-sapateado! Gentil, cortês demonstrando atenção para com a dama, para quem dançava sempre, louvando o pavilhão que ela portava! Cris Soares, potente e autêntica, exibindo seus giros com segurança, deixava ser conduzida pelo cavalheiro!!!
Primeiro casal: Leonardo Moreira e Bárbara Moura – em dupla jornada, pois são o segundo par no Acadêmicos do Salgueiro, bailou com altivez, utilizando passos e gestos em concordância com o samba enredo. Foi bonito ver a passagem da escola!
“A nossa história!
A nossa gente!
Meu carnaval”
A história foi assim: houve uma intercorrência com o primeiro casal da escola – Rodrigo França e Pietra Brum. Com sabedoria e conhecimento, momentaneamente, a direção de harmonia da agremiação, agindo com segurança e tranquilidade, tornou o segundo casal – Johny Matos e Joyce Santos – , o primeiro, sem deslocamento do mesmo de espaço! Foi perfeito, pois não houve desgaste emocional e físico dos sambistas!
Logo, tudo se normalizou com o casal primeiro e o ensaio continuou com os componentes cantando. Baianas bem trajadas evoluindo, bateria ofertando seus ritmos alinhados e o intérprete Wantuir comandando com garra e alegria, o carro de som! Eu, abusada, vi tudo de dentro da pista! Afinal, a festa é nossa, nosso Carnaval!

Célia Souto (evolução e harmonia): A Tradição escola inicia o seu ensaio apresentando componentes comprometidos, que cantam com tenacidade o samba na sua totalidade. O andamento do canto está fluindo juntamente com o chão da escola que apresenta uma evolução equilibrada, leve e com garra. Destaco a naturalidade dos componentes em relação a letra do samba, demonstram que ouvem com nitidez a linha melódica com bom entrosamento entre ritmo e melodia. Um ensaio carismático, sério e cativante! Parabéns! Promete um ótimo desfile!
A Unidos da Ponte apresenta o seu ensaio com a maioria dos componentes descomprometidos em relação ao canto, estão completamente alheios ao samba, ritmo e melodia. O samba não foi bem desenvolvido e cantado pelos componentes durante todo o desfile, a evolução apresentou andamento irregular. A escola não aproveitou para criar uma interatividade auditiva e melódica entre o intérprete juntamente com a equipe vocal.
Unidos de Bangu escola não apresenta uniformidade entre as alas, devido a isso, a evolução não foi equilibrada, o chão da escola está arrastado e não fluiu, e a maioria dos componentes não estão cantando o samba com empolgação, tenacidade e maturidade. A falta de empenho no canto demonstra que será preciso dedicar mais atenção para sincronizar ritmo e melodia para equilibrar e ajustar o andamento de desfile.
Porto da Pedra: A escola entra na Avenida para o seu ensaio técnico cantando o samba com animação e empolgação demonstrando bom entrosamento entre ritmo e melodia. O samba está bem elaborado e sendo cantado com tenacidade. A evolução está equilibrada e fluindo com espontaneidade. É possível observar que a escola está se preparando com seriedade visando trazer para a avenida um desfile carismático e consistente!
Bruno Moraes (bateria e samba-enredo): A bateria da Tradição retorna pra Sapucaí com a estreia do Mestre Thiago Praxedes, que fez uma boa apresentação, com bossas funcionais, uma ala de frigideiras da melhor qualidade, uma caída de 3 na cabeça do samba interessante, enfim um bom ensaio.
O samba-enredo teve uma boa performance.
Com composição de Pretinho da Serrinha e cia, o enredo foi inspirado em uma música do próprio.
A bateria da Unidos da Ponte fez um ensaio produtivo, principalmente ao entrar na pista, o grupo comandado pelo estreante Mestre Lan se alinhou com o samba e daí pra frente foram bossas bem criativas realizadas e um ritmo pra frente. Destaque para as excelentes alas de tamborim, chocalho e cuíca.
O samba foi muito bem defendido pelo Leonardo Bessa, porém, o carro de som deixou mais uma vez a desejar, prejudicando um pouco a performance da obra.
A bateria da Bangu deu um verdadeiro show nesse ensaio técnico. Mestre Laion, mesmo ainda jovem, já está muito maduro para comandar uma das melhores baterias do grupo. Tudo no lugar, com bossas impactantes e performáticas, uma afinação impecável e o couro comendo na cozinha. Impressionado com a qualidade do ritmo.
O samba da Bangu é bem funcional para o desfile, com uma primeira linda e uma segunda melodiosa. Mesmo com o refrão do meio mediano, o samba se desenvolve muito bem, muito mérito também do Igor Viana, que já é uma voz marcante do nosso carnaval.
A bateria do Mestre Pablo na Porto da Pedra é uma coisa diferente de tudo, seja pelo estilo de bossa ou pela roupagem da bateria. O padrão de bateria de Especial continua e as bossas indígenas são de estrema qualidade. Que baita ensaio da galera de São Gonçalo.
O samba da Porto da Pedra certamente é um dos melhores da Série Ouro. Com dois refrões fortes e uma linha melódica bem interessante. Wantuir brincou de cantar e tirou onda.
Jaime Cezário (alegoria, fantasia e enredo): A Tradição abriu os ensaios técnicos desse domingo soltando as Bruxas e fazendo uma “Reza” forte para espantar todas as energias negativas e assim, celebrar a volta ao convívio das escolas da elite da Marquês de Sapucaí na Série Ouro.
Uma agradável surpresa, muita organização e todos os componentes cantando com orgulho o seu samba! A força do canto foi um grande destaque, muito bom ver componentes afiados na letra e no canto do seu hino oficial. Quando o canto é forte e vem do coração orgulhoso do componente, traz emoção, mesmo para um samba pouco conhecido para a grande maioria presente! As alas, com adereços simples, mas bem coordenadas, causavam um belo efeito visual. Um ensaio técnico de encher os olhos, vem surpresa boa aí. Parabéns, Tradição! A Tradição voltou!
No segundo ensaio técnico da noite, a Unidos da Ponte trouxe para a Marquês de Sapucaí um enredo forte e urgente: a preservação do meio ambiente. Com a sabedoria ancestral dos povos originários como guia, a escola de São João de Meriti fez um alerta sobre a importância de cuidarmos da natureza, nossa casa comum.
Apesar do bom número de componentes e da organização, a Ponte enfrentou um desafio: o canto. Muitas alas ainda não dominavam o samba-enredo, o que prejudicou a harmonia da apresentação e a receptividade do público presente. Uma apresentação sem emoção! A tradicional escola de São João de Meriti terá que intensificar os ensaios para que o canto esteja afinado e potente no desfile oficial.
A Unidos de Bangu foi a terceira escola a se apresentar no seu ensaio técnico, começando com um atraso inexplicável de quase uma hora. Bangu vai contar a história da aldeia Maracanã – Maraka’ãnandê, resistência ancestral. O ensaio teve características peculiares, com uma evolução desconectada e rápida, e um canto das alas abaixo da expectativa. Não sei qual foi o problema ocorrido, mas o sinal de alerta foi ligado, e correções urgentes precisam ser feitas para o desfile oficial. A Bangu, ao longo dos últimos carnavais, vem fazendo trabalhos consistentes, com ensaios técnicos apurados e de qualidade, mas o de hoje contrariou toda essa boa história.
O Tigre de São Gonçalo já rugiu forte no seu esquenta, no ritmo turbinado de sua bateria, que lançou o desafio: “Bota pra ferver, Porto da Pedra, faz essa galera delirar!”. Desafio aceito pela comunidade, que quer seu lugar de volta no Grupo Especial! Com um dos enredos mais inteligentes deste Carnaval, a escola vai falar da cidade de Fordlândia, que seria construída às margens do Rio Amazonas pelo industrial americano de automóveis Henry Ford, em sua busca por borracha.
A Porto da Pedra veio grande, com garra, canto forte e muito bem organizada. O ensaio técnico, que a qualifica para voos mais altos, agora, é aguardar o desfile oficial. Um fechamento em alto nível desse segundo domingo de ensaios técnicos da Série Ouro.
CURTA +:
+ VEJA AS FOTOS DA NOITE DE ENSAIOS TÉCNICOS NA SAPUCAÍ (em breve)
+ ASSISTA AOS VÍDEOS DA NOITE DE ENSAIOS TÉCNICOS NA SAPUCAÍ
+ VEJA A AVALIAÇÃO DOS COMENTARISTAS DO SRzd
Folia que segue!
+ confira o calendário:
domingo, 9 de fevereiro:
18h: Arranco
19h: Vigário Geral
20h: União de Maricá
21h: Estácio de Sá
domingo, 16 de fevereiro:
18h: Botafogo Samba Clube
19h: Acadêmicos de Niterói
20h: São Clemente
21h: Império Serrano
Em 2025, os desfiles da Série Ouro acontecem nos dias 28 de fevereiro e 1º de março.
(confira abaixo a ordem oficial).
28 de fevereiro (sexta-feira):
1º – Botafogo Samba Clube
2º – Arranco do Engenho de Dentro
3º – Inocentes de Belford Roxo
4º – Unidos da Ponte
5º – Estácio de Sá
6º – União de Maricá
7º – Em Cima da Hora
8º – União da Ilha do Governador
1º de março (sábado):
1º – Tradição
2º – União do Parque Acari
3º – Acadêmicos de Vigário Geral
4º – Unidos de Bangu
5º – Unidos do Porto da Pedra
6º – São Clemente
7º – Acadêmicos de Niterói
8º – Império Serrano
*Fotos: Leandro Milton/SRzd

