Amigos do samba e Carnaval! Que sábado foi esse de ensaio técnico e lavagem da Sapucaí? Nossa, a emoção foi tanta, que nem tô esperando a segunda-feira para escrever para vocês!
Sinceramente, não dá! Vou ter que começar contando um pouquinho do antes de os agitos na pista começarem. Sábado era o dia da tradicional “Lavagem da Sapucaí”, e tudo começaria mais cedo. O horário estimado era por volta das 18h30. E todo mundo chegando um pouco antes para este evento imperdível. Até São Pedro, com todos os Orixás, estavam por lá…
Amigos, quando estava próximo o horário estipulado para começar a cerimônia, dos céus da Cidade Maravilhosa, desabou uma cachoeira. A impressão que dava é de que São Pedro tinha aberto as torneiras do céu, contando ainda com as águas dos rios de Mamãe Oxum e as do mar, de Mãe Iemanjá. Aquilo não foi uma simples chuva, parecia uma tsunami. A proposta, afinal, era de lavar o corpo e a alma para limpar e purificar para o novo ciclo que já vai se iniciar a partir da próxima sexta-feira, com os Desfiles da Série Ouro. Então, deixa lavar!
Mas a verdade é que devido ao forte temporal, a “Lavagem da Sapucaí” começou um pouquinho mais tarde, mesmo ainda sob fortes chuvas. O mais lindo era ver aquele mundaréu de gente, ali, feliz por estar participando deste evento. O bom de ver nessas horas é que o amor ao samba e ao Carnaval falam muito mais alto. Tá certo que o público deu uma boa baixa, mas a energia de quem ficou foi de pura emoção! Seria um prenuncio do que estava por vir… Então vamos lá!
Estava preocupado com a Vila Isabel, pois seus componentes devem ter pego o peso total daquela chuvarada na concentração, e isso poderia, sobremaneira, diminuir o ímpeto da sua apresentação. Com um pequeno atraso, perfeitamente justificado, a Vila já chegou chegando com sua Bateria Swingueira de Noel de Mestre Macaco Branco botando fogo na concentração.
Na frente estava ela, sua Rainha, Sabrina Sato, levando todos ao delírio, vestida de noiva estilizada, causando euforia. Existem químicas que são inegáveis no Carnaval, e essa é justamente a que explica a relação da sua Rainha de Bateria com a escola. Sabrina parece ser natural do bairro e quando ela chega, esbanjando simpatia, seja na quadra, nos ensaios na Boulevard ou na Sapucaí, nos passa a mensagem de pura paixão pela Azul e Branca do bairro de Noel.
Amigos, aguardava esse ensaio com expectativa, pois afinal tinha saído muito bem impressionado do ensaio de rua que assisti, na Boulevard 28 de Setembro. Muita gente adora falar que o samba da Vila não é bom, que a força do canto da comunidade era porque estava no bairro, e por aí vai. Afirmo que não sou um profundo entendedor dos detalhes rítmicos que envolvem o julgamento técnico de um bom samba. A minha opinião é dada pela emoção, daquilo que ouço e vejo, e digo a todos; o que foi mostrado me arrepiou. Mas como não sou dono da verdade, apenas um carnavalesco apaixonado pelo Carnaval e pelas escolas de samba, poderia ter deixado me levar pela emoção, assumo!
A Vila começou esquentando a avenida com seus sambas do passado. Nesse esquenta, teve dois momentos que amei! Um quando seu intérprete, Tinga, entoou um pedacinho da música do poeta Noel Rosa: “Palpite Infeliz”, que diz assim: “A Vila não quer abafar ninguém… só que mostrar que faz samba também”. E outro momento é quando canta seu tradicional samba de esquenta: “Sou da Vila não tem jeito”. Aí a poeira levantou. Ou melhor dizendo, a água!
Com a Sapucaí toda molhada, mas efervescente, vieram os primeiros acordes do samba-enredo para 2023, do enredo: “Nessa festa eu levo fé!”, do carnavalesco Paulo Barros. A Vila chegou mostrando que não está para brincadeira. Ela quer é fazer Festa.
Já no primeiro momento, com a apresentação da comissão de frente dos coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú, chegaram personagens da festa de Halloween; vampiros, múmias e bruxas. Mas o ponto alto foi Wandinha Addams, um belo espetáculo!
A apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira foi outra sensação à parte. Parece que veremos novidades no desfile oficial, pois vi, pela primeira vez, os guardiões do primeiro casal interagindo de forma direta na apresentação de Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas.
E a comunidade? Ah, essa não me decepcionou, chegou feliz e cantando forte seu samba-enredo. O ensaio técnico da Vila Isabel foi daqueles que a gente torce para não acabar. A energia de felicidade era tão grande e boa que me senti realmente numa festa. Aquilo que vi no seu ensaio técnico de rua foi superado nessa apresentação, e olha que o mundo desabou em águas sobre os componentes da escola quando estavam concentrados. A Comunidade do Morro dos Macacos foi o show maior! Só posso aqui deixar os parabéns a todos os envolvidos, pois a Vila Isabel foi um verdadeiro “Rolo Compressor de Felicidade”. Confesso que tiveram momentos em que gostaria de estar ali dentro desfilando, nessa festa, cantando o seu samba, que ficava ainda mais forte na hora do refrão:
“Eu sou da Vila Batizado no terreiro,
São Jorge protetor
Salve o padroeiro
A voz do morro traz o samba na raiz
O ano inteiro sou festeiro e sou feliz”
Aos críticos de plantão, informo que não sou torcedor da Vila, apenas um apaixonado por coisa boa, claro, quando vejo. Parabéns Vila Isabel! Desejando muita luz no seu Axé: Evoé! Evoé!
E agora, era vez dela, aquela que traz a emoção no cantar: a Unidos do Viradouro! A Escola de Niterói é sempre uma das mais aguardadas, pois nos últimos anos vem apresentando desfiles de excelência. A paixão dos mandatários da Viradouro; Marcelo e Marcelinho Calil, é inegável! Não poupam esforços para vê-la com o melhor! Eles querem a comunidade feliz e a escola disputando o primeiro lugar.
A agremiação fez incessantes ensaio técnicos na Avenida Amaral Peixoto, em Niterói, e agora era o momento de se apresentar ali, no “Templo do Samba”, para terem a certeza que tudo está no caminho certo!
A chuva já tinha estiado, e como num milagre, na Sapucaí, começou a brotar gente de todo lado. Arquibancadas e frisas começaram a encher como se fosse magia. Sinalizadores vermelhos soltavam aquela fumaça avermelhada que dava todo o clima necessário para sua apresentação. Foi quando ouvimos os primeiros sons da Bateria de Mestre Ciça no Setor 1, gritos emocionados correram a Sapucaí!
Quando o seu intérprete oficial, Zé Paulo Sierra, soltou sua voz, começando o esquenta, “ai o bagulho ficou doido”. Ao som de “Orfeu da Conceição” e, logo depois, cantando o samba que deu o título em 2020, que manda todos se prepararem, pois está chegando a escola da emoção, com o refrão dizendo assim:
“Ó, mãe ensaboa, mãe,
Ensaboa, pra depois quarar”
A avenida entrou em ebulição… Clima perfeito para iniciar o samba 2023, trilha do enredo: “Rosa Maria Egipcíaca” do carnavalesco Tarcísio Zanon. A Viradouro vai encerrar a segunda-feira do Grupo Especial, com um Carnaval que deseja emocionar a avenida, mostrando a história de Rosa Maria, considerada a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil. Sua vida oscila entre o profano e o sagrado. O objetivo deste Carnaval é fazer sua canonização, em plena Sapucaí. Haja coração!
Os destaques do ensaio técnico são muitos, começando pela comissão de frente dos coreógrafos Priscila Motta e Rodrigo Negri, onde faziam uma ritualização da canonização popular de Rosa. Num dado momento da apresentação, um elemento alegórico fazia subir uma mulher que se transformava numa grande santa, com manto e tudo, levando o público ao delírio.
Outro momento mágico foi a apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Ruth Alves, muito bem-vestidos, dançavam sem medo de ser feliz.
A Viradouro trouxe duas alegorias, uma logo no início, outra mais no meio do desfile. Nessa segunda alegoria, estava Viviane de Assis, esbanjando simpatia e encantamento. Outro destaque, ficou por conta da ala de passistas, belamente vestida de preto, roupas muito requintadas que merecem ser citadas.
Agora, o ponto alto desse Ensaio Técnico foi, sem sombra de dúvidas, o canto forte da Comunidade da Escola. Parece que todos estavam envolvidos pelo clima místico do enredo, cantando o belo samba a plenos pulmões. O samba da Viradouro é do tipo de composição que na medida em que você começa a cantar, a emoção vai te consumindo, onde seu ápice fica por conta do segundo refrão:
“Eis a flor do seu altar, sua fé em cada gesto
O amor em cada olhar dos filhos meus
No cantar da Viradouro, o meu samba é manifesto
Imagem de Deus, sou eu”
Causando um momento de pura explosão emocional! Parabéns a Comunidade de Niterói e São Gonçalo, que orgulhosamente mostraram a sua força. Se depender dessa garra, e dessa vontade, levam o título para o Barreto! Parabéns Viradouro. .Mostrou que a escola da emoção está com o olhar reluzindo de fé e paixão!
Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.
Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.
Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.
Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.
Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd
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