Vigário Geral passa morna e patina em evolução na Sapucaí
Pedras no caminho (e não a do Sal). A Acadêmicos de Vigário Geral foi a sexta escola a desfilar neste segundo dia de desfiles da Série Ouro, na madrugada desta sexta-feira (22). Desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales, a agremiação levou para a Sapucaí o enredo Pequena África, contando a história […]
POR Caroline Gonçalves22/04/2022|10 min de leitura
Pedras no caminho (e não a do Sal). A Acadêmicos de Vigário Geral foi a sexta escola a desfilar neste segundo dia de desfiles da Série Ouro, na madrugada desta sexta-feira (22).
Desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales, a agremiação levou para a Sapucaí o enredo Pequena África, contando a história da região central do Rio de Janeiro que recebeu os negros na época da escravidão.
O enredo foi muito bem desenvolvido e resultou em um desfile de fácil entendimento. Porém, o samba não empolgou e a escola ainda apresentou algumas falhas ao longo do cortejo.
Fala, Luiz!
“Enredo político, crítico, social e necessário. Achei muito interessante a proposta. O último carro, o da favela, foi muito bem sacado. É uma escola que tá começando a dar uns toques políticos e sociais muito interessantes. Gostei, mas é uma escola que não disputa Carnaval.”
Comissão de frente
A comissão de frente da Vigário Geral contava com 15 integrantes que retratavam a chegada dos negros escravos ao Cais do Valongo, na região central do Rio de Janeiro. Eles portavam sacos que continham a palavra ‘sal’ e usavam macacões com imagens de negros e cartas estampadas. Todos utilizavam máscara no rosto, além de tranças nas cabeças.
Com uma coreografia muito bem sincronizada, durante a apresentação um dos integrantes revelava uma saia na cor amarela. De dentro dos sacos que os componentes carregavam, eles retiravam objetivos que simbolizavam a luta pela construção da identidade negra no Brasil. Ao final da apresentação, uma homenagem a memória de crianças que foram vítimas de balas perdidas no Rio de Janeiro.
“Comissão é feita de detalhes e Anderson Big se preocupa muito com esse quesito. O figurino da comissão era uma obra de arte. Uma malha com impressões de fotos antigas e textos de jornais falando da escravidão. Nas mãos, um adereço que imitava um saco de sal. A coreografia fazia também uma referência direta a religiosidade afro brasileira.
Por fim, a mensagem: “Vidas negras importam”, aliada a imagens de negros injustiçados fez o publico aplaudir bastante”, disse Márcio Moura, comentarista do SRzd.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkins e Thainá Teixeira, representava a relação de amor e de dor, entre o Brasil e a África.
Com o rosto pintado, a porta-bandeira representava o continente africano. Seu figurino era colorido e com muito brilho, já a saia era vermelha com tons de laranja. O mestre-sala que correspondia ao Brasil utilizava um figurino nas cores da bandeira do país.
O casal realizou apresentações com passos clássicos e demonstraram grande sincronia, como diz a comentarista do SRzd, Eliane Souza: “Pode ser apreciada uma apresentação do bailado clássico, com movimentos obrigatórios do mestre-sala bem realizados e em grande sincronismo com os da porta-bandeira. Vigor e segurança, determinação e galhardia nas ações do dançarino que cortejou a dama durante o Currupio; realizou giros, piruetas e “falsa queda” com precisão; ofereceu apoio para a dama dançar no Aviãozinho durante a Pegada de Mão! No mais: meneios, requebros singelos e muita reverência de Diego Jenkis a sua dama Thaina Teixeira”.
Alegorias e adereços
O abre-alas, denominado “O Monstro da Escravidão”, representava os navios negreiros, onde os escravos escravizados vinham para o Brasil. A alegoria era um enorme navio, com um dragão na frente. Na parte traseira da alegoria, estava retratada a senzala, local onde os negros viviam.
A segunda alegoria se tratava da celebração às religiões africanas. No carro haviam esculturas de orixás simbolizando o legado e a herança deixados pelos negros daquela época. A última alegoria fez uma relação sobre os acontecimentos passados e os atuais. O carro retratava uma favela e a Segurança Pública, os navios negreiros da atualidade.
“As alegorias seguiram a mesma tônica das fantasias, com poucos recursos financeiros tentaram mostrar com dignidade a história da Pequena África”, disse Jaime Cezario, comentarista do SRzd.
Fantasias
As fantasias eram de fácil entendimento e contaram com clareza toda a história da Pequena África, desde o início até os dias atuais.
O primeiro setor retratou a origem dos navios negreiros no Brasil, passando pela ocupação do território e chegando aos dias atuais, mostrando os legados e as instituições negras.
“A Acadêmicos de Vigário Geral trouxe fantasias que lembraram desde o degredo do negro africano até seu estabelecimento nessa região carioca. A escola mostrou em suas fantasias que lutam com pouca verba, mas de uma forma simples conseguiu apresentar sua história”, disse Cezario.
Enredo
“Berço das rodas de samba, palco onde brilharam grande sambistas como Donga e morada da histórica Tia Ciata, ícone de resistência da cultura afro-brasileira. O enredo teve bom desenvolvimento tendo sido abordada a abominável escravidão, a população negra trabalhadora da região portuária e diversas vertentes da cultura afro-brasileira. O ponto negativo consiste na tentativa de conexão do passado com o futuro em relação ao Cais do Valongo, esta realizada no terceiro setor. As referências ao passado ficaram claras, tal como a remissão aos trabalhadores da estiva. Entretanto, os signos, a semiótica concernente à presente realidade do Cais do Valongo não foi abordada de forma compreensível, ficando deficitária a compreensão nestes aspectos do último setor do desfile”, comentou Marcelo Masô.
Samba-enredo
A Vigário Geral levou para a Avenida um samba de autoria de Júnior Fionda, Fagundinho, Luis Carlos D’avenida, Marcelinho Santos, Domenil Santos, Robert Farrow, Luiz Pião, Gigi da Estiva, Fadico, Romeu, Felipe Revelação, Silvana, Rodrigo Shumacher e Carlinho Ousadia. Defendido por Tem Tem Jr, não empolgou e o canto deixou a desejar.
“Apesar do esforço da comunidade, o samba de Vigário não aconteceu. A obra é melhor do que o que foi apresentado na Avenida. Samba que tem momentos muito legais como o refrão principal. Achei acelerado demais na apresentação”, disse Cadu Zugliani, comentarista do SRzd.
Bateria
No geral, a bateria do mestre Luygui realizou um bom desfile. Os ritmistas representavam filhos de Gandhi, o Afoxé mais antigo da cidade e a rainha de bateria, Egili Oliveira, usando uma fantasia toda branca, simboliza a “Saudação a Oxalá”.
“A bateria de Mestre Luygui fez um bom desfile, trazendo marcações bem graves e um conjunto de caixas com boa execução na levada e nas pequenas convenções, como na retomada da segunda do samba. Executou com precisão as bossas nas cabines e segurou o andamento. Um pequeno desencontro entre as marcações entre o primeiro e segundo módulo, por sorte bem longe do campo de avaliação de ambos os julgadores”, comentou Cláudio Francioni.
Harmonia
A escola não mostrou bom desempenho no quesito. Além de problemas de entrosamento entre carro de som, bateria e comunidade, os componentes deixaram a desejar no canto. O ótimo samba, que não passou bem pela Avenida, não ajudou os desfilantes pela letra extensa e com palavras difíceis.
“A escola demonstrou garra e animação para cantar o samba, porém o entrosamento entre ritmo, melodia e andamento não foi bem desenvolvido, a execução do canto ficou prejudicada devido à falta de clareza na pronúncia e dicção”, disse Celia Souto, comentarista do SRzd.
Evolução
A agremiação apresentou problemas no quesito. O principal deles aconteceu a partir da primeira cabine, quando o último carro travou e um buraco começou a ser aberto. No decorrer do desfile, com a dificuldade de locomoção, o clarão continuou e tomou grande trecho da pista. Além disso, a agremiação esteve longe do êxito em alinhamento e espaçamento de componentes nas alas.
“A escola apresentou andamento irregular entre as alas , causando monotonia e alguns buracos no desenvolvimento do desfile”, finalizou Celia Souto.
Ficha técnica
Enredo: “Pequena África: Da Escravidão ao Pertencimento – Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro” Presidente: Elizabeth da Cunha Carnavalescos: Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales Intérprete: Tem Tem Jr Mestre de Bateria: Luygui Silva Rainha de Bateria: Egili Oliveira Comissão de Frente: Handerson Big Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diego Jenkis e Thainá Teixeira
Pedras no caminho (e não a do Sal). A Acadêmicos de Vigário Geral foi a sexta escola a desfilar neste segundo dia de desfiles da Série Ouro, na madrugada desta sexta-feira (22).
Desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales, a agremiação levou para a Sapucaí o enredo Pequena África, contando a história da região central do Rio de Janeiro que recebeu os negros na época da escravidão.
O enredo foi muito bem desenvolvido e resultou em um desfile de fácil entendimento. Porém, o samba não empolgou e a escola ainda apresentou algumas falhas ao longo do cortejo.
Fala, Luiz!
“Enredo político, crítico, social e necessário. Achei muito interessante a proposta. O último carro, o da favela, foi muito bem sacado. É uma escola que tá começando a dar uns toques políticos e sociais muito interessantes. Gostei, mas é uma escola que não disputa Carnaval.”
Comissão de frente
A comissão de frente da Vigário Geral contava com 15 integrantes que retratavam a chegada dos negros escravos ao Cais do Valongo, na região central do Rio de Janeiro. Eles portavam sacos que continham a palavra ‘sal’ e usavam macacões com imagens de negros e cartas estampadas. Todos utilizavam máscara no rosto, além de tranças nas cabeças.
Com uma coreografia muito bem sincronizada, durante a apresentação um dos integrantes revelava uma saia na cor amarela. De dentro dos sacos que os componentes carregavam, eles retiravam objetivos que simbolizavam a luta pela construção da identidade negra no Brasil. Ao final da apresentação, uma homenagem a memória de crianças que foram vítimas de balas perdidas no Rio de Janeiro.
“Comissão é feita de detalhes e Anderson Big se preocupa muito com esse quesito. O figurino da comissão era uma obra de arte. Uma malha com impressões de fotos antigas e textos de jornais falando da escravidão. Nas mãos, um adereço que imitava um saco de sal. A coreografia fazia também uma referência direta a religiosidade afro brasileira.
Por fim, a mensagem: “Vidas negras importam”, aliada a imagens de negros injustiçados fez o publico aplaudir bastante”, disse Márcio Moura, comentarista do SRzd.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkins e Thainá Teixeira, representava a relação de amor e de dor, entre o Brasil e a África.
Com o rosto pintado, a porta-bandeira representava o continente africano. Seu figurino era colorido e com muito brilho, já a saia era vermelha com tons de laranja. O mestre-sala que correspondia ao Brasil utilizava um figurino nas cores da bandeira do país.
O casal realizou apresentações com passos clássicos e demonstraram grande sincronia, como diz a comentarista do SRzd, Eliane Souza: “Pode ser apreciada uma apresentação do bailado clássico, com movimentos obrigatórios do mestre-sala bem realizados e em grande sincronismo com os da porta-bandeira. Vigor e segurança, determinação e galhardia nas ações do dançarino que cortejou a dama durante o Currupio; realizou giros, piruetas e “falsa queda” com precisão; ofereceu apoio para a dama dançar no Aviãozinho durante a Pegada de Mão! No mais: meneios, requebros singelos e muita reverência de Diego Jenkis a sua dama Thaina Teixeira”.
Alegorias e adereços
O abre-alas, denominado “O Monstro da Escravidão”, representava os navios negreiros, onde os escravos escravizados vinham para o Brasil. A alegoria era um enorme navio, com um dragão na frente. Na parte traseira da alegoria, estava retratada a senzala, local onde os negros viviam.
A segunda alegoria se tratava da celebração às religiões africanas. No carro haviam esculturas de orixás simbolizando o legado e a herança deixados pelos negros daquela época. A última alegoria fez uma relação sobre os acontecimentos passados e os atuais. O carro retratava uma favela e a Segurança Pública, os navios negreiros da atualidade.
“As alegorias seguiram a mesma tônica das fantasias, com poucos recursos financeiros tentaram mostrar com dignidade a história da Pequena África”, disse Jaime Cezario, comentarista do SRzd.
Fantasias
As fantasias eram de fácil entendimento e contaram com clareza toda a história da Pequena África, desde o início até os dias atuais.
O primeiro setor retratou a origem dos navios negreiros no Brasil, passando pela ocupação do território e chegando aos dias atuais, mostrando os legados e as instituições negras.
“A Acadêmicos de Vigário Geral trouxe fantasias que lembraram desde o degredo do negro africano até seu estabelecimento nessa região carioca. A escola mostrou em suas fantasias que lutam com pouca verba, mas de uma forma simples conseguiu apresentar sua história”, disse Cezario.
Enredo
“Berço das rodas de samba, palco onde brilharam grande sambistas como Donga e morada da histórica Tia Ciata, ícone de resistência da cultura afro-brasileira. O enredo teve bom desenvolvimento tendo sido abordada a abominável escravidão, a população negra trabalhadora da região portuária e diversas vertentes da cultura afro-brasileira. O ponto negativo consiste na tentativa de conexão do passado com o futuro em relação ao Cais do Valongo, esta realizada no terceiro setor. As referências ao passado ficaram claras, tal como a remissão aos trabalhadores da estiva. Entretanto, os signos, a semiótica concernente à presente realidade do Cais do Valongo não foi abordada de forma compreensível, ficando deficitária a compreensão nestes aspectos do último setor do desfile”, comentou Marcelo Masô.
Samba-enredo
A Vigário Geral levou para a Avenida um samba de autoria de Júnior Fionda, Fagundinho, Luis Carlos D’avenida, Marcelinho Santos, Domenil Santos, Robert Farrow, Luiz Pião, Gigi da Estiva, Fadico, Romeu, Felipe Revelação, Silvana, Rodrigo Shumacher e Carlinho Ousadia. Defendido por Tem Tem Jr, não empolgou e o canto deixou a desejar.
“Apesar do esforço da comunidade, o samba de Vigário não aconteceu. A obra é melhor do que o que foi apresentado na Avenida. Samba que tem momentos muito legais como o refrão principal. Achei acelerado demais na apresentação”, disse Cadu Zugliani, comentarista do SRzd.
Bateria
No geral, a bateria do mestre Luygui realizou um bom desfile. Os ritmistas representavam filhos de Gandhi, o Afoxé mais antigo da cidade e a rainha de bateria, Egili Oliveira, usando uma fantasia toda branca, simboliza a “Saudação a Oxalá”.
“A bateria de Mestre Luygui fez um bom desfile, trazendo marcações bem graves e um conjunto de caixas com boa execução na levada e nas pequenas convenções, como na retomada da segunda do samba. Executou com precisão as bossas nas cabines e segurou o andamento. Um pequeno desencontro entre as marcações entre o primeiro e segundo módulo, por sorte bem longe do campo de avaliação de ambos os julgadores”, comentou Cláudio Francioni.
Harmonia
A escola não mostrou bom desempenho no quesito. Além de problemas de entrosamento entre carro de som, bateria e comunidade, os componentes deixaram a desejar no canto. O ótimo samba, que não passou bem pela Avenida, não ajudou os desfilantes pela letra extensa e com palavras difíceis.
“A escola demonstrou garra e animação para cantar o samba, porém o entrosamento entre ritmo, melodia e andamento não foi bem desenvolvido, a execução do canto ficou prejudicada devido à falta de clareza na pronúncia e dicção”, disse Celia Souto, comentarista do SRzd.
Evolução
A agremiação apresentou problemas no quesito. O principal deles aconteceu a partir da primeira cabine, quando o último carro travou e um buraco começou a ser aberto. No decorrer do desfile, com a dificuldade de locomoção, o clarão continuou e tomou grande trecho da pista. Além disso, a agremiação esteve longe do êxito em alinhamento e espaçamento de componentes nas alas.
“A escola apresentou andamento irregular entre as alas , causando monotonia e alguns buracos no desenvolvimento do desfile”, finalizou Celia Souto.
Ficha técnica
Enredo: “Pequena África: Da Escravidão ao Pertencimento – Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro” Presidente: Elizabeth da Cunha Carnavalescos: Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales Intérprete: Tem Tem Jr Mestre de Bateria: Luygui Silva Rainha de Bateria: Egili Oliveira Comissão de Frente: Handerson Big Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diego Jenkis e Thainá Teixeira