*Por Eliane Souza
Recebi, através de Charles Lopes, um convite muito especial da Direção de Harmonia da SRES Lins Imperial para acompanhar o evento, que se realizou no dia 11 de novembro de 2023, um sábado, na quadra de ensaios da agremiação.
Quando eu cheguei, havia uma farta mesa com um saboroso café da manhã, confirmando que onde tem sambista sempre tem sempre um “papá” especial e a equipe já estava trabalhando sob coordenação de Charles Lopes e Carlos Carvalho. E os dois me falaram sobre o evento e o motivo da escolha deste tema, da relevância daquele workshop para a estrutura do trabalho da equipe de harmonia.
“Por ver que a Harmonia ser muito criticada na montagem da escola em um desfile, e muitas vezes não conhecer o desenho das fantasias, conhecer o carro e as roupas das composições e musas. Esse Workshop vem unir o trabalho da Harmonia/Evolução junto à equipe de departamento cultural e enredistas para juntos fazermos a melhor concentração e desfile possível”, disse Charles Lopes.
“Para todos nós é um aprendizado que cada ano que passa vai sempre mudando alguma coisa no carnaval então para mim esse workshop é fundamental para nosso aprendizado dentro da Harmonia”, falou Carlos Carvalho.
Logo a seguir, sensível, Charles conversava sobre assuntos relativos a organização da mesa da equipe de harmonia e a recepção de convidados e parentes nos dias de eventos da escola. Dizia sobre o refinamento da acolhida, falava sobre afetividade, um item de grande valor em uma equipe de harmonia; ele discutia com a equipe a humanização na forma do trato entre os componentes. A importante maneira de se olhar o outro além da sua função no grupo e no espaço do samba. Na verdade, ele poetizava sobre o poder de cura do samba e seus espaços. O grupo acompanhava sua abertura do evento com atenção e, bastante interessado, demonstrava vontade de conhecer e discutir sobre postura, atividades, técnicas relacionadas ao fazer da equipe. O workshop se concentrou na explanação dos assuntos, que foram apresentados com clareza e muito conhecimento, por uma mesa composta pelos artistas e pensadores, o carnavalesco Eduardo Gonçalves e os diretores culturais e enredistas Raphael Homem e Igor Damásio, que propuseram e estão executando o enredo da agremiação – JOVELINA, a pérola negra do samba – num trocar de experiências, numa entrega didática no entanto coloquial, de informações relevantes.
Falou-se então, sobre: o fundamental organograma; o caderno Abre-Alas; o manual do julgador. E a seguir sobre tema, enredo e seus recortes, narrativa. A maneira coloquial de se falar sobre estes assuntos prendia a atenção dos participantes.
De acordo com Sergio Magalhães, na Equipe de Harmonia há quatro anos, e que também atua na Portela, a importância do assunto deste workshop para a equipe de harmonia, assim se dá: “Uma verdadeira aprendizagem para equipe. Um conhecimento amplo do julgamento do quesito enredo.”
E para Marcia Miceli, diretora de harmonia há cinco anos, que também atua na mesma equipe no Salgueiro: “Fazendo analogia com uma estrutura empresarial, temos os níveis estratégico, tático e operacional. A presidência e a diretoria de carnaval traçam a estratégia. O carnavalesco planeja taticamente como desenvolver os ideias da diretoria executiva. E o harmonia faz acontecer, realiza os objetivos da escola alinhados as expectativas da presidência. Esse workshop em especial é fundamental para a equipe de harmonia entender o que precisa fazer para acontecer o desfile e como esse time vai montar a procissão de acordo com o projeto traçado.”
Também foram abordadas questões sobre canto e a importância da equipe saber a letra do samba! Sobre o incentivo as passistas, baianas e composição de carros para que cantem.
Percebia-se a grande preocupação com o canto e a organização da escola para desfilar, inclusive das composições dos carros. Igualmente, sobre a importância do projeto da escola para alcançar sucesso no desfile. Toda a equipe tem de conhecer o projeto, acompanhar o desenvolvimento dele, posto que a escola de samba é um terreiro que se desloca no carnaval para falar de temas, assuntos diversos, todavia todos de importância pois, é a fala daquela comunidade. Segundo Raphael Homem, enredista e diretor do Departamento Cultural: “O desfile de uma escola de samba é fruto de um trabalho no e para o coletivo. Para um bom funcionamento, é importante o diálogo entre todas as partes envolvidas. No caso específico de hoje, era importante que os componentes da Harmonia dimensionassem a importância das suas atuações em diferentes quesitos, como no Enredo. Um elemento fora de lugar hora de montar a escola, por exemplo, pode trazer penalidades em enredo. Uma fantasia sem um pedaço, em fantasia. O papel do Harmonia passa por muitos lugares. Trazer o entendimento completo do projeto que será levado para a avenida deveria ser obrigação de todas as direções das agremiações. A Lins está fazendo a sua parte. O Departamento Cultural da Lins Imperial, alguns anos atrás, criou o Papo de Quinta em que consistia em debater quesitos entre Harmonia, outros departamentos da escola e convidados de outras agremiações.”
Perguntei a dois componentes da equipe sobre como eles avaliaram o encontro da equipe de harmonia e que valor tem esse tipo de evento para a construção do trabalho da equipe de harmonia. Alexandre Felippe respondeu: “Achei de fundamental importância e bastante proveitoso este encontro da equipe de harmonia com os integrantes da comissão de carnaval. O valor é imensurável para o desenvolvimento do trabalho da nossa harmonia em consonância com os interesses de excelência e total comprometimento e engajamento de todos os envolvidos na condução e execução dos nossos trabalhos.
Parabenizo a Lins Imperial pelo protagonismo e por esta rara e excelente iniciativa. “Temos o compromisso de conduzir esta querida escola a Sapucaí, local de onde nunca deveria ter saído”. E Cida Santos, demonstrando grande interesse pelas questões abordadas: “Faço parte do segmento Harmonia da Lins e o que tenho testemunhado em relação ao trabalho e preparo que vem sendo realizado com esta atual gestão é algo fantástico para o nosso segmento de Harmonia. Nestes Workshops que vêm sendo realizados, e principalmente neste encontro de hoje com a Comissão de Carnaval, os temas abordados e assuntos tratados foram de suma importância para o aprimoramento no trabalho do nosso segmento em sua totalidade, para que possamos estar de volta a Série Ouro.”
O carnavalesco Eduardo Gonçalves considerou muito valiosa a iniciativa e a participação da equipe, tanto para aquisição dos conhecimentos quanto para a união dos segmentos. Segundo nos afirmou: “O Workshop promovido pela harmonia da Lins Imperial é um marco para a escola de samba. Ele acontece de forma positiva e une o departamento de harmonia com o departamento Cultural para trocas de conhecimento e de aprendizados extremamente importantes e necessários para fazermos um excelente desfile no dia que apresentaremos o nosso tema de enredo, “Jovelina, a pérola negra do samba”. É um momento para tiramos dúvidas, conhecermos o projeto e principalmente interagir na construção dessa arte coletiva que é o nosso projeto de Carnaval”.
E ele também nos respondeu que já havia participado de um momento como aquele, de estudos e trocas com uma equipe de harmonia: “Em 2012 para o projeto de carnaval da escola de samba Alegria da Zona Sul, através do incentivo do Diretor de Carnaval Maurício Dias. Na ocasião, tivemos a oportunidade de participar de uma mesa para refletimos sobre o tema de enredo sobre o carnaval que seria apresentado em homenagem ao Bloco Bola Preta. Foi tudo muito importante, pois contamos com a participação da equipe de harmonia da escola, alguns diretores e formadores de opinião para trocas sobre o conhecimento do enredo, harmonia e outros quesitos. É sempre maravilhoso esses encontros e espero que nos próximos encontros outros segmentos da escola possam comparecer. Os diretores Charles Lopes e Carlinhos Portela e todos os diretores de harmonia presentes estão de parabéns pela iniciativa”.
Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.
Crédito das fotos: acervo pessoal
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