Rio. Começou, na noite deste domingo (26), a temporada de ensaios técnicos gerais para as escolas de samba do Grupo de Acesso carioca.
As apresentações simulam os desfiles oficiais na Marquês de Sapucaí e se tornaram um dos momentos mais importantes do universo das agremiações e dos apaixonados pela festa maior da cultura popular no país.
Neste domingo, União do Parque Acari, Em Cima da Hora, Inocentes de Belford Roxo e das mais queridas agremiações do Carnaval do Rio de Janeiro, a União da Ilha do Governador, estiveram na pista.




SRzd e Arpoador juntos
A equipe de comentaristas do portal SRzd esteve na Sapucaí, nas instalações do camarote Arpoador, o maior do sambódromo, e conferiu de perto tudo o que rolou. Veja o que eles disseram sobre cada uma das apresentações!
Alex Rangel (comissão de frente e passistas): A União do Parque Acari iniciou o primeiro dia de ensaios técnicos da Série Ouro trazendo sua Comissão coreografada por Valci Pelé com passos bem característicos de samba com um elenco mesclado, porém majoritário masculino.
Logo na entrada do jurado um componente perdeu seu chapéu, mas não deixou isso atrapalhar sua evolução. Acho que teremos algum tripé na sua apresentação oficial, tendo em vista que a maior parte do elenco estava posicionada do meio da pista para a grade o que na minha opinião isso prejudica um pouco a visão da apresentação.
Sobre a ala de passistas os malandros vieram na frente das cabrochas, diferentemente da maioria que vem com elas, mas isso não atrapalhou em nada a apresentação da ala que deu seu recado no pé.
A Comissão de Frente da Em Cima da hora chegou com uma coreografia forte dentro da proposta do enredo e eu acredito que os coreógrafos Carlos Aleixo e Luciana Yegros apresentaram o que veremos no desfile oficial e acho também que causará mais efeito ainda com o figurino.
A ala de passistas da Em Cima da Hora trouxe muito samba e passos marcados no refrão, particularmente, acho isso um recurso que bem usado da pra descansar e quando retomar com samba no pé quebrar tudo do jeito que eles fizeram.
A Inocentes abriu seu ensaio com muita garra querendo curar todos os males, trazendo sua comissão coreografada pela Juliana Frathane que veio comandando um elenco com uma energia empolgante e uma coreo cheia de força, dinâmica e uma movimentação brilhante!
A ala de passistas da Inocentes está de parabéns! Veio com a energia lá em cima e muito samba no pé. Mais uma que mesclou samba com passos marcados no refrão final do samba muito sincronizados com a bateria e uma retomada de tirar o fôlego.
A União da Ilha abriu seu ensaio com a figura principal do enredo em sua Comissão coreografada por Márcio Moura, que trouxe variações de desenhos coreográficos bem executada, mas acredito que veremos coisas diferentes no desfile oficial, vamos aguardar e ver o que nos reserva.
A ala de passistas da Ilha veio muito animada riscando o chão com muito samba no pé e com os passistas misturados, do jeito que eu particularmente gostaria de ver mais as outras alas, acho essa interação dos malandros e das cabrochas mais legal do que eles separados.
Eliane Souza (MSPB): “Nas salas, nos salões e terreiros”… parecendo ouvir o dedilhar de infinitos violões, a União do Parque Acari fez seu ensaio técnico. Pude observar as baianas, mães singelas, em sua evolução e, também, a presença sempre sagrada da Velha Guarda, quase fechando a procissão do samba! Passistas evoluindo, pareciam brincar com o ritmo, dolentes em sua performance. Agora, os casais!!! O terceiro par – Cristiano Foguinho e Dandara Luiza – em discreto movimento do minueto acrescentados aos característicos, passou com competência! No meio do cortejo, o segundo casal – Rodrigo Machado e Tamires Ribeiro – executando com destreza os movimentos característicos do bailado! E, em dupla jornada, o primeiro mestre-sala (segundo na Mangueira) veio executando o fino do bailado, que atualizado, deixou a poesia primeira dos antigos sambistas, rabiscada no chão da Avenida, cortejando a porta-bandeira (nosso prêmio SRzd, pelo Acesso, em 2019) que executava giros com segurança e muita graça, e louvando o pavilhão de Acari! Salve Renan Oliveira e Laís Lúcia!
“E a rua se torna um só Carnaval. Nossa ópera é ritual”… minha escola no ensaio técnico! Fechando o cortejo da Em Cima da Hora três damas da Ala da Velha Guarda, como quem dando a finalização do ritual. Surpresa na Ala das Baianas: Regina Matias, minha afilhada de samba, com seus giros marcantes, me pedindo a benção! Emoção pura. Em algum instante acreditei que o moço do surdo tocava somente para mim! e, meu pavilhão sagrado, lindamente conduzido por Marlon Flores e Winnie Lopes – o primeiro casal – que vieram executando os movimentos característicos do bailado, numa performance moderna! O casal – Ewerton Anchieta e Alana Couto em trajes muito bonitos, conduziu com galhardia o segundo pavilhão! E a mimosa Clarice Nascimento, faceira e feliz, muito bem cortejada por Pedro Lucas, desfraldando o terceiro pavilhão pela avenida! Como estava escrito no banner: “ sou Cavalcanti, sou raiz”! Ah, minha escola!
“O corpo são conduz a mente Eu sigo em frente vou na força da raiz…”. Corpos em movimento radiante na dança do samba na Inocentes! Elas vestidas de vermelho sangue; eles de azul e branco. Foi assim que a Ala de Passistas da escola veio trazendo o samba no pé! Seguindo em frente, em meio a procissão de “corações inocentes”! A bateria garantindo o ritmo que convidava a gente a participar! Daniel Silva, que conheci menino, o intérprete potente garantindo o samba. E na frente da escola, após a comissão de frente, o primeiro casal – Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro – em branco de paz, performando e atualizadíssimos em seus gestos e movimentos, o ancestral bailado! Gentileza, cortesia e muita destreza na evolução de Paulo Erick e Winnie Delmar, que trouxeram o segundo pavilhão; e, um bonito bailado apresentou o terceiro casal – Raison Alves e Ludmyla Paaltiel – com singela desenvoltura!
“Mas o povo que lhe deu a mão
Invadiu a cena, te fez eterna
A massa toda gritou e te reverenciou
Pra tudo virar ba-der-na!”
Ilha, um espetáculo no ensaio técnico! Trouxe Ala das Crianças! Baianas de torço e abadá! Ala de passistas dizendo no pé! E Velha Guarda cuidadosa! Uma bateria de tirar o fôlego, mantendo o ritmo e fazendo a gente sambar! E os casais? Os dois em dupla jornada: o segundo, Yuri Pires e Cassiane Figueiredo, dançam como primeiro par no Acadêmicos do Dendê. Vieram num atualizado bailado, com performance personalíssima! E o primeiro? Segundo da Beija-Flor de Nilópolis! Simplesmente escandaloso na exibição, um bailado executado com firmeza, com naturalidade de antigos sambistas em corpos capacitados de sambistas contemporâneos! Um prazer apreciar a performance, na qual os movimentos obrigatórios de cada um, exibiu a potência do ser mestre-sala e porta-bandeira! Axé David e Fernanda Love! Encantada.
Célia Souto (evolução e harmonia): A União do Parque Acari apresentou alguns detalhes a serem melhorados, como, tenacidade, entonação e força no canto. A irregularidade no andamento prejudicou o canto e a evolução, pois não estava devidamente sincronizado.
A comunicação entre ritmo e canto apresentou irregularidades no andamento. Pontos Positivos: Comprometimento; a maioria dos componentes e alas demonstraram comprometimento e seriedade em relação ao canto e à dança. O ensaio contou com a presença da maioria dos componentes.
A União do Parque Acari apresentou um ensaio com pontos a serem melhorados, mas também demonstrou comprometimento e seriedade por parte dos componentes. Com ajustes no canto, andamento e comunicação entre ritmo e canto, a escola pode melhorar sua performance e apresentar um desfile mais consistente.
A Em Cima da Hora entra na Avenida e não apresenta empenho em relação ao canto e dança, os componentes não demonstram comprometimento com a totalidade do canto sendo que a maior parte deles não estão cantando, devido a isso o chão da escola não apresenta força, garra e empolgação entre canto e dança.
A Inocentes entra na Avenida demonstrando um bom desempenho em relação ao canto, os componentes cantam o samba na sua totalidade com segurança , empenho e força. O entrosamento entre canto e dança é um ponto a se destacar durante o ensaio. É possível observar que está sendo desenvolvido um bom trabalho em relação a harmonia e evolução.
União da Ilha do Governador! A última escola a desfilar entra na Avenida apresentando canto forte, cadenciado e bem entrosado com o ritmo. Os componentes evoluem com graciosidade e fluidez. Ensaio repleto de animação, movimento e empolgação. Destaco a percepção rítmica, auditiva e o entrosamento entre componentes , músicos e ritmistas, demonstrando um ótimo trabalho!
Bruno Moraes (bateria e samba-enredo): Começo meu comentário levantando um ponto no carro de som que acompanhou a primeira e terceira escola, estava muito baixo, com pouca definição das vozes e o que prejudicou um pouco a apresentação dos cantores e cordas e a conexão com as baterias.
A bateria do Parque Acari apresentou um trabalho muito bem ensaiado, com ritmo coeso e bossas longas. Os Mestres Daniel e Erik estão subindo de nível a cada ano.
A bateria da Em Cima da Hora colocou um andamento bem pra cima, com arranjos ousados e complexos. Mestre Léo Capoeira é o Mestre com mais tempo na Série Ouro e bem experiente, certamente saberá o que de melhor apresentar aos julgadores.
A bateria da Inocentes fez um ensaio bem correto, mesmo com poucos ensaios da escola, o Mestre Washington Paz aproveitou bastante a galera da casa pra conseguir um bom desempenho. Destaque para a ala de tamborim.
A bateria da Ilha é uma bateria com estrutura e nível de Grupo Especial. Ponto. Mestre Marcelo aproveita as características já conhecidas da escola, como o toque de caixas, tamborins 3×1, bossas firmes e um andamento confortável. Falar da bateria da ilha é muito fácil.
O samba da União Parque Acari foi muito bem interpretado por Leozinho Nunes e Tainara Martins, mesmo o carro de som tendo prejudicado um pouco a performance do bom samba da escola. Moacir Luz, um dos autores do samba, não erra!
A Em Cima da Hora tem uma obra interpretada com bastante personalidade pelo Charles Silva. Com nuances lindas na segunda e uma primeira bem forte, o samba é um dos melhores do grupo.
A Inocentes de Belford Roxo veio com os intérpretes Daniel Silva e Thiago Brito defendendo seu samba, que tem algumas partes bem previsíveis, mas funcionais. Cláudio Russo e cia sabem como fazer um samba pra desfile. Foi uma escola que pegou o mesmo carro de som fraco da primeira, o que prejudicou um pouco o desempenho.
A Ilha certamente é uma das escolas com o samba que mais vai levantar o público no desfile, com um refrão forte e de fácil assimilação. Na estreia do Tem Tem Jr. na escola, o intérprete teve uma performance de alto nível. O casamento do samba, cordas e bateria é algo muito entrosado e lindo de se ouvir.
Jaime Cezário (alegoria, fantasia e enredo): Com um enredo que celebra a importância do violão na música brasileira, a União do Parque Acari iniciou o ensaio técnico deste domingo. A escola apresentou-se organizada, com um tripé temático coeso e um bom número de componentes. Entretanto, algumas alas passaram sem cantar o samba, comprometendo a sincronia do canto. Essa alternância no canto em parte da escola e a ausência de canto em outras comprometeram a apresentação. A harmonia da escola precisará trabalhar bastante o canto dos componentes. Felizmente, ainda há tempo para que tudo esteja impecável no dia da apresentação oficial.
A segunda escola a fazer seu ensaio foi a Em Cima da Hora. A tradicional escola do bairro de Cavalcanti traz um enredo carregado de religiosidade afro-brasileira, uma homenagem aos terreiros de Candomblé. Sua apresentação apresentou problemas similares aos da primeira escola: falta de canto das alas. A comunidade não compareceu em peso e apresentou-se com um pequeno contingente. Outra agremiação que deverá trabalhar com intensidade para consertar essa falha no canto. A sorte é que ainda há tempo e tudo poderá ser corrigido para o desfile oficial.
A Inocentes de Belford Roxo prepara para o Carnaval 2025 uma reedição do enredo “Ewe, a cura vem da floresta” e, com isso, trouxe uma agradável surpresa neste ensaio técnico: os componentes finalmente estavam cantando o samba. É ótimo quando isso acontece, pois a energia deles contagia o público e todos aproveitam a apresentação. A escola se apresentou com um número menor de componentes, mas o entusiasmo contagiante garantiu um ensaio agradável e correto.
Para o grandioso encerramento, um bálsamo de amor ao samba floresceu: a União da Ilha do Governador! Escola que emana grandeza, recusando-se a se acostumar na Série Ouro, pois seu lugar é entre as estrelas do Especial. Com organização exemplar, suas alas desfilaram uniformizadas, e cada componente cantando com a alma, pulsando em uníssono com o coração. Um arrepio percorreu a avenida, a Ilha encantou! Que magia foi essa que testemunhamos?
A emoção transbordou, difícil é contê-la diante desse belo ensaio técnico. Parabéns, Ilha! Vocês trouxeram de volta a chama da emoção. Um sopro de vida e alegria, reacendendo a chama da folia.
CURTA +:
+ VEJA AS FOTOS DA NOITE DE ENSAIOS TÉCNICOS NA SAPUCAÍ (em breve)
+ ASSISTA AOS VÍDEOS DA NOITE DE ENSAIOS TÉCNICOS NA SAPUCAÍ
+ VEJA A AVALIAÇÃO DOS COMENTARISTAS DO SRzd
Folia que segue!
+ confira o calendário:
domingo, 2 de fevereiro:
18h: Tradição
19h: Unidos da Ponte
20h: Unidos de Bangu
21h: Porto da Pedra
domingo, 9 de fevereiro:
18h: Arranco
19h: Vigário Geral
20h: União de Maricá
21h: Estácio de Sá
domingo, 16 de fevereiro:
18h: Botafogo Samba Clube
19h: Acadêmicos de Niterói
20h: São Clemente
21h: Império Serrano
Em 2025, os desfiles da Série Ouro acontecem nos dias 28 de fevereiro e 1º de março.
(confira abaixo a ordem oficial).
28 de fevereiro (sexta-feira):
1º – Botafogo Samba Clube
2º – Arranco do Engenho de Dentro
3º – Inocentes de Belford Roxo
4º – Unidos da Ponte
5º – Estácio de Sá
6º – União de Maricá
7º – Em Cima da Hora
8º – União da Ilha do Governador
1º de março (sábado):
1º – Tradição
2º – União do Parque Acari
3º – Acadêmicos de Vigário Geral
4º – Unidos de Bangu
5º – Unidos do Porto da Pedra
6º – São Clemente
7º – Acadêmicos de Niterói
8º – Império Serrano
*Fotos: Juliana Dias/SRzd

