Um domingo onde o grito dos excluídos terminou em festa nos botequins do Irajá

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Amigos do samba e do Carnaval, chegamos ao domingo onde a Sapucaí faria seu teste definitivo de som e da nova iluminação com o ensaio técnico da campeã e vice de 2022: Grande Rio de Caxias e a Beija-Flor de Nilópolis, respectivamente. Era dia do povo da Baixada Fluminense mostrar seu orgulho de terem sido os melhores […]

POR Redação SRzd14/02/2023|10 min de leitura

Um domingo onde o grito dos excluídos terminou em festa nos botequins do Irajá

Ensaio técnico da Grande Rio. Foto: SRzd

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Amigos do samba e do Carnaval, chegamos ao domingo onde a Sapucaí faria seu teste definitivo de som e da nova iluminação com o ensaio técnico da campeã e vice de 2022: Grande Rio de Caxias e a Beija-Flor de Nilópolis, respectivamente.

Era dia do povo da Baixada Fluminense mostrar seu orgulho de terem sido os melhores no último Carnaval. A torcida era para que não tivéssemos a mesma chuvarada do dia anterior, mas, como de praxe desses últimos dias no Rio de Janeiro, a chuva veio, mas não foi forte. O público chegou com vontade, talvez o dia com maior contingente nas arquibancadas, frisas e camarotes.

Era uma noite de gala; de um lado da Avenida víamos o azul e branco da Escola de Nilópolis, do outro, o verde, branco e vermelho de Caxias, marcando a presença de suas torcidas apaixonadas.

A primeira sensação da noite foi quando o apresentador oficial dos desfiles anunciou que seria mostrada a nova iluminação cênica da Avenida. O coração de todos bateu mais forte quando todas as luzes foram apagadas e o show luminotécnico foi iniciado. Para uma maior emoção, as luzes apareciam de acordo com a música que era tocada pelas caixas de som. A sensação era de que um grande espetáculo estava para iniciar, não devendo em nada a iluminação de outros supershows que acontecem no planeta. A cada ano, os Desfiles das Escolas de Samba vão se tornando mais
espetaculares.

Segundo informações, esta iluminação é para ajudar e complementar o desfile de cada agremiação. Fico aqui tentando entender como vão fazer, afinal, cada projeto idealizado pelo carnavalesco tem necessidades diferentes no sentido da iluminação. Seria necessário criar uma programação para cada escola de samba, a qual seria iniciada no zerar do cronometro para começo do desfile, e num calculo matemático, determinar o posicionamento de cada ala, alegoria, casal de mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente e tudo mais, de acordo com sua movimentação e evolução longo da passarela. Fico, com meus botões, aqui, imaginando, caso aconteça um imprevisto como o que aconteceu com o Desfile da Portela, São Clemente e Mocidade Independente em 2022, ocasionando um atraso da apresentação da escola, algo absolutamente normal, numa situação que envolve pessoas e engrenagens, que as vezes falham e surgem os imprevistos.

Mas então, vamos ter uma iluminação totalmente desencontrada? Luz cênica em espetáculo a céu aberto? Temos Parintins, mas no caso deles, trata-se de um anfiteatro, onde todas as alegorias são montadas com movimento, mas paradas diante do público, e os grupos cênicos movimentam-se em círculos, ou indo para frente ou para trás. Nada parecido com a nossa apresentação, que possui uma evolução linear sempre à frente. Enfim, curiosidades e dúvidas de um carnavalesco/arquiteto, agora colunista, com “know how” de trinta anos de desfiles pelo Brasil. Voltemos para o ensaio técnico!

A primeira a se apresentar foi ela, “a Deusa da Passarela”; a Beija-Flor de Nilópolis. A Avenida se vestiu de uma bruma azul, causada pela fumaça dos sinalizadores. Adoro esse esfumaçado, causa uma sensação de algo mágico, um clima perfeito para a apresentação da Escola de Samba. A agremiação chegou querendo agitar, botando a bateria dos mestres Rodney e Plínio para sacudir o público, que sempre está pronto para ovacioná-la.

Ah, Beija-Flor… pensar em você é lembrar dos grandes carnavais criados pelo Mestre Joãozinho Trinta. Outro patrimônio dessa época, é o maravilhoso Neguinho da Beija-Flor. Quem não se lembra dos sambas antológicos da escola que se eternizaram na sua voz. Tenho tantos, mas vou naquele que foi o primeiro, afinal, o primeiro a gente nunca esquece. O ano era 1976 e o enredo “Sonhar com Rei dá Leão!”, o samba começava assim:

“Sonhar com anjo é borboleta

Sem contemplação

Sonhar com rei dá leão

Mas nesta festa de real valor, não erre não

O palpite certo é Beija-Flor (Beija-Flor)”

Desse Carnaval em diante, conquistou, além dos nossos corações, nada menos que 14 campeonatos, a terceira em número de títulos. Uma potência do universo do das escolas de samba! Aprendemos com a comunidade de Nilópolis como é o cantar a plenos pulmões! O Nilopolitano quando vai para Avenida representar a sua paixão, se incorpora de tanta energia que parece um coral. Deixando um recado a todas as outras comunidades coirmãs; “se querem vencer, vão ter que cantar e vibrar mais do que a gente”. Essa é a Beija-Flor, escola de samba precursora de fazer do desfile um espetáculo!

O enredo para o Carnaval de 2023 é “Brava Gente! O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência”, dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues. Segundo informações, vão utilizar o bicentenário da Independência para realizar um debate profundo acerca dos rumos do país, cobrando mais direitos sociais, igualdade, liberdade de expressão e valorização da cultura popular. No ensaio técnico do domingo, a escola entrou ligada no 220 volts, com todos seus segmentos querendo mostrar o melhor, afinal, a escola sempre vem para buscar o título. O grande destaque é sempre a comunidade, imbuída da sua responsabilidade de mostrar a força do povo nilopolitano. Cantou de início ao fim seu samba com força e garra, não deixando cair em nenhum momento.

Pelo que foi percebido, a escola trará uma grande quantidade de alas coreografadas, algo perigoso, pois um erro na execução da coreografia, abre-se um buraco, algo visto na noite de domingo. Outra questão percebida, foi com relação a sua evolução. Teve um início devagar e tranquilo, mas teve que acelerar do meio para o final. Algo que sua competente equipe técnica de desfile deve ter observado e que estará resolvido, com certeza, no dia do desfile oficial. No mais, foi pura alegria e energia, cantando seu samba, que tem o traço personal da agremiação, e ainda possui aquelas frases que o componente ama, e bate no peito orgulhoso, pra cantar:

“Deixa Nilópolis cantar!

Pela nossa independência, por cultura popular

Ô abram alas ao cordão dos excluídos

Que vão à luta e matam seus dragões

Além dos carnavais, o samba é que me faz

Subversivo Beija-Flor das multidões”

A próxima a se apresentar era a grande campeã de 2022: a Grande Rio. A Avenida se vestiu nas três cores da escola de Caxias, com uma profusão de bandeiras nas arquibancadas e a presença de muitos sinalizadores, soltando a famosa fumaça. O detalhe inusitado deste ensaio, começou antes da escolar iniciar seu esquenta, uma caminhonete lotada de latas de cerveja, néctar adorado pelo seu homenageado, o cantor e compositor Zeca Pagodinho, foi distribuído ao público das frisas e pista. Confesso à você, amigo leitor, que bebi uma cerveja em homenagem ao Zeca, afinal, também sou filho de Deus!

Nesse clima de pura festa, o interprete oficial começou o esquenta com o samba campeão, em homenagem ao Orixá Exú. Amigos, que loucura, a Avenida veio abaixo. Pareciam estar todos embriagados de alegria e emoção. Aviso a todos, que foi só uma latinha… Era perceptível uma energia de felicidade geral, afinal, esse campeonato de 2022 foi uma unanimidade no coração do povão.

A Grande Rio traz este ano o enredo “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!”, dos carnavalescos Gabriel Hadad e Leonardo Bora. E vai homenagear o cantor e compositor Zeca Pagodinho, numa viagem pela Zona Norte e baixada, na busca do homenageado. Vai mostrar tudo que o carioca suburbano adora, desde a fé no Orixá Ogum, a distribuição de doces no dia de Cosme e Damião, o Cacique de Ramos, o bairro de Irajá e Del Castilho, e terminando a folia no seu sítio em Xerém. Um Carnaval que tem tudo para novamente arrebatar o povo da Sapucaí. Não tem nada de muito complicado, não cria nenhuma tese sobre o homenageado. O enredo conseguiu pegar o espirito irreverente do Zeca, e traduzir de forma clara, naquilo que ele e os amantes do bom Carnaval amam: pura diversão e emoção! O único senão, ao meu ver, é a posição da Grande Rio, segunda a desfilar no domingo de Carnaval. Era um desfile para fechar ou ser a penúltima no domingo ou segunda, mas fazer o que?

O samba é considerado um dos melhores do Carnaval de 2023, muita gente o aponta como o melhor. Alegre, divertido e irreverente, fez nesse ensaio técnico os componentes evoluírem, cantando forte e alto. A comunidade de Caxias entrou sem medo de ser feliz, querendo festejar. Foi uma espécie de celebração na Avenida do título de 2022. Ponto alto do ensaio foi a presença do homenageado, que veio numa pequena alegoria com a família, levando o público ao delírio.

O samba não deixou por menos, com o ritmo forte da bateria de Mestre Fafá, cumpriu seu papel de grande obra, e ajudou muito na evolução da escola e na comunicação com o público presente. A direção de harmonia deve se atentar a evolução apresentada no ensaio, pois não foi uniforme; teve momentos de lentidão e outros de aceleração. Um fato que deve ter sido percebido pela técnica da escola e que, com certeza, vai estar perfeito no dia do seu desfile oficial.

E nesse clima de alto astral, deixado pela Tricolor de Caxias, vamos lembrar do primeiro refrão do samba, onde a comunidade incorporada cantou com a maior alegria. Ele diz assim:

“Nas bandas do Irajá

Gelada no botequim

Assim vou vadiar até no Gurufim

Se tem patota, Ibeji e ajeum

Salve, Cosme e Damião, Doum”

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd


Leia também:

+ Confira a ordem de desfile da Série Ouro no Carnaval 2023


 

Amigos do samba e do Carnaval, chegamos ao domingo onde a Sapucaí faria seu teste definitivo de som e da nova iluminação com o ensaio técnico da campeã e vice de 2022: Grande Rio de Caxias e a Beija-Flor de Nilópolis, respectivamente.

Era dia do povo da Baixada Fluminense mostrar seu orgulho de terem sido os melhores no último Carnaval. A torcida era para que não tivéssemos a mesma chuvarada do dia anterior, mas, como de praxe desses últimos dias no Rio de Janeiro, a chuva veio, mas não foi forte. O público chegou com vontade, talvez o dia com maior contingente nas arquibancadas, frisas e camarotes.

Era uma noite de gala; de um lado da Avenida víamos o azul e branco da Escola de Nilópolis, do outro, o verde, branco e vermelho de Caxias, marcando a presença de suas torcidas apaixonadas.

A primeira sensação da noite foi quando o apresentador oficial dos desfiles anunciou que seria mostrada a nova iluminação cênica da Avenida. O coração de todos bateu mais forte quando todas as luzes foram apagadas e o show luminotécnico foi iniciado. Para uma maior emoção, as luzes apareciam de acordo com a música que era tocada pelas caixas de som. A sensação era de que um grande espetáculo estava para iniciar, não devendo em nada a iluminação de outros supershows que acontecem no planeta. A cada ano, os Desfiles das Escolas de Samba vão se tornando mais
espetaculares.

Segundo informações, esta iluminação é para ajudar e complementar o desfile de cada agremiação. Fico aqui tentando entender como vão fazer, afinal, cada projeto idealizado pelo carnavalesco tem necessidades diferentes no sentido da iluminação. Seria necessário criar uma programação para cada escola de samba, a qual seria iniciada no zerar do cronometro para começo do desfile, e num calculo matemático, determinar o posicionamento de cada ala, alegoria, casal de mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente e tudo mais, de acordo com sua movimentação e evolução longo da passarela. Fico, com meus botões, aqui, imaginando, caso aconteça um imprevisto como o que aconteceu com o Desfile da Portela, São Clemente e Mocidade Independente em 2022, ocasionando um atraso da apresentação da escola, algo absolutamente normal, numa situação que envolve pessoas e engrenagens, que as vezes falham e surgem os imprevistos.

Mas então, vamos ter uma iluminação totalmente desencontrada? Luz cênica em espetáculo a céu aberto? Temos Parintins, mas no caso deles, trata-se de um anfiteatro, onde todas as alegorias são montadas com movimento, mas paradas diante do público, e os grupos cênicos movimentam-se em círculos, ou indo para frente ou para trás. Nada parecido com a nossa apresentação, que possui uma evolução linear sempre à frente. Enfim, curiosidades e dúvidas de um carnavalesco/arquiteto, agora colunista, com “know how” de trinta anos de desfiles pelo Brasil. Voltemos para o ensaio técnico!

A primeira a se apresentar foi ela, “a Deusa da Passarela”; a Beija-Flor de Nilópolis. A Avenida se vestiu de uma bruma azul, causada pela fumaça dos sinalizadores. Adoro esse esfumaçado, causa uma sensação de algo mágico, um clima perfeito para a apresentação da Escola de Samba. A agremiação chegou querendo agitar, botando a bateria dos mestres Rodney e Plínio para sacudir o público, que sempre está pronto para ovacioná-la.

Ah, Beija-Flor… pensar em você é lembrar dos grandes carnavais criados pelo Mestre Joãozinho Trinta. Outro patrimônio dessa época, é o maravilhoso Neguinho da Beija-Flor. Quem não se lembra dos sambas antológicos da escola que se eternizaram na sua voz. Tenho tantos, mas vou naquele que foi o primeiro, afinal, o primeiro a gente nunca esquece. O ano era 1976 e o enredo “Sonhar com Rei dá Leão!”, o samba começava assim:

“Sonhar com anjo é borboleta

Sem contemplação

Sonhar com rei dá leão

Mas nesta festa de real valor, não erre não

O palpite certo é Beija-Flor (Beija-Flor)”

Desse Carnaval em diante, conquistou, além dos nossos corações, nada menos que 14 campeonatos, a terceira em número de títulos. Uma potência do universo do das escolas de samba! Aprendemos com a comunidade de Nilópolis como é o cantar a plenos pulmões! O Nilopolitano quando vai para Avenida representar a sua paixão, se incorpora de tanta energia que parece um coral. Deixando um recado a todas as outras comunidades coirmãs; “se querem vencer, vão ter que cantar e vibrar mais do que a gente”. Essa é a Beija-Flor, escola de samba precursora de fazer do desfile um espetáculo!

O enredo para o Carnaval de 2023 é “Brava Gente! O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência”, dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues. Segundo informações, vão utilizar o bicentenário da Independência para realizar um debate profundo acerca dos rumos do país, cobrando mais direitos sociais, igualdade, liberdade de expressão e valorização da cultura popular. No ensaio técnico do domingo, a escola entrou ligada no 220 volts, com todos seus segmentos querendo mostrar o melhor, afinal, a escola sempre vem para buscar o título. O grande destaque é sempre a comunidade, imbuída da sua responsabilidade de mostrar a força do povo nilopolitano. Cantou de início ao fim seu samba com força e garra, não deixando cair em nenhum momento.

Pelo que foi percebido, a escola trará uma grande quantidade de alas coreografadas, algo perigoso, pois um erro na execução da coreografia, abre-se um buraco, algo visto na noite de domingo. Outra questão percebida, foi com relação a sua evolução. Teve um início devagar e tranquilo, mas teve que acelerar do meio para o final. Algo que sua competente equipe técnica de desfile deve ter observado e que estará resolvido, com certeza, no dia do desfile oficial. No mais, foi pura alegria e energia, cantando seu samba, que tem o traço personal da agremiação, e ainda possui aquelas frases que o componente ama, e bate no peito orgulhoso, pra cantar:

“Deixa Nilópolis cantar!

Pela nossa independência, por cultura popular

Ô abram alas ao cordão dos excluídos

Que vão à luta e matam seus dragões

Além dos carnavais, o samba é que me faz

Subversivo Beija-Flor das multidões”

A próxima a se apresentar era a grande campeã de 2022: a Grande Rio. A Avenida se vestiu nas três cores da escola de Caxias, com uma profusão de bandeiras nas arquibancadas e a presença de muitos sinalizadores, soltando a famosa fumaça. O detalhe inusitado deste ensaio, começou antes da escolar iniciar seu esquenta, uma caminhonete lotada de latas de cerveja, néctar adorado pelo seu homenageado, o cantor e compositor Zeca Pagodinho, foi distribuído ao público das frisas e pista. Confesso à você, amigo leitor, que bebi uma cerveja em homenagem ao Zeca, afinal, também sou filho de Deus!

Nesse clima de pura festa, o interprete oficial começou o esquenta com o samba campeão, em homenagem ao Orixá Exú. Amigos, que loucura, a Avenida veio abaixo. Pareciam estar todos embriagados de alegria e emoção. Aviso a todos, que foi só uma latinha… Era perceptível uma energia de felicidade geral, afinal, esse campeonato de 2022 foi uma unanimidade no coração do povão.

A Grande Rio traz este ano o enredo “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!”, dos carnavalescos Gabriel Hadad e Leonardo Bora. E vai homenagear o cantor e compositor Zeca Pagodinho, numa viagem pela Zona Norte e baixada, na busca do homenageado. Vai mostrar tudo que o carioca suburbano adora, desde a fé no Orixá Ogum, a distribuição de doces no dia de Cosme e Damião, o Cacique de Ramos, o bairro de Irajá e Del Castilho, e terminando a folia no seu sítio em Xerém. Um Carnaval que tem tudo para novamente arrebatar o povo da Sapucaí. Não tem nada de muito complicado, não cria nenhuma tese sobre o homenageado. O enredo conseguiu pegar o espirito irreverente do Zeca, e traduzir de forma clara, naquilo que ele e os amantes do bom Carnaval amam: pura diversão e emoção! O único senão, ao meu ver, é a posição da Grande Rio, segunda a desfilar no domingo de Carnaval. Era um desfile para fechar ou ser a penúltima no domingo ou segunda, mas fazer o que?

O samba é considerado um dos melhores do Carnaval de 2023, muita gente o aponta como o melhor. Alegre, divertido e irreverente, fez nesse ensaio técnico os componentes evoluírem, cantando forte e alto. A comunidade de Caxias entrou sem medo de ser feliz, querendo festejar. Foi uma espécie de celebração na Avenida do título de 2022. Ponto alto do ensaio foi a presença do homenageado, que veio numa pequena alegoria com a família, levando o público ao delírio.

O samba não deixou por menos, com o ritmo forte da bateria de Mestre Fafá, cumpriu seu papel de grande obra, e ajudou muito na evolução da escola e na comunicação com o público presente. A direção de harmonia deve se atentar a evolução apresentada no ensaio, pois não foi uniforme; teve momentos de lentidão e outros de aceleração. Um fato que deve ter sido percebido pela técnica da escola e que, com certeza, vai estar perfeito no dia do seu desfile oficial.

E nesse clima de alto astral, deixado pela Tricolor de Caxias, vamos lembrar do primeiro refrão do samba, onde a comunidade incorporada cantou com a maior alegria. Ele diz assim:

“Nas bandas do Irajá

Gelada no botequim

Assim vou vadiar até no Gurufim

Se tem patota, Ibeji e ajeum

Salve, Cosme e Damião, Doum”

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

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