‘Vovô Severo’ é tímido e reservado, mas abriu o jogo sobre os bastidores da Ilha
Um cara reservado, raramente se deixa fotografar ou filmar e que não gosta de dar entrevista. Esse é Severo Luzardo, carnavalesco da União da Ilha do Governador. O que tem de calmo e paciente, tem de franco e verdadeiro. Fala o que pensa. Foi assim que bateu um papo exclusivo com o SRzd no barracão […]
PORJoão Carlos Martins e Sidney Rezende18/1/2018|
6 min de leitura
Severo Luzardo, carnavalesco da União da Ilha. Foto: Reprodução.
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Um cara reservado, raramente se deixa fotografar ou filmar e que não gosta de dar entrevista. Esse é Severo Luzardo, carnavalesco da União da Ilha do Governador. O que tem de calmo e paciente, tem de franco e verdadeiro. Fala o que pensa. Foi assim que bateu um papo exclusivo com o SRzd no barracão da agremiação insulana e, apesar da timidez, abriu o jogo e contou como andam os bastidores da Ilha para o Carnaval 2018.
Mas nem tudo na vida de Severo é Carnaval. Avô de uma neta e prestes a ganhar outro netinho, o carnavalesco não vê a hora de passar a festa para curtir o momento familiar. Fora isso, Severo também é figurinista e trabalhou em emissoras de televisão, ao ser responsável pelas vestimentas dos personagens em novelas, e cinema. Ficou cerca de 15 anos na Rede Globo e seu trabalho, hoje na Record, pode ser conferido através da novela ‘Belaventura’.
Nós estamos com um Carnaval lindo para voltar nas campeãs.
Já no Carnaval, Severo se dedica ao máximo para conseguir o tão sonhado desejo da Ilha: “Nós estamos com um Carnaval lindo para voltar nas campeãs”, afirmou. Apesar do tamanho esforço, curiosamente, o carnavalesco não é fã de assistir os desfiles e dá por encerrado seu trabalho na concentração.
“Meu tesão é ‘no fazer’. O importante ‘no fazer’ é o sentir. Eu me entrego, eu faço absurdamente aquilo. Mas depois que eu entreguei na concentração pra escola, ele deixou de ser meu. Minha função termina exatamente quando eu entrego pro diretor de Carnaval e ele entra na avenida.”
Carnaval 2018
Sobre o desfile que será apresentado daqui a mais ou menos 20 dias, Severo está confiante e disse não ser problema trabalhar sem dinheiro, uma vez que ele já aprendeu a lidar com isso nos trabalhos em novelas e filmes. “Trabalhar sem verba pra mim nunca foi problema, seja no Carnaval ou fazendo novela e filme. Eu só não posso trabalhar com mau humor dos outros, isso me derruba”.
Eu só não posso trabalhar com mau humor dos outros.
A União da Ilha levará para a Avenida o enredo “Brasil bom de boca”, um delicioso tema que trata de comida. “Já me falaram que já fizeram enredo sobre comida, eu não sei, nunca vi. Não vejo os desfiles, saiu da Avenida, acabou pra mim. Não vi nem o desfile do ano passado (risos)”, revelou Severo.
Independentemente de já ter sido abordado por outra escola ou não, o carnavalesco confia na originalidade do assunto por se tratar de um tema autoral e contou que começa a trabalhar cedo nas ideais de enredo.
Logomarca da União da Ilha 2018. Foto: Divulgação.
“Meu enredo ajuda porque ele é autoral. Todo ano as escolas tem uma época que ficam na ilusão de um enredo patrocinado e, enquanto isso, eu trabalho nas minhas ideias. Todo ano tem um enredo sobre Renato Russo, porque vai vir patrocínio de não sei onde… e não vem.”
Severo disse que o samba da escola tem feito sucesso nos ensaios e está na boca do povo, mas, no início da disputa, não era o seu favorito: “Eu gostava de um outro samba, que era lindo. Mas alteraram pra pior. Esse foi crescendo na quadra e me conquistou”.
Relacionamento com o presidente
Severo e Ney, presidente da Ilha, já passaram de colegas de trabalho para amigos. “Ele me chama de ‘Severóvski’ (risos)”, contou o carnavalesco, que fez questão de exaltar a postura franca de Ney como presidente da escola.
O Ney é uma pessoa muito sincera.
“O Ney é uma pessoa muito sincera. Ele chega e fala o que temos de dinheiro e pronto. Eu nunca preciso cortar o meu projeto porque ele sempre fala a verdade no início. Se chegar dinheiro, a gente aumenta. Só tem uma coisa que o dinheiro não compra: o tempo, e isso eu expliquei a eles. Quando eu começo cedo, eu ganho muitos milhões, porque eu tenho a meu favor um Carnaval artesanal pra fazer, que é o que eu gosto.”
Gracyanne Barbosa como rainha de Bateria
A atual rainha da bateria de Mestre Ciça já passou por diversas escolas de samba, seja do Rio ou São Paulo. Tal fato seria um problema? Para Severo, não. De acordo com o carnavalesco, a Ilha ganhou um presente em ter Gracyanne Barbosa como rainha de Bateria. “Nós somos abençoados por ter a Gracyanne. Ela tá sendo um fenômeno. Super dedicada, vai a todos os ensaios, é simpática com todos”.
Gracyanne Barbosa em ensaio da União da Ilha. Foto: Divulgação.
Equipe de barracão
E comandar uma equipe com pintores, escultures, aderecistas, ferreiros, entre outros cargos… difícil? Para o carnavalesco, há um segredo para o sucesso: “A melhor equipe pra mim é a equipe que trabalha invisível em barracão. É a equipe que abaixa a cabeça, é quieta. Eu gosto de barracão em silêncio e calmo”, o que pode ser comprovado de cara ao entrar no barracão da Ilha.
A União da Ilha deu um salto de qualidade absurdo.
Severo exaltou o atual grupo de trabalho do barracão: “Hoje, a União da Ilha deu um salto de qualidade absurdo, por exemplo, em iluminação. Eu trabalhei com os grandes iluminadores no cinema. A luz é sentida, não é vista. Você não precisa ver o ferro, ela pode ser embutida. Ferragem também. Hoje, meu ferreiro trabalha muito comigo, fez os tentáculos do abre-alas que eu queria”.
Durante a conversa, fomos supreendidos por Guilherme, um dos responsáveis, há anos, por cuidar do barracão da escola. O integrante fez questão de elogiar o amigo carnavalesco: “Ele chega e não deixa de dar um beijo em todo mundo. A gente não sabe quando ele tá brigando ou não, porque ele sempre fala do mesmo jeito, no mesmo tom”, disse.
Severo respondeu: “O Carnaval é do meu ferreiro, é do meu pintor, do meu escultor. Eles fazem a festa. Quando posso, eu faço questão de descer e almoçar no restaurante com eles”.
Estilo de Carnaval
Os desfiles das escolas de samba tem ficado cada vez mais diversificado quanto aos estilos propostos pelas escolas. Enquanto umas apostam no tradicional, outras tentam inovar em alegorias e algumas até fantasias. Severo é catedrático ao afirmar que privilegia o samba e se considera tradicional.
Eu tento modernizar, mas privilegio a escola de samba.
“Eu ainda sou aquele carnavalesco que bota passista na frente da bateria. Hoje em dia, jogaram a ala de passistas pra trás de um carro com um monte de fio. Eu tento modernizar, mas privilegio a escola de samba”, declarou.
Perguntado sobre os trabalhos dos carnavalescos de outras escolas, Severo fez vários elogios aos colegas. Aleatoriamente ele foi lembrando de nomes que admira, entre tantos, como Rosa Magalhães, Renato Lage, Leandro Vieira e Cauê Rodrigues. Sobre Paulo Barros, sem criticá-lo, Severo reconheceu o talento do carnavalesco da Vila na sua capacidade de qualificar o “espetáculo”.
Ilha desfila em 2017, trabalho assinado por Severo Luzardo. Foto: Henrique Matos.
Um cara reservado, raramente se deixa fotografar ou filmar e que não gosta de dar entrevista. Esse é Severo Luzardo, carnavalesco da União da Ilha do Governador. O que tem de calmo e paciente, tem de franco e verdadeiro. Fala o que pensa. Foi assim que bateu um papo exclusivo com o SRzd no barracão da agremiação insulana e, apesar da timidez, abriu o jogo e contou como andam os bastidores da Ilha para o Carnaval 2018.
Mas nem tudo na vida de Severo é Carnaval. Avô de uma neta e prestes a ganhar outro netinho, o carnavalesco não vê a hora de passar a festa para curtir o momento familiar. Fora isso, Severo também é figurinista e trabalhou em emissoras de televisão, ao ser responsável pelas vestimentas dos personagens em novelas, e cinema. Ficou cerca de 15 anos na Rede Globo e seu trabalho, hoje na Record, pode ser conferido através da novela ‘Belaventura’.
Nós estamos com um Carnaval lindo para voltar nas campeãs.
Já no Carnaval, Severo se dedica ao máximo para conseguir o tão sonhado desejo da Ilha: “Nós estamos com um Carnaval lindo para voltar nas campeãs”, afirmou. Apesar do tamanho esforço, curiosamente, o carnavalesco não é fã de assistir os desfiles e dá por encerrado seu trabalho na concentração.
“Meu tesão é ‘no fazer’. O importante ‘no fazer’ é o sentir. Eu me entrego, eu faço absurdamente aquilo. Mas depois que eu entreguei na concentração pra escola, ele deixou de ser meu. Minha função termina exatamente quando eu entrego pro diretor de Carnaval e ele entra na avenida.”
Carnaval 2018
Sobre o desfile que será apresentado daqui a mais ou menos 20 dias, Severo está confiante e disse não ser problema trabalhar sem dinheiro, uma vez que ele já aprendeu a lidar com isso nos trabalhos em novelas e filmes. “Trabalhar sem verba pra mim nunca foi problema, seja no Carnaval ou fazendo novela e filme. Eu só não posso trabalhar com mau humor dos outros, isso me derruba”.
Eu só não posso trabalhar com mau humor dos outros.
A União da Ilha levará para a Avenida o enredo “Brasil bom de boca”, um delicioso tema que trata de comida. “Já me falaram que já fizeram enredo sobre comida, eu não sei, nunca vi. Não vejo os desfiles, saiu da Avenida, acabou pra mim. Não vi nem o desfile do ano passado (risos)”, revelou Severo.
Independentemente de já ter sido abordado por outra escola ou não, o carnavalesco confia na originalidade do assunto por se tratar de um tema autoral e contou que começa a trabalhar cedo nas ideais de enredo.
Logomarca da União da Ilha 2018. Foto: Divulgação.
“Meu enredo ajuda porque ele é autoral. Todo ano as escolas tem uma época que ficam na ilusão de um enredo patrocinado e, enquanto isso, eu trabalho nas minhas ideias. Todo ano tem um enredo sobre Renato Russo, porque vai vir patrocínio de não sei onde… e não vem.”
Severo disse que o samba da escola tem feito sucesso nos ensaios e está na boca do povo, mas, no início da disputa, não era o seu favorito: “Eu gostava de um outro samba, que era lindo. Mas alteraram pra pior. Esse foi crescendo na quadra e me conquistou”.
Relacionamento com o presidente
Severo e Ney, presidente da Ilha, já passaram de colegas de trabalho para amigos. “Ele me chama de ‘Severóvski’ (risos)”, contou o carnavalesco, que fez questão de exaltar a postura franca de Ney como presidente da escola.
O Ney é uma pessoa muito sincera.
“O Ney é uma pessoa muito sincera. Ele chega e fala o que temos de dinheiro e pronto. Eu nunca preciso cortar o meu projeto porque ele sempre fala a verdade no início. Se chegar dinheiro, a gente aumenta. Só tem uma coisa que o dinheiro não compra: o tempo, e isso eu expliquei a eles. Quando eu começo cedo, eu ganho muitos milhões, porque eu tenho a meu favor um Carnaval artesanal pra fazer, que é o que eu gosto.”
Gracyanne Barbosa como rainha de Bateria
A atual rainha da bateria de Mestre Ciça já passou por diversas escolas de samba, seja do Rio ou São Paulo. Tal fato seria um problema? Para Severo, não. De acordo com o carnavalesco, a Ilha ganhou um presente em ter Gracyanne Barbosa como rainha de Bateria. “Nós somos abençoados por ter a Gracyanne. Ela tá sendo um fenômeno. Super dedicada, vai a todos os ensaios, é simpática com todos”.
Gracyanne Barbosa em ensaio da União da Ilha. Foto: Divulgação.
Equipe de barracão
E comandar uma equipe com pintores, escultures, aderecistas, ferreiros, entre outros cargos… difícil? Para o carnavalesco, há um segredo para o sucesso: “A melhor equipe pra mim é a equipe que trabalha invisível em barracão. É a equipe que abaixa a cabeça, é quieta. Eu gosto de barracão em silêncio e calmo”, o que pode ser comprovado de cara ao entrar no barracão da Ilha.
A União da Ilha deu um salto de qualidade absurdo.
Severo exaltou o atual grupo de trabalho do barracão: “Hoje, a União da Ilha deu um salto de qualidade absurdo, por exemplo, em iluminação. Eu trabalhei com os grandes iluminadores no cinema. A luz é sentida, não é vista. Você não precisa ver o ferro, ela pode ser embutida. Ferragem também. Hoje, meu ferreiro trabalha muito comigo, fez os tentáculos do abre-alas que eu queria”.
Durante a conversa, fomos supreendidos por Guilherme, um dos responsáveis, há anos, por cuidar do barracão da escola. O integrante fez questão de elogiar o amigo carnavalesco: “Ele chega e não deixa de dar um beijo em todo mundo. A gente não sabe quando ele tá brigando ou não, porque ele sempre fala do mesmo jeito, no mesmo tom”, disse.
Severo respondeu: “O Carnaval é do meu ferreiro, é do meu pintor, do meu escultor. Eles fazem a festa. Quando posso, eu faço questão de descer e almoçar no restaurante com eles”.
Estilo de Carnaval
Os desfiles das escolas de samba tem ficado cada vez mais diversificado quanto aos estilos propostos pelas escolas. Enquanto umas apostam no tradicional, outras tentam inovar em alegorias e algumas até fantasias. Severo é catedrático ao afirmar que privilegia o samba e se considera tradicional.
Eu tento modernizar, mas privilegio a escola de samba.
“Eu ainda sou aquele carnavalesco que bota passista na frente da bateria. Hoje em dia, jogaram a ala de passistas pra trás de um carro com um monte de fio. Eu tento modernizar, mas privilegio a escola de samba”, declarou.
Perguntado sobre os trabalhos dos carnavalescos de outras escolas, Severo fez vários elogios aos colegas. Aleatoriamente ele foi lembrando de nomes que admira, entre tantos, como Rosa Magalhães, Renato Lage, Leandro Vieira e Cauê Rodrigues. Sobre Paulo Barros, sem criticá-lo, Severo reconheceu o talento do carnavalesco da Vila na sua capacidade de qualificar o “espetáculo”.
Ilha desfila em 2017, trabalho assinado por Severo Luzardo. Foto: Henrique Matos.