Atacado pelo bolsonarismo, Paulo Freire rendeu desfile marcante no Carnaval de São Paulo

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Neste domingo (19), o educador Paulo Freire, patrono da Educação no Brasil, completaria 100 anos. Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, no estado de Pernambuco, e faleceu devido uma parada cardíaca, aos 75 anos, em São Paulo. Freire foi secretário da Educação na gestão de Luiza Erundina (PT), na capital paulista, entre 1989 e […]

POR Redação SRzd18/09/2021|8 min de leitura

Atacado pelo bolsonarismo, Paulo Freire rendeu desfile marcante no Carnaval de São Paulo

Desfile 1999 da Leandro de Itaquera. Foto: Reprodução/YouTube

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Neste domingo (19), o educador Paulo Freire, patrono da Educação no Brasil, completaria 100 anos. Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, no estado de Pernambuco, e faleceu devido uma parada cardíaca, aos 75 anos, em São Paulo.

Freire foi secretário da Educação na gestão de Luiza Erundina (PT), na capital paulista, entre 1989 e 1991 e trabalhou com Miguel Arraes na prefeitura do Recife entre 1960 e 1963. No período da Ditadura Militar, viveu fora do Brasil de 1964 a 1979. 

Em 1999, a escola de samba Leandro de Itaquera desfilou com o enredo: “Educação (Um salto para liberdade por Paulo Freire)”. A homenagem ao educador rendeu a quarta colocação para a vermelha e branca.

+ Saiba mais notícias da Leandro de Itaquera

Para falar sobre Paulo e aquele Carnaval, o SRzd entrevistou Marco Aurélio Ruffinn. Premiado e reconhecido artista do segmento, o carnavalesco possui trabalhos em escolas como Acadêmicos do Tucuruvi, Tom Maior, Império de Casa Verde e Camisa Verde e Branco.

Marco Aurélio Ruffinn. Foto: SRzd

Segundo o artista, a ideia nasceu através de um grupo que pertencia a escola e apresentaram uma proposta de fazer uma homenagem aos mestres, baseado no filme “Ao Mestre com Carinho”.

“Era uma grande homenagem aos mestres de bateria, mestre-sala, mestre de cerimônia, mestre cuca, e dentro da proposta haveria o mestre da educação, Paulo Freire. Quando eu vi a figura do Paulo Freire, na reunião com alguns integrantes da PUC-SP (onde Freire trabalhou), falei que o enredo seria ‘educação’. O presidente Leandro abraçou a ideia na hora”, lembrou.

“Inclusive fiquei até mal visto pelo mestre Lagrila, que ficou meio brigado comigo, porque ele ia ser homenageado no enredo por ser um mestre de bateria, mas depois de um ano e meio ele entendeu que a proposta era algo maior”, recordou o carnavalesco, sobre o fato com o saudoso comandante da bateria da agremiação.

Desfile 1999 da Leandro de Itaquera. Foto: Reprodução/YouTube

Paulo Freire é alvo constante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seus ministros e seguidores.

“Tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire. Esse energúmeno aí, ídolo da esquerda”, declarou o presidente em 2019.

Para Ruffinn, o atual Governo “só está dando sequência” ao desmonte na educação brasileira iniciada em 2016, quando Michel Temer (MDB) era o presidente da República.

“Já faz um tempo que a educação brasileira vem sofrendo com o desmonte do Plano Nacional de Educação. Acho que desde 2016, com a queda da Dilma Rousseff (PT) que começou isso. O governo atual só está dando sequência e insiste em manchar a imagem do Paulo Freire na intenção de tirar dele o patronato da educação no Brasil. Por isso que eles atacam”, opinou.

O educador é criador da “Pedagogia do Oprimido”, método de alfabetização de adultos utilizado no Brasil e em vários outros países, que o carnavalesco fez questão de exaltar.

“Imagina como um educador cria um método de alfabetização de senso crítico, usando palavras do dia a dia dessa pessoa e o método consegue em quatro meses alfabetizar este adulto. A pessoa vai ter autonomia e senso crítico, além de começar a analisar os fatos. É a população se armando com a educação para ir contra o sistema. Se a massa tomar consciência de como é feita a política nesse Brasil, vai ser a chave da libertação”, continuou.

Desfile 1999 da Leandro de Itaquera. Foto: Reprodução/YouTube

Marco salientou o gigantismo das alegorias da Leandro de Itaquera no Carnaval de 1999.

“Uma coisa que eu não posso deixar de celebrar, além desse desfile ser um dos mais prazerosos que eu desenvolvi, também foi um dos mais estressantes pra poder finalizar. Porque a gente fez um mega Carnaval, muito além do tamanho do nosso espaço físico do barracão, aquela megalomania que a gente começou lá na Leandro e meio que tomou um corpo no Carnaval de São Paulo. Aqueles carros gigantes e altos a gente começou a fazer em 1999 e virou uma tendência do Carnaval paulistano, diga-se de passagem”, exaltou.

O samba-enredo composto por Mauro Pirata, Tony Almeida e Beto Muniz também mereceu destaque do artista.

“Outra coisa que eu quero destacar é a letra do do samba, a intenção do enredo está lá. Você pega a letra, que é um um primor, e vê que eles tiveram o entendimento total do enredo. Quando eu recebi a letra, me controlei para as lágrimas não rolarem, eu fiquei muito emocionado”, recordou.

Ouça o samba na voz de Eliana de Lima:

Confira a letra:

UM CLARÃO RELUZ, MUDANÇA
SALVE A JUVENTUDE, CRIANÇA
NA FÉ QUE INCENDEIA
FUTURO FELIZ, NAÇÃO BRASILEIRA

ACORDA MEU BRASIL
DESPERTA PRA FELICIDADE
EU QUERO AMOR, EU QUERO AMAR
EM LIBERDADE

HOJE A LEANDRO TÃO BONITA FAZ O SEU PAPEL
PEDE LICENÇA E MOSTRA
A REALIDADE NUA E CRUA
NO QUADRO NEGRO A NOSSA LUTA CONTINUA
A MINHA ESCOLA DÁ UM SALTO PRO FUTURO
E VEM PRA GUERRA DE CANETA NA MÃO
VERMELHO E BRANCO PEDE EDUCAÇÃO
SEM PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

DIVINA LUZ INSPIROU
CANTAMOS NUMA SÓ VOZ

E PAULO FREIRE ESTÁ PRESENTE EM NÓS

MOÇO, NÃO ABRO MÃO DOS MEUS DIREITOS
EU TAMBÉM TENHO O MEU CONCEITO
NO UNIVERSO DA CRIAÇÃO
MENTES SÃO DOTADAS DE VIRTUDES E PODER
BASTA ABRIR AS PORTAS, VERÁ FLORESCER
UM MUNDO, ONDE A MAGIA FORMA OS IDEAIS
E O SABER, NÃO SE DIFERE POR CAMADAS SOCIAIS
É HORA DE REFLEXÃO
E CONSCIÊNCIA EM CADA CORAÇÃO

Em 2020, a Águia de Ouro levou para o Sambódromo do Anhembi o enredo: “O Poder do Saber – Se Saber é Poder… Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer”. O desfile rendeu o primeiro título do Grupo Especial de São Paulo para a escola da Pompeia.

Em uma das alegorias, havia um boneco de Paulo Freire com uma frase de sua autoria: “Não se pode falar da educação sem amor”.

A respeito dessa citação, Aurélio exaltou Sidnei França – carnavalesco da azul e branca – e declarou: “Fiquei super envaidecido de ver o Paulo Freire como pano de fundo do enredo da Águia de Ouro”.

Desfile 2020 do Águia de Ouro. Foto: SRzd – Cesar R. Santos

Ruffinn é formado em Programação Visual pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Carnaval e Cultura Brasileira, pela Estácio de Sá, e é especializado em Propaganda e Marketing, pela ESPM.

Quanto ao momento atual da educação, em relação ao do desfile da Leandro, o artista deu a sua opinião.

“Muita coisa mudou. Hoje você tem mais acesso à educação do que no passado. Na época, não tinha o número de faculdades do que tem hoje. O acesso ao nível superior é bem maior, inclusive as facilidade de você pode financiar o seu estudo é muito mais abrangente. Sem dúvida que houve um avanço. Inclusive a criação da lei de cotas em universidades para as populações negras e indígenas, é fundamental para daqui algumas décadas a gente ver uma boa parte dessa população nas universidades. Essas cotas são uma forma de reparação histórica, tentando fazer uma justiça social para essa população”, finalizou.

Leia também:

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Neste domingo (19), o educador Paulo Freire, patrono da Educação no Brasil, completaria 100 anos. Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, no estado de Pernambuco, e faleceu devido uma parada cardíaca, aos 75 anos, em São Paulo.

Freire foi secretário da Educação na gestão de Luiza Erundina (PT), na capital paulista, entre 1989 e 1991 e trabalhou com Miguel Arraes na prefeitura do Recife entre 1960 e 1963. No período da Ditadura Militar, viveu fora do Brasil de 1964 a 1979. 

Em 1999, a escola de samba Leandro de Itaquera desfilou com o enredo: “Educação (Um salto para liberdade por Paulo Freire)”. A homenagem ao educador rendeu a quarta colocação para a vermelha e branca.

+ Saiba mais notícias da Leandro de Itaquera

Para falar sobre Paulo e aquele Carnaval, o SRzd entrevistou Marco Aurélio Ruffinn. Premiado e reconhecido artista do segmento, o carnavalesco possui trabalhos em escolas como Acadêmicos do Tucuruvi, Tom Maior, Império de Casa Verde e Camisa Verde e Branco.

Marco Aurélio Ruffinn. Foto: SRzd

Segundo o artista, a ideia nasceu através de um grupo que pertencia a escola e apresentaram uma proposta de fazer uma homenagem aos mestres, baseado no filme “Ao Mestre com Carinho”.

“Era uma grande homenagem aos mestres de bateria, mestre-sala, mestre de cerimônia, mestre cuca, e dentro da proposta haveria o mestre da educação, Paulo Freire. Quando eu vi a figura do Paulo Freire, na reunião com alguns integrantes da PUC-SP (onde Freire trabalhou), falei que o enredo seria ‘educação’. O presidente Leandro abraçou a ideia na hora”, lembrou.

“Inclusive fiquei até mal visto pelo mestre Lagrila, que ficou meio brigado comigo, porque ele ia ser homenageado no enredo por ser um mestre de bateria, mas depois de um ano e meio ele entendeu que a proposta era algo maior”, recordou o carnavalesco, sobre o fato com o saudoso comandante da bateria da agremiação.

Desfile 1999 da Leandro de Itaquera. Foto: Reprodução/YouTube

Paulo Freire é alvo constante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seus ministros e seguidores.

“Tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire. Esse energúmeno aí, ídolo da esquerda”, declarou o presidente em 2019.

Para Ruffinn, o atual Governo “só está dando sequência” ao desmonte na educação brasileira iniciada em 2016, quando Michel Temer (MDB) era o presidente da República.

“Já faz um tempo que a educação brasileira vem sofrendo com o desmonte do Plano Nacional de Educação. Acho que desde 2016, com a queda da Dilma Rousseff (PT) que começou isso. O governo atual só está dando sequência e insiste em manchar a imagem do Paulo Freire na intenção de tirar dele o patronato da educação no Brasil. Por isso que eles atacam”, opinou.

O educador é criador da “Pedagogia do Oprimido”, método de alfabetização de adultos utilizado no Brasil e em vários outros países, que o carnavalesco fez questão de exaltar.

“Imagina como um educador cria um método de alfabetização de senso crítico, usando palavras do dia a dia dessa pessoa e o método consegue em quatro meses alfabetizar este adulto. A pessoa vai ter autonomia e senso crítico, além de começar a analisar os fatos. É a população se armando com a educação para ir contra o sistema. Se a massa tomar consciência de como é feita a política nesse Brasil, vai ser a chave da libertação”, continuou.

Desfile 1999 da Leandro de Itaquera. Foto: Reprodução/YouTube

Marco salientou o gigantismo das alegorias da Leandro de Itaquera no Carnaval de 1999.

“Uma coisa que eu não posso deixar de celebrar, além desse desfile ser um dos mais prazerosos que eu desenvolvi, também foi um dos mais estressantes pra poder finalizar. Porque a gente fez um mega Carnaval, muito além do tamanho do nosso espaço físico do barracão, aquela megalomania que a gente começou lá na Leandro e meio que tomou um corpo no Carnaval de São Paulo. Aqueles carros gigantes e altos a gente começou a fazer em 1999 e virou uma tendência do Carnaval paulistano, diga-se de passagem”, exaltou.

O samba-enredo composto por Mauro Pirata, Tony Almeida e Beto Muniz também mereceu destaque do artista.

“Outra coisa que eu quero destacar é a letra do do samba, a intenção do enredo está lá. Você pega a letra, que é um um primor, e vê que eles tiveram o entendimento total do enredo. Quando eu recebi a letra, me controlei para as lágrimas não rolarem, eu fiquei muito emocionado”, recordou.

Ouça o samba na voz de Eliana de Lima:

Confira a letra:

UM CLARÃO RELUZ, MUDANÇA
SALVE A JUVENTUDE, CRIANÇA
NA FÉ QUE INCENDEIA
FUTURO FELIZ, NAÇÃO BRASILEIRA

ACORDA MEU BRASIL
DESPERTA PRA FELICIDADE
EU QUERO AMOR, EU QUERO AMAR
EM LIBERDADE

HOJE A LEANDRO TÃO BONITA FAZ O SEU PAPEL
PEDE LICENÇA E MOSTRA
A REALIDADE NUA E CRUA
NO QUADRO NEGRO A NOSSA LUTA CONTINUA
A MINHA ESCOLA DÁ UM SALTO PRO FUTURO
E VEM PRA GUERRA DE CANETA NA MÃO
VERMELHO E BRANCO PEDE EDUCAÇÃO
SEM PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

DIVINA LUZ INSPIROU
CANTAMOS NUMA SÓ VOZ

E PAULO FREIRE ESTÁ PRESENTE EM NÓS

MOÇO, NÃO ABRO MÃO DOS MEUS DIREITOS
EU TAMBÉM TENHO O MEU CONCEITO
NO UNIVERSO DA CRIAÇÃO
MENTES SÃO DOTADAS DE VIRTUDES E PODER
BASTA ABRIR AS PORTAS, VERÁ FLORESCER
UM MUNDO, ONDE A MAGIA FORMA OS IDEAIS
E O SABER, NÃO SE DIFERE POR CAMADAS SOCIAIS
É HORA DE REFLEXÃO
E CONSCIÊNCIA EM CADA CORAÇÃO

Em 2020, a Águia de Ouro levou para o Sambódromo do Anhembi o enredo: “O Poder do Saber – Se Saber é Poder… Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer”. O desfile rendeu o primeiro título do Grupo Especial de São Paulo para a escola da Pompeia.

Em uma das alegorias, havia um boneco de Paulo Freire com uma frase de sua autoria: “Não se pode falar da educação sem amor”.

A respeito dessa citação, Aurélio exaltou Sidnei França – carnavalesco da azul e branca – e declarou: “Fiquei super envaidecido de ver o Paulo Freire como pano de fundo do enredo da Águia de Ouro”.

Desfile 2020 do Águia de Ouro. Foto: SRzd – Cesar R. Santos

Ruffinn é formado em Programação Visual pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Carnaval e Cultura Brasileira, pela Estácio de Sá, e é especializado em Propaganda e Marketing, pela ESPM.

Quanto ao momento atual da educação, em relação ao do desfile da Leandro, o artista deu a sua opinião.

“Muita coisa mudou. Hoje você tem mais acesso à educação do que no passado. Na época, não tinha o número de faculdades do que tem hoje. O acesso ao nível superior é bem maior, inclusive as facilidade de você pode financiar o seu estudo é muito mais abrangente. Sem dúvida que houve um avanço. Inclusive a criação da lei de cotas em universidades para as populações negras e indígenas, é fundamental para daqui algumas décadas a gente ver uma boa parte dessa população nas universidades. Essas cotas são uma forma de reparação histórica, tentando fazer uma justiça social para essa população”, finalizou.

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