Desvendando o quesito evolução do Carnaval de São Paulo, por Judson Sales

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A cobertura dos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2024 de São Paulo do SRzd contará com a participação de Judson Sales. O profissional, que já foi ritmista, harmonia e diretor de Carnaval, atualmente ministra palestras relacionadas ao contexto técnico das escolas de samba. O sambista, que se especializou na análise estatística dos resultados de Carnaval, mostra […]

POR Redação SRzd27/01/2024|19 min de leitura

Desvendando o quesito evolução do Carnaval de São Paulo, por Judson Sales

Desfile 2023 da Acadêmicos do Tatuapé. Foto: Arthur Giglioli/SRzd

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A cobertura dos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2024 de São Paulo do SRzd contará com a participação de Judson Sales. O profissional, que já foi ritmista, harmonia e diretor de Carnaval, atualmente ministra palestras relacionadas ao contexto técnico das escolas de samba.

O sambista, que se especializou na análise estatística dos resultados de Carnaval, mostra para os leitores do SRzd o segundo artigo sobre dados relacionados a um quesito que é julgado nos desfiles. Confira a seguir, um levantamento com estatísticas sobre evolução.

O que é o quesito evolução e como ele é julgado?

Como fantasia, tema do nosso primeiro artigo para o SRzd (clique aqui para ler), Evolução é um dos quesitos em que mais há apontamentos de falhas. É uma decorrência natural do tamanho do papel que se entrega à direção de desfile, coordenar um cortejo de milhares de pessoas.

Na cabeça do sambista sem manual, costuma-se falar que evolução é “não deixar buracos”, “não correr” e “dançar”. Mais do que isso, costumamos associar uma boa evolução à escola que passa cantando e dançando de maneira leve e descontraída (ainda que todos nós saibamos que canto não faz parte da evolução).

Mas o que se julga de verdade em evolução?

Entendo que a evolução é o cortejo contínuo, harmônico e espontâneo dos componentes.

Ou seja, por ser contínuo, o cortejo deve ter uma velocidade constante, sem correrias ou paradas sem razão. No critério atual, isso se chama “Variação de Velocidade”.

Aqui é importante anotar que no critério atual (2023), não se pune a desaceleração, mas apenas a aceleração da escola. Ou seja, uma agremiação que fique por 15 minutos parada para corrigir um problema de alegoria, não será punida se retomar o desfile em uma velocidade constante.

Da mesma forma, a escola que fizer um desfile exageradamente curto, poderá parar na linha de fim de desfile até completar o tempo mínimo de regulamento, sem que isso seja uma falha de evolução.

Isso nem sempre foi assim. O manual de julgador já teve diversas mudanças neste sentido, valendo mencionar que há alguns anos atrás havia uma regra de que as escolas não poderiam parar por mais de 15 segundos (exceto para o movimento de recuo da bateria). Essa regra não existe mais.

Outra regra que também não se aplica mais é o chamado “Efeito Sanfona”, o chamado “anda, para, anda, para”, formando ondas na evolução da escola.

Então, pelo critério de hoje, a única punição possível de variação de velocidade é a aceleração.

Perceba que acelerar é aumentar a velocidade, o que é diferente de correr. Ou seja, uma escola que desfile rápido (talvez para que o jurado tenha menos tempo de ver problemas, talvez porque tenha quatro mil componentes), mas sem variar sua velocidade, mantendo esta velocidade do início ao fim, não poderá ser punida neste item. O que não pode acontecer é iniciar o desfile em uma velocidade e alterá-la significativamente ao longo do cortejo.

Essa “Continuidade” representa, então, 28,5% das anotações de Evolução nos últimos cinco anos do Grupo Especial.

Por outro lado, por ser harmônico, esse cortejo não pode quebrar aquele tapete visual que estamos acostumados a ver. Ou seja, não pode haver buracos entre as alas, carros alegóricos, destaques de chão, casais e outros elementos de desfile. Um item deve vir seguido do outro.

Do mesmo modo, cada um desses itens tem que respeitar os demais, não invadindo o espaço alheio ou se chocando com outro elemento. São os critérios: buraco entre alas, invasão e choque com alegoria.

Há ainda o buraco dentro das alas, que tem características um pouco diferentes. Isso porque o regulamento NÃO OBRIGA (e tem muito sambista que não sabe isso) que as escolas desfilem enfileiradas. As escolas podem, sim, desfilar de maneira solta, com o componente brincando dentro de todo o perímetro da ala, indo e voltando como quiser.

Outra lenda urbana do sambista é que o componente não pode “voltar” na pista. Em nenhum lugar do manual isso está escrito. O que ele não pode fazer é invadir o espaço de outra ala. Mas dentro de sua ala ele pode se movimentar como quiser.

Disso, naturalmente decorre que vão surgir pequenos claros e buracos no interior da ala. Mas, se esses buracos não forem constantes, a escola não pode ser punida.

Ou seja, o buraco dentro da ala que pode ser punido é aquele que se mantém constante durante algum tempo.

Existe uma última forma de buraco mais grave, que é a divisão de escola. Considera-se uma divisão de escola quando o espaço é tão grande que existem dois blocos claramente definidos.

A harmonia da evolução (na soma dos quatro critérios) representa mais de 70% das anotações de Evolução.

Por fim, o cortejo tem que ser espontâneo. Aqui falamos da expressão corporal, tão tristemente pouco julgada no Carnaval. Apenas 0,9% das anotações de Evolução no Grupo Especial nos últimos cinco anos se referem à expressão corporal. Fica a dúvida: será que realmente não temos componentes sem entrega na a Avenida? Será que nossos desfiles são realmente tão vibrantes?

De todo modo, o que os indicadores mostram é que, de fato, ainda que o manual não obrigue a desfilar enfileirado, a falta de rigor no julgamento da expressão corporal transforma o enfileiramento na opção óbvia das escolas. Afinal, é muito mais fácil controlar o andamento de uma escola enfileirada e compactada que coordenar um desfile coeso de uma escola com ampla liberdade de movimentação.

E aqui vem o grande xis da questão: eu acredito que enquanto o enfileiramento (também chamado por alguns de desfile militar) não for punido pelo jurado, dificilmente voltaremos a ter aqueles desfiles soltos e vibrantes de que tanta gente é saudosa. As escolas que trazem seus componentes sob rígido controle, no fim das contas, estão certas. Afinal, é o melhor caminho para conquistar o título.

Quais as torres mais importantes do quesito evolução?

Existe uma certa crença de que o pior dos módulos de julgamento em evolução é o último. Afinal, quando a escola precisa correr para fechar o desfile no tempo certo este é o módulo que mais verá alas correndo. De certa forma isso é verdade, mas o que as estatísticas mostram é que este não é o maior problema das escolas.

A condução de um desfile, em regra, acontece pela “cabeça” da escola. Um diretor de harmonia experiente conduz a velocidade da escola até a saída da Comissão de Frente e depois (aqui está o movimento mais difícil) vai retirando gradativamente a cada ala da Avenida. Ocorre que muitas escolas acabam falhando na necessária correção do andamento das alas que vêm a seguir.

Claro que uma ala que vem atrás não tem como correr e atropelar as demais alas, o que leva algumas pessoas a acreditar que “se a cabeça não corre, o resto também não tem como correr”. Porém, um aspecto relevantíssimo do controle do andamento de uma escola não está na cabeça, mas sim na compactação do espaço de desfile.

Imagine uma ala que conduz seus componentes com um espaçamento aproximado de cerca de 1,5m entre cada componente. Se por algum motivo a escola parar, existe uma tendência natural dos componentes de continuarem evoluindo. E o resultado é que o espaço que antes era de 1,5m pode chegar próximo de 0. Em uma ala com 10 fileiras de 8 componentes, essa redução pode chegar a 10 metros (ou o equivalente a 4 grades). Multiplique isso por algumas alas e verá que o espaço que pode se abrir é gigantesco.

Isso implica no buraco entre alas (se o chefe de ala não estiver atento suficiente); dentro das alas; e, principalmente, à frente das alegorias, que por serem gigantescas, não acompanham a mesma velocidade da escola.

No caso das alegorias esse problema é ainda maior na chamada retomada. Afinal, é necessário muito esforço para fazer uma alegoria parada voltar a andar.

Essas oscilações geram um efeito cascata muito difícil de ser controlado por uma direção de desfile que não seja organizada.

A solução destes problemas, ao meu ver, está em uma coordenação de harmonia qualificada, ou seja, os diversos diretores que compõem o time de harmonia e se responsabilizam pelos setores da escola, controlando a compactação nos setores de desfile.

O gráfico mostra exatamente isso. Os módulos mais cruéis com a evolução são justamente os dois primeiros, aqueles nos quais as oscilações da escola são mais sentidas, gerando muitos buracos.

O temido recuo

O gráfico merece um destaque para o tema do Recuo. O módulo que mais despontua é aquele que fica de frente para o box da bateria. A razão, a primeira vista, é óbvia: o recuo é uma manobra complicada e que muitas escolas têm dificuldade de dominar.

Primeiramente é bom lembrar que a escola não tem um tempo certo para fazer o recuo. Pelo contrário, pode levar todo o tempo necessário para recompor o espaço da bateria com calma, desde que a ala que está à frente da bateria não ultrapasse o espaço do recuo.

O erro que as escolas mais se preocupam em evitar é que a cabeça da escola pare no tempo certo e não volte a andar antes da hora. Mas a verdade é que isso não é suficiente. Como dissemos acima, uma falha de compactação pode fazer com que o fundo das alas continue evoluindo, mesmo que a cabeça da escola esteja parada. E na verdade isso acontece com bastante frequência.

Com isso, o ponto em que o diretor de harmonia pensou que a escola pararia se torna insuficiente para controlar o espaço do recuo, avançando alguns metros.

Outra falha bastante comum é que os responsáveis pela ala seguinte se desesperem com o tamanho do espaço e imprimam uma velocidade maior do que a necessária, achando que têm que fechar o espaço o mais rápido possível. O resultado é que, com o movimento acelerado da escola, formam-se novos buracos à frente dos carros, entre as alas e outros elementos de desfile.

Essa falha normalmente é bastante notada pelos jurados do primeiro módulo e essa é uma das razões para que este módulo aplique mais penalidades que os últimos.

Existe uma posição de desfile mais afetada?

Estatisticamente existe uma certa constância no número de erros de evolução em função da posição de desfile. Há um pico de apontamentos na primeira escola de sábado, mas acredito que isso tenha mais a ver com uma coincidência de desfiles conturbados nos últimos cinco anos nesta posição do que propriamente pelo nervosismo de abrir a noite de desfiles.

Note que o número de apontamentos para abertura de sexta é bastante similar à quarta de sábado, uma das posições mais desejadas pelas escolas campeãs.

Existem jurados mais severos?

Uma característica importante do julgamento de evolução é que os jurados se mantém basicamente os mesmos há alguns anos. Há pouca variação no corpo, o que permite identificar com mais clareza o olhar de cada julgador. Uma informação interessante que retiramos do gráfico é que o Jurado 2 tem uma proporção de anotações de variação de velocidade de 46%, 50% a mais que a média dos demais jurados.

Como já fizemos no artigo sobre Fantasia, não vamos revelar o nome dos jurados. Não é esse nosso objetivo aqui, estamos discutindo o julgamento e a estratégia para um bom Carnaval, e não expondo pessoas desnecessariamente.

Quais as melhores escolas do quesito?

No gráfico abaixo eu revelei apenas o nome das escolas mais eficientes no quesito Evolução. Afinal, não estamos aqui para apontar defeitos e sim discutir resultados. Assim, cabe respeitar e analisar as escolas com melhores resultados e se espelhar no sucesso delas.

No gráfico, fica inegável que há uma grande disparidade entre a Acadêmicos do Tatuapé, com uma incrível média de apenas 1,8 erros de evolução por ano, para a última colocada, com 26 anotações em média.

Destaque positivo para Mancha Verde e Acadêmicos do Tucuruvi, também bastante eficientes no quesito, além de Águia de Ouro e Dragões da Real.

Usei o critério da média justamente para conseguir ponderar esse número. Afinal, uma escola que desfilou apenas uma vez no Especial tende a ter numericamente menos falhas. Mas quando usamos a média, colocamos isso em pé de igualdade.

Qual a principal causa dos buracos?

Aqui está uma análise que acho importante de ser feita para traçar um norte da solução de problemas. Considerando que a “Harmonia da Evolução”, que envolve buracos e invasões, representa 70% das anotações do quesito, parece importante destrinchar um pouco os apontamentos do critério para entender se o buraco é mesmo mais embaixo.

Classifiquei os apontamentos de acordo com o local de ocorrência. Obviamente, como os desfiles têm muito mais alas do que carros, há mais apontamentos ali do que aqui. Mas perceba que os números são bem próximos.

Em outras palavras, o que me parece evidente é que o principal problema da evolução está nos carros alegóricos.

Já falamos um pouco sobre isso lá em cima. Carros são gigantes, pesados e, por isso, não conseguem acompanhar com facilidade a evolução da escola. Ou seja, a cada oscilação de velocidade do cortejo (acelerando, desacelerando, parando…) você tem uma mudança de ordens na condução de um carro (“Pára! Anda! Olha o destaque!”). E, naturalmente, essa ordem não é cumprida imediatamente. Há um pequeno atraso e, com isso, é normal que se abram buracos à frente das alegorias, ou colisões com destaques de chão.

E a situação piora muito quando percebemos que muitas vezes a condução das alegorias nas escolas de samba não é feita pela direção de harmonia, mas sim por um grupo à parte, que tem pouco ou até nenhum diálogo com a harmonia. São pessoas pouco integradas dentro do projeto de desfile, quando não diretores de fachada que se sentem super poderosos. Muitas vezes sem conhecimento técnico necessário do sistema de julgamento, essas pessoas muitas vezes arruínam projetos bem estruturados de Carnaval.

Coordenar o ponto mais sensível da evolução de uma escola, que são as alegorias, a um grupo que não dialoga com a direção de desfile pode ser fatal na busca de um título.

Onde o gráfico mostra bateria, vamos entender que estamos falando da manobra de recuo. Ou seja, é um percentual relevante dentro do contexto geral, mas talvez menos grave do que poderíamos pensar. Claro que aqui estamos falando apenas de buracos e invasões, de modo que não podemos esquecer do impacto da manobra equivocada de recuo nas variações de velocidade. Mas sobre esse tema nós já falamos acima.

Interessante falarmos um pouco também sobre a questão dos casais de mestres-sala e porta-bandeiras e destaques de chão. Aqui temos um trabalhoso conflito de interesses.

Obviamente um destaque de chão investe muito na busca de brilhar no Carnaval. Como diz o próprio nome, ele quer e merece “destaque”. Porém, a escola tem que se precaver para não pagar uma fatura cara por isso. A movimentação de destaques muitas vezes impacta na formação de buracos (a alegoria demora a andar para não atropelar o destaque, por exemplo) e invasões. E essas anotações têm aparecido de forma muito constante nas justificativas do Carnaval de São Paulo.

Quanto ao gráfico, é bom evitar uma leitura errada dos dados em relação aos destaques de chão. Muitas anotações feitas sobre destaques citam os carros e vice-versa. A coluna específica para destaques de chão se refere apenas às anotações que citam única e exclusivamente os destaques, mas não alegorias. Sempre que a palavra alegoria foi mencionada, eu a categorizei como “alegoria”.

Algo semelhante eu vejo acontecer com casais de mestres-sala e porta-bandeiras, especialmente os que não estão sendo avaliados. Isso porque o desejo de dançar, brilhar e se apresentar para os jurados muitas vezes causa oscilações desnecessárias no tamanho do espaço de dança. Ainda que as anotações de buracos pelo espaço excessivo do casal sejam poucas, não podemos esquecer que a oscilação desse espaço gera um efeito cascata nos demais itens do desfile, algo extremamente difícil de controlar com a escola em movimento.

Por fim, cabe uma anotação sobre a Comissão de Frente. O sistema de julgamento de São Paulo tem vivido um vai e vem nesse item. Indiscutivelmente não se julga a dança da comissão ou o espaço interno da sua apresentação. Mas também não se pode ignorar um buraco entre a comissão e o primeiro elemento de desfile seguinte (uma ala, um casal etc.).

Analisando os manuais dos jurados dos últimos anos, vemos pelo menos três regras diferentes:

1. Não se pune o espaço entre a comissão e a escola em hipótese alguma
2. Pune-se o espaço entre a comissão e a escola no quesito Comissão de Frente, item fundamento, chamando esse problema de “desgarrar do cortejo”.
3. Pune-se este item dentro de Evolução.

Atualmente a solução do manual é a terceira, salvo engano desde 2022. Sendo que em 2020 tivemos algumas situações de erros de jurados que implicaram no julgamento duplo, ou seja, nos dois quesitos.

Gráficos de constância

Encerramos esse artigo com uma série de gráficos que montei em 2019. Eu estava tentando analisar a constância dos desfiles, ou seja, a manutenção de uma mesma velocidade do início ao fim do cortejo e quantificar as variações.

O método foi simples: Eu estabeleci dois pontos da Avenida e contei o tempo que o primeiro componente de determinada ala demorava para ir do ponto A ao ponto B. Esses pontos eram próximos a duas torres de jurados, por isso, relacionei os dados com as notas que os jurados daquelas torres tinham dado no quesito Evolução. O ponto A ficava alguns metros antes da torre 6 e o ponto B alguns metros depois da torre 8.

Então, para ler o gráfico tenha isso em mente:

Cada coluna é o tempo que a ala demorou para ir de uma torre a outra. AMP é a variação máxima (ou seja, a diferença entre a ala que passou mais rápido e a que passou mais devagar), tanto numérica quanto percentual.

A contagem sempre começava na primeira ala depois da bateria, porque o movimento de recuo impacta bastante na contagem, então precisei limpar os dados para ler isso melhor.

Aqui temos uma escola de constância praticamente perfeita. Quase não há oscilação de velocidade durante todo o desfile. Cada componente sempre levava aproximadamente sete minutos para ir de uma torre a outra, o que resultou em um desfile mais fluido. Menos oscilações ocasionam menos buracos, e a escola acabou saindo da Avenida com a nota máxima nas duas torres. Isso leva a crer que o tempo de transição de 7 minutos seria o ideal naquele desfile, considerando o tamanho da escola.

Essa outra agremiação começou seu desfile em um ritmo mais lento e, conforme o tempo foi passando, acelerou impressionantemente seu andamento, de forma constante. Enquanto o segundo carro levou quase sete minutos para ir de uma torre a outra, o último passou no dobro da velocidade, em três minutos. O jurado da primeira torre percebeu a correria e puniu a escola. O jurado da segunda torre, impressionantemente não viu o problema.

Esse terceiro exemplo também é uma situação de desfile bastante comum. Em dado momento a direção de harmonia começa a correr desnecessariamente, chegando a um tempo de transição de pouco mais de 4 minutos. Com os nervos controlados, a escola retoma um andamento mais leve, exagerando agora para o outro lado, chegando a uma transição de quase dez minutos para não estourar o tempo mínimo de desfile.

Abaixo mais alguns exemplos:

 

 

A conclusão dessa análise, para mim, é que é uma grande mentira a alegada “impossibilidade” de andamento constante que ouço alguns diretores de harmonia defenderem. É plenamente possível (e ainda é bem vindo ao público, já que todos terão a oportunidade de ver o mesmo espetáculo).

Pense que no exemplo da escola H, acima, um espectador da última arquibancada viu o último carro alegórico por poucos segundos. Isso, para mim, é uma falha de desfile e tem que ser punida. O mesmo vale para as primeiras alas da Escola M, que passaram correndo nas primeiras torres para depois praticamente estacionar nas últimas. Em ambos os casos, o espetáculo perdeu.

Por isso que defendo que a desaceleração também deva ser punida. Mas, como já disse, ainda que o modelo atual de julgamento não analise isso, é inegável que um andamento constante e também ajuda a evitar problemas de buracos, invasões e choques, pelos motivos que já expliquei acima. Por isso, se espelhar nos melhores trabalhos de desfile, com andamentos mais constantes, pode ser fundamental para traçar uma estratégia vencedora de Carnaval.

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A cobertura dos desfiles das escolas de samba do Carnaval 2024 de São Paulo do SRzd contará com a participação de Judson Sales. O profissional, que já foi ritmista, harmonia e diretor de Carnaval, atualmente ministra palestras relacionadas ao contexto técnico das escolas de samba.

O sambista, que se especializou na análise estatística dos resultados de Carnaval, mostra para os leitores do SRzd o segundo artigo sobre dados relacionados a um quesito que é julgado nos desfiles. Confira a seguir, um levantamento com estatísticas sobre evolução.

O que é o quesito evolução e como ele é julgado?

Como fantasia, tema do nosso primeiro artigo para o SRzd (clique aqui para ler), Evolução é um dos quesitos em que mais há apontamentos de falhas. É uma decorrência natural do tamanho do papel que se entrega à direção de desfile, coordenar um cortejo de milhares de pessoas.

Na cabeça do sambista sem manual, costuma-se falar que evolução é “não deixar buracos”, “não correr” e “dançar”. Mais do que isso, costumamos associar uma boa evolução à escola que passa cantando e dançando de maneira leve e descontraída (ainda que todos nós saibamos que canto não faz parte da evolução).

Mas o que se julga de verdade em evolução?

Entendo que a evolução é o cortejo contínuo, harmônico e espontâneo dos componentes.

Ou seja, por ser contínuo, o cortejo deve ter uma velocidade constante, sem correrias ou paradas sem razão. No critério atual, isso se chama “Variação de Velocidade”.

Aqui é importante anotar que no critério atual (2023), não se pune a desaceleração, mas apenas a aceleração da escola. Ou seja, uma agremiação que fique por 15 minutos parada para corrigir um problema de alegoria, não será punida se retomar o desfile em uma velocidade constante.

Da mesma forma, a escola que fizer um desfile exageradamente curto, poderá parar na linha de fim de desfile até completar o tempo mínimo de regulamento, sem que isso seja uma falha de evolução.

Isso nem sempre foi assim. O manual de julgador já teve diversas mudanças neste sentido, valendo mencionar que há alguns anos atrás havia uma regra de que as escolas não poderiam parar por mais de 15 segundos (exceto para o movimento de recuo da bateria). Essa regra não existe mais.

Outra regra que também não se aplica mais é o chamado “Efeito Sanfona”, o chamado “anda, para, anda, para”, formando ondas na evolução da escola.

Então, pelo critério de hoje, a única punição possível de variação de velocidade é a aceleração.

Perceba que acelerar é aumentar a velocidade, o que é diferente de correr. Ou seja, uma escola que desfile rápido (talvez para que o jurado tenha menos tempo de ver problemas, talvez porque tenha quatro mil componentes), mas sem variar sua velocidade, mantendo esta velocidade do início ao fim, não poderá ser punida neste item. O que não pode acontecer é iniciar o desfile em uma velocidade e alterá-la significativamente ao longo do cortejo.

Essa “Continuidade” representa, então, 28,5% das anotações de Evolução nos últimos cinco anos do Grupo Especial.

Por outro lado, por ser harmônico, esse cortejo não pode quebrar aquele tapete visual que estamos acostumados a ver. Ou seja, não pode haver buracos entre as alas, carros alegóricos, destaques de chão, casais e outros elementos de desfile. Um item deve vir seguido do outro.

Do mesmo modo, cada um desses itens tem que respeitar os demais, não invadindo o espaço alheio ou se chocando com outro elemento. São os critérios: buraco entre alas, invasão e choque com alegoria.

Há ainda o buraco dentro das alas, que tem características um pouco diferentes. Isso porque o regulamento NÃO OBRIGA (e tem muito sambista que não sabe isso) que as escolas desfilem enfileiradas. As escolas podem, sim, desfilar de maneira solta, com o componente brincando dentro de todo o perímetro da ala, indo e voltando como quiser.

Outra lenda urbana do sambista é que o componente não pode “voltar” na pista. Em nenhum lugar do manual isso está escrito. O que ele não pode fazer é invadir o espaço de outra ala. Mas dentro de sua ala ele pode se movimentar como quiser.

Disso, naturalmente decorre que vão surgir pequenos claros e buracos no interior da ala. Mas, se esses buracos não forem constantes, a escola não pode ser punida.

Ou seja, o buraco dentro da ala que pode ser punido é aquele que se mantém constante durante algum tempo.

Existe uma última forma de buraco mais grave, que é a divisão de escola. Considera-se uma divisão de escola quando o espaço é tão grande que existem dois blocos claramente definidos.

A harmonia da evolução (na soma dos quatro critérios) representa mais de 70% das anotações de Evolução.

Por fim, o cortejo tem que ser espontâneo. Aqui falamos da expressão corporal, tão tristemente pouco julgada no Carnaval. Apenas 0,9% das anotações de Evolução no Grupo Especial nos últimos cinco anos se referem à expressão corporal. Fica a dúvida: será que realmente não temos componentes sem entrega na a Avenida? Será que nossos desfiles são realmente tão vibrantes?

De todo modo, o que os indicadores mostram é que, de fato, ainda que o manual não obrigue a desfilar enfileirado, a falta de rigor no julgamento da expressão corporal transforma o enfileiramento na opção óbvia das escolas. Afinal, é muito mais fácil controlar o andamento de uma escola enfileirada e compactada que coordenar um desfile coeso de uma escola com ampla liberdade de movimentação.

E aqui vem o grande xis da questão: eu acredito que enquanto o enfileiramento (também chamado por alguns de desfile militar) não for punido pelo jurado, dificilmente voltaremos a ter aqueles desfiles soltos e vibrantes de que tanta gente é saudosa. As escolas que trazem seus componentes sob rígido controle, no fim das contas, estão certas. Afinal, é o melhor caminho para conquistar o título.

Quais as torres mais importantes do quesito evolução?

Existe uma certa crença de que o pior dos módulos de julgamento em evolução é o último. Afinal, quando a escola precisa correr para fechar o desfile no tempo certo este é o módulo que mais verá alas correndo. De certa forma isso é verdade, mas o que as estatísticas mostram é que este não é o maior problema das escolas.

A condução de um desfile, em regra, acontece pela “cabeça” da escola. Um diretor de harmonia experiente conduz a velocidade da escola até a saída da Comissão de Frente e depois (aqui está o movimento mais difícil) vai retirando gradativamente a cada ala da Avenida. Ocorre que muitas escolas acabam falhando na necessária correção do andamento das alas que vêm a seguir.

Claro que uma ala que vem atrás não tem como correr e atropelar as demais alas, o que leva algumas pessoas a acreditar que “se a cabeça não corre, o resto também não tem como correr”. Porém, um aspecto relevantíssimo do controle do andamento de uma escola não está na cabeça, mas sim na compactação do espaço de desfile.

Imagine uma ala que conduz seus componentes com um espaçamento aproximado de cerca de 1,5m entre cada componente. Se por algum motivo a escola parar, existe uma tendência natural dos componentes de continuarem evoluindo. E o resultado é que o espaço que antes era de 1,5m pode chegar próximo de 0. Em uma ala com 10 fileiras de 8 componentes, essa redução pode chegar a 10 metros (ou o equivalente a 4 grades). Multiplique isso por algumas alas e verá que o espaço que pode se abrir é gigantesco.

Isso implica no buraco entre alas (se o chefe de ala não estiver atento suficiente); dentro das alas; e, principalmente, à frente das alegorias, que por serem gigantescas, não acompanham a mesma velocidade da escola.

No caso das alegorias esse problema é ainda maior na chamada retomada. Afinal, é necessário muito esforço para fazer uma alegoria parada voltar a andar.

Essas oscilações geram um efeito cascata muito difícil de ser controlado por uma direção de desfile que não seja organizada.

A solução destes problemas, ao meu ver, está em uma coordenação de harmonia qualificada, ou seja, os diversos diretores que compõem o time de harmonia e se responsabilizam pelos setores da escola, controlando a compactação nos setores de desfile.

O gráfico mostra exatamente isso. Os módulos mais cruéis com a evolução são justamente os dois primeiros, aqueles nos quais as oscilações da escola são mais sentidas, gerando muitos buracos.

O temido recuo

O gráfico merece um destaque para o tema do Recuo. O módulo que mais despontua é aquele que fica de frente para o box da bateria. A razão, a primeira vista, é óbvia: o recuo é uma manobra complicada e que muitas escolas têm dificuldade de dominar.

Primeiramente é bom lembrar que a escola não tem um tempo certo para fazer o recuo. Pelo contrário, pode levar todo o tempo necessário para recompor o espaço da bateria com calma, desde que a ala que está à frente da bateria não ultrapasse o espaço do recuo.

O erro que as escolas mais se preocupam em evitar é que a cabeça da escola pare no tempo certo e não volte a andar antes da hora. Mas a verdade é que isso não é suficiente. Como dissemos acima, uma falha de compactação pode fazer com que o fundo das alas continue evoluindo, mesmo que a cabeça da escola esteja parada. E na verdade isso acontece com bastante frequência.

Com isso, o ponto em que o diretor de harmonia pensou que a escola pararia se torna insuficiente para controlar o espaço do recuo, avançando alguns metros.

Outra falha bastante comum é que os responsáveis pela ala seguinte se desesperem com o tamanho do espaço e imprimam uma velocidade maior do que a necessária, achando que têm que fechar o espaço o mais rápido possível. O resultado é que, com o movimento acelerado da escola, formam-se novos buracos à frente dos carros, entre as alas e outros elementos de desfile.

Essa falha normalmente é bastante notada pelos jurados do primeiro módulo e essa é uma das razões para que este módulo aplique mais penalidades que os últimos.

Existe uma posição de desfile mais afetada?

Estatisticamente existe uma certa constância no número de erros de evolução em função da posição de desfile. Há um pico de apontamentos na primeira escola de sábado, mas acredito que isso tenha mais a ver com uma coincidência de desfiles conturbados nos últimos cinco anos nesta posição do que propriamente pelo nervosismo de abrir a noite de desfiles.

Note que o número de apontamentos para abertura de sexta é bastante similar à quarta de sábado, uma das posições mais desejadas pelas escolas campeãs.

Existem jurados mais severos?

Uma característica importante do julgamento de evolução é que os jurados se mantém basicamente os mesmos há alguns anos. Há pouca variação no corpo, o que permite identificar com mais clareza o olhar de cada julgador. Uma informação interessante que retiramos do gráfico é que o Jurado 2 tem uma proporção de anotações de variação de velocidade de 46%, 50% a mais que a média dos demais jurados.

Como já fizemos no artigo sobre Fantasia, não vamos revelar o nome dos jurados. Não é esse nosso objetivo aqui, estamos discutindo o julgamento e a estratégia para um bom Carnaval, e não expondo pessoas desnecessariamente.

Quais as melhores escolas do quesito?

No gráfico abaixo eu revelei apenas o nome das escolas mais eficientes no quesito Evolução. Afinal, não estamos aqui para apontar defeitos e sim discutir resultados. Assim, cabe respeitar e analisar as escolas com melhores resultados e se espelhar no sucesso delas.

No gráfico, fica inegável que há uma grande disparidade entre a Acadêmicos do Tatuapé, com uma incrível média de apenas 1,8 erros de evolução por ano, para a última colocada, com 26 anotações em média.

Destaque positivo para Mancha Verde e Acadêmicos do Tucuruvi, também bastante eficientes no quesito, além de Águia de Ouro e Dragões da Real.

Usei o critério da média justamente para conseguir ponderar esse número. Afinal, uma escola que desfilou apenas uma vez no Especial tende a ter numericamente menos falhas. Mas quando usamos a média, colocamos isso em pé de igualdade.

Qual a principal causa dos buracos?

Aqui está uma análise que acho importante de ser feita para traçar um norte da solução de problemas. Considerando que a “Harmonia da Evolução”, que envolve buracos e invasões, representa 70% das anotações do quesito, parece importante destrinchar um pouco os apontamentos do critério para entender se o buraco é mesmo mais embaixo.

Classifiquei os apontamentos de acordo com o local de ocorrência. Obviamente, como os desfiles têm muito mais alas do que carros, há mais apontamentos ali do que aqui. Mas perceba que os números são bem próximos.

Em outras palavras, o que me parece evidente é que o principal problema da evolução está nos carros alegóricos.

Já falamos um pouco sobre isso lá em cima. Carros são gigantes, pesados e, por isso, não conseguem acompanhar com facilidade a evolução da escola. Ou seja, a cada oscilação de velocidade do cortejo (acelerando, desacelerando, parando…) você tem uma mudança de ordens na condução de um carro (“Pára! Anda! Olha o destaque!”). E, naturalmente, essa ordem não é cumprida imediatamente. Há um pequeno atraso e, com isso, é normal que se abram buracos à frente das alegorias, ou colisões com destaques de chão.

E a situação piora muito quando percebemos que muitas vezes a condução das alegorias nas escolas de samba não é feita pela direção de harmonia, mas sim por um grupo à parte, que tem pouco ou até nenhum diálogo com a harmonia. São pessoas pouco integradas dentro do projeto de desfile, quando não diretores de fachada que se sentem super poderosos. Muitas vezes sem conhecimento técnico necessário do sistema de julgamento, essas pessoas muitas vezes arruínam projetos bem estruturados de Carnaval.

Coordenar o ponto mais sensível da evolução de uma escola, que são as alegorias, a um grupo que não dialoga com a direção de desfile pode ser fatal na busca de um título.

Onde o gráfico mostra bateria, vamos entender que estamos falando da manobra de recuo. Ou seja, é um percentual relevante dentro do contexto geral, mas talvez menos grave do que poderíamos pensar. Claro que aqui estamos falando apenas de buracos e invasões, de modo que não podemos esquecer do impacto da manobra equivocada de recuo nas variações de velocidade. Mas sobre esse tema nós já falamos acima.

Interessante falarmos um pouco também sobre a questão dos casais de mestres-sala e porta-bandeiras e destaques de chão. Aqui temos um trabalhoso conflito de interesses.

Obviamente um destaque de chão investe muito na busca de brilhar no Carnaval. Como diz o próprio nome, ele quer e merece “destaque”. Porém, a escola tem que se precaver para não pagar uma fatura cara por isso. A movimentação de destaques muitas vezes impacta na formação de buracos (a alegoria demora a andar para não atropelar o destaque, por exemplo) e invasões. E essas anotações têm aparecido de forma muito constante nas justificativas do Carnaval de São Paulo.

Quanto ao gráfico, é bom evitar uma leitura errada dos dados em relação aos destaques de chão. Muitas anotações feitas sobre destaques citam os carros e vice-versa. A coluna específica para destaques de chão se refere apenas às anotações que citam única e exclusivamente os destaques, mas não alegorias. Sempre que a palavra alegoria foi mencionada, eu a categorizei como “alegoria”.

Algo semelhante eu vejo acontecer com casais de mestres-sala e porta-bandeiras, especialmente os que não estão sendo avaliados. Isso porque o desejo de dançar, brilhar e se apresentar para os jurados muitas vezes causa oscilações desnecessárias no tamanho do espaço de dança. Ainda que as anotações de buracos pelo espaço excessivo do casal sejam poucas, não podemos esquecer que a oscilação desse espaço gera um efeito cascata nos demais itens do desfile, algo extremamente difícil de controlar com a escola em movimento.

Por fim, cabe uma anotação sobre a Comissão de Frente. O sistema de julgamento de São Paulo tem vivido um vai e vem nesse item. Indiscutivelmente não se julga a dança da comissão ou o espaço interno da sua apresentação. Mas também não se pode ignorar um buraco entre a comissão e o primeiro elemento de desfile seguinte (uma ala, um casal etc.).

Analisando os manuais dos jurados dos últimos anos, vemos pelo menos três regras diferentes:

1. Não se pune o espaço entre a comissão e a escola em hipótese alguma
2. Pune-se o espaço entre a comissão e a escola no quesito Comissão de Frente, item fundamento, chamando esse problema de “desgarrar do cortejo”.
3. Pune-se este item dentro de Evolução.

Atualmente a solução do manual é a terceira, salvo engano desde 2022. Sendo que em 2020 tivemos algumas situações de erros de jurados que implicaram no julgamento duplo, ou seja, nos dois quesitos.

Gráficos de constância

Encerramos esse artigo com uma série de gráficos que montei em 2019. Eu estava tentando analisar a constância dos desfiles, ou seja, a manutenção de uma mesma velocidade do início ao fim do cortejo e quantificar as variações.

O método foi simples: Eu estabeleci dois pontos da Avenida e contei o tempo que o primeiro componente de determinada ala demorava para ir do ponto A ao ponto B. Esses pontos eram próximos a duas torres de jurados, por isso, relacionei os dados com as notas que os jurados daquelas torres tinham dado no quesito Evolução. O ponto A ficava alguns metros antes da torre 6 e o ponto B alguns metros depois da torre 8.

Então, para ler o gráfico tenha isso em mente:

Cada coluna é o tempo que a ala demorou para ir de uma torre a outra. AMP é a variação máxima (ou seja, a diferença entre a ala que passou mais rápido e a que passou mais devagar), tanto numérica quanto percentual.

A contagem sempre começava na primeira ala depois da bateria, porque o movimento de recuo impacta bastante na contagem, então precisei limpar os dados para ler isso melhor.

Aqui temos uma escola de constância praticamente perfeita. Quase não há oscilação de velocidade durante todo o desfile. Cada componente sempre levava aproximadamente sete minutos para ir de uma torre a outra, o que resultou em um desfile mais fluido. Menos oscilações ocasionam menos buracos, e a escola acabou saindo da Avenida com a nota máxima nas duas torres. Isso leva a crer que o tempo de transição de 7 minutos seria o ideal naquele desfile, considerando o tamanho da escola.

Essa outra agremiação começou seu desfile em um ritmo mais lento e, conforme o tempo foi passando, acelerou impressionantemente seu andamento, de forma constante. Enquanto o segundo carro levou quase sete minutos para ir de uma torre a outra, o último passou no dobro da velocidade, em três minutos. O jurado da primeira torre percebeu a correria e puniu a escola. O jurado da segunda torre, impressionantemente não viu o problema.

Esse terceiro exemplo também é uma situação de desfile bastante comum. Em dado momento a direção de harmonia começa a correr desnecessariamente, chegando a um tempo de transição de pouco mais de 4 minutos. Com os nervos controlados, a escola retoma um andamento mais leve, exagerando agora para o outro lado, chegando a uma transição de quase dez minutos para não estourar o tempo mínimo de desfile.

Abaixo mais alguns exemplos:

 

 

A conclusão dessa análise, para mim, é que é uma grande mentira a alegada “impossibilidade” de andamento constante que ouço alguns diretores de harmonia defenderem. É plenamente possível (e ainda é bem vindo ao público, já que todos terão a oportunidade de ver o mesmo espetáculo).

Pense que no exemplo da escola H, acima, um espectador da última arquibancada viu o último carro alegórico por poucos segundos. Isso, para mim, é uma falha de desfile e tem que ser punida. O mesmo vale para as primeiras alas da Escola M, que passaram correndo nas primeiras torres para depois praticamente estacionar nas últimas. Em ambos os casos, o espetáculo perdeu.

Por isso que defendo que a desaceleração também deva ser punida. Mas, como já disse, ainda que o modelo atual de julgamento não analise isso, é inegável que um andamento constante e também ajuda a evitar problemas de buracos, invasões e choques, pelos motivos que já expliquei acima. Por isso, se espelhar nos melhores trabalhos de desfile, com andamentos mais constantes, pode ser fundamental para traçar uma estratégia vencedora de Carnaval.

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