‘Os verdadeiros sambistas ficaram de lado’, afirma Fernando Penteado

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“Sambar é um dom divino”, assim começa a carta divulgada pelo Embaixador Mestre do Samba Paulista e um dos mais consagrados baluartes vivos do Carnaval paulistano, Fernando Penteado. O sambista fez duras críticas ao modo atual da realização do desfiles das agremiações: “Já vai longe o tempo que para sair em uma escola de samba o […]

POR Redação SRzd24/05/2019|5 min de leitura

‘Os verdadeiros sambistas ficaram de lado’, afirma Fernando Penteado

Fernando Penteado. Foto: Reprodução

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“Sambar é um dom divino”, assim começa a carta divulgada pelo Embaixador Mestre do Samba Paulista e um dos mais consagrados baluartes vivos do Carnaval paulistano, Fernando Penteado.

O sambista fez duras críticas ao modo atual da realização do desfiles das agremiações: “Já vai longe o tempo que para sair em uma escola de samba o primeiro quesito era saber sambar, hoje basta ter dinheiro para comprar a fantasia”.

No texto enviado ao SRzd, Fernando, ainda relembrou grandes passistas da história da folia de São Paulo, como Edna, Iara Bocão, Matilde, Almerinda, Linda, Silvia, Guga e Cleuza.

Leia a carta na íntegra:

“SAMBAR É UM DOM DIVINO.

Sambar é um dom divino e é ter o privilegio de fazer parte de uma cultura que foi trazida pelos negros africanos quando aqui chegaram na condição de escravos e hoje este nosso velho e bom samba é o carro chefe da cultura popular Brasileira.

Sambar é estar no mais alto patamar da seleta e prestigiada, comunidade sambista.

Sambar é se tornar criança e como criança irradiar alegria e simpatia dentre aos seus participantes.

Sambar é o mesmo que andar nas nuvens, isto porque, quando se samba se levita.

Sambar é um estado de espírito, porque quando se samba, se entra em transe e somos guiados pelos nossos orixás e é através deles que o samba se faz presente e latente. Pergunte a um sambista o que ele vê, ou senti, quanto estava sambando, na certa ele não terá resposta, porque não é ele quem esta sambando e sim seu orixá de cabeça que esta se manifestando e o libertando para que o mesmo faça as mais diversas coreografias, todas elas feitas de pronto e se o mandarmos repetir os passos será muito difícil ele repetir os mesmos.

Todo mundo samba, mas cada um tem o seu próprio jeito de sambar, tem sua própria coreografia e ela é única, é como uma impressão digital, nunca haverá duas iguais. Assim é o samba, ele é único, por este motivo que ele é insuperável e inigualável. Já disseram por ai que (QUEM NÃO GOSTA DE SAMBA, BOM SUJEITO NÃO É, É RUIM DA CABEÇA OU DOENTE DO PÉ) e também podemos acrescentar que é uma pessoa pobre de espírito, que pensa que esta vivendo, mas na verdade esta vegetando, esta caminhando para o nada. Mas ainda é tempo de ser feliz, venha para o samba, venha sambar, venha experimentar esta delícia que os negros trouxeram para cá em suas bagagem e como um relâmpago se propagou por este Brasil afora. E tenha certeza ainda (A QUE A QUEM GOSTA E DIZ QUE NÃO GOSTA, SAMBA PELAS COSTAS, SÓ PRA NÃO DAR O BRAÇO A TORCER), mas o que importa é que mesmo pelas costas o samba esta ai. O samba paulista é um samba jogado, malandreado, mas com muito gingado e a destreza dos seus passistas é insuperável. Passistas como Jaíca, Cristino, Torrada, Guinão, Nenê Pózinho, Barbosinha, Urco, Jobi, Hélio Bagunça e muitos outros. Quando se apresentavam nos desfiles com suas escolas o público vinham ao delírio, e ainda mais quando se faziam acompanhados das mais belas passistas da época como: Edna, Iara Bocão, Matilde, Almerinda, Linda, Silvia, Guga, Cleuza. Hoje infelizmente há poucos passistas. E podemos perceber que nos desfiles das escolas de samba é rara a presença de passistas, eles perderam o lugar para a coreografia, perderam o lugar para o tal de SETE/OITO, perdeu o lugar para o cronômetro, o samba agora tem hora para entrar na passarela e também tem hora para sair, com isto os verdadeiros sambistas ficaram de lado, já não se vê mais nas escolas as alas show’s, alas estas que vinham com grandes passistas, sendo eles masculinos e femininos sem dúvidas era o ponto alto de qualquer desfile. Que neste momento só nos resta lamentar que os nossos reais representantes não tenham mais lugar nos desfiles. Não estamos afirmando que não temos mais sambistas, pelo o contrario, o sambista (passista), sendo ele homem ou mulher estarão sempre por ai, o que falta é oportunidade para eles se apresentarem e oportunidade para eles desfilarem junto com suas escolas e mostrarem que durante o desfile, que uma escola de samba de verdade é aquela que tem samba no pé e este samba no pé só poderá vir dos passistas e das passistas. Já vai longe o tempo que para sair em uma escola de samba o primeiro quesito era saber sambar, hoje basta ter dinheiro para comprar a fantasia, ter um pouco de conhecimento de aeróbica e pronto, lá está ele o folião no meio da escola de samba fazendo as mais diversas evoluções, mas sambar que é bom não pode, se não abre buraco, isto é o que dizem alguns diretores de harmonia, sendo que em sua maioria, com certeza estes diretores não sabem nem tirar o pé do chão. Mas em quanto existirem sambistas, como os citados acima, o nosso velho e bom samba sempre estará presente, para isto basta que as escolas de samba invistam na nova geração, nos sambistas do amanhã, que apesar de pequeninos sambam como gente grande, porque quem é bom já nasce feito, isto vem provar que sambar é um estado de espírito e não uma dança qualquer, neste momento é mais que certo que esta nascendo um sambista e ele na certa será o nosso grande representante, mas para isto temos que hoje preparar o terreno para eles, ou melhor, a passarela, fazendo com que os sambistas de hoje reocupem seus reais lugares dentro dos desfiles.”

Fernando Penteado
Embaixador Mestre do Samba Paulista.

“Sambar é um dom divino”, assim começa a carta divulgada pelo Embaixador Mestre do Samba Paulista e um dos mais consagrados baluartes vivos do Carnaval paulistano, Fernando Penteado.

O sambista fez duras críticas ao modo atual da realização do desfiles das agremiações: “Já vai longe o tempo que para sair em uma escola de samba o primeiro quesito era saber sambar, hoje basta ter dinheiro para comprar a fantasia”.

No texto enviado ao SRzd, Fernando, ainda relembrou grandes passistas da história da folia de São Paulo, como Edna, Iara Bocão, Matilde, Almerinda, Linda, Silvia, Guga e Cleuza.

Leia a carta na íntegra:

“SAMBAR É UM DOM DIVINO.

Sambar é um dom divino e é ter o privilegio de fazer parte de uma cultura que foi trazida pelos negros africanos quando aqui chegaram na condição de escravos e hoje este nosso velho e bom samba é o carro chefe da cultura popular Brasileira.

Sambar é estar no mais alto patamar da seleta e prestigiada, comunidade sambista.

Sambar é se tornar criança e como criança irradiar alegria e simpatia dentre aos seus participantes.

Sambar é o mesmo que andar nas nuvens, isto porque, quando se samba se levita.

Sambar é um estado de espírito, porque quando se samba, se entra em transe e somos guiados pelos nossos orixás e é através deles que o samba se faz presente e latente. Pergunte a um sambista o que ele vê, ou senti, quanto estava sambando, na certa ele não terá resposta, porque não é ele quem esta sambando e sim seu orixá de cabeça que esta se manifestando e o libertando para que o mesmo faça as mais diversas coreografias, todas elas feitas de pronto e se o mandarmos repetir os passos será muito difícil ele repetir os mesmos.

Todo mundo samba, mas cada um tem o seu próprio jeito de sambar, tem sua própria coreografia e ela é única, é como uma impressão digital, nunca haverá duas iguais. Assim é o samba, ele é único, por este motivo que ele é insuperável e inigualável. Já disseram por ai que (QUEM NÃO GOSTA DE SAMBA, BOM SUJEITO NÃO É, É RUIM DA CABEÇA OU DOENTE DO PÉ) e também podemos acrescentar que é uma pessoa pobre de espírito, que pensa que esta vivendo, mas na verdade esta vegetando, esta caminhando para o nada. Mas ainda é tempo de ser feliz, venha para o samba, venha sambar, venha experimentar esta delícia que os negros trouxeram para cá em suas bagagem e como um relâmpago se propagou por este Brasil afora. E tenha certeza ainda (A QUE A QUEM GOSTA E DIZ QUE NÃO GOSTA, SAMBA PELAS COSTAS, SÓ PRA NÃO DAR O BRAÇO A TORCER), mas o que importa é que mesmo pelas costas o samba esta ai. O samba paulista é um samba jogado, malandreado, mas com muito gingado e a destreza dos seus passistas é insuperável. Passistas como Jaíca, Cristino, Torrada, Guinão, Nenê Pózinho, Barbosinha, Urco, Jobi, Hélio Bagunça e muitos outros. Quando se apresentavam nos desfiles com suas escolas o público vinham ao delírio, e ainda mais quando se faziam acompanhados das mais belas passistas da época como: Edna, Iara Bocão, Matilde, Almerinda, Linda, Silvia, Guga, Cleuza. Hoje infelizmente há poucos passistas. E podemos perceber que nos desfiles das escolas de samba é rara a presença de passistas, eles perderam o lugar para a coreografia, perderam o lugar para o tal de SETE/OITO, perdeu o lugar para o cronômetro, o samba agora tem hora para entrar na passarela e também tem hora para sair, com isto os verdadeiros sambistas ficaram de lado, já não se vê mais nas escolas as alas show’s, alas estas que vinham com grandes passistas, sendo eles masculinos e femininos sem dúvidas era o ponto alto de qualquer desfile. Que neste momento só nos resta lamentar que os nossos reais representantes não tenham mais lugar nos desfiles. Não estamos afirmando que não temos mais sambistas, pelo o contrario, o sambista (passista), sendo ele homem ou mulher estarão sempre por ai, o que falta é oportunidade para eles se apresentarem e oportunidade para eles desfilarem junto com suas escolas e mostrarem que durante o desfile, que uma escola de samba de verdade é aquela que tem samba no pé e este samba no pé só poderá vir dos passistas e das passistas. Já vai longe o tempo que para sair em uma escola de samba o primeiro quesito era saber sambar, hoje basta ter dinheiro para comprar a fantasia, ter um pouco de conhecimento de aeróbica e pronto, lá está ele o folião no meio da escola de samba fazendo as mais diversas evoluções, mas sambar que é bom não pode, se não abre buraco, isto é o que dizem alguns diretores de harmonia, sendo que em sua maioria, com certeza estes diretores não sabem nem tirar o pé do chão. Mas em quanto existirem sambistas, como os citados acima, o nosso velho e bom samba sempre estará presente, para isto basta que as escolas de samba invistam na nova geração, nos sambistas do amanhã, que apesar de pequeninos sambam como gente grande, porque quem é bom já nasce feito, isto vem provar que sambar é um estado de espírito e não uma dança qualquer, neste momento é mais que certo que esta nascendo um sambista e ele na certa será o nosso grande representante, mas para isto temos que hoje preparar o terreno para eles, ou melhor, a passarela, fazendo com que os sambistas de hoje reocupem seus reais lugares dentro dos desfiles.”

Fernando Penteado
Embaixador Mestre do Samba Paulista.

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