Ziriguidum: Vc tb c comunica assim?

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A jornalista Aurora Seles traz mais um texto para os leitores do SRzd. A coluna é publicada semanalmente, às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe! A linguagem começa com uma respiração Noto que muitas pessoas não querem se dar ao trabalho para fazer um esforço pelo semelhante. Simplesmente, ignoram. Há […]

POR Redação SRzd09/05/2017|6 min de leitura

Ziriguidum: Vc tb c comunica assim?

Teclado. Foto: Reprodução

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A jornalista Aurora Seles traz mais um texto para os leitores do SRzd.

A coluna é publicada semanalmente, às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A linguagem começa com uma respiração

Noto que muitas pessoas não querem se dar ao trabalho para fazer um esforço pelo semelhante. Simplesmente, ignoram. Há muito tempo inúmeros cidadãos buscam a construção de sua identidade, pela maneira como eles tentam se entender, e a situação “precisa” de um esforço da parte dos outros.

Quando a reciprocidade inexiste, essas pessoas ficam fadadas a pequenos grupos, o que ocorre nas comunidades LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), de diferentes tipos de orientações sexuais. E no segmento Carnaval, onde a população masculina, ainda, é predominante, a comunicação escrita começou a mudar. Por esse pequeno detalhe, pesquisei, ouvi e conversei com algumas fontes. Virou um “textão”. Risos!

Os especialistas não sabem precisamente quando surgiram os idiomas, mas um ponto é certo: a língua é viva e reinventa-se com as pessoas. Ah, claro! Temos de considerar as alterações que são determinadas por lei, como é o caso do Novo Acordo Ortográfico, obrigatório desde o dia 1º de janeiro de 2016, com o objetivo de unificar a nossa escrita às demais nações de língua portuguesa: Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

As variações ocorrem nas origens socioeconômicas, idades, nível de escolaridade, nas ruas, nos sermões, nas palestras, nos discursos, nas idades e nos gêneros. E as mudanças também acontecem na escrita. Estima-se que existam mais de 300 mil palavras na Língua Portuguesa, mas o Aurélio traz 160 mil verbetes, e o Houaiss, 228 mil. No dia a dia, porém, utilizam-se de 1,5 mil a 3 mil deles. A expectativa é que um estudante do ensino fundamental (1ª a 4ª série) conheça cerca de mil palavras.

Cada grupo social é capaz de modificar o falar e o escrever, principalmente quando se trata da população mais jovem, considerada disparadora das mudanças. Estudiosos afirmam que faz parte do papel da juventude se distinguir, quebrar padrões e testar novidades. E isso pode ser conferido na criatividade dos termos utilizados na internet, o chamado “internetês”. Palavras escritas de outras maneiras, como tb, vc, eh e naum (no lugar de também, você, é e não). E, com as gerações, muda a língua, que não para de se recriar.

Tudo isso é dinâmico – e divertido. Aprendo com estudantes, de faixas etárias distintas, muitos termos que contribuem para a fluidez da comunicação. E tenho lido por aí, o uso frequente para neutralizar o tratamento dos gêneros. Mensagens como “Todxs xs convidadxs”, para não distinguir homem ou mulher, usa-se a consoante x. Também vejo o uso do @, algo como “Bom dia amig@s”. Esses recursos aparecem principalmente dentro dos movimentos sociais.

Acredito que a ideia seja positiva para promover a inclusão, mas não devemos ignorar um público específico. Refiro-me aos cegos que utilizam ferramentas de leitura de tela, e podem ter dificuldade de compreender palavras como “todxs” ou “amig@s”. Programas como o NVDA e o Virtual Vision, feitos com o intuito de traduzir para áudio o que está escrito no celular e no computador, não leem corretamente as palavras e emitem sons confusos ao tentarem decifrar o “x” e o “@”. O propósito da linguagem neutra e inclusiva pode ser um desserviço.

Conversei com um amigo jornalista, Renato Barbato, e ele afirma que a leitura feita pela voz sintetizada fica muito comprometida com esses “cacos” (x e @). Também aponta o comportamento individualista, pela falta de diálogo, entre os vários entes transformadores ou formadores de opinião. Barbato perdeu a visão no início de 2006. Atuava como arquiteto e urbanista, em projetos e gerenciamento de lojas de shopping e escritórios. Tinha de ter atenção meticulosa para a infinidade de cálculos e, desde então, reorganizou-se profissionalmente.

Ele é jornalista, locutor e apresentador. A comunicação é inerente às atividades diárias, por isso, questiona: “Se o Acordo Ortográfico foi assinado para unificar a língua portuguesa, como já se cria verbetes que certamente não serão usados em outros países?”. Precavido, ele acredita que o leitor pode ser programado para começar a fazer a leitura correta dessas palavras, mas não será uma palavra unificada e os usuários terão de fazer seus próprios ajustes.

Consultei também o jornalista, professor e artista Weber Fonseca. Para ele, a questão primordial é que a escrita procura neutralizar os gêneros e essas tentativas ocorrem em várias línguas. Fonseca cita uma afirmação da filosofa espanhola Beatriz Preciado: “Não se trata de substituir alguns termos por outros. Não se trata tampouco de desfazer das marcas de gênero ou das referências à heterossexualidade, mas sim de modificar as posições de enunciação”.

Ah, aprendi que existe o PCIG (Português com inclusão de gênero), usado para adotar a forma de não se determinar o gênero masculino ou feminino, pensando na estratégia para o tratamento de indivíduos não-binários com fluidez de gênero. Daí usa-se a vogal “e”: meninEs, amiguEs.

O assunto é complexo e tem muita informação a respeito. Vale a dica de usar uma linguagem simples e direta para que a comunicação seja objetiva. A ideia de conversar, com termos neutros, também é interessante. Experimente. Basta praticar. Veja alguns exemplos:

– Ela saiu. Logo, A pessoa saiu; alguém saiu.
– A casa dela. Então, A casa do indivíduo; da pessoa. A casa de alguém.
– Bom dia a todas. Pode ser assim: Bom dia a todas as pessoas. Bom dia a vocês.
– Como sambista, ela fez muito sucesso. Sugestão: Sambando, fez muito sucesso.
– Essa fantasia é da Souza. Experimente falar/escrever: Essa fantasia é de Souza.
– Os ritmistas da Bateria X são ótimos. Que tal: Ritmistas da Bateria X são ótimos.
– Você fica muito cansada após o desfile? Mais uma opção: Você se cansa após o desfile?

Entender as mudanças na linguagem oral e escrita é perceber o quanto o idioma está em movimento. Nossa comunicação começa por um sopro e a cada movimento da boca surge uma infinidade de letrinhas, todas juntas, formadas por vogais, consoantes, sílabas e, finalmente, as palavras. E tudo resultou nesse artigo para que você troque mais ideias, na cadência do samba, e na comunicação moderna. Ziriguidum!

A jornalista Aurora Seles traz mais um texto para os leitores do SRzd.

A coluna é publicada semanalmente, às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A linguagem começa com uma respiração

Noto que muitas pessoas não querem se dar ao trabalho para fazer um esforço pelo semelhante. Simplesmente, ignoram. Há muito tempo inúmeros cidadãos buscam a construção de sua identidade, pela maneira como eles tentam se entender, e a situação “precisa” de um esforço da parte dos outros.

Quando a reciprocidade inexiste, essas pessoas ficam fadadas a pequenos grupos, o que ocorre nas comunidades LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), de diferentes tipos de orientações sexuais. E no segmento Carnaval, onde a população masculina, ainda, é predominante, a comunicação escrita começou a mudar. Por esse pequeno detalhe, pesquisei, ouvi e conversei com algumas fontes. Virou um “textão”. Risos!

Os especialistas não sabem precisamente quando surgiram os idiomas, mas um ponto é certo: a língua é viva e reinventa-se com as pessoas. Ah, claro! Temos de considerar as alterações que são determinadas por lei, como é o caso do Novo Acordo Ortográfico, obrigatório desde o dia 1º de janeiro de 2016, com o objetivo de unificar a nossa escrita às demais nações de língua portuguesa: Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

As variações ocorrem nas origens socioeconômicas, idades, nível de escolaridade, nas ruas, nos sermões, nas palestras, nos discursos, nas idades e nos gêneros. E as mudanças também acontecem na escrita. Estima-se que existam mais de 300 mil palavras na Língua Portuguesa, mas o Aurélio traz 160 mil verbetes, e o Houaiss, 228 mil. No dia a dia, porém, utilizam-se de 1,5 mil a 3 mil deles. A expectativa é que um estudante do ensino fundamental (1ª a 4ª série) conheça cerca de mil palavras.

Cada grupo social é capaz de modificar o falar e o escrever, principalmente quando se trata da população mais jovem, considerada disparadora das mudanças. Estudiosos afirmam que faz parte do papel da juventude se distinguir, quebrar padrões e testar novidades. E isso pode ser conferido na criatividade dos termos utilizados na internet, o chamado “internetês”. Palavras escritas de outras maneiras, como tb, vc, eh e naum (no lugar de também, você, é e não). E, com as gerações, muda a língua, que não para de se recriar.

Tudo isso é dinâmico – e divertido. Aprendo com estudantes, de faixas etárias distintas, muitos termos que contribuem para a fluidez da comunicação. E tenho lido por aí, o uso frequente para neutralizar o tratamento dos gêneros. Mensagens como “Todxs xs convidadxs”, para não distinguir homem ou mulher, usa-se a consoante x. Também vejo o uso do @, algo como “Bom dia amig@s”. Esses recursos aparecem principalmente dentro dos movimentos sociais.

Acredito que a ideia seja positiva para promover a inclusão, mas não devemos ignorar um público específico. Refiro-me aos cegos que utilizam ferramentas de leitura de tela, e podem ter dificuldade de compreender palavras como “todxs” ou “amig@s”. Programas como o NVDA e o Virtual Vision, feitos com o intuito de traduzir para áudio o que está escrito no celular e no computador, não leem corretamente as palavras e emitem sons confusos ao tentarem decifrar o “x” e o “@”. O propósito da linguagem neutra e inclusiva pode ser um desserviço.

Conversei com um amigo jornalista, Renato Barbato, e ele afirma que a leitura feita pela voz sintetizada fica muito comprometida com esses “cacos” (x e @). Também aponta o comportamento individualista, pela falta de diálogo, entre os vários entes transformadores ou formadores de opinião. Barbato perdeu a visão no início de 2006. Atuava como arquiteto e urbanista, em projetos e gerenciamento de lojas de shopping e escritórios. Tinha de ter atenção meticulosa para a infinidade de cálculos e, desde então, reorganizou-se profissionalmente.

Ele é jornalista, locutor e apresentador. A comunicação é inerente às atividades diárias, por isso, questiona: “Se o Acordo Ortográfico foi assinado para unificar a língua portuguesa, como já se cria verbetes que certamente não serão usados em outros países?”. Precavido, ele acredita que o leitor pode ser programado para começar a fazer a leitura correta dessas palavras, mas não será uma palavra unificada e os usuários terão de fazer seus próprios ajustes.

Consultei também o jornalista, professor e artista Weber Fonseca. Para ele, a questão primordial é que a escrita procura neutralizar os gêneros e essas tentativas ocorrem em várias línguas. Fonseca cita uma afirmação da filosofa espanhola Beatriz Preciado: “Não se trata de substituir alguns termos por outros. Não se trata tampouco de desfazer das marcas de gênero ou das referências à heterossexualidade, mas sim de modificar as posições de enunciação”.

Ah, aprendi que existe o PCIG (Português com inclusão de gênero), usado para adotar a forma de não se determinar o gênero masculino ou feminino, pensando na estratégia para o tratamento de indivíduos não-binários com fluidez de gênero. Daí usa-se a vogal “e”: meninEs, amiguEs.

O assunto é complexo e tem muita informação a respeito. Vale a dica de usar uma linguagem simples e direta para que a comunicação seja objetiva. A ideia de conversar, com termos neutros, também é interessante. Experimente. Basta praticar. Veja alguns exemplos:

– Ela saiu. Logo, A pessoa saiu; alguém saiu.
– A casa dela. Então, A casa do indivíduo; da pessoa. A casa de alguém.
– Bom dia a todas. Pode ser assim: Bom dia a todas as pessoas. Bom dia a vocês.
– Como sambista, ela fez muito sucesso. Sugestão: Sambando, fez muito sucesso.
– Essa fantasia é da Souza. Experimente falar/escrever: Essa fantasia é de Souza.
– Os ritmistas da Bateria X são ótimos. Que tal: Ritmistas da Bateria X são ótimos.
– Você fica muito cansada após o desfile? Mais uma opção: Você se cansa após o desfile?

Entender as mudanças na linguagem oral e escrita é perceber o quanto o idioma está em movimento. Nossa comunicação começa por um sopro e a cada movimento da boca surge uma infinidade de letrinhas, todas juntas, formadas por vogais, consoantes, sílabas e, finalmente, as palavras. E tudo resultou nesse artigo para que você troque mais ideias, na cadência do samba, e na comunicação moderna. Ziriguidum!

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