A força da cultura nordestina, por Jaime Cezário

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Saudações meus queridos amigos do samba e Carnaval! Já descansaram de 2023? Todos prontos para mais um ciclo? Afinal, 2024 está aí, e já começa a todo vapor! A dança das cadeiras este ano foi grande e parece que veremos nos desfiles essa juventude carnavalesca renovada. Bom, assim esperamos… Apaixonados que somos, queremos encantamentos! Alguns, […]

POR Jaime Cezário07/04/2023|5 min de leitura

A força da cultura nordestina, por Jaime Cezário

Desfile da Imperatriz Leopoldinense 2023. Foto: Alex Ferro/Riotur

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Saudações meus queridos amigos do samba e Carnaval! Já descansaram de 2023? Todos prontos para mais um ciclo? Afinal, 2024 está aí, e já começa a todo vapor!

A dança das cadeiras este ano foi grande e parece que veremos nos desfiles essa juventude carnavalesca renovada. Bom, assim esperamos…

Apaixonados que somos, queremos encantamentos! Alguns, nos chamam de saudosistas, outros, de nomes que não posso escrever aqui! Mas o certo é que desejamos muitas loucuras criativas nas cabecinhas fervilhantes de todos os carnavalescos, enredistas e equipe de arte de todas as escolas de samba.

Esse texto é para falar de uma possível tendência dos próximos enredos, pois ainda não saíram as sinopses, só títulos e logomarcas. Mas, pelo que observamos, a viagem está animada de criatividade na busca do popular! A vitória do enredo que valorizava a Literatura de Cordel, pode ter ocasionado o despertar nos “pensadores de enredos” na busca de inspiração em obras de escritores populares, encontrando aí, o caminho fantástico e fantasioso tão necessário para uma boa viagem carnavalesca.

Nas minhas viagens pela história dos enredos, observei um período na década de 70, onde essa temática sertaneja, arretada, com gosto de “jerimum com jabá”, esteve em alta. Vamos recordar?

Começo lembrando de “Os Sertões”, do ano de 1976, enredo da Em Cima da Hora, um desfile que não foi campeão, mas tenho certeza que todos sabem cantar o seu antológico samba:

“Marcados pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão”

Outro destaque é o enredo campeão do Salgueiro, de 1974, do Mestre Joãozinho 30, cujo título era: “O Rei de França na Ilha da Assombração”, uma viagem pela cultura do Maranhão. Seu samba ganhou notoriedade pela linguagem, a letra retratava a linguagem falada pelo povo mais simples da região, você lembra?

“In credo in cruz, ê ê, Vige Maria,
As preta véia se benze, me arrepia
Ô, ô, ô Xangô,
As preta véia não mente, não sinhô”

Outro enredo a ser citado, tinha o título: “O Mundo de Barro do Mestre Vitalino”, trazido pela Império da Tijuca em 1977:

“Nordeste novamente é lembrado
Na figura deste humilde escultor
Vitalino, com seu mundo de barro”

Vale lembrar também da estreia da União da Ilha do Governador no Grupo Principal com o enredo: “Nos Confins da Vila Monte”, em 1975:

“Sob o sol escaldante
Gemia o Nordeste de dor”

Em 1975, tivemos o vice-campeonato da Estação Primeira, exaltando o escritor alagoano Jorge de Lima:

“Jorge de Lima em Alagoas nasceu
Ouviu tudo dos antigos
O que aconteceu…”

Tudo indica que vamos ter, nos próximos carnavais, o predomínio de enredos valorizando as culturas regionais. Assim, veremos histórias com abordagens atualizadas ao momento em que vivemos, no sentido político/educacional. Já notamos isso nas propostas apresentadas pelas duas escolas campeãs deste ano para o Carnaval de 2024: Imperatriz Leopoldinense e Porto da Pedra.

A vitória da Imperatriz com o enredo: “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, baseado no Cordel que contava as aventuras de Lampião após sua morte, deverá despertar a consciência para a importância da cultura popular e de seus escritores.

Descortinando um universo de histórias divertidas e populares, abordando um mundo fantástico que habita a imaginação criativa do povo brasileiro. Acredito que essa será a nova tendência, de valorização da cultura regional, retornando com força renovada, reassumindo novamente o seu papel de protagonismo no cenário carnavalesco.

E você, amigo leitor, acredita que possamos ver novas obras e desfiles inspiradores, como esses que foram lembrados, capazes de gerar enredos, desfiles e sambas que ficarão guardados em nossa memória?

A sorte foi lançada… A roleta está girando. O jeito é buscar uma cigana e pedir que possa ver esses novos rumos, que não seja um sonho, mas sim, o despertar de um novo amanhã! Salve a Cultura Popular Brasileira! Salve a Cultura Nordestina! Salve o Carnaval!

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

Saudações meus queridos amigos do samba e Carnaval! Já descansaram de 2023? Todos prontos para mais um ciclo? Afinal, 2024 está aí, e já começa a todo vapor!

A dança das cadeiras este ano foi grande e parece que veremos nos desfiles essa juventude carnavalesca renovada. Bom, assim esperamos…

Apaixonados que somos, queremos encantamentos! Alguns, nos chamam de saudosistas, outros, de nomes que não posso escrever aqui! Mas o certo é que desejamos muitas loucuras criativas nas cabecinhas fervilhantes de todos os carnavalescos, enredistas e equipe de arte de todas as escolas de samba.

Esse texto é para falar de uma possível tendência dos próximos enredos, pois ainda não saíram as sinopses, só títulos e logomarcas. Mas, pelo que observamos, a viagem está animada de criatividade na busca do popular! A vitória do enredo que valorizava a Literatura de Cordel, pode ter ocasionado o despertar nos “pensadores de enredos” na busca de inspiração em obras de escritores populares, encontrando aí, o caminho fantástico e fantasioso tão necessário para uma boa viagem carnavalesca.

Nas minhas viagens pela história dos enredos, observei um período na década de 70, onde essa temática sertaneja, arretada, com gosto de “jerimum com jabá”, esteve em alta. Vamos recordar?

Começo lembrando de “Os Sertões”, do ano de 1976, enredo da Em Cima da Hora, um desfile que não foi campeão, mas tenho certeza que todos sabem cantar o seu antológico samba:

“Marcados pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão”

Outro destaque é o enredo campeão do Salgueiro, de 1974, do Mestre Joãozinho 30, cujo título era: “O Rei de França na Ilha da Assombração”, uma viagem pela cultura do Maranhão. Seu samba ganhou notoriedade pela linguagem, a letra retratava a linguagem falada pelo povo mais simples da região, você lembra?

“In credo in cruz, ê ê, Vige Maria,
As preta véia se benze, me arrepia
Ô, ô, ô Xangô,
As preta véia não mente, não sinhô”

Outro enredo a ser citado, tinha o título: “O Mundo de Barro do Mestre Vitalino”, trazido pela Império da Tijuca em 1977:

“Nordeste novamente é lembrado
Na figura deste humilde escultor
Vitalino, com seu mundo de barro”

Vale lembrar também da estreia da União da Ilha do Governador no Grupo Principal com o enredo: “Nos Confins da Vila Monte”, em 1975:

“Sob o sol escaldante
Gemia o Nordeste de dor”

Em 1975, tivemos o vice-campeonato da Estação Primeira, exaltando o escritor alagoano Jorge de Lima:

“Jorge de Lima em Alagoas nasceu
Ouviu tudo dos antigos
O que aconteceu…”

Tudo indica que vamos ter, nos próximos carnavais, o predomínio de enredos valorizando as culturas regionais. Assim, veremos histórias com abordagens atualizadas ao momento em que vivemos, no sentido político/educacional. Já notamos isso nas propostas apresentadas pelas duas escolas campeãs deste ano para o Carnaval de 2024: Imperatriz Leopoldinense e Porto da Pedra.

A vitória da Imperatriz com o enredo: “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, baseado no Cordel que contava as aventuras de Lampião após sua morte, deverá despertar a consciência para a importância da cultura popular e de seus escritores.

Descortinando um universo de histórias divertidas e populares, abordando um mundo fantástico que habita a imaginação criativa do povo brasileiro. Acredito que essa será a nova tendência, de valorização da cultura regional, retornando com força renovada, reassumindo novamente o seu papel de protagonismo no cenário carnavalesco.

E você, amigo leitor, acredita que possamos ver novas obras e desfiles inspiradores, como esses que foram lembrados, capazes de gerar enredos, desfiles e sambas que ficarão guardados em nossa memória?

A sorte foi lançada… A roleta está girando. O jeito é buscar uma cigana e pedir que possa ver esses novos rumos, que não seja um sonho, mas sim, o despertar de um novo amanhã! Salve a Cultura Popular Brasileira! Salve a Cultura Nordestina! Salve o Carnaval!

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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