A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) anunciou nesta quarta-feira, dia 24, novas regras de elegibilidade para o Oscar, mas manteve sua posição em relação aos filmes produzidos diretamente para plataformas digitais como a Netflix. O anúncio foi feito após a reunião dos 54 […]
POR Ana Carolina Garcia24/04/2019|7 min de leitura
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) anunciou nesta quarta-feira, dia 24, novas regras de elegibilidade para o Oscar, mas manteve sua posição em relação aos filmes produzidos diretamente para plataformas digitais como a Netflix. O anúncio foi feito após a reunião dos 54 membros do Conselho Diretor da instituição, realizada na última terça-feira, dia 23, em Los Angeles.
As categorias que tiveram suas regras analisadas e modificadas pela AMPAS são as de melhor filme de animação (longa-metragem), curtas-metragens (animados e live-action), filme estrangeiro e maquiagem e cabelo. Criada em 2002 após forte pressão da comunidade hollywoodiana, sobretudo da Disney, a categoria de melhor animação (longa-metragem) tinha como regra o lançamento de ao menos oito títulos para que fosse ativada a cada edição e, consequentemente, tivesse sua estatueta garantida. Como são lançados mais de oito longas de animação todos os anos, a instituição retirou esta obrigatoriedade. Com isso, a votação para curtas e longas animados será automaticamente aberta a todos os membros ativos da Academia nestas categorias, porém outros integrantes devem optar por participar ou não do processo de indicações. Outra mudança também afeta os curtas de animação, bem como os de live-action, pois a partir da próxima edição eles estarão aptos a concorrer ao Oscar se forem exibidos em cinemas de Nova York ou Los Angeles.
Na categoria de melhor maquiagem e cabelo não houve nenhuma mudança no que tange às exigências para que os filmes se tornem elegíveis, mas um aumento no número de concorrentes. De acordo com a nova resolução, a categoria terá até cinco indicados, não três, como aconteceu até a última edição, realizada em fevereiro deste ano. Além disso, a lista de pré-indicados poderá contar com até 10 títulos, não sete, como era anteriormente.
Também sem nenhuma mudança em relação à elegibilidade, a categoria de melhor filme estrangeiro passa a se chamar “melhor filme internacional”. A AMPAS permite que alguns diálogos sejam em inglês, mas o filme tem de ser majoritariamente em outra língua, o que acarretou inúmeras discussões nos últimos anos. Assim, a instituição achou melhor definir a categoria como filme internacional, chamando a atenção para a obrigatoriedade de que os concorrentes sejam produzidos fora dos Estados Unidos. No entanto, continua valendo a regra de que apenas um título será selecionado por país, independentemente de ser em live-action ou animação.
“Notamos que a referência a ‘estrangeiro’ é antiquada dentro da comunidade cinematográfica global. Acreditamos que ‘filme internacional’ representa melhor a categoria, e promove uma visão positiva e inclusiva do cinema, e da sétima-arte como uma experiência universal”, afirmaram Larry Karaszewski e Diane Weyermann, co-presidentes do International Feature Film Committee da AMPAS, em comunicado oficial.
Contudo, a questão que colocou a Academia no olho do furacão este ano não sofreu nenhuma alteração. Desta forma, títulos produzidos diretamente para o streaming continuam seguindo a mesma regra de elegibilidade de produções de estúdios tradicionais: cada filme precisa ficar em cartaz por pelo menos sete dias em Los Angeles, com três sessões diárias cujos ingressos têm de ser comercializados. Apesar da exigência, tais filmes poderão estrear simultaneamente em plataformas digitais.
“Nós apoiamos a experiência da sala de exibição como parte integrante da arte do cinema, e isso pesou muito em nossas discussões. Nossas regras atualmente exigem a exibição no cinema e também permitem que uma ampla seleção de filmes seja submetida à consideração do Oscar. Nós planejamos estudar as mudanças profundas que ocorrem em nossa indústria e continuar as discussões com nossos membros sobre essas questões”, afirmou John Bailey, presidente da AMPAS, em comunicado oficial.
A questão do streaming em grandes premiações como o Oscar tem dividido opiniões dentro e fora de Hollywood, pois há, dentre os fatores apontados, a discrepância de impostos e orçamento entre os filmes dos estúdios tradicionais e das plataformas digitais, que, segundo a imprensa americana, favorece o investimento em campanhas da temporada de prêmios dos títulos produzidos para empresas como a Amazon e a Netflix, responsável por “Roma” (Idem – 2018), drama de Alfonso Cuáron que recebeu 10 indicações ao Oscar, faturando três estatuetas (direção, filme estrangeiro e fotografia). Neste ponto, vale lembrar que a aposta da Netflix para o próximo Oscar é “O Irlandês” (The Irishman – 2019), de Martin Scorsese, que ainda não tem data de lançamento definida.
A polêmica atingiu o seu ápice após a cerimônia do Oscar deste ano e o posicionamento de Steven Spielberg, um dos membros do Conselho, defendendo que todos os filmes deveriam seguir a mesma regra: a de ficar pelo menos quatro semanas em cartaz em salas de exibição, preservando o cinema em sua essência. Além disso, o cineasta afirmou que títulos produzidos diretamente para o streaming deveriam ser classificados como telefilme, tendo vaga garantida em outras premiações, como o Emmy Awards. Para Spielberg, a experiência cinematográfica proporcionada pela sala de exibição deve ser preservada ao máximo. “Espero que todos nós continuemos a acreditar que a nossa maior contribuição como cineastas é dar ao público a experiência cinematográfica da sala de exibição. Acredito definitivamente que os cinemas precisam existir para sempre”, disse o cineasta ao receber o Filmmaker Award, prêmio especial concedido pela Cinema Audio Society, poucos dias antes do Oscar 2019.
A decisão do Conselho da AMPAS apenas adiou a solução para o problema causado pelas críticas acerca da participação da Netflix e de outras plataformas de streaming no Oscar, uma vez que o assunto continuará a ser debatido pela instituição, conforme o próprio John Bailey afirmou em seu comunicado à imprensa. Porém, tal polêmica promete ganhar proporções ainda maiores devido ao lançamento da plataforma digital da Disney, o Disney +, previsto para 12 de novembro deste ano nos Estados Unidos – o serviço de streaming da casa do Mickey pode se tornar o maior concorrente da gigante Netflix, ameaçando a longo prazo seu espaço.
Neste contexto, a chegada do Disney + poderá criar outra polêmica nos próximos anos, sacudindo não apenas a AMPAS, mas a indústria como um todo, como aconteceu no ano passado quando a Academia anunciou a criação da categoria de melhor filme popular, que ainda não foi implementada por causa das inúmeras críticas negativas. Dentre elas, o suposto favorecimento ao cinema pipoca, que tem nos blockbusters estrelados por super-heróis sua maior fonte de renda, vide os US$ 2,04 bilhões de “Vingadores: Guerra Infinita” (Avengers: Infinity War – 2018), fruto da parceria entre a Marvel e a Disney, proprietária da ABC, emissora que detém os direitos de transmissão da cerimônia do Oscar nos Estados Unidos e deseja recuperar a audiência de outrora.
Pouco tempo antes da reunião do Conselho da AMPAS, tentando fugir da polêmica e garantir a presença de suas produções em festivais e premiações de renome, a Netflix anunciou que está negociando a compra de uma tradicional sala de cinema de Los Angeles, o Grauman’s Egyptian Theatre, construído em 1922 por Sid Grauman, no coração da Hollywood Boulevard, e considerado o primeiro palco de uma première hollywoodiana – “Robin Hood” (Idem – 1922), dirigido por Allan Dwan e roteirizado e estrelado por Douglas Fairbanks, um dos fundadores da AMPAS.
O Oscar 2020 será realizado no dia 09 de fevereiro no Dolby Theatre, em Los Angeles.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) anunciou nesta quarta-feira, dia 24, novas regras de elegibilidade para o Oscar, mas manteve sua posição em relação aos filmes produzidos diretamente para plataformas digitais como a Netflix. O anúncio foi feito após a reunião dos 54 membros do Conselho Diretor da instituição, realizada na última terça-feira, dia 23, em Los Angeles.
As categorias que tiveram suas regras analisadas e modificadas pela AMPAS são as de melhor filme de animação (longa-metragem), curtas-metragens (animados e live-action), filme estrangeiro e maquiagem e cabelo. Criada em 2002 após forte pressão da comunidade hollywoodiana, sobretudo da Disney, a categoria de melhor animação (longa-metragem) tinha como regra o lançamento de ao menos oito títulos para que fosse ativada a cada edição e, consequentemente, tivesse sua estatueta garantida. Como são lançados mais de oito longas de animação todos os anos, a instituição retirou esta obrigatoriedade. Com isso, a votação para curtas e longas animados será automaticamente aberta a todos os membros ativos da Academia nestas categorias, porém outros integrantes devem optar por participar ou não do processo de indicações. Outra mudança também afeta os curtas de animação, bem como os de live-action, pois a partir da próxima edição eles estarão aptos a concorrer ao Oscar se forem exibidos em cinemas de Nova York ou Los Angeles.
Na categoria de melhor maquiagem e cabelo não houve nenhuma mudança no que tange às exigências para que os filmes se tornem elegíveis, mas um aumento no número de concorrentes. De acordo com a nova resolução, a categoria terá até cinco indicados, não três, como aconteceu até a última edição, realizada em fevereiro deste ano. Além disso, a lista de pré-indicados poderá contar com até 10 títulos, não sete, como era anteriormente.
Também sem nenhuma mudança em relação à elegibilidade, a categoria de melhor filme estrangeiro passa a se chamar “melhor filme internacional”. A AMPAS permite que alguns diálogos sejam em inglês, mas o filme tem de ser majoritariamente em outra língua, o que acarretou inúmeras discussões nos últimos anos. Assim, a instituição achou melhor definir a categoria como filme internacional, chamando a atenção para a obrigatoriedade de que os concorrentes sejam produzidos fora dos Estados Unidos. No entanto, continua valendo a regra de que apenas um título será selecionado por país, independentemente de ser em live-action ou animação.
“Notamos que a referência a ‘estrangeiro’ é antiquada dentro da comunidade cinematográfica global. Acreditamos que ‘filme internacional’ representa melhor a categoria, e promove uma visão positiva e inclusiva do cinema, e da sétima-arte como uma experiência universal”, afirmaram Larry Karaszewski e Diane Weyermann, co-presidentes do International Feature Film Committee da AMPAS, em comunicado oficial.
Contudo, a questão que colocou a Academia no olho do furacão este ano não sofreu nenhuma alteração. Desta forma, títulos produzidos diretamente para o streaming continuam seguindo a mesma regra de elegibilidade de produções de estúdios tradicionais: cada filme precisa ficar em cartaz por pelo menos sete dias em Los Angeles, com três sessões diárias cujos ingressos têm de ser comercializados. Apesar da exigência, tais filmes poderão estrear simultaneamente em plataformas digitais.
“Nós apoiamos a experiência da sala de exibição como parte integrante da arte do cinema, e isso pesou muito em nossas discussões. Nossas regras atualmente exigem a exibição no cinema e também permitem que uma ampla seleção de filmes seja submetida à consideração do Oscar. Nós planejamos estudar as mudanças profundas que ocorrem em nossa indústria e continuar as discussões com nossos membros sobre essas questões”, afirmou John Bailey, presidente da AMPAS, em comunicado oficial.
A questão do streaming em grandes premiações como o Oscar tem dividido opiniões dentro e fora de Hollywood, pois há, dentre os fatores apontados, a discrepância de impostos e orçamento entre os filmes dos estúdios tradicionais e das plataformas digitais, que, segundo a imprensa americana, favorece o investimento em campanhas da temporada de prêmios dos títulos produzidos para empresas como a Amazon e a Netflix, responsável por “Roma” (Idem – 2018), drama de Alfonso Cuáron que recebeu 10 indicações ao Oscar, faturando três estatuetas (direção, filme estrangeiro e fotografia). Neste ponto, vale lembrar que a aposta da Netflix para o próximo Oscar é “O Irlandês” (The Irishman – 2019), de Martin Scorsese, que ainda não tem data de lançamento definida.
A polêmica atingiu o seu ápice após a cerimônia do Oscar deste ano e o posicionamento de Steven Spielberg, um dos membros do Conselho, defendendo que todos os filmes deveriam seguir a mesma regra: a de ficar pelo menos quatro semanas em cartaz em salas de exibição, preservando o cinema em sua essência. Além disso, o cineasta afirmou que títulos produzidos diretamente para o streaming deveriam ser classificados como telefilme, tendo vaga garantida em outras premiações, como o Emmy Awards. Para Spielberg, a experiência cinematográfica proporcionada pela sala de exibição deve ser preservada ao máximo. “Espero que todos nós continuemos a acreditar que a nossa maior contribuição como cineastas é dar ao público a experiência cinematográfica da sala de exibição. Acredito definitivamente que os cinemas precisam existir para sempre”, disse o cineasta ao receber o Filmmaker Award, prêmio especial concedido pela Cinema Audio Society, poucos dias antes do Oscar 2019.
A decisão do Conselho da AMPAS apenas adiou a solução para o problema causado pelas críticas acerca da participação da Netflix e de outras plataformas de streaming no Oscar, uma vez que o assunto continuará a ser debatido pela instituição, conforme o próprio John Bailey afirmou em seu comunicado à imprensa. Porém, tal polêmica promete ganhar proporções ainda maiores devido ao lançamento da plataforma digital da Disney, o Disney +, previsto para 12 de novembro deste ano nos Estados Unidos – o serviço de streaming da casa do Mickey pode se tornar o maior concorrente da gigante Netflix, ameaçando a longo prazo seu espaço.
Neste contexto, a chegada do Disney + poderá criar outra polêmica nos próximos anos, sacudindo não apenas a AMPAS, mas a indústria como um todo, como aconteceu no ano passado quando a Academia anunciou a criação da categoria de melhor filme popular, que ainda não foi implementada por causa das inúmeras críticas negativas. Dentre elas, o suposto favorecimento ao cinema pipoca, que tem nos blockbusters estrelados por super-heróis sua maior fonte de renda, vide os US$ 2,04 bilhões de “Vingadores: Guerra Infinita” (Avengers: Infinity War – 2018), fruto da parceria entre a Marvel e a Disney, proprietária da ABC, emissora que detém os direitos de transmissão da cerimônia do Oscar nos Estados Unidos e deseja recuperar a audiência de outrora.
Pouco tempo antes da reunião do Conselho da AMPAS, tentando fugir da polêmica e garantir a presença de suas produções em festivais e premiações de renome, a Netflix anunciou que está negociando a compra de uma tradicional sala de cinema de Los Angeles, o Grauman’s Egyptian Theatre, construído em 1922 por Sid Grauman, no coração da Hollywood Boulevard, e considerado o primeiro palco de uma première hollywoodiana – “Robin Hood” (Idem – 1922), dirigido por Allan Dwan e roteirizado e estrelado por Douglas Fairbanks, um dos fundadores da AMPAS.
O Oscar 2020 será realizado no dia 09 de fevereiro no Dolby Theatre, em Los Angeles.