No próximo domingo, dia 09, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizará no Dolby Theater, em Los Angeles, a 92a cerimônia de entrega do Oscar. Como se trata do prêmio mais cobiçado do cinema mundial, preparei um especial com análises das categorias principais […]
POR Ana Carolina Garcia02/02/2020|9 min de leitura
No próximo domingo, dia 09, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizará no Dolby Theater, em Los Angeles, a 92a cerimônia de entrega do Oscar. Como se trata do prêmio mais cobiçado do cinema mundial, preparei um especial com análises das categorias principais (melhor filme, direção, ator, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante) e um pequeno perfil de seus indicados, começando nesta segunda-feira, dia 03, pela categoria de melhor atriz coadjuvante.
Assim como nos anos anteriores, a Academia fez o possível para não se envolver em polêmicas, mas não conseguiu evitá-las, sobretudo no que tange a um dos assuntos mais debatidos pela comunidade hollywoodiana atualmente: o streaming. Neste contexto, a AMPAS acabou se dividindo entre membros favoráveis a colocar produções originais de plataformas digitais no mesmo “balaio” que as produzidas pelos estúdios tradicionais, e tantos outros que se opõem veementemente ao novo formato, defendendo a experiência proporcionada pela sala de exibição e, consequentemente, o lucro em bilheterias responsável por manter as engrenagens da indústria funcionando.
Membro do conselho diretor da AMPAS, Steven Spielberg propôs regras de elegibilidade mais rígidas na reunião de abril do ano passado, principalmente a de que cada filme tem de ficar pelo menos quatro semanas em cartaz em salas de exibição. O posicionamento de Spielberg fortaleceu a corrente que classifica como telefilmes as produções originais das plataformas de streaming, como a Netflix, que, este ano, tem dois títulos disputando a estatueta principal: “História de um Casamento” (Marriage Story – 2019) e “O Irlandês” (The Irishman – 2019), respectivamente dirigidos por Noah Baumbach e Martin Scorsese, que recentemente se viu no olho do furacão ao chamar longas de super-heróis de “parques temáticos”, inclusive os da Marvel, que pertence à Disney, proprietária, também, da ABC, emissora que detém os direitos de transmissão da cerimônia do Oscar nos Estados Unidos.
De acordo com a imprensa americana à época, a falta de divulgação de dados da Netflix em termos de audiência e, obviamente, de lucro também pesou na defesa de Spielberg por regras mais rígidas. Assim como, ainda segundo os veículos americanos, o fato de a companhia não pagar as mesmas taxas e impostos que os estúdios, o que acaba incomodando os executivos de cinema, incômodo que aumentou após a adesão da empresa à Motion Picture Association of America (MPAA), que pressiona para que todos sigam as mesmas regras, inclusive no que tange à transparência dos números. Esta diferença gera uma economia para as plataformas, que podem utilizar o dinheiro tanto em novos projetos quanto em campanhas da temporada de premiações que termina com o Oscar. Um exemplo disso é “Roma” (Idem – 2018). Dirigido por Alfonso Cuarón para a Netflix, o longa tem orçamento estimado em US$ 15 milhões, mas sua campanha rumo ao Oscar custou de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, segundo o The New York Times.
Apesar da pressão, a AMPAS decidiu durante a reunião do Conselho, realizada em 24 de abril do ano passado, que os títulos produzidos diretamente para o streaming continuariam seguindo as mesmas regras de elegibilidade de produções de estúdios tradicionais. Com isso, cada filme precisa ficar em cartaz por pelo menos sete dias em Los Angeles, com três sessões diárias cujos ingressos têm de ser comercializados, podendo estrear simultaneamente em plataformas digitais. A decisão da Academia não foi seguida por outras instituições, como o Sindicato de Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA), que anunciou, em junho de 2019, uma mudança na regra de elegibilidade da categoria principal, melhor diretor, tornando inelegíveis filmes que estreiem no mesmo “dia e data” tanto nas plataformas de streaming quanto nas salas de exibição.
De acordo com a Variety, a Netflix comprou o histórico Egyptian Theatre, em Los Angeles, e arrendou o tradicional Paris Theater, em Nova York, para demonstrar seu comprometimento com a indústria. Estas negociações também visam amenizar a polêmica que tem dominado as temporadas de premiações nos últimos anos, inclusive neste, pois a Netflix totaliza 24 indicações em diversas categorias.
Além da discussão acerca das plataformas digitais, a instituição também precisou lidar com uma enxurrada de críticas após a divulgação da lista de indicados no que tange à diversidade, representatividade e inclusão. Isto se deve ao fato de que, nas categorias principais, há apenas uma atriz negra, Cynthia Erivo, um ator latino, Joaquin Phoenix, um cineasta asiático, Bong Joon-ho, e nenhuma mulher entre as finalistas de melhor direção. No entanto, isto reflete a situação da indústria hollywoodiana, que ainda está tentando se adequar às novas exigências da sociedade. Este é um processo tardio e gradativo, resumido com muita propriedade por Viola Davis em seu discurso de agradecimento no Emmy Awards 2015, citando Harriet Tubman, interpretada por Erivo em “Harriet” (Idem – 2019): “‘Na minha mente, vejo uma linha. E acima dessa linha, vejo campos verdes, lindas flores e belas mulheres brancas com os braços estendidos para mim, acima dessa linha. Mas eu não consigo chegar lá de jeito nenhum. Não consigo superar essa linha’. Isso foi Harriet Tubman nos anos 1800. E deixa contar uma coisa para vocês, a única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papeis que não existem”.
Nesta edição, não há nenhum longa-metragem brasileiro disputando a estatueta de melhor filme internacional, outrora chamada de “melhor filme estrangeiro”. No entanto, o Brasil se faz presente por meio da indicação de “Democracia em Vertigem” (2019) como melhor documentário. Considerando que o vencedor do PGA Awards de documentário, “Apollo 11” (Idem – 2019), foi esnobado pela AMPAS, não há como fazer nenhuma predição sobre esta categoria. Contudo, os resultados de outras instituições, no que tange à quantidade de prêmios, deixam o cenário favorável não para o longa de Petra Costa, que é uma produção original Netflix, mas para “For Sama” (Idem – 2019), de Waad Al-Kateab e Edward Watts, que tem em seu encalço “Honeyland” (Idem – 2019), de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, “Indústria Americana” (American Factory – 2019), de Steven Bognar e Julia Reichert, e “The Cave” (Idem – 2019), de Feras Fayyad.
Visando melhorar seus índices de audiência, a AMPAS promete uma festa mais ágil, seguindo o formato da anterior, sem mestre de cerimônias, mas contando com apresentadores consagrados pelo público, como Mark Ruffalo, George MacKay, Penélope Cruz, Keanu Reeves, Gal Gadot, Regina King, Olivia Colman, Mahershala Ali e Rami Malek. Esta preocupação é antiga, pois a fatia mais jovem dos espectadores não se interessa tanto pela cerimônia, considerada por muitos cansativa de assistir.
No entanto, o público mais jovem tem como atrativos títulos do filão criticado por Scorsese: “Vingadores: Ultimato” (Avengers: Endgame – 2019), dos irmãos Anthony e Joe Russo, e “Coringa” (Joker – 2019), de Todd Phillips. Filme solo do Palhaço do Crime, “Coringa” é líder de indicações este ano, 11 ao todo, incluindo as de melhor filme, direção e ator para Joaquin Phoenix. Produzido por Phillips, Emma Tillinger Koskoff e Bradley Cooper, o longa rompeu a barreira do preconceito em termos de nomeações, mas ela ainda existe na votação final, pois indicar é totalmente diferente de premiar, lembrando que, à época de seu lançamento, a imprensa americana noticiou que alguns integrantes da Academia se recusaram a assisti-lo devido ao conteúdo violento de sua trama sobre doença mental, bullying e desigualdade social.
A corrida pelo Oscar 2020 é uma das mais equilibradas dos últimos anos, algo que pode ser observado na categoria de melhor filme, que tem como favorito “1917” (Idem – 2019). Dirigido por Sam Mendes, o drama ambientado na Primeira Guerra Mundial venceu os maiores indicativos do prêmio da AMPAS, o Globo de Ouro de melhor filme de drama e o The Darryl F. Zanuck Award (PGA Awards), concedidos, respectivamente, pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e pelo Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos (Producers Guild of America – PGA).
A 92ª cerimônia de entrega do Oscar será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT, a partir das 20h30 (horário de Brasília) com a cobertura do tapete vermelho, e pela Rede Globo (após o jogo do Brasil).
No próximo domingo, dia 09, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizará no Dolby Theater, em Los Angeles, a 92a cerimônia de entrega do Oscar. Como se trata do prêmio mais cobiçado do cinema mundial, preparei um especial com análises das categorias principais (melhor filme, direção, ator, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante) e um pequeno perfil de seus indicados, começando nesta segunda-feira, dia 03, pela categoria de melhor atriz coadjuvante.
Assim como nos anos anteriores, a Academia fez o possível para não se envolver em polêmicas, mas não conseguiu evitá-las, sobretudo no que tange a um dos assuntos mais debatidos pela comunidade hollywoodiana atualmente: o streaming. Neste contexto, a AMPAS acabou se dividindo entre membros favoráveis a colocar produções originais de plataformas digitais no mesmo “balaio” que as produzidas pelos estúdios tradicionais, e tantos outros que se opõem veementemente ao novo formato, defendendo a experiência proporcionada pela sala de exibição e, consequentemente, o lucro em bilheterias responsável por manter as engrenagens da indústria funcionando.
Membro do conselho diretor da AMPAS, Steven Spielberg propôs regras de elegibilidade mais rígidas na reunião de abril do ano passado, principalmente a de que cada filme tem de ficar pelo menos quatro semanas em cartaz em salas de exibição. O posicionamento de Spielberg fortaleceu a corrente que classifica como telefilmes as produções originais das plataformas de streaming, como a Netflix, que, este ano, tem dois títulos disputando a estatueta principal: “História de um Casamento” (Marriage Story – 2019) e “O Irlandês” (The Irishman – 2019), respectivamente dirigidos por Noah Baumbach e Martin Scorsese, que recentemente se viu no olho do furacão ao chamar longas de super-heróis de “parques temáticos”, inclusive os da Marvel, que pertence à Disney, proprietária, também, da ABC, emissora que detém os direitos de transmissão da cerimônia do Oscar nos Estados Unidos.
De acordo com a imprensa americana à época, a falta de divulgação de dados da Netflix em termos de audiência e, obviamente, de lucro também pesou na defesa de Spielberg por regras mais rígidas. Assim como, ainda segundo os veículos americanos, o fato de a companhia não pagar as mesmas taxas e impostos que os estúdios, o que acaba incomodando os executivos de cinema, incômodo que aumentou após a adesão da empresa à Motion Picture Association of America (MPAA), que pressiona para que todos sigam as mesmas regras, inclusive no que tange à transparência dos números. Esta diferença gera uma economia para as plataformas, que podem utilizar o dinheiro tanto em novos projetos quanto em campanhas da temporada de premiações que termina com o Oscar. Um exemplo disso é “Roma” (Idem – 2018). Dirigido por Alfonso Cuarón para a Netflix, o longa tem orçamento estimado em US$ 15 milhões, mas sua campanha rumo ao Oscar custou de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, segundo o The New York Times.
Apesar da pressão, a AMPAS decidiu durante a reunião do Conselho, realizada em 24 de abril do ano passado, que os títulos produzidos diretamente para o streaming continuariam seguindo as mesmas regras de elegibilidade de produções de estúdios tradicionais. Com isso, cada filme precisa ficar em cartaz por pelo menos sete dias em Los Angeles, com três sessões diárias cujos ingressos têm de ser comercializados, podendo estrear simultaneamente em plataformas digitais. A decisão da Academia não foi seguida por outras instituições, como o Sindicato de Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA), que anunciou, em junho de 2019, uma mudança na regra de elegibilidade da categoria principal, melhor diretor, tornando inelegíveis filmes que estreiem no mesmo “dia e data” tanto nas plataformas de streaming quanto nas salas de exibição.
De acordo com a Variety, a Netflix comprou o histórico Egyptian Theatre, em Los Angeles, e arrendou o tradicional Paris Theater, em Nova York, para demonstrar seu comprometimento com a indústria. Estas negociações também visam amenizar a polêmica que tem dominado as temporadas de premiações nos últimos anos, inclusive neste, pois a Netflix totaliza 24 indicações em diversas categorias.
Além da discussão acerca das plataformas digitais, a instituição também precisou lidar com uma enxurrada de críticas após a divulgação da lista de indicados no que tange à diversidade, representatividade e inclusão. Isto se deve ao fato de que, nas categorias principais, há apenas uma atriz negra, Cynthia Erivo, um ator latino, Joaquin Phoenix, um cineasta asiático, Bong Joon-ho, e nenhuma mulher entre as finalistas de melhor direção. No entanto, isto reflete a situação da indústria hollywoodiana, que ainda está tentando se adequar às novas exigências da sociedade. Este é um processo tardio e gradativo, resumido com muita propriedade por Viola Davis em seu discurso de agradecimento no Emmy Awards 2015, citando Harriet Tubman, interpretada por Erivo em “Harriet” (Idem – 2019): “‘Na minha mente, vejo uma linha. E acima dessa linha, vejo campos verdes, lindas flores e belas mulheres brancas com os braços estendidos para mim, acima dessa linha. Mas eu não consigo chegar lá de jeito nenhum. Não consigo superar essa linha’. Isso foi Harriet Tubman nos anos 1800. E deixa contar uma coisa para vocês, a única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papeis que não existem”.
Nesta edição, não há nenhum longa-metragem brasileiro disputando a estatueta de melhor filme internacional, outrora chamada de “melhor filme estrangeiro”. No entanto, o Brasil se faz presente por meio da indicação de “Democracia em Vertigem” (2019) como melhor documentário. Considerando que o vencedor do PGA Awards de documentário, “Apollo 11” (Idem – 2019), foi esnobado pela AMPAS, não há como fazer nenhuma predição sobre esta categoria. Contudo, os resultados de outras instituições, no que tange à quantidade de prêmios, deixam o cenário favorável não para o longa de Petra Costa, que é uma produção original Netflix, mas para “For Sama” (Idem – 2019), de Waad Al-Kateab e Edward Watts, que tem em seu encalço “Honeyland” (Idem – 2019), de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, “Indústria Americana” (American Factory – 2019), de Steven Bognar e Julia Reichert, e “The Cave” (Idem – 2019), de Feras Fayyad.
Visando melhorar seus índices de audiência, a AMPAS promete uma festa mais ágil, seguindo o formato da anterior, sem mestre de cerimônias, mas contando com apresentadores consagrados pelo público, como Mark Ruffalo, George MacKay, Penélope Cruz, Keanu Reeves, Gal Gadot, Regina King, Olivia Colman, Mahershala Ali e Rami Malek. Esta preocupação é antiga, pois a fatia mais jovem dos espectadores não se interessa tanto pela cerimônia, considerada por muitos cansativa de assistir.
No entanto, o público mais jovem tem como atrativos títulos do filão criticado por Scorsese: “Vingadores: Ultimato” (Avengers: Endgame – 2019), dos irmãos Anthony e Joe Russo, e “Coringa” (Joker – 2019), de Todd Phillips. Filme solo do Palhaço do Crime, “Coringa” é líder de indicações este ano, 11 ao todo, incluindo as de melhor filme, direção e ator para Joaquin Phoenix. Produzido por Phillips, Emma Tillinger Koskoff e Bradley Cooper, o longa rompeu a barreira do preconceito em termos de nomeações, mas ela ainda existe na votação final, pois indicar é totalmente diferente de premiar, lembrando que, à época de seu lançamento, a imprensa americana noticiou que alguns integrantes da Academia se recusaram a assisti-lo devido ao conteúdo violento de sua trama sobre doença mental, bullying e desigualdade social.
A corrida pelo Oscar 2020 é uma das mais equilibradas dos últimos anos, algo que pode ser observado na categoria de melhor filme, que tem como favorito “1917” (Idem – 2019). Dirigido por Sam Mendes, o drama ambientado na Primeira Guerra Mundial venceu os maiores indicativos do prêmio da AMPAS, o Globo de Ouro de melhor filme de drama e o The Darryl F. Zanuck Award (PGA Awards), concedidos, respectivamente, pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e pelo Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos (Producers Guild of America – PGA).
A 92ª cerimônia de entrega do Oscar será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT, a partir das 20h30 (horário de Brasília) com a cobertura do tapete vermelho, e pela Rede Globo (após o jogo do Brasil).