‘O Diabo de Cada Dia’: violência e fanatismo religioso
Adaptação de “O Mal Nosso de Cada Dia”, de Donald Ray Pollock, “O Diabo de Cada Dia” (The Devil All the Time – 2020) concede ao espectador uma experiência incômoda ao explorar com perspicácia os gêneros aos quais é classificado, drama e suspense. Principal estreia da Netflix nesta quarta-feira, dia 16, o longa é dirigido […]
POR Ana Carolina Garcia16/09/2020|3 min de leitura
Adaptação de “O Mal Nosso de Cada Dia”, de Donald Ray Pollock, “O Diabo de Cada Dia” (The Devil All the Time – 2020) concede ao espectador uma experiência incômoda ao explorar com perspicácia os gêneros aos quais é classificado, drama e suspense. Principal estreia da Netflix nesta quarta-feira, dia 16, o longa é dirigido por Antônio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes.
Narrado por Pollock, o longa conta a história de Arvin Russell (Michael Banks Repeta / Tom Holland), que precisa lidar com dores e fantasmas do passado à medida que é confrontado com uma realidade que aflora o lado mais sombrio de sua personalidade, herdado do pai, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial. Paralelamente a isso, diversas figuras desprovidas de caráter ou acometidas por distúrbios mentais surgem em tramas secundárias, assombrando a pequena cidade de Knockemstiff, no estado americano de Ohio, dentre elas, o xerife corrupto e o casal de serial-killers que fotografa cada uma de suas vítimas.
Abordando primordialmente a fé cega utilizada por pessoas mentalmente perturbadas como justificativa para cometer crimes hediondos, vide o pastor que comete assassinato clamando por ressurreição, “O Diabo de Cada Dia” impressiona pela qualidade do roteiro assinado pelos irmãos Antônio e Paulo Campos. Mantendo o ritmo narrativo, o longa apresenta sua trama com segurança, trabalhando com propriedade suas subtramas. Alicerçado pela montagem apurada de Sofía Subercaseaux, esposa de Antônio, o filme também apresenta boas escolhas estéticas, sobretudo na recriação de época e na inserção de elementos gore em algumas sequências.
“O Diabo de Cada Dia” conta com elenco afiado e em total sintonia. Contudo, os destaques são Tom Holland, Robert Pattinson (Preston Teagardin) e Sebastian Stan (Xerife Lee Bodecker). Enquanto Tom Holland explora as inúmeras questões que envolvem o passado e o presente de seu personagem, muitas vezes exprimindo dor e desespero apenas no olhar, tal qual em seu trabalho de estreia “O Impossível” (Lo imposible – 2012), Pattinson aposta no tom quase caricato para dar vida ao pastor vigarista e pedófilo, e Stan permite que o lado mais obscuro do xerife sobressaia em meio à ganância e à dor da perda. São atuações interessantes que agregam enorme valor ao longa.
Produzido por Jake Gyllenhaal, colega de cena de Holland em “Homem-Aranha: Longe de Casa” (Spider-Man: Far from Home – 2019), “O Diabo de Cada Dia” é, no fim das contas, um filme sobre ação e reação numa sociedade acometida por distúrbios mentais escondidos pelo manto da fé, contrariando tudo o que os cristãos pregam no que tange ao respeito e amor ao próximo. Desta forma, assume o tom crítico ao fanatismo religioso que, calcado na violência, acaba por afastar da Igreja pessoas que procuram na fé o conforto para lidar com as adversidades da vida.
Assista ao trailer oficial:
Adaptação de “O Mal Nosso de Cada Dia”, de Donald Ray Pollock, “O Diabo de Cada Dia” (The Devil All the Time – 2020) concede ao espectador uma experiência incômoda ao explorar com perspicácia os gêneros aos quais é classificado, drama e suspense. Principal estreia da Netflix nesta quarta-feira, dia 16, o longa é dirigido por Antônio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes.
Narrado por Pollock, o longa conta a história de Arvin Russell (Michael Banks Repeta / Tom Holland), que precisa lidar com dores e fantasmas do passado à medida que é confrontado com uma realidade que aflora o lado mais sombrio de sua personalidade, herdado do pai, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial. Paralelamente a isso, diversas figuras desprovidas de caráter ou acometidas por distúrbios mentais surgem em tramas secundárias, assombrando a pequena cidade de Knockemstiff, no estado americano de Ohio, dentre elas, o xerife corrupto e o casal de serial-killers que fotografa cada uma de suas vítimas.
Abordando primordialmente a fé cega utilizada por pessoas mentalmente perturbadas como justificativa para cometer crimes hediondos, vide o pastor que comete assassinato clamando por ressurreição, “O Diabo de Cada Dia” impressiona pela qualidade do roteiro assinado pelos irmãos Antônio e Paulo Campos. Mantendo o ritmo narrativo, o longa apresenta sua trama com segurança, trabalhando com propriedade suas subtramas. Alicerçado pela montagem apurada de Sofía Subercaseaux, esposa de Antônio, o filme também apresenta boas escolhas estéticas, sobretudo na recriação de época e na inserção de elementos gore em algumas sequências.
“O Diabo de Cada Dia” conta com elenco afiado e em total sintonia. Contudo, os destaques são Tom Holland, Robert Pattinson (Preston Teagardin) e Sebastian Stan (Xerife Lee Bodecker). Enquanto Tom Holland explora as inúmeras questões que envolvem o passado e o presente de seu personagem, muitas vezes exprimindo dor e desespero apenas no olhar, tal qual em seu trabalho de estreia “O Impossível” (Lo imposible – 2012), Pattinson aposta no tom quase caricato para dar vida ao pastor vigarista e pedófilo, e Stan permite que o lado mais obscuro do xerife sobressaia em meio à ganância e à dor da perda. São atuações interessantes que agregam enorme valor ao longa.
Produzido por Jake Gyllenhaal, colega de cena de Holland em “Homem-Aranha: Longe de Casa” (Spider-Man: Far from Home – 2019), “O Diabo de Cada Dia” é, no fim das contas, um filme sobre ação e reação numa sociedade acometida por distúrbios mentais escondidos pelo manto da fé, contrariando tudo o que os cristãos pregam no que tange ao respeito e amor ao próximo. Desta forma, assume o tom crítico ao fanatismo religioso que, calcado na violência, acaba por afastar da Igreja pessoas que procuram na fé o conforto para lidar com as adversidades da vida.