Sobre Muhammad, Kendrick e LeBron – e de como ficaremos bem
Por Pedro de Freitas Malcolm, Martin e Muhammad. Em tempos muito mais sombrios que os de hoje, há mais de cinquenta anos, este foi o tripé que sustentou a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Malcolm era o espírito da luta, a vontade do guerreiro; Martin, a convicção de que os caminhos […]
PORClaudio Francioni9/11/2016|
4 min de leitura
Por Pedro de Freitas Malcolm, Martin e Muhammad. Em tempos muito mais sombrios que os de hoje, há mais de cinquenta anos, este foi o tripé que sustentou a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Malcolm era o espírito da luta, a vontade do guerreiro; Martin, a convicção de que os caminhos […]
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Por Pedro de Freitas
Malcolm, Martin e Muhammad. Em tempos muito mais sombrios que os de hoje, há mais de cinquenta anos, este foi o tripé que sustentou a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Malcolm era o espírito da luta, a vontade do guerreiro; Martin, a convicção de que os caminhos da revolução e do pacifismo não são necessariamente diferentes. Muhammad não era pregador religioso ou filósofo; entretanto, à sua forma, como um praticante da “nobre arte”, sua retórica transformou uma parcela da população segregada e marginalizada em candidatos a príncipes e heróis. Muhammad era negro. E era lindo. E se orgulhava disso. A revolução de Muhammad foi a do resgate da auto estima das minorias, não somente raciais, mas de credo, gênero, nacionalidade. Muhammad deixou muitos herdeiros espirituais, nos Estados Unidos e fora dele. Dois deles atendem hoje pelo nome de Kendrick e LeBron.
Sobre Kendrick, o músico de rap, hoje vive seu melhor momento. Seu segundo álbum, “To Pimp a Butterfly” lançado no ano passado, é espetacular. Conquistou mesmo os não aficcionados por rap, e é um dos melhores trabalhos musicais da década. De suas sobras brotaram frutos para um novo álbum, espartanamente denominado “untitled unmastered” , também um dos melhores de 2016. Kendrick era pouco conhecido no Brasil, até tomar de assalto o Grammy deste ano com uma performance memorável. E embora não diga expressamente, é um discípulo de Muhammad.
Ao contrário dos tediosos artistas de rap que conquistam evidência com um coquetel de exaltação ao banditismo, misoginia e ostentação material, Kendrick ostenta orgulho: pelas suas raízes em Compton, na periferia de Los Angeles, onde grava seus clips; pela infância e juventude difícil, retratada com precisão fotográfica no seu primeiro álbum “Good Kid, M.A.A.D City”; pela comunidade negra americana, a quem se dirige quando exalta Kunta Kinte, personagem principal do romance “Negras Raízes”, ou dedica uma música ao “Fantasma de Mandela” e seu legado. Ou quando desconstrói a palavra “Nigga” do seu sentido pejorativo, associando-a ao termo “Negus”, usado por reis etíopes. Kendrick se coloca como uma voz da consciência, e questiona sua responsabilidade como líder comunitário em um discurso/diálogo que somente se completa ao final de “To Pimp A Butterfly”:
“Eu me lembro que você estava em conflito,
Fazendo mal uso de sua influência
Algumas vezes fiz isso também,
Abusando do meu poder e cheio de ressentimentos,
Ressentimento que se transformou em uma profunda depressão (…)”
Liderança no esporte
LeBron é outro discípulo de Muhammad. Assim como Kendrick, preocupado em utilizar de forma construtiva sua influência e liderança. Já havia demonstrado isso no basquete, onde exerce seu ofício. Já consagrado, voltou à sua cidade natal, para jogar na equipe local e levá-la a um inédito título de campeã. Cleveland se orgulha de LeBron. LeBron tentou também influir nos destinos do país, ao apoiar ostensivamente a candidata à presidente que se opunha ao discurso xenófobo e intolerante de seu adversário. Quando soube do resultado final, dormiu confuso e deprimido, e acordou pensando em … nada menos que Kendrick!
Segundo LeBron, a letra de Alright, de Kendrick, não lhe saía da cabeça. Ato contínuo, pediu a seus fãs que demonstrassem confiança, fé e amor genuíno a seus amigos, familiares e herdeiros. E que trabalhassem para superar obstáculos, porque nada disso é o fim.
Ser racional e razoável, ter autoestima, dedicar amor às pessoas próximas, trabalhar, superar os problemas do dia a dia talvez seja o caminho para a transição por esta estranha e incerta época que vivemos. A caravana passa para Trump, para o pós Brexit, para o Oriente Médio e seus ditadores sanguinários e terroristas sem rosto, para políticos da Lava Jato encarcerados ou não. No final, quem sabe, ficará como na letra de Alright, de Kendrick:
“All my life I has to fight, nigga Hard times like God Bad trips like: “God!” Nazareth, I’m fucked up Homie you fucked up But if God got us we then gonna be alright Nigga, we gonna be alright Nigga, we gonna be alright Do you hear me, do you feel me? We gonna be alright”
Obs: recomendo uma olhada no clip da bela Alright, filmado como um curta metragem em preto e branco.
Kendrick Lamar – “Alright”
Por Pedro de Freitas
Malcolm, Martin e Muhammad. Em tempos muito mais sombrios que os de hoje, há mais de cinquenta anos, este foi o tripé que sustentou a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Malcolm era o espírito da luta, a vontade do guerreiro; Martin, a convicção de que os caminhos da revolução e do pacifismo não são necessariamente diferentes. Muhammad não era pregador religioso ou filósofo; entretanto, à sua forma, como um praticante da “nobre arte”, sua retórica transformou uma parcela da população segregada e marginalizada em candidatos a príncipes e heróis. Muhammad era negro. E era lindo. E se orgulhava disso. A revolução de Muhammad foi a do resgate da auto estima das minorias, não somente raciais, mas de credo, gênero, nacionalidade. Muhammad deixou muitos herdeiros espirituais, nos Estados Unidos e fora dele. Dois deles atendem hoje pelo nome de Kendrick e LeBron.
Sobre Kendrick, o músico de rap, hoje vive seu melhor momento. Seu segundo álbum, “To Pimp a Butterfly” lançado no ano passado, é espetacular. Conquistou mesmo os não aficcionados por rap, e é um dos melhores trabalhos musicais da década. De suas sobras brotaram frutos para um novo álbum, espartanamente denominado “untitled unmastered” , também um dos melhores de 2016. Kendrick era pouco conhecido no Brasil, até tomar de assalto o Grammy deste ano com uma performance memorável. E embora não diga expressamente, é um discípulo de Muhammad.
Ao contrário dos tediosos artistas de rap que conquistam evidência com um coquetel de exaltação ao banditismo, misoginia e ostentação material, Kendrick ostenta orgulho: pelas suas raízes em Compton, na periferia de Los Angeles, onde grava seus clips; pela infância e juventude difícil, retratada com precisão fotográfica no seu primeiro álbum “Good Kid, M.A.A.D City”; pela comunidade negra americana, a quem se dirige quando exalta Kunta Kinte, personagem principal do romance “Negras Raízes”, ou dedica uma música ao “Fantasma de Mandela” e seu legado. Ou quando desconstrói a palavra “Nigga” do seu sentido pejorativo, associando-a ao termo “Negus”, usado por reis etíopes. Kendrick se coloca como uma voz da consciência, e questiona sua responsabilidade como líder comunitário em um discurso/diálogo que somente se completa ao final de “To Pimp A Butterfly”:
“Eu me lembro que você estava em conflito,
Fazendo mal uso de sua influência
Algumas vezes fiz isso também,
Abusando do meu poder e cheio de ressentimentos,
Ressentimento que se transformou em uma profunda depressão (…)”
Liderança no esporte
LeBron é outro discípulo de Muhammad. Assim como Kendrick, preocupado em utilizar de forma construtiva sua influência e liderança. Já havia demonstrado isso no basquete, onde exerce seu ofício. Já consagrado, voltou à sua cidade natal, para jogar na equipe local e levá-la a um inédito título de campeã. Cleveland se orgulha de LeBron. LeBron tentou também influir nos destinos do país, ao apoiar ostensivamente a candidata à presidente que se opunha ao discurso xenófobo e intolerante de seu adversário. Quando soube do resultado final, dormiu confuso e deprimido, e acordou pensando em … nada menos que Kendrick!
Segundo LeBron, a letra de Alright, de Kendrick, não lhe saía da cabeça. Ato contínuo, pediu a seus fãs que demonstrassem confiança, fé e amor genuíno a seus amigos, familiares e herdeiros. E que trabalhassem para superar obstáculos, porque nada disso é o fim.
Ser racional e razoável, ter autoestima, dedicar amor às pessoas próximas, trabalhar, superar os problemas do dia a dia talvez seja o caminho para a transição por esta estranha e incerta época que vivemos. A caravana passa para Trump, para o pós Brexit, para o Oriente Médio e seus ditadores sanguinários e terroristas sem rosto, para políticos da Lava Jato encarcerados ou não. No final, quem sabe, ficará como na letra de Alright, de Kendrick:
“All my life I has to fight, nigga Hard times like God Bad trips like: “God!” Nazareth, I’m fucked up Homie you fucked up But if God got us we then gonna be alright Nigga, we gonna be alright Nigga, we gonna be alright Do you hear me, do you feel me? We gonna be alright”
Obs: recomendo uma olhada no clip da bela Alright, filmado como um curta metragem em preto e branco.