Ranna, a construção de uma julgadora

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Meu nome é Ranna Leal, tenho 25 anos. E eu quero ser julgadora do quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Sou formada em Educação Física e pós-graduada em Educação Física Escolar. A escolha pela esta profissão é porque gosto de praticar esportes. Sempre gostei do espírito competitivo, da magia que o esporte proporciona, para quem pratica e, […]

POR Eliane Santos de Souza26/01/2023|7 min de leitura

Ranna, a construção de uma julgadora

Ranna Leal. Foto: Acervo Pessoal

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Meu nome é Ranna Leal, tenho 25 anos. E eu quero ser julgadora do quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Sou formada em Educação Física e pós-graduada em Educação Física Escolar. A escolha pela esta profissão é porque gosto de praticar esportes. Sempre gostei do espírito competitivo, da magia que o esporte proporciona, para quem pratica e, principalmente, para quem assiste. Um exemplo claro, recentemente vivido, foi a Copa do Mundo. As pessoas ficaram eufóricas, felizes. É essa energia que eu gosto em relação a todos os esportes.

Entrei na faculdade Estácio de Sá, em 2016, para fazer licenciatura, pois tenho uma vontade muito grande de lecionar em escolas. Ser professora sempre foi meu sonho, desde pequena, embora não tenha muita oportunidade de emprego nessa área. Terminei a licenciatura em 2019 e ingressei no bacharelado, pois queria ampliar o mercado de trabalho.

Nesse meio tempo, em 2017, iniciei um namoro com Vinícius Gabriel, um ritmista, que toca caixa, na Unidos da Tijuca e, com isso, comecei a frequentar os ensaios da escola, ir para a Marquês de Sapucaí, que até então eu não conhecia, aos ensaios técnicos, enfim. Só conhecia escola de samba pela televisão.

Minha afeição pelo samba se deu através da minha família, que aprecia muito esse gênero musical. Meu pai, José Carlos, adora ouvir Jamelão, tendo vários LPs dele. Eu, ouvindo aquela poderosa voz cantando, comecei a tomar gosto. Eu cresci e comecei a associar ele a G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira, já que em um desses LPs, ele canta o samba exaltação da escola. Desde então, a Mangueira tornou-se a minha escola de coração.

Quando eu era pequena ficava nos dias de Carnaval até tarde em casa assistindo os desfiles pela televisão. Nunca tive a oportunidade de ir à Sapucaí, enquanto criança e adolescente, pois ninguém na minha família era sambista de frequentar escolas de samba, ensaio técnico e desfile. Apenas de ouvir samba.

Muitas vezes meus familiares saiam para carnavais de rua – que tinham e tem até hoje perto da minha casa, no bairro de Vista Alegre -, mas eu ficava vendo o desfile das escolas de samba. Fui muito criticada por isso, chamada de maluca, porém nunca liguei, pois me agregava mais ficar em casa assistindo a cultura popular maravilhosa, do que sair para ver coisas “vazias”.

Entre os componentes das escolas de samba, sempre tive uma admiração grande pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira. Eu pensava: “como eles podem desenvolver esse bailado tão lindo, com uma roupa tão pesada? ”, e comecei a me questionar, também, “como eles são avaliados? Qual critério? Será que existe um método?”.

Sempre fui envolvida com dança. Desde pequena fiz ballet, jazz, sapateado e teatro. Logo, no final da minha graduação, pensei em fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, de bacharelado, sobre as lesões frequentes em Mestre-sala e Porta-bandeira. Minha ideia era realizar um estudo de caso e posteriormente um levantamento de quais eram as articulações e possíveis lesões que a função ocasiona nessas pessoas. Essa minha tese não foi aceita pelos meus colegas de faculdade. E eu não encontrei ninguém para desenvolver o tema comigo. Ainda, para dificultar o meu processo, o professor da disciplina não me autorizou a desenvolver sozinha, pedindo para que fosse realizado em dupla. Então, eu desisti. Desolada, fiz o trabalho sobre um tema usual na Educação Física.

Voltando a questão do samba, movida pelo interesse e muita curiosidade (como são avaliados?) comecei a tomar gosto por outro setor que é duramente criticado pelos sambistas: os julgadores. Eu sempre gostei de avaliar. Até meus amigos que dançam, eu gosto de olhar e falar para eles o que se pode melhorar, diante do meu ponto de vista. Movida assim e pensando nos protagonistas, surgiu em mim um outro desejo. Eu falei: “tá aí, quero ser jurada também”.

Com esse pensamento eu comecei a procurar escolas de mestre-sala e porta-bandeira, para estudar mais sobre a arte. Eu vi que jurados da Liesa possuem pelo menos uma pós-graduação, mestrado ou doutorado na área que julgam. Além disso, não posso julgar algo que não sinto na pele, temos que juntar a teoria à prática. Tive essa experiência na faculdade, nem sempre o que estudamos na teoria, nós podemos colocar na prática, existem muitas vertentes em volta que devemos levar em consideração.

Aí, eu conheci a Escola de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte Manoel Dionísio! Fiz minha matrícula. Comecei a fazer aulas em janeiro de 2022, participei da lavagem da passarela em abril e surgiu o convite para ser preparadora física da escola, pois eles sabiam da minha habilitação em Educação Física. Aceitei imediatamente, e desde então, eu desenvolvo esse trabalho de forma voluntária com os alunos da escola.

Em minhas aulas de preparação física, eu foco nos músculos e nas articulações. Busco entender no corpo do mestre-sala, quais músculos ele recruta para realizar o riscado, o bailado, e quais articulações ele precisa fazer lubrificar para evitar um quadro patológico futuramente. O mesmo penso da porta-bandeira. Muitas vezes, a pessoa começa a ensaiar e não aquece, não prepara o corpo para o movimento, então, a chance de desencadear uma lesão muscular é muito grande! Pode não ser imediata, mas se for com frequência, a conta com certeza irá chegar.

Trabalho, também, com meus alunos em circuitos funcionais, para focar no aeróbico. Atravessar a Marquês de Sapucaí, não é mole não. Precisa ter o mínimo de condição física, respiratória e experiência, senão o dançarino poderá sofrer muito para executar os giros, o bailado… Trabalho o equilíbrio e a postura. Todas essas valências físicas que precisamos ter para empunhar um pavilhão com elegância.

Todavia, sigo querendo realizar meu sonho de me tornar uma julgadora. Se Deus quiser está próximo para acontecer. E assim, para melhor entender a nossa arte e me aperfeiçoar, aceitei o convite de um amigo, o primeiro mestre-sala Matheus Soli, para ser a segunda porta-bandeira da escola de samba na qual ele desfila, o G.R.E.S. Chatuba de Mesquita. Em 2023 vou estrear no Carnaval carioca como porta-bandeira. E continuarei estudando e praticando, tendo em vista este meu novíssimo objetivo, a ser alcançado: atuar no carnaval como julgadora do quesito mestre-sala e porta-bandeira.

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: portal SRzd
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

Meu nome é Ranna Leal, tenho 25 anos. E eu quero ser julgadora do quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Sou formada em Educação Física e pós-graduada em Educação Física Escolar. A escolha pela esta profissão é porque gosto de praticar esportes. Sempre gostei do espírito competitivo, da magia que o esporte proporciona, para quem pratica e, principalmente, para quem assiste. Um exemplo claro, recentemente vivido, foi a Copa do Mundo. As pessoas ficaram eufóricas, felizes. É essa energia que eu gosto em relação a todos os esportes.

Entrei na faculdade Estácio de Sá, em 2016, para fazer licenciatura, pois tenho uma vontade muito grande de lecionar em escolas. Ser professora sempre foi meu sonho, desde pequena, embora não tenha muita oportunidade de emprego nessa área. Terminei a licenciatura em 2019 e ingressei no bacharelado, pois queria ampliar o mercado de trabalho.

Nesse meio tempo, em 2017, iniciei um namoro com Vinícius Gabriel, um ritmista, que toca caixa, na Unidos da Tijuca e, com isso, comecei a frequentar os ensaios da escola, ir para a Marquês de Sapucaí, que até então eu não conhecia, aos ensaios técnicos, enfim. Só conhecia escola de samba pela televisão.

Minha afeição pelo samba se deu através da minha família, que aprecia muito esse gênero musical. Meu pai, José Carlos, adora ouvir Jamelão, tendo vários LPs dele. Eu, ouvindo aquela poderosa voz cantando, comecei a tomar gosto. Eu cresci e comecei a associar ele a G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira, já que em um desses LPs, ele canta o samba exaltação da escola. Desde então, a Mangueira tornou-se a minha escola de coração.

Quando eu era pequena ficava nos dias de Carnaval até tarde em casa assistindo os desfiles pela televisão. Nunca tive a oportunidade de ir à Sapucaí, enquanto criança e adolescente, pois ninguém na minha família era sambista de frequentar escolas de samba, ensaio técnico e desfile. Apenas de ouvir samba.

Muitas vezes meus familiares saiam para carnavais de rua – que tinham e tem até hoje perto da minha casa, no bairro de Vista Alegre -, mas eu ficava vendo o desfile das escolas de samba. Fui muito criticada por isso, chamada de maluca, porém nunca liguei, pois me agregava mais ficar em casa assistindo a cultura popular maravilhosa, do que sair para ver coisas “vazias”.

Entre os componentes das escolas de samba, sempre tive uma admiração grande pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira. Eu pensava: “como eles podem desenvolver esse bailado tão lindo, com uma roupa tão pesada? ”, e comecei a me questionar, também, “como eles são avaliados? Qual critério? Será que existe um método?”.

Sempre fui envolvida com dança. Desde pequena fiz ballet, jazz, sapateado e teatro. Logo, no final da minha graduação, pensei em fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, de bacharelado, sobre as lesões frequentes em Mestre-sala e Porta-bandeira. Minha ideia era realizar um estudo de caso e posteriormente um levantamento de quais eram as articulações e possíveis lesões que a função ocasiona nessas pessoas. Essa minha tese não foi aceita pelos meus colegas de faculdade. E eu não encontrei ninguém para desenvolver o tema comigo. Ainda, para dificultar o meu processo, o professor da disciplina não me autorizou a desenvolver sozinha, pedindo para que fosse realizado em dupla. Então, eu desisti. Desolada, fiz o trabalho sobre um tema usual na Educação Física.

Voltando a questão do samba, movida pelo interesse e muita curiosidade (como são avaliados?) comecei a tomar gosto por outro setor que é duramente criticado pelos sambistas: os julgadores. Eu sempre gostei de avaliar. Até meus amigos que dançam, eu gosto de olhar e falar para eles o que se pode melhorar, diante do meu ponto de vista. Movida assim e pensando nos protagonistas, surgiu em mim um outro desejo. Eu falei: “tá aí, quero ser jurada também”.

Com esse pensamento eu comecei a procurar escolas de mestre-sala e porta-bandeira, para estudar mais sobre a arte. Eu vi que jurados da Liesa possuem pelo menos uma pós-graduação, mestrado ou doutorado na área que julgam. Além disso, não posso julgar algo que não sinto na pele, temos que juntar a teoria à prática. Tive essa experiência na faculdade, nem sempre o que estudamos na teoria, nós podemos colocar na prática, existem muitas vertentes em volta que devemos levar em consideração.

Aí, eu conheci a Escola de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte Manoel Dionísio! Fiz minha matrícula. Comecei a fazer aulas em janeiro de 2022, participei da lavagem da passarela em abril e surgiu o convite para ser preparadora física da escola, pois eles sabiam da minha habilitação em Educação Física. Aceitei imediatamente, e desde então, eu desenvolvo esse trabalho de forma voluntária com os alunos da escola.

Em minhas aulas de preparação física, eu foco nos músculos e nas articulações. Busco entender no corpo do mestre-sala, quais músculos ele recruta para realizar o riscado, o bailado, e quais articulações ele precisa fazer lubrificar para evitar um quadro patológico futuramente. O mesmo penso da porta-bandeira. Muitas vezes, a pessoa começa a ensaiar e não aquece, não prepara o corpo para o movimento, então, a chance de desencadear uma lesão muscular é muito grande! Pode não ser imediata, mas se for com frequência, a conta com certeza irá chegar.

Trabalho, também, com meus alunos em circuitos funcionais, para focar no aeróbico. Atravessar a Marquês de Sapucaí, não é mole não. Precisa ter o mínimo de condição física, respiratória e experiência, senão o dançarino poderá sofrer muito para executar os giros, o bailado… Trabalho o equilíbrio e a postura. Todas essas valências físicas que precisamos ter para empunhar um pavilhão com elegância.

Todavia, sigo querendo realizar meu sonho de me tornar uma julgadora. Se Deus quiser está próximo para acontecer. E assim, para melhor entender a nossa arte e me aperfeiçoar, aceitei o convite de um amigo, o primeiro mestre-sala Matheus Soli, para ser a segunda porta-bandeira da escola de samba na qual ele desfila, o G.R.E.S. Chatuba de Mesquita. Em 2023 vou estrear no Carnaval carioca como porta-bandeira. E continuarei estudando e praticando, tendo em vista este meu novíssimo objetivo, a ser alcançado: atuar no carnaval como julgadora do quesito mestre-sala e porta-bandeira.

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: portal SRzd
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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