Inês Valença estreia coluna no SRzd: O dia em que a Grande Rio chegou lá

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Nada como ter uma campeã consagrada para aquecer o coração dos sambistas que aguardaram mais de dois anos para voltar à Sapucaí. Apesar de a abertura dos envelopes ter confirmado uma campeã que todos esperavam, foi curioso ver o pipocar de mensagens chegando pelo WhatsApp durante a apuração. A maioria não questionava as notas 10 que pavimentaram […]

POR Inês Valença19/05/2022|5 min de leitura

Inês Valença estreia coluna no SRzd: O dia em que a Grande Rio chegou lá

Grande Rio 2022. Foto: Juliana Dias – SRzd

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Nada como ter uma campeã consagrada para aquecer o coração dos sambistas que aguardaram mais de dois anos para voltar à Sapucaí.

Apesar de a abertura dos envelopes ter confirmado uma campeã que todos esperavam, foi curioso ver o pipocar de mensagens chegando pelo WhatsApp durante a apuração. A maioria não questionava as notas 10 que pavimentaram o caminho da Grande Rio ao título, mas demonstrava surpresa por estarmos todos ali, quem diria, em uma corrente afetiva pela tricolor de Caxias.

A escola que tantas vezes foi questionada pelo mundo do samba com suas celebridades era agora a franca favorita para a conquista de um justíssimo e inédito título.

A Grande Rio poderia ser um case para estudiosos de Marketing. Como reposicionar uma marca? Como fazer a percepção da sociedade mudar sobre determinada empresa, político ou artista?

Mas como as escolas de samba não são apenas marcas ou empresas, prefiro pensar no feito da Grande Rio com o olhar de uma foliã que ainda se lembra do primeiro desfile da escola que viu. O ano era 1990, e depois de queimar etapas graças à fusão de agremiações que resultou em sua criação, em 1988, a Grande Rio já estava lá no grupo de acesso (hoje Série Ouro), disputando uma vaguinha na elite do Carnaval.

Com muita grana e o reforço de celebridades do momento (sim, elas já estavam lá), a escola chegou ao Grupo Especial, confirmando o que já se especulava nos bastidores do Carnaval.

Grande Rio na apuração. Foto: Juliana Dias - SRzd
Grande Rio na apuração. Foto: Juliana Dias – SRzd

Mas não é só com celebridades e grana que se conquista um lugar ao sol. Em seus 30 e poucos anos de vida, a Grande Rio tentou várias receitas para levar o tão sonhado título para Caxias. Dobrou a aposta nas celebridades, comprou o passe dos melhores do Carnaval com a mesma força que investiu na prata da casa, abraçou as propostas de diversos carnavalescos de ponta que passaram por lá, surfou na onda dos enredos patrocinados fechando parcerias com as maiores empresas do país, sapecou fotos de suas musas pelos outdoors da cidade e… ufa! colocou até um dublê norte-americano para voar na Sapucaí.

Mas nada disso parecia ser suficiente. Pelas arquibancadas e bastidores do Carnaval corria à boca pequena que o problema da tricolor de Caxias seria, digamos… estrutural. “A Grande Rio não sabe desfilar”, sentenciavam os entendidos, aqui e ali. Mas afinal, o que é saber desfilar? Como ensinar uma escola a evoluir e encantar o público? Não são as escolas que devem ensinar o samba?

O roteiro que trazia a cada desfile uma Grande Rio com seus rotineiros tropeços começou a mudar em 2020. A chegada de dois jovens carnavalescos com a proposta de retomar na escola a ligação de sua comunidade com as religiões afro-brasileiras certamente foi um achado.

Quem se emocionava ouvindo “Águas Claras para um Rei Negro”, de 1992, e “Os Santos que a África não viu”, de 1994, sentia falta de ouvir o povo de Caxias novamente cantando a sua fé.

Mas apesar da revolução que causaram ao chegar ao Grupo Especial, Bora e Haddad não são os únicos nomes dessa conquista. Carnavalescos podem ganhar títulos, mas não criam unanimidades sozinhos.

Desde o dia da apuração, venho pensando em o que seria afinal esse “aprender a desfilar”, esse “tornar-se uma escola de samba”, esse ponto invisível que separa os meninos dos homens. Não falo aqui somente de conquistar campeonatos.

Muitas escolas ganham títulos sem ser grandes e muitas são grandes sem ter títulos. Arrisco dizer que a mágica se dá quando a escola de samba passa a ser de muitos. De muitas vozes, de muitos sambas, de muitos sonhos. Neste carnaval de 2022, a Grande Rio não conquistou somente um título. Conquistou sua maioridade carnavalesca.

Inês Valença é jornalista formada pela UFRJ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em Comunicação e Cultura pela mesma instituição.

Sua dissertação de mestrado, O espetáculo da tradição: Um estudo sobre as escolas de samba e a indústria cultural, investiga as mudanças que a transmissão televisiva trouxe à estrutura dos desfiles. Ela estreia em 2022 como colunista do portal SRzd.

Crédito das fotos: Juliana Dias, para o portal SRzd
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

Nada como ter uma campeã consagrada para aquecer o coração dos sambistas que aguardaram mais de dois anos para voltar à Sapucaí.

Apesar de a abertura dos envelopes ter confirmado uma campeã que todos esperavam, foi curioso ver o pipocar de mensagens chegando pelo WhatsApp durante a apuração. A maioria não questionava as notas 10 que pavimentaram o caminho da Grande Rio ao título, mas demonstrava surpresa por estarmos todos ali, quem diria, em uma corrente afetiva pela tricolor de Caxias.

A escola que tantas vezes foi questionada pelo mundo do samba com suas celebridades era agora a franca favorita para a conquista de um justíssimo e inédito título.

A Grande Rio poderia ser um case para estudiosos de Marketing. Como reposicionar uma marca? Como fazer a percepção da sociedade mudar sobre determinada empresa, político ou artista?

Mas como as escolas de samba não são apenas marcas ou empresas, prefiro pensar no feito da Grande Rio com o olhar de uma foliã que ainda se lembra do primeiro desfile da escola que viu. O ano era 1990, e depois de queimar etapas graças à fusão de agremiações que resultou em sua criação, em 1988, a Grande Rio já estava lá no grupo de acesso (hoje Série Ouro), disputando uma vaguinha na elite do Carnaval.

Com muita grana e o reforço de celebridades do momento (sim, elas já estavam lá), a escola chegou ao Grupo Especial, confirmando o que já se especulava nos bastidores do Carnaval.

Grande Rio na apuração. Foto: Juliana Dias - SRzd
Grande Rio na apuração. Foto: Juliana Dias – SRzd

Mas não é só com celebridades e grana que se conquista um lugar ao sol. Em seus 30 e poucos anos de vida, a Grande Rio tentou várias receitas para levar o tão sonhado título para Caxias. Dobrou a aposta nas celebridades, comprou o passe dos melhores do Carnaval com a mesma força que investiu na prata da casa, abraçou as propostas de diversos carnavalescos de ponta que passaram por lá, surfou na onda dos enredos patrocinados fechando parcerias com as maiores empresas do país, sapecou fotos de suas musas pelos outdoors da cidade e… ufa! colocou até um dublê norte-americano para voar na Sapucaí.

Mas nada disso parecia ser suficiente. Pelas arquibancadas e bastidores do Carnaval corria à boca pequena que o problema da tricolor de Caxias seria, digamos… estrutural. “A Grande Rio não sabe desfilar”, sentenciavam os entendidos, aqui e ali. Mas afinal, o que é saber desfilar? Como ensinar uma escola a evoluir e encantar o público? Não são as escolas que devem ensinar o samba?

O roteiro que trazia a cada desfile uma Grande Rio com seus rotineiros tropeços começou a mudar em 2020. A chegada de dois jovens carnavalescos com a proposta de retomar na escola a ligação de sua comunidade com as religiões afro-brasileiras certamente foi um achado.

Quem se emocionava ouvindo “Águas Claras para um Rei Negro”, de 1992, e “Os Santos que a África não viu”, de 1994, sentia falta de ouvir o povo de Caxias novamente cantando a sua fé.

Mas apesar da revolução que causaram ao chegar ao Grupo Especial, Bora e Haddad não são os únicos nomes dessa conquista. Carnavalescos podem ganhar títulos, mas não criam unanimidades sozinhos.

Desde o dia da apuração, venho pensando em o que seria afinal esse “aprender a desfilar”, esse “tornar-se uma escola de samba”, esse ponto invisível que separa os meninos dos homens. Não falo aqui somente de conquistar campeonatos.

Muitas escolas ganham títulos sem ser grandes e muitas são grandes sem ter títulos. Arrisco dizer que a mágica se dá quando a escola de samba passa a ser de muitos. De muitas vozes, de muitos sambas, de muitos sonhos. Neste carnaval de 2022, a Grande Rio não conquistou somente um título. Conquistou sua maioridade carnavalesca.

Inês Valença é jornalista formada pela UFRJ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em Comunicação e Cultura pela mesma instituição.

Sua dissertação de mestrado, O espetáculo da tradição: Um estudo sobre as escolas de samba e a indústria cultural, investiga as mudanças que a transmissão televisiva trouxe à estrutura dos desfiles. Ela estreia em 2022 como colunista do portal SRzd.

Crédito das fotos: Juliana Dias, para o portal SRzd
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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