No domingo vermelho e azul, vimos um Sabiá no Paraíso e a Águia Centenária voando além do infinito!

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Amigos do samba e Carnaval, nesse último domingo a coisa foi a “vera” na Sapucaí com o ensaio técnico! Tudo estava perfeito para um grande acontecimento; noite quente, sem chuvas, céu estrelado e com uma bela lua cheia. O público chegando ansioso para ver as duas escolas que sempre fazem a diferença no universo do Carnaval […]

POR Jaime Cezário07/02/2023|9 min de leitura

No domingo vermelho e azul, vimos um Sabiá no Paraíso e a Águia Centenária voando além do infinito!

Ensaios técnicos. Foto: Vitor Melo

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Amigos do samba e Carnaval, nesse último domingo a coisa foi a “vera” na Sapucaí com o ensaio técnico! Tudo estava perfeito para um grande acontecimento; noite quente, sem chuvas, céu estrelado e com uma bela lua cheia. O público chegando ansioso para ver as duas escolas que sempre fazem a diferença no universo do Carnaval e possuem torcidas apaixonadas: Acadêmicos do Salgueiro e a Centenária Portela.

A Sapucaí lembrava aquelas grandes rivalidades que são eternizadas por essas cores: o vermelho e o azul, desde cristãos e mouros, ao GRENAL, terminando com os Bois de Parintins!

De um lado víamos o vermelho da paixão em bandeiras, camisas e faixas e, do outro, o azul, que vai além do infinito. Era difícil não se sensibilizar com aquela energia que pairava no ar. Filas intermináveis para entrar no sambódromo, era dia de emoção! E foi!

Duas escolas de samba, duas histórias magníficas construídas, colaborando na estruturação desse grandioso espetáculo. Temos que lembrar que, em 1939, a Portela foi a primeira Escola de Samba a trazer todos os componentes com fantasias totalmente voltadas para o enredo, foi o “Teste do Samba”, sempre liderados pelo eterno Paulo da Portela. Paulo sonhava em ver “O samba dominando o mundo”! Do outro lado, temos aquela agremiação que traz o jargão: “nem melhor, nem pior, apenas uma Escola diferente”, e que na década de 1960, fez a “Revolução Negra” no Carnaval. Trouxe em seus enredos grandes personagens pretos que a história oficial nunca havia mencionado, dessa forma, conhecemos Chico Rei, Chica da Silva e Zumbi dos Palmares. Essa é a Academia do Samba do Salgueiro. Poderia escrever muitas páginas, contando fatos da história do Carnaval produzidos e criados por essas agremiações, mas esse não é o objetivo agora, voltemos para o Ensaio Técnico.

O relógio marcava 20h30 quando começamos ouvir o ritmo da Bateria Furiosa do Salgueiro, entrando na concentração para seu esquenta. E que esquenta! O seus interpretes Émerson Dias e Quinho fizeram um pot-pourri de sambas antológicos da Academia do Samba. Amigos, que espetáculo ver todos cantando esses sambas inesquecíveis, é de “explodir o coração”!

O Salgueiro traz para 2023 o enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho”, do carnavalesco Edson Pereira. A ideia é viajar na mente criativa do carnavalesco Joãozinho 30, fazendo uma viagem delirante em sua criatividade, trazendo seus “paraísos e infernos”, com pecados e virtudes, mas que tudo, ao final, termina numa festa vermelha no Paraíso, que é o Salgueiro. Um enredo denso, complexo e que esperamos entender completamente quando, em seu desfile oficial, toda a arte for apresentada.

O samba que descreve esse enredo segue nessa mesma linha, alguns entendedores de samba-enredo torcem um pouco o nariz para essa composição. Particularmente, quero ter esse parecer quando juntar tudo no desfile oficial, pois já vimos a magia do Carnaval fazer coisas incríveis. Basta lembrar, inclusive no próprio Salgueiro, o ano do “Peguei um Ita no Norte”. Samba que no período anterior ao desfile recebia muitas críticas e que no desfile oficial foi um “rolo compressor”, levando a Escola ao título. Alguém duvida?

O ensaio técnico do Salgueiro, vou dizer que foi “tecnicamente perfeito”. Destaque para a comissão de frente do coreografo Patrick Carvalho. Patrick, podemos dizer que conseguiu captar a “alma vermelha do Salgueiro”, sendo que desde sua chegada a escola se tornou um dos pontos altos nos desfiles. Nesse ensaio preciso falar que o maior destaque ficou para a Comunidade do Morro do Salgueiro e da grande Tijuca. Foi espetacular ver o comprometimento de todos em cantar, a plenos pulmões, com a maior energia seu samba-enredo. Do primeiro ao último componente, se via a determinação de se doar em prol do melhor. O samba tem um refrão que tem tudo para causar uma explosão na Sapucaí, quando ele diz assim:

“Vermelha paixão salgueirense

Que invade a alma

Tá no sangue da gente

O morro desce na batida do tambor

Nesse delírio que o artista se inspirou”

Mas não aconteceu, o público estava ávido para enlouquecer nesse Paraíso Vermelho, mas não aconteceu! Acredito que pode ter sido pela ansiedade e expectativa demasiada nos corações apaixonados pelo ensaio. Quem sabe essa chama incendeia no desfile oficial? Era perceptivo essa ebulição, como foi visto na passagem da Rainha da Bateria Viviane Araújo, que era o próprio pecado na passarela, acompanhada da Bateria Furiosa. Os gritos do público, nessa passagem, eram semelhantes ao de um gol decisivo num clássico no “Maraca”. Outro belo destaque foi a elegante apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcela e Sidcley. Como disse inicialmente, ensaio técnico sem falhas no seu conjunto. Agora, é esperar que tudo aconteça no seu desfile oficial.

Depois, foi chegada a vez dela, Majestade do Samba: A Portela! Minha gente, que emoção foi aquela na Avenida. Dava para sentir o palpitar do coração do público presente. Quando ao longe se viu o Tripé que a escola trouxe com a Águia, como se fosse magia, uma bruma azul foi tomando conta do ambiente. As torcidas desfraldavam bandeiras, sinalizadores, balões e muito papel picado. Era a chegada do “Azul que vem do infinito”! São em momentos como os dessa noite que podemos compreender o que é o amor à uma escola de samba. Você sente o coração apressado, todo seu corpo tomado, e a alegria alucinar. Um arrepio corta de ponta a ponta a Sapucaí, pois fica impossível de definir o poder daquele azul, que não era do céu, e nem era do mar, pois ele vinha exatamente do infinito.

Quando Gilsinho, seu intérprete oficial, entoou o esquenta “Foi um Rio que passou em minha vida”, e logo em seguida emendar “Portela na Avenida”, amigos, vou ter que me inspirar novamente nas letras desses sambas para conseguir tentar traduzir aquela emoção. Foi feito uma reza, um ritual, aquela massa de pessoas em movimento, parecia uma procissão de samba, nessa festa divina que é o Carnaval. Haja coração!

A Portela traz para 2023 o enredo onde comemora seu centenário: “O Azul que vem do Infinito”! Quem vai desenvolver esta obra de arte serão os carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage. O enredo mostrará a história da Portela, através do olhar de cinco Baluartes da Escola de Samba. Nesse contexto, vão contar os fatos marcantes, cada qual no seu período de vida, mostrando a importância desse grande patrimônio da nossa cultura popular.

Em minha humilde opinião, considero esse o grande enredo do Carnaval e torço muito para que o casal de carnavalescos acerte a mão na criação da plástica, e claro, que a diretoria ofereça condições financeiras para que possam nos encantar com sua mágica criativa.

O ensaio técnico posso dizer que foi repleto de emoção, tanto do público, quanto dos componentes da escola. Notei ao longo da apresentação seus componentes com os olhos marejados, outras vezes, chorando emocionados. O canto foi destaque na apresentação, pois era perceptível que vinha da alma. Tudo era mágico e foi bem escolhido para o ensaio técnico, desde a comissão de frente vestida elegantemente de branco, ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira; Marlon Lamar e Lucinha Nobre, que em alguns momentos pareciam flutuar, para não dizer voar.

O tripé com a Águia, trazia na sua saia, fotos dos grandes personagens da história da escola. Trazia ainda a presença da legendária Tia Surica, como se fosse a grande sentinela protetora do legado deixado pelos Fundadores e grandes Baluartes. Outra sensação no desfile foi a apresentação da Bateria “Tabajara do Samba” de Mestre Nilo Sérgio, levando o público ao delírio.

Eu vou confessar a vocês que esperava muito mais do samba-enredo. A expectativa é algo muito perigoso, eu sei disso, as vezes desejamos algo inatingível. E estou com essa sensação, pois como já declarei em várias colunas, esse enredo, na minha visão, é pura sedução. Observei a emoção de todos, mas particularmente, não senti aquela química perfeita entre público e o samba. É um bom samba, não discuto, mas espero que no desfile oficial ele consiga aquela sinergia que leve a Sapucaí ao êxtase completo.

O registro “fofinho” do ensaio técnico, ficou por conta dos Mascotes das escolas, muito legal ver o Sabiá (Salgueiro) e a Águia (Portela) interagindo com o público. A criançada amou e confesso, pelo que vi, os adultos também. Termino lembrando do segundo refrão do samba da Portela, que sintetiza bem toda a emoção desse domingo:

“Cavaco e viola… a velha linhagem

A benção Monarco pra essa homenagem

O céu de Madureira é mais bonito

Te amo Portela, além do infinito”

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd


Leia também:

+ Confira a ordem de desfile da Série Ouro no Carnaval 2023


 

Amigos do samba e Carnaval, nesse último domingo a coisa foi a “vera” na Sapucaí com o ensaio técnico! Tudo estava perfeito para um grande acontecimento; noite quente, sem chuvas, céu estrelado e com uma bela lua cheia. O público chegando ansioso para ver as duas escolas que sempre fazem a diferença no universo do Carnaval e possuem torcidas apaixonadas: Acadêmicos do Salgueiro e a Centenária Portela.

A Sapucaí lembrava aquelas grandes rivalidades que são eternizadas por essas cores: o vermelho e o azul, desde cristãos e mouros, ao GRENAL, terminando com os Bois de Parintins!

De um lado víamos o vermelho da paixão em bandeiras, camisas e faixas e, do outro, o azul, que vai além do infinito. Era difícil não se sensibilizar com aquela energia que pairava no ar. Filas intermináveis para entrar no sambódromo, era dia de emoção! E foi!

Duas escolas de samba, duas histórias magníficas construídas, colaborando na estruturação desse grandioso espetáculo. Temos que lembrar que, em 1939, a Portela foi a primeira Escola de Samba a trazer todos os componentes com fantasias totalmente voltadas para o enredo, foi o “Teste do Samba”, sempre liderados pelo eterno Paulo da Portela. Paulo sonhava em ver “O samba dominando o mundo”! Do outro lado, temos aquela agremiação que traz o jargão: “nem melhor, nem pior, apenas uma Escola diferente”, e que na década de 1960, fez a “Revolução Negra” no Carnaval. Trouxe em seus enredos grandes personagens pretos que a história oficial nunca havia mencionado, dessa forma, conhecemos Chico Rei, Chica da Silva e Zumbi dos Palmares. Essa é a Academia do Samba do Salgueiro. Poderia escrever muitas páginas, contando fatos da história do Carnaval produzidos e criados por essas agremiações, mas esse não é o objetivo agora, voltemos para o Ensaio Técnico.

O relógio marcava 20h30 quando começamos ouvir o ritmo da Bateria Furiosa do Salgueiro, entrando na concentração para seu esquenta. E que esquenta! O seus interpretes Émerson Dias e Quinho fizeram um pot-pourri de sambas antológicos da Academia do Samba. Amigos, que espetáculo ver todos cantando esses sambas inesquecíveis, é de “explodir o coração”!

O Salgueiro traz para 2023 o enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho”, do carnavalesco Edson Pereira. A ideia é viajar na mente criativa do carnavalesco Joãozinho 30, fazendo uma viagem delirante em sua criatividade, trazendo seus “paraísos e infernos”, com pecados e virtudes, mas que tudo, ao final, termina numa festa vermelha no Paraíso, que é o Salgueiro. Um enredo denso, complexo e que esperamos entender completamente quando, em seu desfile oficial, toda a arte for apresentada.

O samba que descreve esse enredo segue nessa mesma linha, alguns entendedores de samba-enredo torcem um pouco o nariz para essa composição. Particularmente, quero ter esse parecer quando juntar tudo no desfile oficial, pois já vimos a magia do Carnaval fazer coisas incríveis. Basta lembrar, inclusive no próprio Salgueiro, o ano do “Peguei um Ita no Norte”. Samba que no período anterior ao desfile recebia muitas críticas e que no desfile oficial foi um “rolo compressor”, levando a Escola ao título. Alguém duvida?

O ensaio técnico do Salgueiro, vou dizer que foi “tecnicamente perfeito”. Destaque para a comissão de frente do coreografo Patrick Carvalho. Patrick, podemos dizer que conseguiu captar a “alma vermelha do Salgueiro”, sendo que desde sua chegada a escola se tornou um dos pontos altos nos desfiles. Nesse ensaio preciso falar que o maior destaque ficou para a Comunidade do Morro do Salgueiro e da grande Tijuca. Foi espetacular ver o comprometimento de todos em cantar, a plenos pulmões, com a maior energia seu samba-enredo. Do primeiro ao último componente, se via a determinação de se doar em prol do melhor. O samba tem um refrão que tem tudo para causar uma explosão na Sapucaí, quando ele diz assim:

“Vermelha paixão salgueirense

Que invade a alma

Tá no sangue da gente

O morro desce na batida do tambor

Nesse delírio que o artista se inspirou”

Mas não aconteceu, o público estava ávido para enlouquecer nesse Paraíso Vermelho, mas não aconteceu! Acredito que pode ter sido pela ansiedade e expectativa demasiada nos corações apaixonados pelo ensaio. Quem sabe essa chama incendeia no desfile oficial? Era perceptivo essa ebulição, como foi visto na passagem da Rainha da Bateria Viviane Araújo, que era o próprio pecado na passarela, acompanhada da Bateria Furiosa. Os gritos do público, nessa passagem, eram semelhantes ao de um gol decisivo num clássico no “Maraca”. Outro belo destaque foi a elegante apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcela e Sidcley. Como disse inicialmente, ensaio técnico sem falhas no seu conjunto. Agora, é esperar que tudo aconteça no seu desfile oficial.

Depois, foi chegada a vez dela, Majestade do Samba: A Portela! Minha gente, que emoção foi aquela na Avenida. Dava para sentir o palpitar do coração do público presente. Quando ao longe se viu o Tripé que a escola trouxe com a Águia, como se fosse magia, uma bruma azul foi tomando conta do ambiente. As torcidas desfraldavam bandeiras, sinalizadores, balões e muito papel picado. Era a chegada do “Azul que vem do infinito”! São em momentos como os dessa noite que podemos compreender o que é o amor à uma escola de samba. Você sente o coração apressado, todo seu corpo tomado, e a alegria alucinar. Um arrepio corta de ponta a ponta a Sapucaí, pois fica impossível de definir o poder daquele azul, que não era do céu, e nem era do mar, pois ele vinha exatamente do infinito.

Quando Gilsinho, seu intérprete oficial, entoou o esquenta “Foi um Rio que passou em minha vida”, e logo em seguida emendar “Portela na Avenida”, amigos, vou ter que me inspirar novamente nas letras desses sambas para conseguir tentar traduzir aquela emoção. Foi feito uma reza, um ritual, aquela massa de pessoas em movimento, parecia uma procissão de samba, nessa festa divina que é o Carnaval. Haja coração!

A Portela traz para 2023 o enredo onde comemora seu centenário: “O Azul que vem do Infinito”! Quem vai desenvolver esta obra de arte serão os carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage. O enredo mostrará a história da Portela, através do olhar de cinco Baluartes da Escola de Samba. Nesse contexto, vão contar os fatos marcantes, cada qual no seu período de vida, mostrando a importância desse grande patrimônio da nossa cultura popular.

Em minha humilde opinião, considero esse o grande enredo do Carnaval e torço muito para que o casal de carnavalescos acerte a mão na criação da plástica, e claro, que a diretoria ofereça condições financeiras para que possam nos encantar com sua mágica criativa.

O ensaio técnico posso dizer que foi repleto de emoção, tanto do público, quanto dos componentes da escola. Notei ao longo da apresentação seus componentes com os olhos marejados, outras vezes, chorando emocionados. O canto foi destaque na apresentação, pois era perceptível que vinha da alma. Tudo era mágico e foi bem escolhido para o ensaio técnico, desde a comissão de frente vestida elegantemente de branco, ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira; Marlon Lamar e Lucinha Nobre, que em alguns momentos pareciam flutuar, para não dizer voar.

O tripé com a Águia, trazia na sua saia, fotos dos grandes personagens da história da escola. Trazia ainda a presença da legendária Tia Surica, como se fosse a grande sentinela protetora do legado deixado pelos Fundadores e grandes Baluartes. Outra sensação no desfile foi a apresentação da Bateria “Tabajara do Samba” de Mestre Nilo Sérgio, levando o público ao delírio.

Eu vou confessar a vocês que esperava muito mais do samba-enredo. A expectativa é algo muito perigoso, eu sei disso, as vezes desejamos algo inatingível. E estou com essa sensação, pois como já declarei em várias colunas, esse enredo, na minha visão, é pura sedução. Observei a emoção de todos, mas particularmente, não senti aquela química perfeita entre público e o samba. É um bom samba, não discuto, mas espero que no desfile oficial ele consiga aquela sinergia que leve a Sapucaí ao êxtase completo.

O registro “fofinho” do ensaio técnico, ficou por conta dos Mascotes das escolas, muito legal ver o Sabiá (Salgueiro) e a Águia (Portela) interagindo com o público. A criançada amou e confesso, pelo que vi, os adultos também. Termino lembrando do segundo refrão do samba da Portela, que sintetiza bem toda a emoção desse domingo:

“Cavaco e viola… a velha linhagem

A benção Monarco pra essa homenagem

O céu de Madureira é mais bonito

Te amo Portela, além do infinito”

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

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