Eduardo Leite. Érika Hilton. Fabiano Cantarato. Duda Salabert. Jean Willys. Marcelo Calero. Os gays estão cada vez mais presentes na política brasileira, atuando com desenvoltura nos diversos setores do executivo ou do legislativo.
Desde que saiu do armário ao vivo, no Programa do Bial, que a popularidade do governador Eduardo Leite só faz crescer. Curioso é que ele utilizou o fato de ser gay para alavancar sua candidatura a governador e turbinar sua condição de presidenciável. Já houve um tempo em que, sendo homossexual, o político deveria esconder sua orientação sexual para não ser motivo de chacota e rejeição do eleitor. Isso mudou. Hoje ser gay é uma questão de status e motivo de orgulho.
Durante a entrevista ao Pedro Bial Leite não apresentou nenhuma proposta de governo, não propôs nada de relevante para o ambiente político, não sugeriu nada que pudesse melhorar a vida do cidadão. Ele simplesmente veio a público comunicar que era gay e assim fazendo ocupou um espaço nobre que estava disponível no ambiente político do Brasil.
Eduardo Leite é bonito, inteligente, articulado e defende pontos de vista baseados na sobriedade. É o tipo de homossexual que todo homem hétero gostaria de encontrar na sauna. O mesmo não se pode dizer do ex-deputado Federal Jean Wyllys. Este é o tipo que faz os homens sumirem quando ele surge na sauna. Raivoso e sem papas na língua, costumar soltar faíscas quando entra em cena. Seu maior feito político até hoje foi ter cuspido na cara do seu então colega de câmara Jair Bolsonaro.
Fez recentemente o que muitos brasileiros gostariam de estar fazendo hoje. Foi certeiro e oportuno ao aspergir seu cuspe, mas há quem diga que o tiro saiu pela culatra. Analistas políticos defendem a teoria que foi a cusparada de Wyllys que impulsionou a candidatura de Bolsonaro à presidência da república. Argumentam que foi a cusparada que elegeu o mito e que, ao se dar conta do erro que tinha cometido, Wyllys fugiu para o exterior alegando perseguição política. Mas essa fuga é vista pela comunidade gay como uma atitude covarde.
Depois de quatro anos num exílio mal explicado, Wyllys retornou ao Brasil pronto para novas cuspidelas. E como gosta de aparecer criando polêmica na mídia, decidiu pegar carona no sucesso do Eduardo Leite, usando-o como alvo de uma cusparada simbólica. Caiu de pau – eita! – no governador gaúcho porque ele declarou que vai manter no seu estado as escolas cívico-militares criadas por Bolsonaro e desativadas por Lula. Vários governadores tomaram a mesma medida que Leite, mas Wyllys só destinou seu cuspe crítico ao bonitão gaúcho. Está claro para observadores atentos que Wyllys quer se colocar como um gay símbolo da esquerda.
Mas que, para se destacar nesse nicho, precisa de um antagonista gay de direita. E este personagem seria o Eduardo Leite. A novela entre eles promete render bons capítulos nas próximas semanas, já que o governador gaúcho resolveu acionar judicialmente o ex-deputado, alegando ter sido vítima de homofobia. Eita! A temperatura promete esquentar na Termas Brasil.
A comunidade gay está confusa com a tentativa de Wyllys de impor um posicionamento ideológico considerado antiquado nesses tempos de inteligência artificial. Esquerda e direita? Não seriam esses os dois lados de uma mesma moeda que, há muito, já perdeu o valor? O escritor Antonio Calmon certa vez afirmou que todo homossexual é de direita. Segundo ele, a condição homossexual, por suas próprias características, não permite que nenhum gay seja de esquerda. E que, por mais que tente fugir do seu destino, os valores atrelados a sua maneira de existir faz de todo gay um cidadão de direita.
Os frequentadores da praia gay de Ipanema observam que, ao forçar uma controvérsia com Eduardo Leite, Wyllys quer mesmo é criar polêmica visando ocupar o lugar de “gay mais influente” da política brasileira. Acontece que esse espaço que ele ambiciona já foi ocupado pela espevitada Érika Hilton. Apesar da concorrência de nomes estrelados como Flavio Dino, Marcelo Calero e Fabiano Cantarato é a glamurosa Érika Hilton quem está causando sensação nas tribunas da república verde e amarela.
A deputada Federal trans se transformou numa agradável surpresa do nosso mundo político. Civilizada, inteligente, dinâmica, esclarecida, profissional, articulada, bonita, elegante… Com aguçado senso de oportunidade, cada vez que entra em cena ela “causa espécie” com seu discurso afiado, atrelado a uma presença cênica de vigoroso apelo teatral. Consegue ser sofisticada e popular ao mesmo tempo. Caso fosse uma artista de cinema se poderia dizer que ela possui aquilo que os grandes diretores chamam de star quality. Ou seja: a qualidade da estrela. Não tem pra nenhuma outra. Em seis meses de mandato Érika Hilton se transformou na figura mais representativa da comunidade LGBTQIA+ na política brasileira. E não vai ser o eterno big brother Jean Wyllys que vai mudar essa condição.
Waldir Leite é jornalista e filósofo existencialista graduado pela UFRJ. Gosta da vida e dos filmes de Woody Allen. Escreve contos e romances. Vai a praia sempre que pode. E sofre muito por não poder acabar com a guerra, a fome e a miséria.
*As opiniões contidas neste texto não refletem, necessariamente, as do portal SRzd