A última noite do último romântico: Roberto Carlos completa 50 anos na Globo

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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd Em 2024, o Especial de Fim de Ano de Roberto Carlos na Rede Globo completa 50 anos. O dia 20 de dezembro pode ser a última chance de ver o Rei em ação na Vênus Platinada (prestes a completar 60 anos de transmissões). O encerramento […]

POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama04/12/2024|5 min de leitura

A última noite do último romântico: Roberto Carlos completa 50 anos na Globo

Roberto Carlos. Foto: Cláudio Francioni/SRzd

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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

Em 2024, o Especial de Fim de Ano de Roberto Carlos na Rede Globo completa 50 anos. O dia 20 de dezembro pode ser a última chance de ver o Rei em ação na Vênus Platinada (prestes a completar 60 anos de transmissões).

O encerramento do contrato do cantor coincidiu com a saída do diretor Boninho da emissora carioca. Os índices de audiência do programa (e da própria Globo) andam muito aquém do que eram na década de 1970.

O Brasil de 1974 era um país emergente que mal acabara de completar a transição para uma economia industrial entre o campo e a cidade. O crescimento econômico de 10% anual contrastava com a falta de liberdade de uma década de ditadura militar e com a ascensão de problemas do futuro: desigualdade social, criminalidade, inflação. Diante da TV, a população brasileira encontrava alívio para as agruras cotidianas. A celebração do Natal foi complementada com a vinda do especial de fim de ano de Roberto Carlos.

Roqueiro de primeira leva, o Rei também acabava de completar sua transição para o cancioneiro romântico e popular, após uma década de inovações musicais. De ídolo adolescente, virou ícone da tradicional família brasileira, diante da TV na mesa de Natal.

Ao longo de meio século, o Brasil se tornou mais democrático, diverso e confuso. Outrora emergente, agora uma das economias líderes do Sul Global, o país chega ao fim de 2024 receoso do futuro de sua jovem democracia e com problemas econômicos persistentes.

Meio século após seu debut, o show natalino de Roberto Carlos permanece memorável. Escorado por uma banda de apoio formada por nomes clássicos do Rock nacional, seu último especial pela Rede Globo lotou as arquibancadas do paulistano Allianz Parque.

No século 21, a juventude brasileira não é uma banda numa propaganda de refrigerantes. Se vê refém do streaming, onde ponteiam o Trap, o Funk, o Sertanejo e o Piseiro. O Rock brasileiro, que Roberto e Erasmo Carlos ajudaram a fundar e consagrar, virou assunto para historiadores, homepages e homenagens. Nessa linha, o Rei escolheu três craques dos anos 1980 para sustentar seu desfile de clássicos: Roberto Frejat, Paulo Ricardo e João Barone. Dito isso, o repertorio da apresentação foi bem eclético, indo do samba ao sertanejo – como a própria carreira de Roberto Carlos foi, da década de 1970 em diante.

O reinado da televisão nos lares brasileiros atravessou três décadas, da ditadura militar ao Plano Real, passando pela Nova República de Tancredo Neves. A redemocratização do país foi consolidada ao vivo, com as imagens dramáticas dos últimos momentos de Tancredo e a comoção popular que se seguiu à sua morte precoce. Hoje, esse cenário pertence aos livros de história. A TV aberta perdeu fôlego, primeiro para a TV a cabo, em seguida para o streaming. Sinal dos tempos, em fins de 2024 a Disney ordenou o fim de diversos de seus canais de TV no Brasil, em virtude de anos a fio com audiência em baixa.

O ano de 2024 pode ser a última oportunidade para o Brasil se reencontrar com esse incurável romântico que atravessou o Rock rumo à imortalidade nas ondas sonoras. Os natais nunca mais serão os mesmos. Roberto Carlos segue disputado por outras emissoras de TV aberta (bem como pelo streaming). Na véspera de ano novo o show ainda não acabou.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

Rodapé - entretenimento

Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

Em 2024, o Especial de Fim de Ano de Roberto Carlos na Rede Globo completa 50 anos. O dia 20 de dezembro pode ser a última chance de ver o Rei em ação na Vênus Platinada (prestes a completar 60 anos de transmissões).

O encerramento do contrato do cantor coincidiu com a saída do diretor Boninho da emissora carioca. Os índices de audiência do programa (e da própria Globo) andam muito aquém do que eram na década de 1970.

O Brasil de 1974 era um país emergente que mal acabara de completar a transição para uma economia industrial entre o campo e a cidade. O crescimento econômico de 10% anual contrastava com a falta de liberdade de uma década de ditadura militar e com a ascensão de problemas do futuro: desigualdade social, criminalidade, inflação. Diante da TV, a população brasileira encontrava alívio para as agruras cotidianas. A celebração do Natal foi complementada com a vinda do especial de fim de ano de Roberto Carlos.

Roqueiro de primeira leva, o Rei também acabava de completar sua transição para o cancioneiro romântico e popular, após uma década de inovações musicais. De ídolo adolescente, virou ícone da tradicional família brasileira, diante da TV na mesa de Natal.

Ao longo de meio século, o Brasil se tornou mais democrático, diverso e confuso. Outrora emergente, agora uma das economias líderes do Sul Global, o país chega ao fim de 2024 receoso do futuro de sua jovem democracia e com problemas econômicos persistentes.

Meio século após seu debut, o show natalino de Roberto Carlos permanece memorável. Escorado por uma banda de apoio formada por nomes clássicos do Rock nacional, seu último especial pela Rede Globo lotou as arquibancadas do paulistano Allianz Parque.

No século 21, a juventude brasileira não é uma banda numa propaganda de refrigerantes. Se vê refém do streaming, onde ponteiam o Trap, o Funk, o Sertanejo e o Piseiro. O Rock brasileiro, que Roberto e Erasmo Carlos ajudaram a fundar e consagrar, virou assunto para historiadores, homepages e homenagens. Nessa linha, o Rei escolheu três craques dos anos 1980 para sustentar seu desfile de clássicos: Roberto Frejat, Paulo Ricardo e João Barone. Dito isso, o repertorio da apresentação foi bem eclético, indo do samba ao sertanejo – como a própria carreira de Roberto Carlos foi, da década de 1970 em diante.

O reinado da televisão nos lares brasileiros atravessou três décadas, da ditadura militar ao Plano Real, passando pela Nova República de Tancredo Neves. A redemocratização do país foi consolidada ao vivo, com as imagens dramáticas dos últimos momentos de Tancredo e a comoção popular que se seguiu à sua morte precoce. Hoje, esse cenário pertence aos livros de história. A TV aberta perdeu fôlego, primeiro para a TV a cabo, em seguida para o streaming. Sinal dos tempos, em fins de 2024 a Disney ordenou o fim de diversos de seus canais de TV no Brasil, em virtude de anos a fio com audiência em baixa.

O ano de 2024 pode ser a última oportunidade para o Brasil se reencontrar com esse incurável romântico que atravessou o Rock rumo à imortalidade nas ondas sonoras. Os natais nunca mais serão os mesmos. Roberto Carlos segue disputado por outras emissoras de TV aberta (bem como pelo streaming). Na véspera de ano novo o show ainda não acabou.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

Rodapé - entretenimento

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