‘Amazônia, nossa luta em poesia’ é o tema do Boi Caprichoso para o Festival de Parintins 2022
O Boi Caprichoso surpreendeu os amantes da cultura popular e apresentou neste sábado (30) o tema para o Festival Folclórico de 2022. “Amazônia, nossa luta em poesia” é a nova bandeira do boi negro de Parintins, a ser erguida durante a temporada e na arena do Bumbódromo, no próximo ano. O anúncio ocorreu durante a […]
POR Redação SRzd01/11/2021|8 min de leitura
O Boi Caprichoso surpreendeu os amantes da cultura popular e apresentou neste sábado (30) o tema para o Festival Folclórico de 2022. “Amazônia, nossa luta em poesia” é a nova bandeira do boi negro de Parintins, a ser erguida durante a temporada e na arena do Bumbódromo, no próximo ano. O anúncio ocorreu durante a festa dos 108 anos de história do bumbá, no Curral Zeca Xibelão.
A nação azul e branca, extasiada com a notícia, se emocionou e aplaudiu o momento em que os membros da diretoria e do Conselho de Arte, no centro do curral, apresentaram a nova marca do bumbá.
“O Caprichoso nos surpreende sempre, quando a gente menos espera ele nos arrebata com sua ousadia. Hoje a gente reacende nossa esperança e se orgulha cada vez de vestir essas cores, vamos com tudo para 2022”, disse emocionada a torcedora Louise Reis.
Antes da paralisação do calendário turístico brasileiro, imposta pelas regras sanitárias da pandemia, o Caprichoso trabalhava em função do tema “Terra: Nosso Corpo, Nosso Espírito”, e foi assim no decorrer das duas temporadas em que o Festival de Parintins deixou de ser realizado. Embora nunca defendido na arena, esse brabo norteou as apresentações oficiais do bumbá no período de restrições.
Agora, de acordo com o presidente do Conselho de Arte, Ericky Nakanome, a ideia não é abandonar a proposta anterior, pelo contrário, é fortalecê-la e torná-la ainda mais popular.
“A Terra assumiu de uma vez por todas a sua unidade e no desafio universal de vencer a Covid-19, percebemos o quanto este planeta forma um único corpo e uma só alma. A partir dessa proposta, o Caprichoso compreende que nós precisamos agora olhar o planeta sob a óptica dos caboclos, de dentro de nossa casa, a Amazônia”, explica.
Dessa maneira, “Terra: Nosso Corpo, Nosso Espírito” não se encerra, o tema se renova dentro de uma proposta ressemeada em “Amazônia, nossa luta em poesia”, com novas caras, novas cores, novas musicalidades, que objetivam o triunfo da vida e a vitória do Boi Caprichoso.
O conselheiro de arte Márcio Braz comenta que todas as ações do bumbá constituem o brado em defesa da grande floresta. “O Caprichoso quando canta, dança, esculpe, pinta, coreografa, encena a Amazônia, ele está lutando por ela. Ele ergue a bandeira que é mãe de todas as lutas, a luta pela Amazônia. A Poesia Caprichoso é isso, e quer conscientizar a Terra para um novo tempo, no qual a Amazônia é protagonista”, explica.
O presidente Jender Lobato enfatiza a confiança no trabalho realizado pelo Conselho de Arte e projeta uma temporada vencedora em 2022.
“Eu estou muito tranquilo quanto a isso, as decisões tomadas pelos membros do conselho nascem de discussões muito maduras e coerentes. Temos um desafio enorme pela frente, de encarar o maior festival de todos os tempos, e tenho certeza que com esta proposta temática tocaremos não apenas os jurados, mas todos que visitarem Parintins no próximo ano”, ressalta.
Curumiz grafitam o tema
Os grafiteiros Alziney Pereira e Kemerson Farias são os responsáveis pela concepção da nova marca temática do Caprichoso, idealizada em parceria com o Conselho de Arte. Moldados na Escola de Arte Irmão Miguel de Pascalle, os artistas firmaram-se como referências na região e adotaram o codinome de “Curumiz”.
A marca do tema traz o cancioneiro caboclo híbrido de arara, que canta a grande floresta, e ao cantar, ele se torna a própria Amazônia. Em seu paneiro de poesia, o cancioneiro apresenta o Boi Caprichoso, numa estética tradicional, compondo o cenário com as aves, peixes e demais animais amazônicos. Na arte, estão representadas todas as culturas da região, conectadas em raízes e cipós. Todos esses elementos formam a nova bandeira de luta do boi negro de Parintins, uma luta em defesa da Amazônia.
O trabalho de Alziney e Kemerson saiu das movimentadas ruas de centros urbanos, ganharam paredes das várzeas amazônicas, em beiras de rios, palafitas, acompanhando a descida e subida das águas e hoje contribui de forma inovadora, por meio de seus traços, com o maior ícone da cultura popular do país, o Boi Caprichoso.
Enquanto aluno da Escola de Arte do Caprichoso, Kemerson Farias já participou da revista do espetáculo “Um Canto da Floresta”, a qual foi entregue a jornalistas e jurados. “Eu sou de uma família Caprichoso, tive uma infância no Curral Zeca Xibelão, então é como regressar a minha origem. Eu fui moldado aqui dentro, e agora ter meu trabalho valorizado no meu boi, é uma realização gigantesca, pessoal e profissional”, frisa.
Alziney Pereira não escondeu a emoção de participar deste projeto oficial do tema do Boi Caprichoso. “Eu estou realizado. Como artista, sempre quis participar dessa festa e agora tenho essa oportunidade. Sou filho da Escola do Caprichoso e hoje tenho a alegria de, por meio da minha arte, servir essa agremiação. Através desta marca, eternizada na história do nosso boi, sei que vou levar nossa cultura para outros lugares, no mundo todo”, disse.
Os traços dos Curumiz, proposto pelo Conselho de Arte, apresentam a estética tradicional do boi-bumbá renovada a partir da linguagem universal do grafite. Ericky Nakanome enfatiza que a proposta do Caprichoso encontrou na arte de Alziney e Kemerson uma poesia que todo o planeta Terra compreende.
“A nossa luta pela Amazônia se entrelaça com o clamor da obra dos Curumiz, que caminha entre as várzeas amazônicas, rompe florestas, rios e também encanta os adeptos da arte de vários lugares do mundo. Eles são transformadores e o Caprichoso quer isso, transformação”, assegura.
Amazônia, nossa luta em poesia
Eldorado, paraíso perdido, inferno verde, terra da promissão, pulmão do mundo, pátria das águas e espelho da vida. São muitas as referências e estereótipos sobre a mais importante floresta tropical do planeta. Resultados de expedições, excursões e de curiosos olhares sobre esta prodigiosa floresta. Tantos avanços e mistérios desvelados pela ciência e por inquietos navegadores na busca de curas para as doenças, de antigas fórmulas farmacêuticas, de novas descobertas científicas. Também na gana de explorar, saquear e se apropriar das nossas riquezas.
E assim, a Amazônia foi inventada, reduzida a dualismos, geografismos e biologismos, nos quais o critério para marcação de seu território deixou de lado a cultura dos povos e comunidades tradicionais da região, as relações entre as pessoas e a natureza, os pertencimentos dados pela terra, as autodefinições e a sua história social.
Entre a ciência e a exploração desmedida da Amazônia, existe um olhar mais profundo, verdadeiro e transcendental. Um olhar da própria floresta, de seus mitos e ritos, de seus povos originários: indígenas, ribeirinhos e caboclos, gente das águas e da floresta. Um olhar que fala, que observa, que se vê na terra; terra que é planta, bicho e gente, essa gente-floresta que nasceu nas cabeceiras e “centrões”, sobre as águas ou até mesmo debaixo delas. Essa gente-cunhantã que corria nas capoeiras e subia nas árvores para se jogar nos beiradões. Essa gente ribeirinha moldada de chão, esmaltada pelo sol. Gente-memória, que carrega em suas mentes tantas histórias… do seu povo, de seres e deuses. Mas principalmente gente-luta, armada de poesia, que de forma terna nos embevece entre trilhas e emoções.
O poder da encantaria faz morada na mãe do corpo que se traduz na dança de terreiro, rua e curral, no bailar festivo do dois pra lá e dois pra cá, no sorriso da criança e no brinquedo de São João. Esse entrelaçar de corpos e vida forja a identidade Caprichoso, que em 108 anos de histórias sagrou-se detentor de uma arte de luta, resistência e revolução pelo saber popular, unindo cantos, danças e visualidades, poesias que se refletem nas gigantes alegorias, no traçado da indumentária, na paleta de cores a alegrar tecidos e formas – um milagre amazônico na ilha de Parintins, a ecoar pelo mundo a importância do seu cuidado e a defesa de suas tradições.
Caprichoso… boi negro, preto, feito de pano e espuma, de esperanças e lutas, que mais uma vez, reforça sua identidade altaneira, nesse território que é nosso corpo e nosso espírito, nossa sede e vida… Amazônia, nossa luta em poesia.
Sinopse tema: Conselho de arte
O Boi Caprichoso surpreendeu os amantes da cultura popular e apresentou neste sábado (30) o tema para o Festival Folclórico de 2022. “Amazônia, nossa luta em poesia” é a nova bandeira do boi negro de Parintins, a ser erguida durante a temporada e na arena do Bumbódromo, no próximo ano. O anúncio ocorreu durante a festa dos 108 anos de história do bumbá, no Curral Zeca Xibelão.
A nação azul e branca, extasiada com a notícia, se emocionou e aplaudiu o momento em que os membros da diretoria e do Conselho de Arte, no centro do curral, apresentaram a nova marca do bumbá.
“O Caprichoso nos surpreende sempre, quando a gente menos espera ele nos arrebata com sua ousadia. Hoje a gente reacende nossa esperança e se orgulha cada vez de vestir essas cores, vamos com tudo para 2022”, disse emocionada a torcedora Louise Reis.
Antes da paralisação do calendário turístico brasileiro, imposta pelas regras sanitárias da pandemia, o Caprichoso trabalhava em função do tema “Terra: Nosso Corpo, Nosso Espírito”, e foi assim no decorrer das duas temporadas em que o Festival de Parintins deixou de ser realizado. Embora nunca defendido na arena, esse brabo norteou as apresentações oficiais do bumbá no período de restrições.
Agora, de acordo com o presidente do Conselho de Arte, Ericky Nakanome, a ideia não é abandonar a proposta anterior, pelo contrário, é fortalecê-la e torná-la ainda mais popular.
“A Terra assumiu de uma vez por todas a sua unidade e no desafio universal de vencer a Covid-19, percebemos o quanto este planeta forma um único corpo e uma só alma. A partir dessa proposta, o Caprichoso compreende que nós precisamos agora olhar o planeta sob a óptica dos caboclos, de dentro de nossa casa, a Amazônia”, explica.
Dessa maneira, “Terra: Nosso Corpo, Nosso Espírito” não se encerra, o tema se renova dentro de uma proposta ressemeada em “Amazônia, nossa luta em poesia”, com novas caras, novas cores, novas musicalidades, que objetivam o triunfo da vida e a vitória do Boi Caprichoso.
O conselheiro de arte Márcio Braz comenta que todas as ações do bumbá constituem o brado em defesa da grande floresta. “O Caprichoso quando canta, dança, esculpe, pinta, coreografa, encena a Amazônia, ele está lutando por ela. Ele ergue a bandeira que é mãe de todas as lutas, a luta pela Amazônia. A Poesia Caprichoso é isso, e quer conscientizar a Terra para um novo tempo, no qual a Amazônia é protagonista”, explica.
O presidente Jender Lobato enfatiza a confiança no trabalho realizado pelo Conselho de Arte e projeta uma temporada vencedora em 2022.
“Eu estou muito tranquilo quanto a isso, as decisões tomadas pelos membros do conselho nascem de discussões muito maduras e coerentes. Temos um desafio enorme pela frente, de encarar o maior festival de todos os tempos, e tenho certeza que com esta proposta temática tocaremos não apenas os jurados, mas todos que visitarem Parintins no próximo ano”, ressalta.
Curumiz grafitam o tema
Os grafiteiros Alziney Pereira e Kemerson Farias são os responsáveis pela concepção da nova marca temática do Caprichoso, idealizada em parceria com o Conselho de Arte. Moldados na Escola de Arte Irmão Miguel de Pascalle, os artistas firmaram-se como referências na região e adotaram o codinome de “Curumiz”.
A marca do tema traz o cancioneiro caboclo híbrido de arara, que canta a grande floresta, e ao cantar, ele se torna a própria Amazônia. Em seu paneiro de poesia, o cancioneiro apresenta o Boi Caprichoso, numa estética tradicional, compondo o cenário com as aves, peixes e demais animais amazônicos. Na arte, estão representadas todas as culturas da região, conectadas em raízes e cipós. Todos esses elementos formam a nova bandeira de luta do boi negro de Parintins, uma luta em defesa da Amazônia.
O trabalho de Alziney e Kemerson saiu das movimentadas ruas de centros urbanos, ganharam paredes das várzeas amazônicas, em beiras de rios, palafitas, acompanhando a descida e subida das águas e hoje contribui de forma inovadora, por meio de seus traços, com o maior ícone da cultura popular do país, o Boi Caprichoso.
Enquanto aluno da Escola de Arte do Caprichoso, Kemerson Farias já participou da revista do espetáculo “Um Canto da Floresta”, a qual foi entregue a jornalistas e jurados. “Eu sou de uma família Caprichoso, tive uma infância no Curral Zeca Xibelão, então é como regressar a minha origem. Eu fui moldado aqui dentro, e agora ter meu trabalho valorizado no meu boi, é uma realização gigantesca, pessoal e profissional”, frisa.
Alziney Pereira não escondeu a emoção de participar deste projeto oficial do tema do Boi Caprichoso. “Eu estou realizado. Como artista, sempre quis participar dessa festa e agora tenho essa oportunidade. Sou filho da Escola do Caprichoso e hoje tenho a alegria de, por meio da minha arte, servir essa agremiação. Através desta marca, eternizada na história do nosso boi, sei que vou levar nossa cultura para outros lugares, no mundo todo”, disse.
Os traços dos Curumiz, proposto pelo Conselho de Arte, apresentam a estética tradicional do boi-bumbá renovada a partir da linguagem universal do grafite. Ericky Nakanome enfatiza que a proposta do Caprichoso encontrou na arte de Alziney e Kemerson uma poesia que todo o planeta Terra compreende.
“A nossa luta pela Amazônia se entrelaça com o clamor da obra dos Curumiz, que caminha entre as várzeas amazônicas, rompe florestas, rios e também encanta os adeptos da arte de vários lugares do mundo. Eles são transformadores e o Caprichoso quer isso, transformação”, assegura.
Amazônia, nossa luta em poesia
Eldorado, paraíso perdido, inferno verde, terra da promissão, pulmão do mundo, pátria das águas e espelho da vida. São muitas as referências e estereótipos sobre a mais importante floresta tropical do planeta. Resultados de expedições, excursões e de curiosos olhares sobre esta prodigiosa floresta. Tantos avanços e mistérios desvelados pela ciência e por inquietos navegadores na busca de curas para as doenças, de antigas fórmulas farmacêuticas, de novas descobertas científicas. Também na gana de explorar, saquear e se apropriar das nossas riquezas.
E assim, a Amazônia foi inventada, reduzida a dualismos, geografismos e biologismos, nos quais o critério para marcação de seu território deixou de lado a cultura dos povos e comunidades tradicionais da região, as relações entre as pessoas e a natureza, os pertencimentos dados pela terra, as autodefinições e a sua história social.
Entre a ciência e a exploração desmedida da Amazônia, existe um olhar mais profundo, verdadeiro e transcendental. Um olhar da própria floresta, de seus mitos e ritos, de seus povos originários: indígenas, ribeirinhos e caboclos, gente das águas e da floresta. Um olhar que fala, que observa, que se vê na terra; terra que é planta, bicho e gente, essa gente-floresta que nasceu nas cabeceiras e “centrões”, sobre as águas ou até mesmo debaixo delas. Essa gente-cunhantã que corria nas capoeiras e subia nas árvores para se jogar nos beiradões. Essa gente ribeirinha moldada de chão, esmaltada pelo sol. Gente-memória, que carrega em suas mentes tantas histórias… do seu povo, de seres e deuses. Mas principalmente gente-luta, armada de poesia, que de forma terna nos embevece entre trilhas e emoções.
O poder da encantaria faz morada na mãe do corpo que se traduz na dança de terreiro, rua e curral, no bailar festivo do dois pra lá e dois pra cá, no sorriso da criança e no brinquedo de São João. Esse entrelaçar de corpos e vida forja a identidade Caprichoso, que em 108 anos de histórias sagrou-se detentor de uma arte de luta, resistência e revolução pelo saber popular, unindo cantos, danças e visualidades, poesias que se refletem nas gigantes alegorias, no traçado da indumentária, na paleta de cores a alegrar tecidos e formas – um milagre amazônico na ilha de Parintins, a ecoar pelo mundo a importância do seu cuidado e a defesa de suas tradições.
Caprichoso… boi negro, preto, feito de pano e espuma, de esperanças e lutas, que mais uma vez, reforça sua identidade altaneira, nesse território que é nosso corpo e nosso espírito, nossa sede e vida… Amazônia, nossa luta em poesia.