CBF rompe com a Globo, escolhe Pelé como sua estrela e negocia com Facebook

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Confederação e Ligas Estaduais querem mais liberdade, menos intromissões da emissora e gerir seus próprios negócios em relação a imagem e patrocinadores. Escolas de Samba também demonstram insatisfações com as imposições do canal. As mídias sociais não estão mudando apenas a maneira de consumir conteúdo audiovisual, mas alteram toda a cadeia do negócio. Já há […]

POR Luiz André Ferreira*30/05/2017|8 min de leitura

CBF rompe com a Globo, escolhe Pelé como sua estrela e negocia com Facebook

Neymar na Seleção Brasileira. Foto: Lucas Figueiredo – CBF

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Confederação e Ligas Estaduais querem mais liberdade, menos intromissões da emissora e gerir seus próprios negócios em relação a imagem e patrocinadores. Escolas de Samba também demonstram insatisfações com as imposições do canal.

As mídias sociais não estão mudando apenas a maneira de consumir conteúdo audiovisual, mas alteram toda a cadeia do negócio. Já há impactos significativos nas etapas de produção e comercialização, indo desde as negociações pelos direitos de transmissão, passando pelo desmembramento das plataformas de forma segmentada até a captação de patrocinadores. Esses valores passam a ser redimensionados e questionados.

O que por aqui começa de forma tímida, já é realidade em várias partes do mundo, principalmente Europa e Estados Unidos. O pontapé inicial foi dado no início do ano com a partida entre Coritiba e Atlético Paranaense. Esses clubes romperam as amarras com a TV investindo em novos e mais vantajosos horizontes com a transmissão via YouTube.

Porém a grande cartada da CBF foi o divórcio do velho casamento com a Rede Globo, que teve como padrinhos os governos militares. O contrato de exclusividade com a emissora durante os amistosos encerrou em dezembro e não foi renovado, embora tenha havido, nos bastidores, uma grande quebra de braço entre as partes.

Em outubro, a Globo terá o seu segundo contrato a vencer logo após o Brasil enfrentar o Chile, no Maracanã, pela última rodada do torneio classificatório para o Mundial da Rússia. A lógica é que o negócio siga o mesmo desenho que está sendo impresso agora.

Acordo também rompido com SportTV

Desfeitas as amarras, a entidade está disposta a investir em novas oportunidades. A intenção foi dividir os direitos e vendê-los de forma segmentada para cada plataforma (TV aberta, paga e internet). No sistema fechado, o sinal verde já foi dado com o Esporte Interativo em substituição dos canais pagos Sportv das Organizações Globo.

Esse desenlace vai permitir aos próprios cartolas negociarem seus produtos eliminando a estação que também agia como atravessadora entre as partes. Até mesmo quando permitia dividir o sinal com uma coirmã, cabia a emissora da Família Marinho e, não a CBF, receber, das concorrentes, os royalties pela cessão das imagens. Se este longo casamento será totalmente rompido ainda é uma incógnita, porém já é certo que, se permanecer, vai ser em outras condições: a primeira delas é o fim da fidelidade.

Com saída da Globo, amistosos da Seleção pela TV Brasil

Como piloto nesta nova realidade vão começar dois amistosos realizados no mês de junho em Melbourne, na Austrália. Primeiramente, a Seleção Brasileira vai enfrentar a da Argentina (09/26) e o time da casa (13/06). Essa alteração no modelo de negócio vai muito além dos direitos de transmissão. A Confederação quer também administrar todas as etapas do televisionamento: captação, edição, narração e cobertura das partidas.

Em relação ao ainda mais lucrativo meio, a televisão, a CBF tentou transferir o contrato tradicional para outras concorrentes. Porém, com a crise econômica e a concorrência das mídias sociais, as emissoras viram suas verbas publicitárias minguarem. Descapitalizadas, não arriscaram a compra do pacote para TV aberta.

Diante disso, para viabilizar a transmissão, sacou da cartola um paliativo. Comprou ela mesma horários da TV Brasil (ex-TVE), o que deve retirar a emissora pública de uma espécie de segunda divisão entre os índices de audiência. Caberá ao canal estatal apenas ceder o sinal já que todo o processo ficará a cargo da própria entidade. Ambas as partes não divulgaram o valor da negociação.

CBF monta sua própria TV que terá Pelé como estrela

Buscando braços para essa empreitada, a Confederação está em processo de contratação de 50 profissionais. Por uma questão de marketing o primeiro anunciado foi o grande trunfo: o Rei Pelé, que será o principal comentarista. Função esta que não é nova na carreira do ex-jogador, que já exerceu em outras ocasiões, inclusive na Globo (durante a Copa do Mundo de 94) e na Band, embora nunca tenha sido craque no vídeo como foi em campo.

Também estão na lista de contratação Marcelo Campos Pinto e João Pedro Paes Leme, não por coincidência, ex-dirigentes do Globo Esporte. Nos bastidores comenta-se que os dois executivos já vinham informalmente ajudando na elaboração do projeto de transmissão da CBF, iniciado de forma sigilosa em janeiro. Toda a operação vai ser ancorada direto dos estúdios que estão sendo finalizados na sede da própria entidade, na Barra, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Comandando ela própria a transmissão, a CBF garante para si o controle também dos anúncios televisivos. Ela passa a vender um formato global aos 10 patrocinadores oficiais que passariam a contar, no modelo combo, com a divulgação televisiva incluída. E ainda haverá espaço para outros anunciantes específicos para a mídia TV, desde que não sejam concorrentes dos másters. Formato este que tentou levar por várias vezes a Rede Globo, que sempre bateu com a porta na cara dos dirigentes quando tentavam entrar no negócio com esta proposta.

Nesta fase inicial, o grande dificultador é que a TV Brasil, por ser pública, tem limitações em veiculação de comerciais de produtos, sendo permitidos apenas no modelo institucional. Desta forma pode afetar diretamente a veiculação das mensagens na TV de seus patrocinadores que compraram as cotas nacionais.

Como neste novo modelo não haverá espaço para exclusividade é quase certo que a Band também participe de pool. No entanto, a direção da Rede Globo, que até então gozava do privilégio, ameaça não participar da transmissão conjunta. Ainda não se sabe em que janelas serão exibidos os comerciais das emissoras privadas que vierem a se associar na exibição.

Divergência em janeiro abriu as portas para nova experiência

Em janeiro, como a Globo recusou pagar R$ 6 milhões pelo amistoso contra a Colômbia, no Engenhão (RJ), foi a deixa para a CBF usar a partida como balão de ensaio liberando gratuitamente o sinal para quem quisesse transmitir. Esse ato serviu como uma espécie de degustação para o mercado. Apesar de ter sido feito de forma improvisada e em cima da hora, essa experiência despertou o interesse de dezenas de emissoras no país e no exterior.

Transmissão pelo Facebook e pelo Celular

A alteração do modelo não fica restrita apenas à TV. A entidade está de olho na grande revolução que acontece no setor de Comunicação com a rápida ascensão das novas plataformas digitais que a cada dia abocanham mais audiência e anunciantes da antes hegemônica televisão.

Visando esse mercado, a CBF está fechando contrato com o Facebook para que os jogos sejam mostrados também através desta mídia social. A entidade ainda deve anunciar, nos próximos dias, um acordo com uma operadora de telefonia móvel para que as partidas sejam transmitidas pelo celular.

Ligas estaduais também se movimentam

Esse não é o primeiro atrito das entidades esportivas com a Rede Globo, acostumada a impor o achatamento financeiro nas tabelas de preços pelo direito de arena. A emissora também exerce seu poder nas definições de regras no formato e nos horários das partidas para que se encaixem na sua grade de programação.

No início deste ano, uma espécie de carta de alforria foi declarada durante a decisão entre Atlético-PR e Coritiba rompendo as amarras com a emissora líder deixando o conforto da audiência certa pela experimentação na emergente mídia social YouTube. A expectativa é de que com essa mudança de postura da CBF e a reação paranaense possam impactar as futuras negociações regionais da emissora líder com as ligas regionais.

Rompimento abre caminho para outros eventos

O desgaste nas negociações com a Globo também é sentido em outros segmentos. O exemplo esportivo pode ecoar no mundo do samba. Embora a Liga Independente das Escolas, a Lierj mantenha o contrato com o canal as insatisfações são constantes entre as agremiações.

Com o fim da Rede Manchete e o desinteresse da Bandeirantes em investir no evento, a exclusividade global há mais de uma década vem fortalecendo a emissora que tem imposto uma série de alterações na estrutura da festa popular carioca. Se antes os portões eram abertos por volta das 19h, foram sendo empurrados para mais tarde e hoje, começam após às 22h.

Além disso todo ano é a mesma reclamação. A postura da emissora de excluir as primeiras que se apresentam da transmissão ao vivo, gera uma grande tensão. Isso porque como trata-se de um campeonato, as excluídas da mídia acabam recebendo menos patrocinadores e a procura por compra de fantasias. Sendo assim, são empurradas a forte candidatas a descerem para o grupo inferior.

A intromissão foi mais além. Impôs a redução do tempo de cada desfile de 82 para 75 minutos, do número de carros alegóricos de seis para cinco, alteração nas posições dos jurados. Além disso, as escolas que faziam quatro paradas agora só podem realizar uma no meio e outra no final.

 

*Este artigo de Luiz André Ferreira foi originalmente publicado no Linkedin.
Luiz André é jornalista, mestre em Bens Culturais e Projetos Socioambientais, conteudista, Professor da ESPM, Facha e FGV.

Confederação e Ligas Estaduais querem mais liberdade, menos intromissões da emissora e gerir seus próprios negócios em relação a imagem e patrocinadores. Escolas de Samba também demonstram insatisfações com as imposições do canal.

As mídias sociais não estão mudando apenas a maneira de consumir conteúdo audiovisual, mas alteram toda a cadeia do negócio. Já há impactos significativos nas etapas de produção e comercialização, indo desde as negociações pelos direitos de transmissão, passando pelo desmembramento das plataformas de forma segmentada até a captação de patrocinadores. Esses valores passam a ser redimensionados e questionados.

O que por aqui começa de forma tímida, já é realidade em várias partes do mundo, principalmente Europa e Estados Unidos. O pontapé inicial foi dado no início do ano com a partida entre Coritiba e Atlético Paranaense. Esses clubes romperam as amarras com a TV investindo em novos e mais vantajosos horizontes com a transmissão via YouTube.

Porém a grande cartada da CBF foi o divórcio do velho casamento com a Rede Globo, que teve como padrinhos os governos militares. O contrato de exclusividade com a emissora durante os amistosos encerrou em dezembro e não foi renovado, embora tenha havido, nos bastidores, uma grande quebra de braço entre as partes.

Em outubro, a Globo terá o seu segundo contrato a vencer logo após o Brasil enfrentar o Chile, no Maracanã, pela última rodada do torneio classificatório para o Mundial da Rússia. A lógica é que o negócio siga o mesmo desenho que está sendo impresso agora.

Acordo também rompido com SportTV

Desfeitas as amarras, a entidade está disposta a investir em novas oportunidades. A intenção foi dividir os direitos e vendê-los de forma segmentada para cada plataforma (TV aberta, paga e internet). No sistema fechado, o sinal verde já foi dado com o Esporte Interativo em substituição dos canais pagos Sportv das Organizações Globo.

Esse desenlace vai permitir aos próprios cartolas negociarem seus produtos eliminando a estação que também agia como atravessadora entre as partes. Até mesmo quando permitia dividir o sinal com uma coirmã, cabia a emissora da Família Marinho e, não a CBF, receber, das concorrentes, os royalties pela cessão das imagens. Se este longo casamento será totalmente rompido ainda é uma incógnita, porém já é certo que, se permanecer, vai ser em outras condições: a primeira delas é o fim da fidelidade.

Com saída da Globo, amistosos da Seleção pela TV Brasil

Como piloto nesta nova realidade vão começar dois amistosos realizados no mês de junho em Melbourne, na Austrália. Primeiramente, a Seleção Brasileira vai enfrentar a da Argentina (09/26) e o time da casa (13/06). Essa alteração no modelo de negócio vai muito além dos direitos de transmissão. A Confederação quer também administrar todas as etapas do televisionamento: captação, edição, narração e cobertura das partidas.

Em relação ao ainda mais lucrativo meio, a televisão, a CBF tentou transferir o contrato tradicional para outras concorrentes. Porém, com a crise econômica e a concorrência das mídias sociais, as emissoras viram suas verbas publicitárias minguarem. Descapitalizadas, não arriscaram a compra do pacote para TV aberta.

Diante disso, para viabilizar a transmissão, sacou da cartola um paliativo. Comprou ela mesma horários da TV Brasil (ex-TVE), o que deve retirar a emissora pública de uma espécie de segunda divisão entre os índices de audiência. Caberá ao canal estatal apenas ceder o sinal já que todo o processo ficará a cargo da própria entidade. Ambas as partes não divulgaram o valor da negociação.

CBF monta sua própria TV que terá Pelé como estrela

Buscando braços para essa empreitada, a Confederação está em processo de contratação de 50 profissionais. Por uma questão de marketing o primeiro anunciado foi o grande trunfo: o Rei Pelé, que será o principal comentarista. Função esta que não é nova na carreira do ex-jogador, que já exerceu em outras ocasiões, inclusive na Globo (durante a Copa do Mundo de 94) e na Band, embora nunca tenha sido craque no vídeo como foi em campo.

Também estão na lista de contratação Marcelo Campos Pinto e João Pedro Paes Leme, não por coincidência, ex-dirigentes do Globo Esporte. Nos bastidores comenta-se que os dois executivos já vinham informalmente ajudando na elaboração do projeto de transmissão da CBF, iniciado de forma sigilosa em janeiro. Toda a operação vai ser ancorada direto dos estúdios que estão sendo finalizados na sede da própria entidade, na Barra, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Comandando ela própria a transmissão, a CBF garante para si o controle também dos anúncios televisivos. Ela passa a vender um formato global aos 10 patrocinadores oficiais que passariam a contar, no modelo combo, com a divulgação televisiva incluída. E ainda haverá espaço para outros anunciantes específicos para a mídia TV, desde que não sejam concorrentes dos másters. Formato este que tentou levar por várias vezes a Rede Globo, que sempre bateu com a porta na cara dos dirigentes quando tentavam entrar no negócio com esta proposta.

Nesta fase inicial, o grande dificultador é que a TV Brasil, por ser pública, tem limitações em veiculação de comerciais de produtos, sendo permitidos apenas no modelo institucional. Desta forma pode afetar diretamente a veiculação das mensagens na TV de seus patrocinadores que compraram as cotas nacionais.

Como neste novo modelo não haverá espaço para exclusividade é quase certo que a Band também participe de pool. No entanto, a direção da Rede Globo, que até então gozava do privilégio, ameaça não participar da transmissão conjunta. Ainda não se sabe em que janelas serão exibidos os comerciais das emissoras privadas que vierem a se associar na exibição.

Divergência em janeiro abriu as portas para nova experiência

Em janeiro, como a Globo recusou pagar R$ 6 milhões pelo amistoso contra a Colômbia, no Engenhão (RJ), foi a deixa para a CBF usar a partida como balão de ensaio liberando gratuitamente o sinal para quem quisesse transmitir. Esse ato serviu como uma espécie de degustação para o mercado. Apesar de ter sido feito de forma improvisada e em cima da hora, essa experiência despertou o interesse de dezenas de emissoras no país e no exterior.

Transmissão pelo Facebook e pelo Celular

A alteração do modelo não fica restrita apenas à TV. A entidade está de olho na grande revolução que acontece no setor de Comunicação com a rápida ascensão das novas plataformas digitais que a cada dia abocanham mais audiência e anunciantes da antes hegemônica televisão.

Visando esse mercado, a CBF está fechando contrato com o Facebook para que os jogos sejam mostrados também através desta mídia social. A entidade ainda deve anunciar, nos próximos dias, um acordo com uma operadora de telefonia móvel para que as partidas sejam transmitidas pelo celular.

Ligas estaduais também se movimentam

Esse não é o primeiro atrito das entidades esportivas com a Rede Globo, acostumada a impor o achatamento financeiro nas tabelas de preços pelo direito de arena. A emissora também exerce seu poder nas definições de regras no formato e nos horários das partidas para que se encaixem na sua grade de programação.

No início deste ano, uma espécie de carta de alforria foi declarada durante a decisão entre Atlético-PR e Coritiba rompendo as amarras com a emissora líder deixando o conforto da audiência certa pela experimentação na emergente mídia social YouTube. A expectativa é de que com essa mudança de postura da CBF e a reação paranaense possam impactar as futuras negociações regionais da emissora líder com as ligas regionais.

Rompimento abre caminho para outros eventos

O desgaste nas negociações com a Globo também é sentido em outros segmentos. O exemplo esportivo pode ecoar no mundo do samba. Embora a Liga Independente das Escolas, a Lierj mantenha o contrato com o canal as insatisfações são constantes entre as agremiações.

Com o fim da Rede Manchete e o desinteresse da Bandeirantes em investir no evento, a exclusividade global há mais de uma década vem fortalecendo a emissora que tem imposto uma série de alterações na estrutura da festa popular carioca. Se antes os portões eram abertos por volta das 19h, foram sendo empurrados para mais tarde e hoje, começam após às 22h.

Além disso todo ano é a mesma reclamação. A postura da emissora de excluir as primeiras que se apresentam da transmissão ao vivo, gera uma grande tensão. Isso porque como trata-se de um campeonato, as excluídas da mídia acabam recebendo menos patrocinadores e a procura por compra de fantasias. Sendo assim, são empurradas a forte candidatas a descerem para o grupo inferior.

A intromissão foi mais além. Impôs a redução do tempo de cada desfile de 82 para 75 minutos, do número de carros alegóricos de seis para cinco, alteração nas posições dos jurados. Além disso, as escolas que faziam quatro paradas agora só podem realizar uma no meio e outra no final.

 

*Este artigo de Luiz André Ferreira foi originalmente publicado no Linkedin.
Luiz André é jornalista, mestre em Bens Culturais e Projetos Socioambientais, conteudista, Professor da ESPM, Facha e FGV.

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