Ainda Estou Aqui: filme conta com atuação magistral de Fernanda Torres
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd Selecionado para representar o Brasil na corrida por uma vaga entre os finalistas da categoria de melhor filme internacional no Oscar 2025, “Ainda Estou Aqui” (Ainda Estou Aqui – 2024, Brasil/França) chega ao circuito exibidor brasileiro nesta quinta-feira, dia 07, após aclamação do público e da […]
POR Ana Carolina Garcia08/11/2024|5 min de leitura
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Selecionado para representar o Brasil na corrida por uma vaga entre os finalistas da categoria de melhor filme internacional no Oscar 2025, “Ainda Estou Aqui” (Ainda Estou Aqui – 2024, Brasil/França) chega ao circuito exibidor brasileiro nesta quinta-feira, dia 07, após aclamação do público e da crítica em festivais como Vancouver e Veneza, este último, importante termômetro para o Oscar. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o longa promete ao espectador uma experiência cinematográfica reflexiva por meio da dor de uma família vitimada pela ditadura militar.
“Ainda Estou Aqui” conta a história da luta da família do autor após a prisão e posterior assassinato de seu pai, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), durante a ditadura. O filme começa em 1970, mostrando a harmonia da família Paiva, que vivia numa confortável casa na Avenida Delfim Moreira, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. No local, Rubens e Eunice (Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, idosa) faziam o possível para manter os filhos longe dos problemas políticos do país, inclusive a primogênita, enviada para Londres com uma família amiga para que não se envolvesse em questões políticas quando entrasse na faculdade. Mas a prisão de Rubens em 1971 colocou Eunice numa luta por justiça que durou décadas, exigindo dela força descomunal para se manter de pé e cuidar da família.
Com direção de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui” tem como fio condutor as ações do governo nos anos da ditadura militar, mas o foco principal é o drama familiar imposto pela dor da perda de um ente querido, no caso, o patriarca que garantia o sustento da esposa e dos filhos. E essa dor foi potencializada pelo impedimento de vivenciarem o luto em sua totalidade, pois o corpo de Rubens Paiva nunca foi entregue à Eunice e seus filhos.
Apresentando densidade narrativa impressionante, mérito do roteiro bem estruturado de Murilo Hauser e Heitor Lorega, “Ainda Estou Aqui” tem como um de seus pilares principais a escolha do elenco, que surge em cena em total comunhão. Neste ponto, é imprescindível destacar as atuações de Fernanda Torres e Selton Mello. Com chances reais de disputar a estatueta do Oscar de melhor atriz, Torres constrói Eunice de maneira a condensar sentimentos variados de uma mulher que precisou encontrar força descomunal para lidar com a perda do marido enquanto era observada de perto pelas autoridades, lidando com o trauma de ela própria ter sido presa para esclarecimentos, ao lado de uma das filhas, mas sem priorizar a emoção em detrimento da racionalidade. É uma interpretação magistral da atriz conhecida pelo grande público por papeis cômicos na telinha em séries como “Os Normais” (Os Normais – 2001 a 2003, Brasil) e “Tapas & Beijos” (Tapas & Beijos – 2011 a 2015, Brasil), estabelecendo jogo cênico potente com Mello, que também pode concorrer a prêmios na temporada americana, inclusive ao Oscar, como ator coadjuvante por um trabalho comovente, calcado não na sua posição política, mas na figura do chefe de família.
No entanto, seria injusto citar Fernanda Torres e Selton Mello como únicos destaques, pois o novo longa-metragem de Walter Salles conta com uma participação pequena, mas significativa, de Fernanda Montenegro. Até o momento a única brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz, por “Central do Brasil” (Central do Brasil – 1998, Brasil/França), também de Salles, Montenegro interpreta Eunice na terceira idade, já acometida pelo Mal de Alzheimer, que não lhe impediu de continuar sentindo a dor da perda de seu marido, algo mostrado de forma comovente no final de “Ainda Estou Aqui”. É uma atuação brilhante capaz de transmitir muito ao espectador somente com o olhar e expressões faciais sutis.
Tecnicamente primoroso, sobretudo no que tange à fotografia e montagem, “Ainda Estou Aqui” é uma produção que explora a dor e a luta por respostas e, consequentemente, justiça, por meio de uma mulher que precisou se reinventar para vencer, inclusive no âmbito profissional, tornando-se referência mundial ao se especializar em direito indígena e, também, consultora do governo e da Organização das Nações Unidas (ONU). Com uma vida marcada por lutas, Eunice Paiva perdeu a batalha para o Mal de Alzheimer aos 86 anos de idade, em 13 de dezembro de 2018, data lembrada no Brasil pelos 50 anos do AI-5.
+ assista ao trailer oficial:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Selecionado para representar o Brasil na corrida por uma vaga entre os finalistas da categoria de melhor filme internacional no Oscar 2025, “Ainda Estou Aqui” (Ainda Estou Aqui – 2024, Brasil/França) chega ao circuito exibidor brasileiro nesta quinta-feira, dia 07, após aclamação do público e da crítica em festivais como Vancouver e Veneza, este último, importante termômetro para o Oscar. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o longa promete ao espectador uma experiência cinematográfica reflexiva por meio da dor de uma família vitimada pela ditadura militar.
“Ainda Estou Aqui” conta a história da luta da família do autor após a prisão e posterior assassinato de seu pai, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), durante a ditadura. O filme começa em 1970, mostrando a harmonia da família Paiva, que vivia numa confortável casa na Avenida Delfim Moreira, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. No local, Rubens e Eunice (Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, idosa) faziam o possível para manter os filhos longe dos problemas políticos do país, inclusive a primogênita, enviada para Londres com uma família amiga para que não se envolvesse em questões políticas quando entrasse na faculdade. Mas a prisão de Rubens em 1971 colocou Eunice numa luta por justiça que durou décadas, exigindo dela força descomunal para se manter de pé e cuidar da família.
Com direção de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui” tem como fio condutor as ações do governo nos anos da ditadura militar, mas o foco principal é o drama familiar imposto pela dor da perda de um ente querido, no caso, o patriarca que garantia o sustento da esposa e dos filhos. E essa dor foi potencializada pelo impedimento de vivenciarem o luto em sua totalidade, pois o corpo de Rubens Paiva nunca foi entregue à Eunice e seus filhos.
Apresentando densidade narrativa impressionante, mérito do roteiro bem estruturado de Murilo Hauser e Heitor Lorega, “Ainda Estou Aqui” tem como um de seus pilares principais a escolha do elenco, que surge em cena em total comunhão. Neste ponto, é imprescindível destacar as atuações de Fernanda Torres e Selton Mello. Com chances reais de disputar a estatueta do Oscar de melhor atriz, Torres constrói Eunice de maneira a condensar sentimentos variados de uma mulher que precisou encontrar força descomunal para lidar com a perda do marido enquanto era observada de perto pelas autoridades, lidando com o trauma de ela própria ter sido presa para esclarecimentos, ao lado de uma das filhas, mas sem priorizar a emoção em detrimento da racionalidade. É uma interpretação magistral da atriz conhecida pelo grande público por papeis cômicos na telinha em séries como “Os Normais” (Os Normais – 2001 a 2003, Brasil) e “Tapas & Beijos” (Tapas & Beijos – 2011 a 2015, Brasil), estabelecendo jogo cênico potente com Mello, que também pode concorrer a prêmios na temporada americana, inclusive ao Oscar, como ator coadjuvante por um trabalho comovente, calcado não na sua posição política, mas na figura do chefe de família.
No entanto, seria injusto citar Fernanda Torres e Selton Mello como únicos destaques, pois o novo longa-metragem de Walter Salles conta com uma participação pequena, mas significativa, de Fernanda Montenegro. Até o momento a única brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz, por “Central do Brasil” (Central do Brasil – 1998, Brasil/França), também de Salles, Montenegro interpreta Eunice na terceira idade, já acometida pelo Mal de Alzheimer, que não lhe impediu de continuar sentindo a dor da perda de seu marido, algo mostrado de forma comovente no final de “Ainda Estou Aqui”. É uma atuação brilhante capaz de transmitir muito ao espectador somente com o olhar e expressões faciais sutis.
Tecnicamente primoroso, sobretudo no que tange à fotografia e montagem, “Ainda Estou Aqui” é uma produção que explora a dor e a luta por respostas e, consequentemente, justiça, por meio de uma mulher que precisou se reinventar para vencer, inclusive no âmbito profissional, tornando-se referência mundial ao se especializar em direito indígena e, também, consultora do governo e da Organização das Nações Unidas (ONU). Com uma vida marcada por lutas, Eunice Paiva perdeu a batalha para o Mal de Alzheimer aos 86 anos de idade, em 13 de dezembro de 2018, data lembrada no Brasil pelos 50 anos do AI-5.
+ assista ao trailer oficial:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.