Oscar 2025: ‘Ainda Estou Aqui’ faz o Brasil sorrir em cerimônia histórica com viés político

  • Icon instagram_blue
  • Icon youtube_blue
  • Icon x_blue
  • Icon facebook_blue
  • Icon google_blue

Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd Oscar 2025. Na noite do último domingo (02), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou a 97a cerimônia de entrega do Oscar, que teve um gostinho para lá de especial para os brasileiros que transformaram a […]

POR Ana Carolina Garcia 4/3/2025| 15 min de leitura

Oscar 2025: Mikey Madison, Fernanda Torres e Walter Salles (Foto: Divulgação – Crédito: Mark Von Holden / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

Oscar 2025: Mikey Madison, Fernanda Torres e Walter Salles (Foto: Divulgação – Crédito: Mark Von Holden / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

| Siga-nos Google News

Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd

Oscar 2025. Na noite do último domingo (02), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou a 97a cerimônia de entrega do Oscar, que teve um gostinho para lá de especial para os brasileiros que transformaram a maior festa do cinema em uma espécie de Copa do Mundo em pleno carnaval graças às três indicações de “Ainda Estou Aqui” (Ainda Estou Aqui – 2024, Brasil / França), nas categorias de melhor filme, filme internacional e atriz para Fernanda Torres.

Primeiro longa-metragem brasileiro a ganhar o Oscar, “Ainda Estou Aqui” saiu do Dolby Theatre, no coração de Hollywood, somente com a estatueta de melhor filme internacional, entregue a Walter Salles por Penélope Cruz. Ovacionado pela plateia, Salles subiu ao palco visivelmente emocionado, compreendendo a importância daquele momento para o país por meio de um filme que consegue estabelecer diálogo com o espectador independentemente da nacionalidade, pois sua mensagem é universal.

Oscar 2025: Walter Salles com a estatueta de melhor filme internacional por “Ainda Estou Aqui” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Walter Salles com a estatueta de melhor filme internacional por “Ainda Estou Aqui” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
International Feature Film during the live ABC Telecast of the 97th Oscars® at Dolby® Theatre at Ovation Hollywood on Sunday, March 2, 2025.

“Obrigado em nome do cinema brasileiro. É uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário de cineastas. Dedico esse prêmio para uma mulher que, depois de uma perda tão grande durante um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio é dedicado a ela. O nome dela é Eunice Paiva. E dedico esse prêmio às duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Tom Bernard e Michael [Baker], vocês são os melhores. Muito obrigado por isso. É uma coisa extraordinária. Muito obrigado”, disse Salles.

“Ainda Estou Aqui” era considerado favorito desde o início do processo de derrocada de “Emilia Pérez” (Emilia Pérez – 2024, França / Bélgica / México / EUA), líder de indicações desta edição, 13 ao todo. Colocando o Brasil no livro de História da AMPAS de forma definitiva, a produção original Globoplay perdeu os Golden Boys de melhor atriz (Mikey Madison) e filme para “Anora” (Anora – 2024, EUA), que rendeu a Sean Baker quatro estatuetas: direção, roteiro original, edição e, citada anteriormente, filme.

Dirigido por Jacques Audiard, indicado como diretor, o representante da França, distribuído pela Netflix no mercado americano, “Emilia Pérez” era o principal concorrente de “Ainda Estou Aqui”. Retratando o México por meio de estereótipos, sendo bastante criticado naquele país, o filme foi arrastado para uma novela de traços dramáticos, nos moldes mexicanos, que poderia muito bem se chamar “Como perder o Oscar em 10 dias” devido a tweets antigos de Karla Sofía Gascón, a coadjuvante alçada à protagonista para facilitar a campanha nos festivais internacionais e na temporada de prêmios americana que termina com a festa da AMPAS. De possível vencedora, a primeira mulher trans a disputar a estatueta de melhor atriz passou a praticamente uma proscrita que não cruzou pelo tapete vermelho para evitar a imprensa – no auditório, a espanhola não ocupou lugar de destaque, como suas colegas de elenco, Selena Gomez e Zoe Saldaña, que venceu o Golden Boy de melhor atriz coadjuvante, uma das duas estatuetas de “Emilia Pérez”, a outra foi a de canção original por “El mal”.

No entanto, o enfraquecimento de “Emilia Pérez” na reta final da corrida rumo ao palco do Dolby Theatre não foi causado exclusivamente pela visão estereotipada e pelos tweets de Gascón, pois Audiard também teve falas controversas expostas. Outro fator que contribuiu para os resultados negativos no Oscar foi a utilização de recursos de Inteligência Artificial durante o processo de pós-produção, sobretudo na voz de Gascón nos números musicais. Esse é um tema sensível para a comunidade hollywoodiana, que se posicionou abertamente contra a popularização de tais recursos para baratear orçamentos durante a greve de atores e roteiristas em 2023, que colocou Hollywood numa situação delicada quando tentava se reerguer da crise imposta pela pandemia de Covid-19, que interrompeu as atividades nos centros de produção e nas salas de exibição como jamais visto.

Oscar 2025: Adrien Brody com a estatueta de melhor filme ator por “O Brutalista” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Adrien Brody com a estatueta de melhor filme ator por “O Brutalista” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

 A controvérsia em torno da utilização de Inteligência Artificial também pode ser considerada um fator de enfraquecimento da campanha de “O Brutalista” (The Brutalist – 2024, EUA / Reino Unido / Canadá), nomeado em 10 categorias. Dirigido por Brady Corbet, o longa utilizou tais recursos na construção de cenários e nas vozes de Adrien Brody e Felicity Jones a fim de aprimorar o sotaque dos personagens, o que gerou críticas, pois o trabalho vocal é parte imprescindível do processo de composição realizado pelos atores. Apesar disso, a indústria optou por não “punir” Brody e premiá-lo com a estatueta de melhor ator – o filme também venceu as categorias de trilha sonora e fotografia. Esse resultado, de certa maneira, surpreendeu a todos porque Brody perdeu o SAG Award, concedido pelo Sindicato de Atores dos Estados Unidos (Screen Actors Guild – SAG) e maior termômetro das categorias de atores principais e coadjuvantes, para Timothée Chalamet por “Um Completo Desconhecido” (A Complete Unknown – 2024, EUA), alçando o jovem ator ao posto de favorito nos dias que antecederam a cerimônia do Oscar.

Com a The Walt Disney Company perdendo a estatueta de melhor animação em longa-metragem pelo terceiro ano consecutivo, o que representa a urgente necessidade de o centenário estúdio começar a se ajustar para fugir do padrão estético pasteurizado observado em alguns de seus últimos filmes animados, a Letônia levou seu primeiro Oscar para casa com a animação “Flow” (Straume – 2024, Letônia / Bélgica / França), assim como o Brasil, fazendo história.

Priorizando a força feminina nos números musicais, a AMPAS realizou uma cerimônia ágil que demonstrou a imprevisibilidade observada no decorrer da temporada, mantendo a preocupação para com o índice de audiência na televisão americana. De acordo com o The Hollywood Reporter, a cerimônia teve cerca de 18,07 milhões de telespectadores, apresentando queda de 7% em relação ao ano passado, que atingiu a marca de 19,4 milhões de telespectadores somente nos Estados Unidos.

Celebração da sétima-arte e mensagem política

Apresentada por Conan O’Brien, a cerimônia do Oscar 2025 foi guiada não apenas pela celebração à sétima-arte, mas também por temas de extrema relevância para a sociedade contemporânea, algo enraizado em “Ainda Estou Aqui” e tantos outros indicados desta edição histórica.

Algumas escolhas da Academia refletiram a preocupação de parte dos votantes com o cenário político, transformando o palco do Dolby Theatre num local onde vozes puderam ser ouvidas ao redor do globo, dentre elas, as dos iranianos Shirin Sohani e Hossein Molayemi, vencedores do Oscar de melhor curta de animação por “In the Shadow of the Cypress” (In the Shadow of the Cypress – 2023, Irã). Agraciados com a estatueta de melhor documentário por “Sem Chão” (No Other Land – 2024, Palestina / Noruega), o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham também chamaram a atenção dos presentes em seu discurso de agradecimento – a dupla dividiu o prêmio com Rachel Szo e Hamdan Ballal.

Oscar 2025: Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham com a estatueta de melhor documentário por “Sem Chão” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham com a estatueta de melhor documentário por “Sem Chão” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

“É uma grande honra para nós quatro e todos nos apoiaram nesse documentário. Há cerca de dois meses, tornei-me pai, e espero que minha filha não tenha que viver a mesma vida que estou vivendo agora, sempre temendo, sempre, sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e os deslocamentos forçados que minha comunidade, Masafer Yatta, está vivendo e enfrentando todos os dias sob a ocupação israelense. No Other Land reflete a dura realidade que temos suportado por décadas e ainda resistimos, enquanto pedimos ao mundo que tome medidas sérias para acabar com a injustiça e com a limpeza étnica do povo palestino”. Disse Adra após agradecer à Academia, sendo corroborado por Abraham: “Nós fizemos este filme, nós fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes. Nós nos vemos. A destruição atroz de Gaza e de seu povo, que precisa acabar, os reféns israelenses brutalmente tomados no crime de 07 de outubro, que precisam ser libertados. Quando olho para Basiléia, vejo meu irmão, mas somos desiguais. Vivemos em um regime em que eu sou livre sob a lei civil, e Basel está sob leis militares que destroem sua vida e ele não pode controlar. Há um caminho diferente, uma solução política, sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os povos. E devo dizer, enquanto estou aqui, que a política externa deste país está ajudando a bloquear esse caminho. E, você sabe, eu, por quê? Vocês não conseguem ver que estamos interligados, que meu povo pode estar realmente seguro se o povo da Basileia estiver realmente livre e seguro? Há outro caminho. Não é tarde demais para a vida, para os vivos. Não há outro caminho”.

Oscar 2025: Adrien Brody, Mikey Madison, Zoe Saldaña e Kieran Culkin (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Adrien Brody, Mikey Madison, Zoe Saldaña e Kieran Culkin (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

As escolhas da AMPAS também representam a opinião da indústria cinematográfica, mesmo de forma um tanto discreta, em relação aos imigrantes, muitos deles deportados em massa. Isso pôde ser observado tanto na entrega de prêmios a atores que interpretam descendentes de imigrantes, Brody, Madison e Kieran Culkin, melhor ator coadjuvante por “A Verdadeira Dor” (The Real Pain – 2024, EUA), quanto em descendentes reais, como Zoe Saldaña.

“Minha avó veio para este país em 1961. Sou uma filha orgulhosa de pais imigrantes. Com sonhos, dignidade e mãos trabalhadoras, sou a primeira americana de origem dominicana a receber um Oscar, e sei que não serei a última. Espero que não. O fato de estar recebendo um prêmio por um papel em que pude cantar e falar em espanhol, minha avó, se estivesse aqui, ficaria muito feliz. Isso é para minha avó, Argentina Cisse. Muito obrigada, mucha gracias, obrigada”, disse Saldaña.

Substância surpresa?!

Não há como negar o fato de a categoria de melhor atriz ter sido uma das mais faladas desta edição. Quando a Academia divulgou sua lista de indicados, Demi Moore e Fernanda Torres, as respectivas vencedoras do Globo de Ouro de atriz em filme de comédia / musical por “A Substância” (The Substance – 2024, EUA) e atriz em filme de drama por “Ainda Estou Aqui”, eram apontadas como as concorrentes mais fortes na corrida pelo Golden Boy. Encostada nas duas, Karla Sofía Gascón, atriz com a campanha mais fácil de ser defendida junto a uma instituição que desde o Oscar 2016, chamado de “#OscarSoWhite” (“Oscar tão branco”, numa tradução literal), tenta manter o discurso alicerçado em representatividade, diversidade e inclusão.

Oscar 2025: Demi Moore era a favorita à estatueta de melhor atriz por “A Substância” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Demi Moore era a favorita à estatueta de melhor atriz por “A Substância” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

A partir do momento que Gascón atacou a equipe de Torres publicamente, o cenário se modificou, influenciado, também, pelo engajamento dos fãs brasileiros nas redes sociais. Só que não foram os fãs de Torres os responsáveis pelo resgate dos tweets de Gascón, mas a jornalista canadense Sarah Hagi, que vasculhou as postagens da espanhola que lidava com acusações de violação às regras da AMPAS em decorrência do ataque à equipe da brasileira. Naquele momento, Moore se fortaleceu ainda mais, assim como Mikey Madison e Cynthia Erivo, indicada por “Wicked” (Wicked – 2024, EUA / Japão / Canadá / Islândia / Reino Unido).

Com novos contornos, a disputa pela estatueta de melhor atriz se intensificou, beneficiando-se do enfraquecimento de Gascón, que não mais representava risco às suas adversárias. O problema é que a comunidade hollywoodiana não está totalmente aberta a profissionais estrangeiros, especialmente latinos. Então, é possível que o escândalo de Gascón tenha respingado em sua maior oponente, a única das quatro com filme em língua não-inglesa, Fernanda Torres, fortalecendo Mikey Madison como a terceira via que avançava sem alarde até o BAFTA. A cerimônia do chamado Oscar britânico chacoalhou a fase final da corrida pelo Oscar de melhor atriz, tornando a disputa ainda mais imprevisível.

O burburinho causado pelo BAFTA aumentou a expectativa em torno da SAG Awards, o maior termômetro das categorias de atores principais e coadjuvantes, que não tinha Torres entre as finalistas. O SAG premiou Moore por um filme que todos sabiam ser de difícil digestão para a AMPAS, que tem o hábito de priorizar títulos de gêneros mais aceitos pelo espectador, como o drama, por exemplo. Mas, pelo segundo ano consecutivo, a atriz agraciada pelo SAG não foi a mesma do Oscar – no ano passado, Lily Gladstone venceu o SAG por “Assassinos da Lua das Flores” (Killers of the Flower Moon – 2023, EUA), mas perdeu o Oscar para Emma Stone por “Pobres Criaturas” (Poor Things – 2023, Irlanda / Reino Unido / EUA).

Tecendo crítica à indústria que desde os seus primórdios normatiza o etarismo, colocando nas atrizes um rótulo indicativo de prazo de validade, “A Substância” precisava superar muitas barreiras para alcançar o pote de ouro, em forma de estatueta, no final do arco-íris. De preferência, com o Oscar para Moore, que há mais de 40 anos faz muito por Hollywood sem o mínimo de reconhecimento por parte de sua própria comunidade, mesmo quando ofereceu performances de qualidade em produções como “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (Ghost – 1990, EUA) e “Questão de Honra” (A Few Good Men – 1992, EUA), dois fenômenos de bilheteria.

Das cinco atrizes indicadas, Moore é a mais velha, 62 anos, e Madison, a mais nova, 25 anos. Nas últimas semanas, o embate direto foi entre as duas, tendo Torres, de 59 anos, como terceira via. E isso colocou a AMPAS sob os holofotes, pois Hollywood deve muito a Moore, apesar de escolhas que a ridicularizaram ao longo dos anos, dentre elas, “Striptease” (Striptease – 1996, EUA). Premiar a ex-esposa de Bruce Willis seria premiar a própria indústria num movimento de superação observado, de certa forma, com Michael Keaton há 10 anos. Concorrendo por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance – 2014, EUA), Keaton perdeu a estatueta de melhor ator para um colega 31 anos mais jovem, Eddie Redmayne por “A Teoria de Tudo” (The Theory of Everything – 2014, Reino Unido / Japão / EUA).

Oscar 2025: Mikey Madison com a estatueta de melhor atriz por “Anora” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Mikey Madison com a estatueta de melhor atriz por “Anora” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

Mikey Madison venceu inúmeros prêmios no decorrer da temporada, tendo iniciado sua campanha no Festival de Cannes do ano passado, mas Demi Moore levou para casa os dois termômetros mais importantes para o Oscar, o Globo de Ouro e o SAG Awards. Por isso, a sensação de surpresa quando Emma Stone anunciou Madison como ganhadora. Surpresa compartilhada pelos fãs brasileiros, que sabiam dos obstáculos enfrentados por Torres, bem como do poder cênico de Moore em “A Substância”. Perder para Moore não teria o mesmo sabor amargo de ver Fernanda Montenegro perdendo para Gwyneth Paltrow em 1999, quando as duas concorreram por “Central do Brasil” (Central do Brasil – 1998, Brasil / França) e “Shakespeare Apaixonado” (Shakespeare in Love – 1998, EUA), respectivamente.

No entanto, a derrota de Moore e Torres para uma jovem atriz em ascensão remete ao modus operandi da velha Hollywood, preocupada com a passagem de bastão da veterana para a novata sem rugas nem procedimentos estéticos mais incisivos, podendo utilizar a confortável justificativa de que “A Substância” não é um filme de fácil digestão nem “Ainda Estou Aqui” é falado em inglês. E para uma instituição que tenta evitar polêmicas, a AMPAS deu munição para ser acusada de etarismo, fortalecendo as críticas feitas no longa-metragem estrelado por Moore, que interpreta uma apresentadora de televisão descartada no seu aniversário de 50 anos em busca de tratamento para rejuvenescimento. A substância que promete juventude, no fim das contas, se impôs na categoria de melhor atriz do Oscar 2025.

 

Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.

+ leia também:

– Oscar 2025: com os votos sendo contabilizados, só resta torcer

– Oscar 2025: E agora, Emilia Pérez?

– Oscar 2025: premiação pode ser a mais imprevisível dos últimos anos

– Ainda Estou Aqui: Fernanda Torres rumo ao Oscar?

Rodapé - entretenimento

Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd

Oscar 2025. Na noite do último domingo (02), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) realizou a 97a cerimônia de entrega do Oscar, que teve um gostinho para lá de especial para os brasileiros que transformaram a maior festa do cinema em uma espécie de Copa do Mundo em pleno carnaval graças às três indicações de “Ainda Estou Aqui” (Ainda Estou Aqui – 2024, Brasil / França), nas categorias de melhor filme, filme internacional e atriz para Fernanda Torres.

Primeiro longa-metragem brasileiro a ganhar o Oscar, “Ainda Estou Aqui” saiu do Dolby Theatre, no coração de Hollywood, somente com a estatueta de melhor filme internacional, entregue a Walter Salles por Penélope Cruz. Ovacionado pela plateia, Salles subiu ao palco visivelmente emocionado, compreendendo a importância daquele momento para o país por meio de um filme que consegue estabelecer diálogo com o espectador independentemente da nacionalidade, pois sua mensagem é universal.

Oscar 2025: Walter Salles com a estatueta de melhor filme internacional por “Ainda Estou Aqui” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Walter Salles com a estatueta de melhor filme internacional por “Ainda Estou Aqui” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
International Feature Film during the live ABC Telecast of the 97th Oscars® at Dolby® Theatre at Ovation Hollywood on Sunday, March 2, 2025.

“Obrigado em nome do cinema brasileiro. É uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário de cineastas. Dedico esse prêmio para uma mulher que, depois de uma perda tão grande durante um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio é dedicado a ela. O nome dela é Eunice Paiva. E dedico esse prêmio às duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Tom Bernard e Michael [Baker], vocês são os melhores. Muito obrigado por isso. É uma coisa extraordinária. Muito obrigado”, disse Salles.

“Ainda Estou Aqui” era considerado favorito desde o início do processo de derrocada de “Emilia Pérez” (Emilia Pérez – 2024, França / Bélgica / México / EUA), líder de indicações desta edição, 13 ao todo. Colocando o Brasil no livro de História da AMPAS de forma definitiva, a produção original Globoplay perdeu os Golden Boys de melhor atriz (Mikey Madison) e filme para “Anora” (Anora – 2024, EUA), que rendeu a Sean Baker quatro estatuetas: direção, roteiro original, edição e, citada anteriormente, filme.

Dirigido por Jacques Audiard, indicado como diretor, o representante da França, distribuído pela Netflix no mercado americano, “Emilia Pérez” era o principal concorrente de “Ainda Estou Aqui”. Retratando o México por meio de estereótipos, sendo bastante criticado naquele país, o filme foi arrastado para uma novela de traços dramáticos, nos moldes mexicanos, que poderia muito bem se chamar “Como perder o Oscar em 10 dias” devido a tweets antigos de Karla Sofía Gascón, a coadjuvante alçada à protagonista para facilitar a campanha nos festivais internacionais e na temporada de prêmios americana que termina com a festa da AMPAS. De possível vencedora, a primeira mulher trans a disputar a estatueta de melhor atriz passou a praticamente uma proscrita que não cruzou pelo tapete vermelho para evitar a imprensa – no auditório, a espanhola não ocupou lugar de destaque, como suas colegas de elenco, Selena Gomez e Zoe Saldaña, que venceu o Golden Boy de melhor atriz coadjuvante, uma das duas estatuetas de “Emilia Pérez”, a outra foi a de canção original por “El mal”.

No entanto, o enfraquecimento de “Emilia Pérez” na reta final da corrida rumo ao palco do Dolby Theatre não foi causado exclusivamente pela visão estereotipada e pelos tweets de Gascón, pois Audiard também teve falas controversas expostas. Outro fator que contribuiu para os resultados negativos no Oscar foi a utilização de recursos de Inteligência Artificial durante o processo de pós-produção, sobretudo na voz de Gascón nos números musicais. Esse é um tema sensível para a comunidade hollywoodiana, que se posicionou abertamente contra a popularização de tais recursos para baratear orçamentos durante a greve de atores e roteiristas em 2023, que colocou Hollywood numa situação delicada quando tentava se reerguer da crise imposta pela pandemia de Covid-19, que interrompeu as atividades nos centros de produção e nas salas de exibição como jamais visto.

Oscar 2025: Adrien Brody com a estatueta de melhor filme ator por “O Brutalista” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Adrien Brody com a estatueta de melhor filme ator por “O Brutalista” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

 A controvérsia em torno da utilização de Inteligência Artificial também pode ser considerada um fator de enfraquecimento da campanha de “O Brutalista” (The Brutalist – 2024, EUA / Reino Unido / Canadá), nomeado em 10 categorias. Dirigido por Brady Corbet, o longa utilizou tais recursos na construção de cenários e nas vozes de Adrien Brody e Felicity Jones a fim de aprimorar o sotaque dos personagens, o que gerou críticas, pois o trabalho vocal é parte imprescindível do processo de composição realizado pelos atores. Apesar disso, a indústria optou por não “punir” Brody e premiá-lo com a estatueta de melhor ator – o filme também venceu as categorias de trilha sonora e fotografia. Esse resultado, de certa maneira, surpreendeu a todos porque Brody perdeu o SAG Award, concedido pelo Sindicato de Atores dos Estados Unidos (Screen Actors Guild – SAG) e maior termômetro das categorias de atores principais e coadjuvantes, para Timothée Chalamet por “Um Completo Desconhecido” (A Complete Unknown – 2024, EUA), alçando o jovem ator ao posto de favorito nos dias que antecederam a cerimônia do Oscar.

Com a The Walt Disney Company perdendo a estatueta de melhor animação em longa-metragem pelo terceiro ano consecutivo, o que representa a urgente necessidade de o centenário estúdio começar a se ajustar para fugir do padrão estético pasteurizado observado em alguns de seus últimos filmes animados, a Letônia levou seu primeiro Oscar para casa com a animação “Flow” (Straume – 2024, Letônia / Bélgica / França), assim como o Brasil, fazendo história.

Priorizando a força feminina nos números musicais, a AMPAS realizou uma cerimônia ágil que demonstrou a imprevisibilidade observada no decorrer da temporada, mantendo a preocupação para com o índice de audiência na televisão americana. De acordo com o The Hollywood Reporter, a cerimônia teve cerca de 18,07 milhões de telespectadores, apresentando queda de 7% em relação ao ano passado, que atingiu a marca de 19,4 milhões de telespectadores somente nos Estados Unidos.

Celebração da sétima-arte e mensagem política

Apresentada por Conan O’Brien, a cerimônia do Oscar 2025 foi guiada não apenas pela celebração à sétima-arte, mas também por temas de extrema relevância para a sociedade contemporânea, algo enraizado em “Ainda Estou Aqui” e tantos outros indicados desta edição histórica.

Algumas escolhas da Academia refletiram a preocupação de parte dos votantes com o cenário político, transformando o palco do Dolby Theatre num local onde vozes puderam ser ouvidas ao redor do globo, dentre elas, as dos iranianos Shirin Sohani e Hossein Molayemi, vencedores do Oscar de melhor curta de animação por “In the Shadow of the Cypress” (In the Shadow of the Cypress – 2023, Irã). Agraciados com a estatueta de melhor documentário por “Sem Chão” (No Other Land – 2024, Palestina / Noruega), o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham também chamaram a atenção dos presentes em seu discurso de agradecimento – a dupla dividiu o prêmio com Rachel Szo e Hamdan Ballal.

Oscar 2025: Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham com a estatueta de melhor documentário por “Sem Chão” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham com a estatueta de melhor documentário por “Sem Chão” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

“É uma grande honra para nós quatro e todos nos apoiaram nesse documentário. Há cerca de dois meses, tornei-me pai, e espero que minha filha não tenha que viver a mesma vida que estou vivendo agora, sempre temendo, sempre, sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e os deslocamentos forçados que minha comunidade, Masafer Yatta, está vivendo e enfrentando todos os dias sob a ocupação israelense. No Other Land reflete a dura realidade que temos suportado por décadas e ainda resistimos, enquanto pedimos ao mundo que tome medidas sérias para acabar com a injustiça e com a limpeza étnica do povo palestino”. Disse Adra após agradecer à Academia, sendo corroborado por Abraham: “Nós fizemos este filme, nós fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes. Nós nos vemos. A destruição atroz de Gaza e de seu povo, que precisa acabar, os reféns israelenses brutalmente tomados no crime de 07 de outubro, que precisam ser libertados. Quando olho para Basiléia, vejo meu irmão, mas somos desiguais. Vivemos em um regime em que eu sou livre sob a lei civil, e Basel está sob leis militares que destroem sua vida e ele não pode controlar. Há um caminho diferente, uma solução política, sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os povos. E devo dizer, enquanto estou aqui, que a política externa deste país está ajudando a bloquear esse caminho. E, você sabe, eu, por quê? Vocês não conseguem ver que estamos interligados, que meu povo pode estar realmente seguro se o povo da Basileia estiver realmente livre e seguro? Há outro caminho. Não é tarde demais para a vida, para os vivos. Não há outro caminho”.

Oscar 2025: Adrien Brody, Mikey Madison, Zoe Saldaña e Kieran Culkin (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Adrien Brody, Mikey Madison, Zoe Saldaña e Kieran Culkin (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

As escolhas da AMPAS também representam a opinião da indústria cinematográfica, mesmo de forma um tanto discreta, em relação aos imigrantes, muitos deles deportados em massa. Isso pôde ser observado tanto na entrega de prêmios a atores que interpretam descendentes de imigrantes, Brody, Madison e Kieran Culkin, melhor ator coadjuvante por “A Verdadeira Dor” (The Real Pain – 2024, EUA), quanto em descendentes reais, como Zoe Saldaña.

“Minha avó veio para este país em 1961. Sou uma filha orgulhosa de pais imigrantes. Com sonhos, dignidade e mãos trabalhadoras, sou a primeira americana de origem dominicana a receber um Oscar, e sei que não serei a última. Espero que não. O fato de estar recebendo um prêmio por um papel em que pude cantar e falar em espanhol, minha avó, se estivesse aqui, ficaria muito feliz. Isso é para minha avó, Argentina Cisse. Muito obrigada, mucha gracias, obrigada”, disse Saldaña.

Substância surpresa?!

Não há como negar o fato de a categoria de melhor atriz ter sido uma das mais faladas desta edição. Quando a Academia divulgou sua lista de indicados, Demi Moore e Fernanda Torres, as respectivas vencedoras do Globo de Ouro de atriz em filme de comédia / musical por “A Substância” (The Substance – 2024, EUA) e atriz em filme de drama por “Ainda Estou Aqui”, eram apontadas como as concorrentes mais fortes na corrida pelo Golden Boy. Encostada nas duas, Karla Sofía Gascón, atriz com a campanha mais fácil de ser defendida junto a uma instituição que desde o Oscar 2016, chamado de “#OscarSoWhite” (“Oscar tão branco”, numa tradução literal), tenta manter o discurso alicerçado em representatividade, diversidade e inclusão.

Oscar 2025: Demi Moore era a favorita à estatueta de melhor atriz por “A Substância” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Demi Moore era a favorita à estatueta de melhor atriz por “A Substância” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

A partir do momento que Gascón atacou a equipe de Torres publicamente, o cenário se modificou, influenciado, também, pelo engajamento dos fãs brasileiros nas redes sociais. Só que não foram os fãs de Torres os responsáveis pelo resgate dos tweets de Gascón, mas a jornalista canadense Sarah Hagi, que vasculhou as postagens da espanhola que lidava com acusações de violação às regras da AMPAS em decorrência do ataque à equipe da brasileira. Naquele momento, Moore se fortaleceu ainda mais, assim como Mikey Madison e Cynthia Erivo, indicada por “Wicked” (Wicked – 2024, EUA / Japão / Canadá / Islândia / Reino Unido).

Com novos contornos, a disputa pela estatueta de melhor atriz se intensificou, beneficiando-se do enfraquecimento de Gascón, que não mais representava risco às suas adversárias. O problema é que a comunidade hollywoodiana não está totalmente aberta a profissionais estrangeiros, especialmente latinos. Então, é possível que o escândalo de Gascón tenha respingado em sua maior oponente, a única das quatro com filme em língua não-inglesa, Fernanda Torres, fortalecendo Mikey Madison como a terceira via que avançava sem alarde até o BAFTA. A cerimônia do chamado Oscar britânico chacoalhou a fase final da corrida pelo Oscar de melhor atriz, tornando a disputa ainda mais imprevisível.

O burburinho causado pelo BAFTA aumentou a expectativa em torno da SAG Awards, o maior termômetro das categorias de atores principais e coadjuvantes, que não tinha Torres entre as finalistas. O SAG premiou Moore por um filme que todos sabiam ser de difícil digestão para a AMPAS, que tem o hábito de priorizar títulos de gêneros mais aceitos pelo espectador, como o drama, por exemplo. Mas, pelo segundo ano consecutivo, a atriz agraciada pelo SAG não foi a mesma do Oscar – no ano passado, Lily Gladstone venceu o SAG por “Assassinos da Lua das Flores” (Killers of the Flower Moon – 2023, EUA), mas perdeu o Oscar para Emma Stone por “Pobres Criaturas” (Poor Things – 2023, Irlanda / Reino Unido / EUA).

Tecendo crítica à indústria que desde os seus primórdios normatiza o etarismo, colocando nas atrizes um rótulo indicativo de prazo de validade, “A Substância” precisava superar muitas barreiras para alcançar o pote de ouro, em forma de estatueta, no final do arco-íris. De preferência, com o Oscar para Moore, que há mais de 40 anos faz muito por Hollywood sem o mínimo de reconhecimento por parte de sua própria comunidade, mesmo quando ofereceu performances de qualidade em produções como “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (Ghost – 1990, EUA) e “Questão de Honra” (A Few Good Men – 1992, EUA), dois fenômenos de bilheteria.

Das cinco atrizes indicadas, Moore é a mais velha, 62 anos, e Madison, a mais nova, 25 anos. Nas últimas semanas, o embate direto foi entre as duas, tendo Torres, de 59 anos, como terceira via. E isso colocou a AMPAS sob os holofotes, pois Hollywood deve muito a Moore, apesar de escolhas que a ridicularizaram ao longo dos anos, dentre elas, “Striptease” (Striptease – 1996, EUA). Premiar a ex-esposa de Bruce Willis seria premiar a própria indústria num movimento de superação observado, de certa forma, com Michael Keaton há 10 anos. Concorrendo por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance – 2014, EUA), Keaton perdeu a estatueta de melhor ator para um colega 31 anos mais jovem, Eddie Redmayne por “A Teoria de Tudo” (The Theory of Everything – 2014, Reino Unido / Japão / EUA).

Oscar 2025: Mikey Madison com a estatueta de melhor atriz por “Anora” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).
Oscar 2025: Mikey Madison com a estatueta de melhor atriz por “Anora” (Foto: Divulgação – Crédito: Etienne Laurent / The Academy / ©A.M.P.A.S.).

Mikey Madison venceu inúmeros prêmios no decorrer da temporada, tendo iniciado sua campanha no Festival de Cannes do ano passado, mas Demi Moore levou para casa os dois termômetros mais importantes para o Oscar, o Globo de Ouro e o SAG Awards. Por isso, a sensação de surpresa quando Emma Stone anunciou Madison como ganhadora. Surpresa compartilhada pelos fãs brasileiros, que sabiam dos obstáculos enfrentados por Torres, bem como do poder cênico de Moore em “A Substância”. Perder para Moore não teria o mesmo sabor amargo de ver Fernanda Montenegro perdendo para Gwyneth Paltrow em 1999, quando as duas concorreram por “Central do Brasil” (Central do Brasil – 1998, Brasil / França) e “Shakespeare Apaixonado” (Shakespeare in Love – 1998, EUA), respectivamente.

No entanto, a derrota de Moore e Torres para uma jovem atriz em ascensão remete ao modus operandi da velha Hollywood, preocupada com a passagem de bastão da veterana para a novata sem rugas nem procedimentos estéticos mais incisivos, podendo utilizar a confortável justificativa de que “A Substância” não é um filme de fácil digestão nem “Ainda Estou Aqui” é falado em inglês. E para uma instituição que tenta evitar polêmicas, a AMPAS deu munição para ser acusada de etarismo, fortalecendo as críticas feitas no longa-metragem estrelado por Moore, que interpreta uma apresentadora de televisão descartada no seu aniversário de 50 anos em busca de tratamento para rejuvenescimento. A substância que promete juventude, no fim das contas, se impôs na categoria de melhor atriz do Oscar 2025.

 

Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.

+ leia também:

– Oscar 2025: com os votos sendo contabilizados, só resta torcer

– Oscar 2025: E agora, Emilia Pérez?

– Oscar 2025: premiação pode ser a mais imprevisível dos últimos anos

– Ainda Estou Aqui: Fernanda Torres rumo ao Oscar?

Rodapé - entretenimento

Notícias Relacionadas

Ver tudo