Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd Vencedor do Oscar de melhor filme internacional e som, “Zona de Interesse” (The Zone of Interest – 2023, EUA/Reino Unido/Polônia), de Jonathan Glazer, aborda o Holocausto de maneira a aplicar conceitos distintos no mesmo cenário, o de felicidade e o de inferno, separados por um muro […]
POR Ana Carolina Garcia20/11/2024|4 min de leitura
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Vencedor do Oscar de melhor filme internacional e som, “Zona de Interesse” (The Zone of Interest – 2023, EUA/Reino Unido/Polônia), de Jonathan Glazer, aborda o Holocausto de maneira a aplicar conceitos distintos no mesmo cenário, o de felicidade e o de inferno, separados por um muro baixo o suficiente para impedir que a família do comandante de Auschwitz-Birkenau, Rudolf Höss (Christian Friedel), tivesse ampla visão dos acontecimentos do campo de extermínio enquanto desfrutava de uma vida de luxo e conforto, ignorando a barbárie. Na próxima quinta-feira (21), outro longa-metragem sobre o Holocausto chega ao circuito exibidor brasileiro, “Tesouro” (Treasure – 2024, Alemanha/França/Polônia/Bélgica/Hungria/EUA), de Julia von Heinz.
Baseado no livro “Too Many Men”, publicado em 1999 por Lilly Brett, inspirado na história de sua própria família, “Tesouro” mostra a reaproximação da jornalista Ruth (Lena Dunham) com seu pai, Edek (Stephen Fry), sobrevivente de Auschwitz que não visita a Polônia desde a sua libertação do campo. Ambientada em 1991, a trama aborda o quão importante é para a protagonista se reconectar com o pai por meio da história de sua família, parte dela não contada por Edek, que, ao acompanhar Ruth, precisa lidar com a dor de uma ferida nunca cicatrizada.
Utilizando fórmula tradicional do drama, “Tesouro” é conduzido com muita sensibilidade por Julia von Heinz, que divide o roteiro com John Quester, explorando não apenas a angústia de Ruth em descobrir sua verdadeira história e reaver objetos de seu pai e avós, como também a de Edek, que teme pela segurança da filha e faz o possível para convencê-la a desistir de seu cronograma de viagem. E isso funciona na tela graças ao jogo cênico estabelecido entre Dunham e Fry, que conseguem assimilar as características de seus respectivos personagens com naturalidade e, apesar do tema abordado, leveza.
Com montagem eficiente que lhe concede fluidez narrativa, “Tesouro” é uma produção sobre a importância de conhecer suas origens, mesmo que a jornada seja guiada pela dor imposta aos seus ascendentes, para melhor compreender as atitudes de seus pais, que optaram por suprimir tudo o que vivenciaram em Auschwitz, algo observado na postura de Edek, que, em determinado momento pergunta à Ruth, “Você não se cansa dessa tragédia, não é?”. Mas Edek ignorou o fato de que o passado não pode ser esquecido para que os erros cometidos não se repitam no presente nem no futuro.
+ assista ao trailer oficial legendado:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.
Por Ana Carolina Garcia, crítica de cinema do SRzd
Vencedor do Oscar de melhor filme internacional e som, “Zona de Interesse” (The Zone of Interest – 2023, EUA/Reino Unido/Polônia), de Jonathan Glazer, aborda o Holocausto de maneira a aplicar conceitos distintos no mesmo cenário, o de felicidade e o de inferno, separados por um muro baixo o suficiente para impedir que a família do comandante de Auschwitz-Birkenau, Rudolf Höss (Christian Friedel), tivesse ampla visão dos acontecimentos do campo de extermínio enquanto desfrutava de uma vida de luxo e conforto, ignorando a barbárie. Na próxima quinta-feira (21), outro longa-metragem sobre o Holocausto chega ao circuito exibidor brasileiro, “Tesouro” (Treasure – 2024, Alemanha/França/Polônia/Bélgica/Hungria/EUA), de Julia von Heinz.
Baseado no livro “Too Many Men”, publicado em 1999 por Lilly Brett, inspirado na história de sua própria família, “Tesouro” mostra a reaproximação da jornalista Ruth (Lena Dunham) com seu pai, Edek (Stephen Fry), sobrevivente de Auschwitz que não visita a Polônia desde a sua libertação do campo. Ambientada em 1991, a trama aborda o quão importante é para a protagonista se reconectar com o pai por meio da história de sua família, parte dela não contada por Edek, que, ao acompanhar Ruth, precisa lidar com a dor de uma ferida nunca cicatrizada.
Utilizando fórmula tradicional do drama, “Tesouro” é conduzido com muita sensibilidade por Julia von Heinz, que divide o roteiro com John Quester, explorando não apenas a angústia de Ruth em descobrir sua verdadeira história e reaver objetos de seu pai e avós, como também a de Edek, que teme pela segurança da filha e faz o possível para convencê-la a desistir de seu cronograma de viagem. E isso funciona na tela graças ao jogo cênico estabelecido entre Dunham e Fry, que conseguem assimilar as características de seus respectivos personagens com naturalidade e, apesar do tema abordado, leveza.
Com montagem eficiente que lhe concede fluidez narrativa, “Tesouro” é uma produção sobre a importância de conhecer suas origens, mesmo que a jornada seja guiada pela dor imposta aos seus ascendentes, para melhor compreender as atitudes de seus pais, que optaram por suprimir tudo o que vivenciaram em Auschwitz, algo observado na postura de Edek, que, em determinado momento pergunta à Ruth, “Você não se cansa dessa tragédia, não é?”. Mas Edek ignorou o fato de que o passado não pode ser esquecido para que os erros cometidos não se repitam no presente nem no futuro.
+ assista ao trailer oficial legendado:
Sobre Ana Carolina Garcia: Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Jornalismo Cultural, Ana Carolina Garcia é autora dos livros “A Fantástica Fábrica de Filmes – Como Hollywood se tornou a capital mundial do cinema” (2011), “Cinema no século XXI – Modelo tradicional na Era do Streaming” (2021) e “100 anos do Império Disney: Da Avenida Kingswell à conquista do universo” (2023). É vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) desde 2021.