O que deu certo e o que deu errado no primeiro dia do Rock in Rio 2017
Tudo no Rock in Rio é gigante. Cada operação vive o fio da navalha entre o sucesso e o fracasso. Não existe meio termo. Para dar dimensão da grandiosidade: mais de 20 mil pessoas trabalham numa área de 300m² com oito palcos sendo três inéditos. São 120 quilômetros de cabos por baixo dos 80 m² de […]
POR Sidney Rezende16/09/2017|9 min de leitura
Tudo no Rock in Rio é gigante. Cada operação vive o fio da navalha entre o sucesso e o fracasso. Não existe meio termo. Para dar dimensão da grandiosidade: mais de 20 mil pessoas trabalham numa área de 300m² com oito palcos sendo três inéditos. São 120 quilômetros de cabos por baixo dos 80 m² de grama que cruzam a Cidade do Rock. O público estimado vai ultrapassar 700 mil pessoas.
A análise sobre o funcionamento do transporte público que levou milhares de apaixonados por música até à Cidade do Rock, deixaremos para os próximos dias. Mas falaremos dos serviços no entorno da área que abrigou gente de todas as tribos.
A PM aparentou ter designado um número de militares menor do que o fizera nas outras edições. Pode ser até que não, mas ela não parecia ter presença ostensiva. Já a Guarda Municipal e a Cet-Rio acertaram ao disponibilizar um grande contigente de agentes no entorno da Cidade do Rock. No entanto, a logística, sinalização e informações de locais de entrada, estacionamento e circulação não funcionaram.
“Nós estamos batendo cabeça”, disse um guarda municipal.
Os guardas não tinham a mínima noção da localização, por exemplo, do portão de estacionamento oficial. Não existem placas no local, não há coordenação e muito menos orientação de nenhuma ordem.”Nós estamos batendo cabeça”, disse um agente motorizado.
Os guardas foram incapazes de dar um orientação certa. “Não passaram nada pra gente!”, disse um deles com singeleza na voz. Outra agente disse: “siga em frente e vá perguntando”. Hein?
Outro guarda indicou para um comboio uma rua errada e os carros seguiram para a Cidade Jardim. Um motorista nos contou que levou 3 horas para achar uma entrada de estacionamento oficial porque as autoridades informaram rotas indevidas. A imagem que passou do primeiro dia é que a direção da Guarda não fez uma reunião geral com seu pessoal e o trabalho oferecido ao cidadão foi muito fraco.
A Comlurb atuou do lado de fora da área onde os espetáculos foram realizados. E trabalhou muito bem. Os garis, com boa vontade e focados, não pararam um minuto. Atenciosos, eles fizeram também o papel de orientadores do público, quando acionados. Um exemplo de treinamento. A Comlurb guarda uma tradição de bom trabalho.
Registre-se a vergonhosa falta de educação das pessoas que arremessam tudo o que não querem mais no chão. Uma delas teve o descalabro de dizer para um amigo: “adoro os servos limpando meu lixo”. Acredite, se quiser!
Para quem gosta de avaliar as outras pela aparência, era possível se testemunhar a falta de cuidado e de respeito com o outro. Pessoas que ostentavam pertencer à classe social mais alta, que, teoricamente, deveriam ter mais cuidado por ter tido acesso à educação de mais qualidade, abusaram com seu comportamento subdesenvolvido.
Nos camarotes que cercam a Cidade do Rock também se via lixo por todo canto, mesmo que os latões apropriados para receber os detritos estivessem ao lado. As pessoas consumiam suas bebidas e colocavam as garrafas e latas no chão ou arremessavam nos jarros com plantas. A sorte delas é que o serviço privado de limpeza não demorava para catar o que o próprio consumidor poderia já ter feito.
As pessoas consumiam suas bebidas e colocavam as garrafas e latas no chão ou arremessavam nos jarros com plantas.
Banheiros limpos e mictórios com telas para o usuário não perder o show merecem notas positivas.
Outra crítica foi para o grande contigente da Vigilância Sanitária e os seus critérios de atuação. Um paulista se disse perplexo pelos agentes só fazerem vistoria já com o festival tendo começado. “Isto deveria ser feito quando as mercadorias estão chegando e sendo armazenadas. Avacalhar tudo quando a festa começou é um pecado”, disse. Pelo menos um estresse ganhou dimensão indesejada.
A chefe Roberta Sudbrack, uma das referências da gastronomia brasileira se desligou do Rock in Rio, rompeu unilateralmente o contrato com o festival, porque se sentiu ofendida pela atitude da Vigilância Sanitária. Apesar do órgão da prefeitura estar fazendo um trabalho importante em defesa do consumidor, que é avaliar se os produtos e serviços estão respeitando as normas, Sudbrack disse que faltou “razoabilidade” na forma da ação. Leia o seu relato:
A post shared by Roberta Sudbrack (@robertasudbrack) on
Fora e dentro das instalações do Rock in Rio se viu a falta de entrosamento, mas que, certamente, neste fim de semana a tendência é melhorar. Ajustes precisarão ser feitos.
Na pista, o público parecia feliz e participante. Não foi frequente aquela explosão que os baianos chamam de “sai do chão, galera”, mas a diversão parecia garantida. Dentro da tenda dedicada aos vips, “outro tipo de público, convidados basicamente e pessoas de relacionamento executivo”. Ali, o atendimento no balcão de bebidas foi excelente.
Faltaram vips, é verdade. A promoter Carol Sampaio desfilou com alguns ao seu redor onde eles ficaram num cercado vip, na sala vip, por serem considerados mais vips do que os outros vips. Desnecessária a separação da separação.
O entrosamento entre os famosos, as chamadas sub-celebridades, jornalistas, “vips menos vips” sempre formam uma boa química. Como o que foi feito não foi legal. As castas bem ao modelo indiano deram um tom de discriminação que não combinou com o clima de paz e harmonia concebido por Roberto Medina, o idealizador do evento.
O show de Fernanda Abreu com os meninos e meninas do Dream Team do Passinho, no palco Sunset, foi um dos pontos altos da noite, ao lado do Maroon 5. No momento em que Fernanda Abreu fez um rápido discurso em favor da vida, no mesmo tom que mais tarde faria Gisele Bündchen ao lado da irretocável Ivete Sangalo, a galera encheu os pulmões para gritar “Fora Temer”. O curioso foi que a transmissão da rádio Mix, ao vivo, deu uma tremenda bola fora: o locutor falou em cima para minimizar a manifestação espontânea. Ele só retomou o som direto quando Fernanda Abreu recomeçou após as vaias ao presidente Michel Temer.
A atitude do locutor não foi só um gesto antigo e subserviente, mas ele “censurou” o que estava acontecendo e impediu os seus ouvintes de saber a verdade do que estava acontecendo. Foi bem desagradável.
Ivete, como sempre, ratifica com eficiência as razões que a fizeram ser a cantora mais popular do Brasil. Carisma, domínio de palco, simpatia e competência que não surpreendem. Neil Tennant, vocalista da dupla inglesa Pet Shop Boys, reviveu os grandes sucessos e mostrou que um dia foi vanguarda da música eletrônica e o show foi ao encontro dos coroas da plateia, basicamente formada por gente de fora do Rio. Os paulistas tomaram conta do pedaço.
Os meninos da banda 5 Seconds of Summer equilibraram o jogo e fizeram um show para a garotada que pensa em fazer intercâmbio na Austrália.
A verdade crua: Lady Gaga fez falta.
A cereja da noite foi Maroon 5. Foi simpático Adam Levine e James Valentine cantarem “Garota de Ipanema”. No geral, eles não lacraram, mas fecharam bem a noite. A apresentação foi morna, provavelmente porque o grupo está se segurando para show da madrugada de sábado para domingo.
Depois de todos os erros e acertos, é preciso reconhecer a enorme dificuldade de se montar e operar um dos festivais mais grandiosos do mundo. Neste sentido, sempre, se deve louvar o espírito empreendedor dos organizadores do Rock in Rio. É sempre bom estar lá. Uma festa. Vida longa.
Tudo no Rock in Rio é gigante. Cada operação vive o fio da navalha entre o sucesso e o fracasso. Não existe meio termo. Para dar dimensão da grandiosidade: mais de 20 mil pessoas trabalham numa área de 300m² com oito palcos sendo três inéditos. São 120 quilômetros de cabos por baixo dos 80 m² de grama que cruzam a Cidade do Rock. O público estimado vai ultrapassar 700 mil pessoas.
A análise sobre o funcionamento do transporte público que levou milhares de apaixonados por música até à Cidade do Rock, deixaremos para os próximos dias. Mas falaremos dos serviços no entorno da área que abrigou gente de todas as tribos.
A PM aparentou ter designado um número de militares menor do que o fizera nas outras edições. Pode ser até que não, mas ela não parecia ter presença ostensiva. Já a Guarda Municipal e a Cet-Rio acertaram ao disponibilizar um grande contigente de agentes no entorno da Cidade do Rock. No entanto, a logística, sinalização e informações de locais de entrada, estacionamento e circulação não funcionaram.
“Nós estamos batendo cabeça”, disse um guarda municipal.
Os guardas não tinham a mínima noção da localização, por exemplo, do portão de estacionamento oficial. Não existem placas no local, não há coordenação e muito menos orientação de nenhuma ordem.”Nós estamos batendo cabeça”, disse um agente motorizado.
Os guardas foram incapazes de dar um orientação certa. “Não passaram nada pra gente!”, disse um deles com singeleza na voz. Outra agente disse: “siga em frente e vá perguntando”. Hein?
Outro guarda indicou para um comboio uma rua errada e os carros seguiram para a Cidade Jardim. Um motorista nos contou que levou 3 horas para achar uma entrada de estacionamento oficial porque as autoridades informaram rotas indevidas. A imagem que passou do primeiro dia é que a direção da Guarda não fez uma reunião geral com seu pessoal e o trabalho oferecido ao cidadão foi muito fraco.
A Comlurb atuou do lado de fora da área onde os espetáculos foram realizados. E trabalhou muito bem. Os garis, com boa vontade e focados, não pararam um minuto. Atenciosos, eles fizeram também o papel de orientadores do público, quando acionados. Um exemplo de treinamento. A Comlurb guarda uma tradição de bom trabalho.
Registre-se a vergonhosa falta de educação das pessoas que arremessam tudo o que não querem mais no chão. Uma delas teve o descalabro de dizer para um amigo: “adoro os servos limpando meu lixo”. Acredite, se quiser!
Para quem gosta de avaliar as outras pela aparência, era possível se testemunhar a falta de cuidado e de respeito com o outro. Pessoas que ostentavam pertencer à classe social mais alta, que, teoricamente, deveriam ter mais cuidado por ter tido acesso à educação de mais qualidade, abusaram com seu comportamento subdesenvolvido.
Nos camarotes que cercam a Cidade do Rock também se via lixo por todo canto, mesmo que os latões apropriados para receber os detritos estivessem ao lado. As pessoas consumiam suas bebidas e colocavam as garrafas e latas no chão ou arremessavam nos jarros com plantas. A sorte delas é que o serviço privado de limpeza não demorava para catar o que o próprio consumidor poderia já ter feito.
As pessoas consumiam suas bebidas e colocavam as garrafas e latas no chão ou arremessavam nos jarros com plantas.
Banheiros limpos e mictórios com telas para o usuário não perder o show merecem notas positivas.
Outra crítica foi para o grande contigente da Vigilância Sanitária e os seus critérios de atuação. Um paulista se disse perplexo pelos agentes só fazerem vistoria já com o festival tendo começado. “Isto deveria ser feito quando as mercadorias estão chegando e sendo armazenadas. Avacalhar tudo quando a festa começou é um pecado”, disse. Pelo menos um estresse ganhou dimensão indesejada.
A chefe Roberta Sudbrack, uma das referências da gastronomia brasileira se desligou do Rock in Rio, rompeu unilateralmente o contrato com o festival, porque se sentiu ofendida pela atitude da Vigilância Sanitária. Apesar do órgão da prefeitura estar fazendo um trabalho importante em defesa do consumidor, que é avaliar se os produtos e serviços estão respeitando as normas, Sudbrack disse que faltou “razoabilidade” na forma da ação. Leia o seu relato:
A post shared by Roberta Sudbrack (@robertasudbrack) on
Fora e dentro das instalações do Rock in Rio se viu a falta de entrosamento, mas que, certamente, neste fim de semana a tendência é melhorar. Ajustes precisarão ser feitos.
Na pista, o público parecia feliz e participante. Não foi frequente aquela explosão que os baianos chamam de “sai do chão, galera”, mas a diversão parecia garantida. Dentro da tenda dedicada aos vips, “outro tipo de público, convidados basicamente e pessoas de relacionamento executivo”. Ali, o atendimento no balcão de bebidas foi excelente.
Faltaram vips, é verdade. A promoter Carol Sampaio desfilou com alguns ao seu redor onde eles ficaram num cercado vip, na sala vip, por serem considerados mais vips do que os outros vips. Desnecessária a separação da separação.
O entrosamento entre os famosos, as chamadas sub-celebridades, jornalistas, “vips menos vips” sempre formam uma boa química. Como o que foi feito não foi legal. As castas bem ao modelo indiano deram um tom de discriminação que não combinou com o clima de paz e harmonia concebido por Roberto Medina, o idealizador do evento.
O show de Fernanda Abreu com os meninos e meninas do Dream Team do Passinho, no palco Sunset, foi um dos pontos altos da noite, ao lado do Maroon 5. No momento em que Fernanda Abreu fez um rápido discurso em favor da vida, no mesmo tom que mais tarde faria Gisele Bündchen ao lado da irretocável Ivete Sangalo, a galera encheu os pulmões para gritar “Fora Temer”. O curioso foi que a transmissão da rádio Mix, ao vivo, deu uma tremenda bola fora: o locutor falou em cima para minimizar a manifestação espontânea. Ele só retomou o som direto quando Fernanda Abreu recomeçou após as vaias ao presidente Michel Temer.
A atitude do locutor não foi só um gesto antigo e subserviente, mas ele “censurou” o que estava acontecendo e impediu os seus ouvintes de saber a verdade do que estava acontecendo. Foi bem desagradável.
Ivete, como sempre, ratifica com eficiência as razões que a fizeram ser a cantora mais popular do Brasil. Carisma, domínio de palco, simpatia e competência que não surpreendem. Neil Tennant, vocalista da dupla inglesa Pet Shop Boys, reviveu os grandes sucessos e mostrou que um dia foi vanguarda da música eletrônica e o show foi ao encontro dos coroas da plateia, basicamente formada por gente de fora do Rio. Os paulistas tomaram conta do pedaço.
Os meninos da banda 5 Seconds of Summer equilibraram o jogo e fizeram um show para a garotada que pensa em fazer intercâmbio na Austrália.
A verdade crua: Lady Gaga fez falta.
A cereja da noite foi Maroon 5. Foi simpático Adam Levine e James Valentine cantarem “Garota de Ipanema”. No geral, eles não lacraram, mas fecharam bem a noite. A apresentação foi morna, provavelmente porque o grupo está se segurando para show da madrugada de sábado para domingo.
Depois de todos os erros e acertos, é preciso reconhecer a enorme dificuldade de se montar e operar um dos festivais mais grandiosos do mundo. Neste sentido, sempre, se deve louvar o espírito empreendedor dos organizadores do Rock in Rio. É sempre bom estar lá. Uma festa. Vida longa.