Rock In Rio, o legado

  • Icon instagram_blue
  • Icon youtube_blue
  • Icon x_blue
  • Icon facebook_blue
  • Icon google_blue

Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd O vocalista do Barão Vermelho se enrolou numa bandeira nacional e declarou: esse é o primeiro show da nova democracia no Brasil. Para um novo dia nascer feliz! O dia: 15 de Janeiro de 1985. O local: a cidade do Rock, espaço idealizado por Roberto […]

POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama28/06/2024|5 min de leitura

Rock In Rio, o legado

Rock in Rio 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

| Siga-nos Google News

Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

O vocalista do Barão Vermelho se enrolou numa bandeira nacional e declarou: esse é o primeiro show da nova democracia no Brasil. Para um novo dia nascer feliz!

O dia: 15 de Janeiro de 1985. O local: a cidade do Rock, espaço idealizado por Roberto Medina para acolher o festival Rock in Rio. Horas antes, em Brasília, Tancredo Neves era eleito presidente no último colégio eleitoral da ditadura, pondo fim a duas décadas de arbitrariedades.

Essa cena memorável de Cazuza é descrita no livro “Dias de Luta – o rock e o Brasil dos anos 1980”, de autoria de Ricardo Alexandre (ex-editor da revista Bizz). Em 1985, o rock e o Brasil se encontravam no mesmo contexto: a redemocratização do jovem país em busca da globalização.

O primeira edição do Rock In Rio colocou de vez a Cidade Maravilhosa no calendário das turnês globais. Após shows memoráveis de Frank Sinatra, Queen, Genesis, Van Halen e The Police no começo da década, o Rio recebia um elenco de megastars internacionais, acompanhados de astros da música brasileira – um encontro sem precedentes. Vimos Alceu Valença e AC/DC, Ozzy Osbourne e Gilberto Gil, Rita Lee e Queen, entre outros. O show do Barão Vermelho foi um dos destaques nacionais do festival, alçados ao estrelato junto aos Paralamas do Sucesso e à Blitz.
No século 21, o Rio é uma cidade global, habituada aos megaeventos.

A capital do G20 se prepara para receber milhões de visitantes e os holofotes do planeta no segundo semestre –além da edição comemorativa dos 40 anos do Rock in Rio, que será realizada em Setembro. Além dos convidados internacionais, a grande novidade da edição 2024 é uma data exclusivamente dedicada à música brasileira – o Dia Brasil.

Em 40 anos, o Brasil e o Rio passaram por grandes mudanças. O Rock in Rio de 2024 será sediado no Parque Olímpico construído para os Jogos de Verão de 2016. O Dia Brasil não apenas será verde-amarelo, mas tambéem será despido de Rock – estilo ausente das músicas mais ouvidas no país. Nos últimos 15 anos, o Rock também desapareceu dos radares globais – algo que se reflete no lineup do festival, repleto de expoentes da música Pop e Eletrônica no século 21.

Em 40 anos, a Cidade Maravilhosa foi além da música. O festival se beneficiou dessa expansão, se tornou uma franquia global como o Lolapalooza, lançando filiais em Portugal (Rock In Rio Lisboa) e Espanha (Rock in Rio Madrid). A versão brasileira do festival já não ocorrerá numa cidade do Rock, mas num espaço multimídia onde diversos estilos serão oferecidos à audiência. Em face das mudanças comportamentais do século, o Rock in Rio se tornou mais Rio que Rock.

O Dia Brasil reflete o novo status de um Brasil que se tornou mais global, um país emergente. Será uma oportunidade para os estilos da música brasileira que (ainda) não se globalizaram, mas que dominam as ondas sonoras por aqui, como o Sertanejo e o Piseiro. O Rock descansa em paz.

Nesse sentido, o legado dos 40 anos de Rock in Rio é desprovido de nostalgia. O Brasil democracia emergente no mundo globalizado pós-rock ocupa um lugar diferente do país de Cazuza, Tancredo e Medina. Uma guerra fria se encerrou, um novo século se abriu e os desafios da globalização se renovaram. O tempo não para e a música não continua a mesma.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

O vocalista do Barão Vermelho se enrolou numa bandeira nacional e declarou: esse é o primeiro show da nova democracia no Brasil. Para um novo dia nascer feliz!

O dia: 15 de Janeiro de 1985. O local: a cidade do Rock, espaço idealizado por Roberto Medina para acolher o festival Rock in Rio. Horas antes, em Brasília, Tancredo Neves era eleito presidente no último colégio eleitoral da ditadura, pondo fim a duas décadas de arbitrariedades.

Essa cena memorável de Cazuza é descrita no livro “Dias de Luta – o rock e o Brasil dos anos 1980”, de autoria de Ricardo Alexandre (ex-editor da revista Bizz). Em 1985, o rock e o Brasil se encontravam no mesmo contexto: a redemocratização do jovem país em busca da globalização.

O primeira edição do Rock In Rio colocou de vez a Cidade Maravilhosa no calendário das turnês globais. Após shows memoráveis de Frank Sinatra, Queen, Genesis, Van Halen e The Police no começo da década, o Rio recebia um elenco de megastars internacionais, acompanhados de astros da música brasileira – um encontro sem precedentes. Vimos Alceu Valença e AC/DC, Ozzy Osbourne e Gilberto Gil, Rita Lee e Queen, entre outros. O show do Barão Vermelho foi um dos destaques nacionais do festival, alçados ao estrelato junto aos Paralamas do Sucesso e à Blitz.
No século 21, o Rio é uma cidade global, habituada aos megaeventos.

A capital do G20 se prepara para receber milhões de visitantes e os holofotes do planeta no segundo semestre –além da edição comemorativa dos 40 anos do Rock in Rio, que será realizada em Setembro. Além dos convidados internacionais, a grande novidade da edição 2024 é uma data exclusivamente dedicada à música brasileira – o Dia Brasil.

Em 40 anos, o Brasil e o Rio passaram por grandes mudanças. O Rock in Rio de 2024 será sediado no Parque Olímpico construído para os Jogos de Verão de 2016. O Dia Brasil não apenas será verde-amarelo, mas tambéem será despido de Rock – estilo ausente das músicas mais ouvidas no país. Nos últimos 15 anos, o Rock também desapareceu dos radares globais – algo que se reflete no lineup do festival, repleto de expoentes da música Pop e Eletrônica no século 21.

Em 40 anos, a Cidade Maravilhosa foi além da música. O festival se beneficiou dessa expansão, se tornou uma franquia global como o Lolapalooza, lançando filiais em Portugal (Rock In Rio Lisboa) e Espanha (Rock in Rio Madrid). A versão brasileira do festival já não ocorrerá numa cidade do Rock, mas num espaço multimídia onde diversos estilos serão oferecidos à audiência. Em face das mudanças comportamentais do século, o Rock in Rio se tornou mais Rio que Rock.

O Dia Brasil reflete o novo status de um Brasil que se tornou mais global, um país emergente. Será uma oportunidade para os estilos da música brasileira que (ainda) não se globalizaram, mas que dominam as ondas sonoras por aqui, como o Sertanejo e o Piseiro. O Rock descansa em paz.

Nesse sentido, o legado dos 40 anos de Rock in Rio é desprovido de nostalgia. O Brasil democracia emergente no mundo globalizado pós-rock ocupa um lugar diferente do país de Cazuza, Tancredo e Medina. Uma guerra fria se encerrou, um novo século se abriu e os desafios da globalização se renovaram. O tempo não para e a música não continua a mesma.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

Notícias Relacionadas

Ver tudo