Datena em parafuso: A trajetória turbulenta do mais famoso apresentador policial do Brasil

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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd Seis meses após uma memorável derrota na eleição para a Prefeitura de São Paulo e de encerrar sua passagem na Rede Bandeirantes de forma constrangedora, o apresentador Jose Luís Datena deixa o SBT pela porta dos fundos após assinar com a diminuta RedeTV! A trajetória […]

POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama 5/5/2025| 5 min de leitura

Datena. Foto: Reprodução de TV

Datena. Foto: Reprodução de TV

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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

Seis meses após uma memorável derrota na eleição para a Prefeitura de São Paulo e de encerrar sua passagem na Rede Bandeirantes de forma constrangedora, o apresentador Jose Luís Datena deixa o SBT pela porta dos fundos após assinar com a diminuta RedeTV!

A trajetória recente de Datena através da TV aberta reproduz seu desempenho eleitoral.

Lançado candidato a prefeito pelo PSDB de forma surpreendente, Datena iniciou sua campanha com dois dígitos de índices de intenções de voto. Desde então, sua rejeição disparou, com propaganda eleitoral hesitante e performances discretas nos debates. Sua queda coincidiu com a ascensão do coach Pablo Marçal. Ao tentar reverter esse quadro, Datena protagonizou um show de destempero no debate da Rede Cultura, em 15 de Setembro, ao responder à agressão verbal de Marçal com uma cadeirada ao vivo.

Após a repercussão negativa da cadeirada, Datena obteria apenas 100 mil votos no primeiro turno da eleição, menos de 2% do total. Seu contrato na Band não foi renovado.

O apresentador detinha uma das maiores audiências da emissora do Morumbi, atingindo até 4 pontos na aferição da Kantar Ibope, além de ter seus filhos ocupando outros postos de destaque na grade. O reforço salarial no SBT, por sua vez, veio desacompanhado de polpudos índices de audiência. Apenas em sua estreia, em 9 de Dezembro, Datena se aproximou dos 3 pontos na antiga casa de Silvio Santos. Doravante na RedeTV!, o apresentador passa a conviver com programas que lutam para superar o traço no Ibope.

A trajetória descendente do repórter e apresentador policial mais famoso do país é um sintoma de transformação na preferência dos telespectadores – e dos eleitores. Hoje, ex-repórteres policiais governam estados da federação (caso do Paraná) e grandes metrópoles (como Belo Horizonte), além de ter presença destacada no Legislativo, ao passo que programas policiais desaparecem da grade da TV aberta, graças à saturação.

Nos últimos 30 anos, o Brasil se tornou o mais violento país do planeta sem atravessar situações de guerra ou conflito civil. Segundo o Atlas da Violência divulgado pelo IPEA, anualmente mais de 50.000 brasileiros perdem suas vidas entre as balas do crime e das forças policiais. Nesse período – que coincide com a redemocratização do país – o Brasil contabilizou mais de 2 milhões de vítimas da violência armada. Não é surpreendente que essa violência, cada vez mais comum, tenha se tornado um espetáculo multimidia. Em 2025, personalidades como Datena deixam de ser inovadores, se tornaram redundantes.

O fracasso das políticas de segurança pública no Brasil não tem bandeiras ou ideologias. Em todos os níveis de governo e em todos os poderes da República, o desempenho ficou aquém dos índices persistentes de mortes, casos de violência e incidência de crimes. Se, nos anos 1980, nosso problema era a inflação, pesquisas de opinião mostram que a segurança se uma tornou incontornável preocupação da sociedade brasileira. Sem previsão de mudanças, ela também se tornou uma perene fonte de frustração coletiva.

A militarização do sistema educacional e o endurecimento do sistema penal não produziram efeitos significativos sobre a violência, apenas alimentaram a polarização política vigente no país. A passagem do jornalismo policial para a representação política é um sinal de normalização dessa violência. Ao longo de três décadas, a sociedade brasileira se acostumou com constantes perturbações de sua integridade psíquica e social. Ao canalizar esperanças de mudança para as figuras polarizantes da televisão e do rádio, a sociedade viu o espetáculo da violência aumentar e a violência, permanecer.

Em busca das audiências perdidas na TV aberta, Datena pulou de canal em canal. Encontrou pequenas bolhas de telespectadores entediados, cujo desinteresse apenas aumentou durante sua breve aventura no sistema político. Sua falta de inovações veio junto com uma saturação informativa e um acúmulo de frustrações sociais. O ocaso de Datena traz a marca de um fracasso coletivo, construído por esperanças democráticas.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

Rodapé - entretenimento

Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

Seis meses após uma memorável derrota na eleição para a Prefeitura de São Paulo e de encerrar sua passagem na Rede Bandeirantes de forma constrangedora, o apresentador Jose Luís Datena deixa o SBT pela porta dos fundos após assinar com a diminuta RedeTV!

A trajetória recente de Datena através da TV aberta reproduz seu desempenho eleitoral.

Lançado candidato a prefeito pelo PSDB de forma surpreendente, Datena iniciou sua campanha com dois dígitos de índices de intenções de voto. Desde então, sua rejeição disparou, com propaganda eleitoral hesitante e performances discretas nos debates. Sua queda coincidiu com a ascensão do coach Pablo Marçal. Ao tentar reverter esse quadro, Datena protagonizou um show de destempero no debate da Rede Cultura, em 15 de Setembro, ao responder à agressão verbal de Marçal com uma cadeirada ao vivo.

Após a repercussão negativa da cadeirada, Datena obteria apenas 100 mil votos no primeiro turno da eleição, menos de 2% do total. Seu contrato na Band não foi renovado.

O apresentador detinha uma das maiores audiências da emissora do Morumbi, atingindo até 4 pontos na aferição da Kantar Ibope, além de ter seus filhos ocupando outros postos de destaque na grade. O reforço salarial no SBT, por sua vez, veio desacompanhado de polpudos índices de audiência. Apenas em sua estreia, em 9 de Dezembro, Datena se aproximou dos 3 pontos na antiga casa de Silvio Santos. Doravante na RedeTV!, o apresentador passa a conviver com programas que lutam para superar o traço no Ibope.

A trajetória descendente do repórter e apresentador policial mais famoso do país é um sintoma de transformação na preferência dos telespectadores – e dos eleitores. Hoje, ex-repórteres policiais governam estados da federação (caso do Paraná) e grandes metrópoles (como Belo Horizonte), além de ter presença destacada no Legislativo, ao passo que programas policiais desaparecem da grade da TV aberta, graças à saturação.

Nos últimos 30 anos, o Brasil se tornou o mais violento país do planeta sem atravessar situações de guerra ou conflito civil. Segundo o Atlas da Violência divulgado pelo IPEA, anualmente mais de 50.000 brasileiros perdem suas vidas entre as balas do crime e das forças policiais. Nesse período – que coincide com a redemocratização do país – o Brasil contabilizou mais de 2 milhões de vítimas da violência armada. Não é surpreendente que essa violência, cada vez mais comum, tenha se tornado um espetáculo multimidia. Em 2025, personalidades como Datena deixam de ser inovadores, se tornaram redundantes.

O fracasso das políticas de segurança pública no Brasil não tem bandeiras ou ideologias. Em todos os níveis de governo e em todos os poderes da República, o desempenho ficou aquém dos índices persistentes de mortes, casos de violência e incidência de crimes. Se, nos anos 1980, nosso problema era a inflação, pesquisas de opinião mostram que a segurança se uma tornou incontornável preocupação da sociedade brasileira. Sem previsão de mudanças, ela também se tornou uma perene fonte de frustração coletiva.

A militarização do sistema educacional e o endurecimento do sistema penal não produziram efeitos significativos sobre a violência, apenas alimentaram a polarização política vigente no país. A passagem do jornalismo policial para a representação política é um sinal de normalização dessa violência. Ao longo de três décadas, a sociedade brasileira se acostumou com constantes perturbações de sua integridade psíquica e social. Ao canalizar esperanças de mudança para as figuras polarizantes da televisão e do rádio, a sociedade viu o espetáculo da violência aumentar e a violência, permanecer.

Em busca das audiências perdidas na TV aberta, Datena pulou de canal em canal. Encontrou pequenas bolhas de telespectadores entediados, cujo desinteresse apenas aumentou durante sua breve aventura no sistema político. Sua falta de inovações veio junto com uma saturação informativa e um acúmulo de frustrações sociais. O ocaso de Datena traz a marca de um fracasso coletivo, construído por esperanças democráticas.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

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