Fim de uma era? David Simon, o renomado criador de The Wire, uma das séries mais influentes da televisão, desabafou sobre a transformação da TV e o impacto da crise financeira sobre a criação de conteúdo.
Em entrevista recente, Simon explicou que a era de ouro da televisão, marcada por produções ousadas como sua própria série, chegou ao fim. Para o autor, a principal razão dessa mudança é o foco excessivo no dinheiro, que hoje governa as grandes redes e plataformas de streaming.
Ele destacou a HBO como um exemplo de insurgência contra a televisão convencional, lembrando como o canal se tornou um símbolo de inovação nos anos 2000, oferecendo séries desafiadoras como The Wire e Sex and the City.
No entanto, Simon afirma que a mesma HBO, agora transformada em Max, não faz mais esse tipo de aposta, como ficou claro com o recente foco em projetos seguros, como o remake de Harry Potter. “A janela única para produções ousadas fechou”, lamentou Simon, que critica a acomodação das grandes empresas diante do lucro fácil.
Além disso, o autor expressou sua frustração com o atual cenário da televisão, dizendo que, hoje, é impossível vender projetos que abordem temas como a segregação racial ou a crise habitacional nos Estados Unidos, tópicos que ele explorou em sua minissérie Show Me a Hero. “O que me fazia acordar de manhã era fazer algo importante, mas hoje isso se tornou impossível”, desabafou.
David Simon, iniciou sua carreira como jornalista antes de se tornar um ícone da TV. Seu livro Divisão de Homicídios, agora lançado no Brasil, foi fundamental para sua transição para o audiovisual, sendo adaptado para a série Homicídio e abrindo caminho para a criação de The Wire.
No entanto, Simon lamenta que o jornalismo, que antes o motivava, tenha perdido sua relevância, sendo cada vez mais ofuscado pela proliferação de fake news e pela crise enfrentada pelas organizações de imprensa.
David Simon criticou a crescente desinformação, afirmando que a situação só tende a piorar com o avanço da internet e da big data. Ele alertou que estamos indo para o inferno no que diz respeito ao futuro da imprensa e da credibilidade jornalística.
Para Simon, o jornalismo moderno perdeu sua essência ao priorizar a gratuidade e a busca por cliques, tornando-se refém dos anunciantes e das plataformas digitais. Isso, segundo ele, resultou na perda de credibilidade e na disseminação de informações falsas.
