15 anos sem Michael Jackson: o futuro do showbiz em retrospecto

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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd A edição comemorativa de 40 anos do festival Rock in Rio acaba de se encerrar. Em setembro de 2024, plateias cariocas e globais tiveram um pouco de tudo – de Angélique Kidjo a Will Smith. As performances no Parque Olímpico de Jacarepaguá compartilharam um fio […]

POR Carlos Frederico Pereira da Silva Gama24/09/2024|5 min de leitura

15 anos sem Michael Jackson: o futuro do showbiz em retrospecto

Michael Jackson e Madonna. Foto: Reprodução/Vídeo

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Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

A edição comemorativa de 40 anos do festival Rock in Rio acaba de se encerrar. Em setembro de 2024, plateias cariocas e globais tiveram um pouco de tudo – de Angélique Kidjo a Will Smith. As performances no Parque Olímpico de Jacarepaguá compartilharam um fio condutor: megaespetáculos de música, dança e vídeo amarrados pela tecnologia.

Em pleno século 21, nos esquecemos que esse padrão foi criado em outra época.

Há quatro décadas, Michael Jackson lançou o template para o showbiz do futuro. O vocalista do grupo familiar de Rhythm & Blues Jackson 5 acabara de lançar seu segundo disco-solo, Thriller (1982). Rapidamente, este se tornou o disco mais vendido de todos os tempos. A última turnê da família Jackson ocorreu há exatos 40 anos. Após estrelar uma serie de videoclipes inovadores e curta-metragens, Michael empreenderia sua primeira turnê como artista solo, divulgando o disco sucessor de Thriller, Bad (1987).

Desde então, o showbiz se transformou numa parafernália tecnológica, no qual a dança e a música alimentam o brilho das telas e efeitos especiais cada vez mais sofisticados.

A influência transmídia de Michael Jackson superou os atributos de sua voz privilegiada, de seus movimentos magnéticos de dança e de superproduções musicais acessíveis. A atualidade tecnológica do “Rei do Pop” se fez presente na line-up do Rock in Rio, entre artistas que fizeram duetos póstumos com Jackson (como Akon) mesclados a estilos que não existiriam sem as inovações de Thriller, Bad e Dangerous (1991) – caso do Trap.

O mundo ao fim da Guerra Fria já era uma aldeia global. Jackson se mostrou capaz de conquistar plateias que não o viram ao vivo graças à desterritorialização da mídia via satélite. Músicas, videoclipes, programas de TV e filmes chegavam em tempo quase real às casas de bilhões de consumidores. A simultaneidade de apelos simbólicos tornou Michael o Elvis Presley da era pós-Rock. Sintomaticamente, o festival que outrora trouxe o Rock global ao Rio se tornou um desfile de astros Pop, sob a luz da estrela de Jackson.

No showbiz, a mais sincera forma de reconhecimento é a reprodução. O megashow de Madonna, que marcou as areias de Copacabana em Maio, foi descendente direto das megaproduções de Michael feitas há quase meio século. A mitológica popstar fez uma homenagem direta ao seu (nos anos 1980) rival e também a Prince no decorrer do show.

Não obstante sua pervasiva influência, Michael Jackson está ausente do mundo pop há 15 anos – desde que uma overdose de opioides impediu seu retorno aos palcos em 2009. Entre o Jackson 5 e o topo do mundo, 45 dos 50 anos do artista decorreram sob holofotes. A vida cotidiana e as engrenagens da indústria cultural se mesclaram na trajetória de Jackson – de suas excentricidades às acusações de molestar sexualmente crianças.

Os últimos anos do “Rei do Pop” decorreram em quase total isolamento, permeados pela reverberação das especulações midiáticas que Jackson tentou, em vão, controlar desde que se tornou o mais famoso artista do planeta Terra em 1982. Ironicamente, desde 2009 vimos o lançamento de mais discos “inéditos” com o nome de MJ do que nos seus últimos 20 anos entre os vivos, período marcado por escândalos e denúncias.

O fim da Guerra Fria marcou também a generalização da tecnologia como estrela maior do showbiz. A distinção (marcante na década de 1970) entre apreciadores e praticantes de música eletroacústica e os “sons fabricados das máquinas” já não nos move significativamente. A bordo da tecnologia, sonoridades de diferentes partes do mundo se globalizaram – como o K-Pop – ao passo que a individualidade dos artistas declinou.

A geração de Jackson, Madonna e Prince empreendeu uma tentativa (romântica) de controlar a própria imagem ao passo que cortejava o estrelato pop em escala gigantesca. O sacrifício individual nos coliseus repletos do showbiz foi um dos traços marcantes da estética do fim do século passado, quando bandas como os Engenheiros do Hawaii nos lembravam que até o Papa era Pop. O interesse popular migrava dos sons para os egos.

Em 2024, a vitória das máquinas sobre os indivíduos traz reflexos perenes do há muito ausente Michael Jackson. Nesse sentido, a estética contemporânea – ironicamente – se aproxima da intimidade de alguém que viveu dentro de telas, debaixo dos holofotes.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

Por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, colaborador do SRzd

A edição comemorativa de 40 anos do festival Rock in Rio acaba de se encerrar. Em setembro de 2024, plateias cariocas e globais tiveram um pouco de tudo – de Angélique Kidjo a Will Smith. As performances no Parque Olímpico de Jacarepaguá compartilharam um fio condutor: megaespetáculos de música, dança e vídeo amarrados pela tecnologia.

Em pleno século 21, nos esquecemos que esse padrão foi criado em outra época.

Há quatro décadas, Michael Jackson lançou o template para o showbiz do futuro. O vocalista do grupo familiar de Rhythm & Blues Jackson 5 acabara de lançar seu segundo disco-solo, Thriller (1982). Rapidamente, este se tornou o disco mais vendido de todos os tempos. A última turnê da família Jackson ocorreu há exatos 40 anos. Após estrelar uma serie de videoclipes inovadores e curta-metragens, Michael empreenderia sua primeira turnê como artista solo, divulgando o disco sucessor de Thriller, Bad (1987).

Desde então, o showbiz se transformou numa parafernália tecnológica, no qual a dança e a música alimentam o brilho das telas e efeitos especiais cada vez mais sofisticados.

A influência transmídia de Michael Jackson superou os atributos de sua voz privilegiada, de seus movimentos magnéticos de dança e de superproduções musicais acessíveis. A atualidade tecnológica do “Rei do Pop” se fez presente na line-up do Rock in Rio, entre artistas que fizeram duetos póstumos com Jackson (como Akon) mesclados a estilos que não existiriam sem as inovações de Thriller, Bad e Dangerous (1991) – caso do Trap.

O mundo ao fim da Guerra Fria já era uma aldeia global. Jackson se mostrou capaz de conquistar plateias que não o viram ao vivo graças à desterritorialização da mídia via satélite. Músicas, videoclipes, programas de TV e filmes chegavam em tempo quase real às casas de bilhões de consumidores. A simultaneidade de apelos simbólicos tornou Michael o Elvis Presley da era pós-Rock. Sintomaticamente, o festival que outrora trouxe o Rock global ao Rio se tornou um desfile de astros Pop, sob a luz da estrela de Jackson.

No showbiz, a mais sincera forma de reconhecimento é a reprodução. O megashow de Madonna, que marcou as areias de Copacabana em Maio, foi descendente direto das megaproduções de Michael feitas há quase meio século. A mitológica popstar fez uma homenagem direta ao seu (nos anos 1980) rival e também a Prince no decorrer do show.

Não obstante sua pervasiva influência, Michael Jackson está ausente do mundo pop há 15 anos – desde que uma overdose de opioides impediu seu retorno aos palcos em 2009. Entre o Jackson 5 e o topo do mundo, 45 dos 50 anos do artista decorreram sob holofotes. A vida cotidiana e as engrenagens da indústria cultural se mesclaram na trajetória de Jackson – de suas excentricidades às acusações de molestar sexualmente crianças.

Os últimos anos do “Rei do Pop” decorreram em quase total isolamento, permeados pela reverberação das especulações midiáticas que Jackson tentou, em vão, controlar desde que se tornou o mais famoso artista do planeta Terra em 1982. Ironicamente, desde 2009 vimos o lançamento de mais discos “inéditos” com o nome de MJ do que nos seus últimos 20 anos entre os vivos, período marcado por escândalos e denúncias.

O fim da Guerra Fria marcou também a generalização da tecnologia como estrela maior do showbiz. A distinção (marcante na década de 1970) entre apreciadores e praticantes de música eletroacústica e os “sons fabricados das máquinas” já não nos move significativamente. A bordo da tecnologia, sonoridades de diferentes partes do mundo se globalizaram – como o K-Pop – ao passo que a individualidade dos artistas declinou.

A geração de Jackson, Madonna e Prince empreendeu uma tentativa (romântica) de controlar a própria imagem ao passo que cortejava o estrelato pop em escala gigantesca. O sacrifício individual nos coliseus repletos do showbiz foi um dos traços marcantes da estética do fim do século passado, quando bandas como os Engenheiros do Hawaii nos lembravam que até o Papa era Pop. O interesse popular migrava dos sons para os egos.

Em 2024, a vitória das máquinas sobre os indivíduos traz reflexos perenes do há muito ausente Michael Jackson. Nesse sentido, a estética contemporânea – ironicamente – se aproxima da intimidade de alguém que viveu dentro de telas, debaixo dos holofotes.

Sobre Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Escritor, poeta, cronista, doutor em Relações Internacionais pela PUC-Rio, fundador do BRICS Policy Center, professor da Shiv Nadar University (Índia), cinéfilo e leitor voraz, fã da Fórmula 1 e da cultura pop, líder das bandas independentes Oblique, EXXC e Still That.

Escreveu para a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, O Dia, Brasil Econômico, Portal R7, Observatório da Imprensa e publicações acadêmicas como Global Governance e E-International Relations. É colunista de música e cinema do blog de cultura pop Cultecléticos.

Publicou quatro livros – “Surrealogos” (2012), “Modernity at Risk: Complex Emergencies, Humanitarianism, Sovereignty” (2012), “Após a Guerra, Estabilidade? Mudanças Institucionais nas Operações de Paz da ONU (1992-2000)” (2016) e “Ensaios Globais: da Primavera Árabe ao Brexit (2011-2020)” (2022).

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