A Covid-19 pode afetar o sistema reprodutor masculino. Esta é a conclusão de uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), de acordo com reportagem de Marcelo Canquerino, no Jornal da USP.
O estudo apontou que, de 26 pacientes com casos leves e moderados da Covid-19, entre 18 e 55 anos, que não se queixavam de dores escrotais, 42,3% apresentaram epididimite (inflamação no epidídimo, canal localizado na parte posterior dos testículos).
O epidídimo é um órgão com 6 metros de comprimento, por onde os espermatozoides passam para adquirir uma série de funções bioquímicas, que visam a fertilizar o óvulo.
Na primeira epidemia de SARS, na Ásia, em 2002, estudos com autópsias demonstraram que pacientes mais graves tinham orquite, que é uma inflamação dos testículos. O fato motivou o trabalho de agora.
“O vírus da SARS estava relacionado a esse acometimento testicular, porque ele se ligava a uma proteína chamada ACE2 e a outra chamada TMPRSS2 para entrar na célula”, revela o urologista Thiago Teixeira, um dos participantes do estudo.
“A ideia então foi estudar os pacientes que estavam na enfermaria e ver o estado dos testículos deles através de ultrassom doppler”, explica Jorge Hallak, professor do Departamento de Patologia da FMUSP e coordenador do Grupo de Estudo em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA), também da USP, e um dos autores do estudo.
Sequelas
O foco do trabalho, segundo ele, foi descobrir se, em casos leves e moderados, havia acometimento do testículo que pudesse passar despercebido e, no futuro, deixar sequelas. “Se os espermatozoides não passarem pelo epidídimo, há diminuição da fertilidade”, resume.
“É uma doença muito mais séria do que imaginávamos em termos de saúde do homem, em particular. O segundo órgão, depois do pulmão, com maior quantidade de receptores ACE2 é o testículo”, ressalta o urologista.