Pela primeira vez na história da democracia espanhola a Bíblia e o crucifixo não estavam sobre a mesa para o juramento de posse do primeiro-ministro, no Palácio da Zarzuela, nos arredores de Madri, residência oficial do rei.
Pedro Sánchez, do partido Socialista, dispensou os símbolos cristãos e optou por jurar lealdade diante da Constituição da Espanha. Ele tomou posse neste sábado (2) como premiê, em substituição ao conservador Mariano Rajoy, que foi derrubado com a aprovação de uma moção de censura pelo Parlamento.
O socialista rompeu o protocolo adotado por todos os primeiros-ministros que governaram o país após a restauração da democracia, em 1975, após 40 anos de regime franquista.
“Prometo, por minha consciência e honra, cumprir fielmente as obrigações do cargo de presidente do Governo, com lealdade ao rei, e guardar e fazer cumprir a Constituição como norma fundamental do Estado, assim como manter segredo das deliberações do Conselho de Ministros”, leu Sánchez, enquanto apoiava a mão direita num exemplar de 1978 da Constituição.
A decisão é coerente com as convicções pessoais de Sánchez. Ele se define como ateu e sempre defendeu o fim do ensino religioso nos colégios públicos. Para ele, o Estado deve ser laico e completamente desvinculado de qualquer religião. Desde 2014, é concedida ao primeiro-ministro a liberdade de fazer o juramento com ou sem presença de símbolos religiosos.
A mudança foi introduzida pela Casa del Rey – órgão administrativo vinculado ao rei da Espanha – para fazer cumprir o artigo da Constituição que garante a liberdade religiosa. Mas os últimos governantes haviam optado por manter a tradição de ter Bíblia e crucifixo ao alcance.