Enterrada de uma vez por todas a vergonhosa era Parreira, ou pelo menos é isso que esperamos, é hora de acordar para as tarefas inadiáveis, que por algumas semanas tentamos afogar num mar de bandeiras, cornetas e cerveja. Na ordem de preferência de cada um, claro.
No universo de temas relevantes que andaram submersos e agora vêm à tona porque este é o momento, a campanha eleitoral. Polianas, ingênuos e hipócritas, mão na mão, andaram dizendo que depois da revelação, ou reafirmação, de tantas e tão graves mazelas envolvendo o parlamento e o governo, práticas notoriamente criminosas seriam tratadas como a empáfia apática do supracitado arremedo de técnico ou a soberba de Roberto Carlos, Cafu & cia: páginas viradas de um livro a reescrever. Qual nada.
Candidatos falam em estimativas mais modestas para os absurdos gastos de campanha, mas aceitar divulgar atualizações diárias de doações e arrecadação na internet, ninguém quer. Do lado do governo, a reeleição, outrora execrada, hoje é dada como prática corriqueira e aceitável. Pruridos em relação à duplicidade de funções do candidato-presidente ficaram para trás. Na oposição, o de sempre. Um discurso adequado à platéia, onde a verdade é mera palavra a tornar a irresponsabilidade menos escandalosa, ao menos na aparência.
Na mídia quase toda, honrosas exceções aqui e ali, o espetáculo segue ganhando mais espaço do que fatos, contextos e perspectivas. Nas manchetes, reportagens e textos veiculados pela internet, multiplicam-se denúncias sem investigação, condenações a priori, sem comprovação factual, propagandas travestidas de matérias, preconceitos bobos, provincianismo infantil, má-fé, neo-macartismo, mau-caratismo. Hoje como ontem, mercenários que se arvoram jornalistas, com diploma ou não, seguem vendendo palavras de ordem, recontando biografias, ajustando trajetórias, pasteurizando discursos, de acordo com o gosto do consumidor. O pagamento, na mesmíssima sintonia do financiamento de campanha: caixa 2, 3, mil. Dólares no mais das vezes. Euros, melhor ainda. Afinal de contas, é assim que sempre se fez, é assim que se faz.
Aos inconformados, resta a desconfiança. E a fé de que é possível e necessário, urgente mesmo, fazer diferente.